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22.4.04

O fado

Leio sempre com prazer o Alonso. Desta vez escreveu longamente, mas eu gosto de coisas prolongadas. Como dizer o contrário do prazer de o ler?
Provavelmente (eu conheço-o relativamente bem, o que ele diz é verdade, não tem tempo para isto) escreveu de esguicho. O que é sempre bom, as autenticidades são rápidas, embora devam degustar-se com placidez.

Boa definição (enquadrada) das coisas "da esquerda" e "da direita". Foca o problema, fundamentalmente, na "questão social". Percebe-se que não rejeita (eu sei que não) o regime de excepção permanente a que a esquerda obriga (para defender os fracos é preciso definir o que é ser fraco, o que nem sempre é linear e, independentemente da definição e da triagem, pagar, bufando ou não), da mesma forma que se entende que se move melhor em áreas de "quem não trabuca não manduca". Ele define assim a direita, eu até concordo com esta definição de direita que ele dá mas, depois, apetece-me que não haja fome em sítio nenhum e prefiro que a minha caridade seja dispensável, que não haja fome porque não a há. Porque o Alonso e eu (e outros) pagamos, alegres, a saciedade dos famintos. Que querem, é defeito meu.
Pensar isto, que estas coisas de ser Pai e Mãe dos pobres são sempre um investimento a longo prazo... e, ainda por cima, pensar que o Alonso concorda... É obra!

Penso que ambos aceitamos, boamente, que os dois manducamos porque trabucamos. Só comemos sardinhas em sardinhadas, mas a culpa é das patroas e das amigas das patroas, que só fazem sardinha assada em festa. Também há boa sardinha em festas do Avante, mas isso é conversa antiga, do Alonso e minha.

Posto isto, Alonso, veste uma camisa aos quadrados (como as minhas) ou um polo da Façonnable (é assim?), ou da Lacoste, como preferires, mas escreve mais. Entende-se tudo o que escreves e, concorde-se ou não (eu sobre isso não falo, pelo menos até acabar a história do "apito dourado"), tudo isto é fado.

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