Onde é que eu estava no 25 de Novembro ...
Em casa, acordado.As manifs do costume, a esse tempo já não gritavam "o povo unido jamais será vencido", mas antes "fuzilamento dos fascistas, já!".
O meu irmão mais velho foi do parecer que nesse dia se jogava tudo e entendeu levar o pessoal menor para fora de Lisboa.
Lembro-me de sair de Lisboa e de passar pelo RALIS do Otelo onde já se concentravam muitos populares que pretendiam defender a capital das forças reaccionárias que vinham do Norte. Colocaram uma anti-aérea na ponte sobre a segunda circular e canhões anti-tanque ao nível da auto estrada.
Ainda na auto estrada, já perto de Aveiras cruzámo-nos com a coluna de tanques que se dirigia para Lisboa. Eram as forças da reacção. Desejei-lhes sorte.
Em Rio Maior lá vi a placa a dizer "Aqui começa Portugal".
O resto é história. Ano e meio depois de cair o que restava do Estado Novo, caía também o PREC. Pelo meio ficaram muitos meses de que alguns têm romântica nostalgia, mas em que, tudo somado - e na minha opinião - criámos o caos de que ainda não sairam verdadeiramente as ex-colónias, e arriscámos cair numa "democracia popular" que de popular tinha pouco e de democracia não tinha nada.
Por acaso não arriscámos bem só isso. Arriscámos foi uma guerra civil.
Demorasse ela uns anos e teria eu tido também a oportunidade de pegar em armas. E pegaria, estou certo.
Não sei se me orgulhe de tal disponibilidade. Mas isto tudo vem a propósito da Dra. Isabel do Carmo. Ela, entre outros, lembra-me estas coisas. E, sobretudo, faz-me sorrir ... porque ela não venceu. E se calhar até mudou. Quem sabe se não será mesmo uma excelente pessoa, que acreditou que a liberdade se conquistava à bomba. Eu próprio, com 11 anos na altura, também acreditava nisso.
Nem ela me matou, nem eu matei ninguém. Ainda bem.
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