blog caliente.

31.1.06

Do centro



Conheço mal o centro do país. Claro, conheço lá coisas, sei coisas de lá. Mas conheço-o mal.
É um lugar de passagem, se não cuidarmos de lá ficar.
Seja na serra, seja no litoral, o centro parece fazer sempre parte dum trajecto mais longo, raras vezes sendo destino seja do que for. Isto não é pejorativo: vivo no nordeste, que nem sequer é, geralmente, trajecto - quanto mais destino. Pode ser um destino, o meu, mas viaja-se pouco, concedo, nesta frase.

O centro é bonito.
Claro, tendo regressado da serra, poderá pensar-se que "dizes que é bonito porque te penetraste de beleza". E é verdade. Mas não é só isso.

Por exemplo, esta tarde, na RTP, deram um directo dos H.U.C. (Hospitais Universitários de Coimbra). Aquilo foi um bocadinho "feito", se me faço entender: tudo corre bem, ou parece correr melhor, quando nos preparamos. Quem fez o liceu, ou a própria escola técnica, sabe disto. Basta, mesmo, estar vivo para o saber.
Quero eu dizer que aquilo foi, como tinha de ser, concertado. Viu-se, mesmo, Manuel Antunes a substituir uma válvula, entre outras coisas que se viram. E, para se poder ver isto, tem de ser tudo preparado, a vida não é, felizmente, um Big Brother global (falo do de Orwell, não do de Moniz). Ainda. Não é nenhum dos dois, aliás.

Mas correu bem. Mostraram-nos um Portugal diferente, mais parecido com o que sabemos que existe, mas não somos capazes de o ver porque estamos ocupados a construí-lo (ou, se formos menos dados à matéria e mais derramados para a tergiversação neuronio-tartárica, a "desconstruí-lo": isso da desconstrução dá, aliás, esplêndidas obras de arte contemporânea, ou pode dar; mas eu sou mais dado a gostar da matéria, das pessoas e das coisas, e, além disso, o centro é muito antigo, não encontro no centro outra contemporaneidade que não seja a que me faz sentir acidental, "eis-me lá, por acaso").

Os H.U.C. são em Coimbra, claro. No centro.
O centro é a região melhor dimensionada do País. Deve ser lá que há mais gente inteligente por metro quadrado, que há mais gente boa por metro quadrado, que há melhores coisas por metro quadrado. Não tenho números, nem quero saber deles: é assim. Por quê? Porque não tem gente demais para aquilo que lá há e porque me parece, sobretudo, que se fizeram lá coisas, que há lá coisas, que chegam e sobram para a gente que lá há: parece, quando se vai lá, que ainda sobeja. É fundamental para a ancheza do peito esta sensação de falta de exiguidade: ela pode existir, mas não se nos impõe. Aduelas é nas pipas.

Eu sei que vim da serra, que venho de lá bem, mas a minha verdade é esta. E o que eu digo é o que eu digo, não depende dos meus motivos, independe deles muito sossegadamente.

27.1.06

Sem duplo sentido (*)

Já havia auxiliares de acção educativa; havia, já, auxiliares de acção médica: ambas as profissões reconhecidas como dignas, mal pagas e de utilidade indiscutível nas suas áreas.

Temos agora aí uma nova profissão, desde há alguns uns dias. Parece que a carreira só admite um profissional de cada vez.
O candidato a nóvel profissional tem, aliás, de provir das camadas amadoras. E deve possuir natureza austera e (tendencialmente) silenciosa. E, nos intervalos do seu casto silêncio de candidato perfeito, tem de bradar os seus ímpetos auxiliadores durante dias a fio. A escolha (feita por sufrágio universal), em o candidato assim procedendo, é praticamente garantida.

Temos aí, dizia eu, nova profissão: auxiliar de acção governativa.
Penso que será, também, mal paga.

Vai ser um fim-de-semana muito frio, dizem; mas pode ser que, no fim de contas, saia bom.

(*) Não se pretende provocar ninguém, muito menos a lolita e o alonso.

O silêncio dos Inocentes*

estão tão caladinhos ... vai-se a ver e o Aníbal é mesmo Caníbal!



*título alternativo: provocando a lolita e o besugo

Sinais de menoridade*

O orgulho ufano da direita por ter, finalmente, um Cavaco na presidência.

*Título alternativo: Provocando o Alonso

25.1.06

Direita-Esquerda-Alegre-Pátria-Liberdade e ... fechar de tendas.

A propósito de uma pequena precisão que entendi introduzir, em comentário, a um post do João Tunes, no Água Lisa, o mesmo João escreveu um novo, este sobre especificamente os eleitores não necessariamente de esquerda que (também) votaram Alegre.

Identifica tal votação como marginal, o que eu concordo, sem discussão. Provavelmente 2 a 3% dos 20 que o Alegre recolheu. É mais do que o Garcia Pereira, mas menos que o Louçã, ou seja, é muito pouco.

De qualquer modo, a leitura deste último post do João Tunes, (em que agradeço o elogio que me faz, descontando o facto de que na mesma frase vitupera - "a contrario" - a família ideológica a que pertenço) suscita-me algumas notas. Que não deixo lá em comentário apenas porque não se trata agora de apenas comentar.

Eu compreendo que o João tenha como pressuposto do seu raciocínio que os não-esquerdistas que votaram Alegre o tenham feito porque ele andou por aí a falar de Pátria. É isso que resulta do que por ele foi escrito, e essa convicção, provavelmente, resulta da ideia feita que quem se sente ideologicamente à esquerda nutre sobre quem considera de direita.

Mas não é assim. Não que a Pátria, como ligação umbilical a um povo, uma cultura, um passado histórico comum, com heróis e vilões, invasores e libertadores, proezas e vergonhas, etc., seja irrelevante para quem seja de direita.

Mas não é por aí que se pode, a meu ver, explicar o voto não esquerdista no Alegre. Eu acho (e sublinho que esta é a MINHA reflexão), que esse voto provém de duas causas. Uma que qualquer esquerdista compreende por corresponder ao que ele pensa da direita. Outra que nem tanto.

Começarei pela primeira.

Uma das mais importantes distinções que ainda hoje é possível fazer entre a estrutura axiológica da esquerda e a sua equivalente à direita prende-se com a ligação afectiva aos antónimos individual/colectivo. A esquerda , quer na análise que faz da história humana, quer das sociedades que nela se foram sucedendo, dá enorme primazia ao que considera ser colectivo sobre os actos dos seus indivíduos. A direita, pelo contrário, lê a história através das suas personagens e dos seus episódios concretos.

Aprendi isso com grande clareza porque fiz a primária antes do 25/A, e o secundário até ao final da década de 70. Na primária aprendi a história de Portugal através do Viriato, do Conde D. Henrique, do Afonso Henriques, do D. João I e II, do D. Nuno Alvares Pereira, do Vasco da Gama e de outros menos importantes, como o Martim Moniz, o Alcaide do Castelo de Faria, a Deuladeu Martins, a padeira de Aljubarrota. Na primária, os descobrimentos foram feitos para alargar a fé e o império, e se não fosse a Ínclita Geração, desde o Rei D. Duarte ao Navegador Conde D. Henrique e ao regente D. Pedro (sem que nunca se esquecesse o herói trágico D. Fernando), não tinham acontecido.

No secundário aprendi a história "colectivista" de Portugal. Os descobrimentos passaram a ser feitos porque a burguesia precisava de matérias primas e mercados, a nobreza precisava de feitos militares que a justificassem, etc. Tudo passou a ser estudado por referência à estratificação social, sua manutenção pela classe dominante e sua evolução, mais ou menos revolucionária, pelas classes que tomavam, em cada momento histórico, consciência do seu poder. Tudo, claro, num contexto de que "poder" ou era o poder económico ou não o era na verdade.

Assim, e nesta perspectiva, tudo o que se passou tinha que se passar, e se D. Afonso Henriques não tivesse existido, outro seria. E, como ele, todos os restantes - Ínclita Geração incluída - não passavam de peões de um jogo social mais vasto, de que nem eles próprios nem ninguém tinha verdadeira consciência, até que Marx chegou e explicou isto tudo (não me chateiem com pormenores, eu estou a simplificar e já começo a duvidar se chego a publicar o que quer que seja, porque com o embalo que isto leva só daqui a trezentas linhas é que volto ao tema original).

Assim, há na verdade, descontando as matizes que nestas coisas sempre existem, duas perspectivas diferentes, eu diria mesmo duas estruturas epistemológicas da história e dos seus protagonistas. Que marcam também a forma como vemos o presente. À direita, vêem-se fundamentalmente as pessoas; à esquerda, os movimentos de que essas pessoas são meros afloramentos. À direita prezam-se muito mais os actos individuais, e se estes demonstrarem rasgo e coragem pessoais, mais ainda.

Isto, qualquer esquerdista compreende. Aliás, é por esta característica e modo de ser que a esquerda não se cansa de dizer que a direita é caudilhista, ou sebastianista, ou messiânica, criticando-a por isso mesmo.

E esta é, a meu ver, uma das duas razões pelas quais a atitude de Manuel Alegre - por ser eminentemente pessoal e corajosa - recolheu generalizada simpatia num campo que não é o seu. E não se pense que essa simpatia é cínica, porque "aproveitadora" de uma rebeldia no campo contrário. É genuína, é mesmo estruturalmente genuína.

Passemos à segunda.

O que agora escreverei - ao contrário do que acontecerá quanto ao que escrevi até agora - dificilmente merecerá o acordo de quem seja esquerdista. É que a mesma simpatia decorre de um outro valor inato à direita: o da liberdade individual, e sobretudo o da prevalência dessa liberdade sobre o interesse colectivo.

Aqui, claramente, entro em matéria de disputa feroz, que é a de saber, afinal, qual dos campos ideológicos tem a liberdade como bandeira. Porque estou pouco interessado em alimentar polémicas, direi apenas que ambos têm. E que ambos acham que o outro empunha a bandeira de uma liberdade falsa. Continuando a escrever evidências, direi ainda que ambas as matrizes ideológicas em causa têm exemplos de absoluta falta de liberdade em regimes inspirados na "sua" ideia de liberdade, pelo que nenhum dos campos pode, de facto, atirar a primeira pedra, sob pena de Intifada recíproca e interminável.

Convenhamos apenas nisto: à direita, as organizações e "aparelhos" diversos, que não sejam de natureza nacional ou religiosa, são pouco menos que coisas contranatura. Daí a sua menor capacidade de organização, o seu maior atomismo e a maior dificuldade de obter e manter um corpo ideológico estável e coerente. Não tem "bíblia" política, como a esquerda apesar de tudo tem, não tem um filósofo dominante, como a esquerda apesar de tudo tem, e encontrar um pensamento comum à globalidade das "direitas" (conservadores, liberais, laicos, cristãos, nacionalistas, "globalistas", e suas cambiantes, combinações e matizes) é tarefa próxima de impossível. O associativismo, à direita, existe, não há como negá-lo. Mas é sempre para regulação, defesa ou mesmo auto-regulação de interesses específicos, e não com o carácter global e de inserção total do indivíduo num Partido como - utilizando o exemplo mais paradigmático - o PCP.

E é por isso que o gesto de candidatura do Manuel Alegre, para além de ser apreciado à direita como um gesto marcadamente individual e corajoso, é-o também porque tem a liberdade como mote. A liberdade de um indivíduo face à organização a que pertence, organização essa que o preferia (ao indivíduo) amodorrado.

Dirão alguns, se calhar o João Tunes também: mas se ele em vez de falar de Pátria falasse das conquistas de Abril .... outra seria a conversa.
Direi eu: Parece-me que ele falou das conquistas de Abril, e de muito mais coisas ainda mais marcadamente "esquerdófilas". Mas é evidente que, por um lado, ninguém desconhece quem ele é e de onde vem, pelo que esses outros temas não foram surpresa. E é também evidente, parece-me, que o seu apelo ao "orgulho" na portugalidade não soou a falso, nem sequer a mera manobra de conveniência eleitoral, pelo que não gerou anticorpos, a não ser em algumas vestais da esquerda que, de resto, não o apoiariam nunca.

Para terminar: o levantar da tenda. Não posso concordar mais que é o que deve ser feito. O que ficará de melhor da candidatura do Manuel Alegre a estas presidenciais é justamente o sinal que foi dado de que nem tudo são "favas contadas" na nossa política nacional. E isso serve dois propósitos:

- Primeiro, dá àqueles que se empenharam na candidatura um incentivo de cidadania.

- Segundo, dá à classe política um sinal de que os seus "joguinhos" de gabinete não chegam para tudo e que, de repente, o que tinham por certo (a obediência dos rebanhos de que se julgam pastores) se esboroa. Pode ser que tenham percebido. Mas também pode ser que não ...

PS - Se algum esquerdista manhoso que seja improvável leitor deste blog retirar de tudo o que escrevi que o Alegre teve atitudes de direita, ou defendeu valores de direita ou o raio que o parta, é sinal de que: a) está mesmo ressabiado com o Alegre; b) não percebeu nada do que eu, escrevendo, tentei explicar; c) é mesmo manhoso, e isso nota-se.

23.1.06

Pausa

Tenho escrito demais. Quando era miúdo, era daqueles que acreditavam que as palavras se gastavam, ou que nos gastávamos nelas. Mas isso era quando falava, apenas. Pouco escrevia, era só nos pontos e apontamentos. Agora é uma ideia mais geral.

Tenho pouco tempo para escrever. O que tenho, é roubado ao sono, quase sempre. A minha vida não é, de facto, esta. Isto faz parte, mas não é a minha vida. Não me importava que fosse, mas não é.

Como tenho pouco tempo escrevo sempre, aqui, directamente. Vou pensando e escrevendo, outras vezes já tinha pensado antes de escrever mas, mesmo assim, nunca uso rascunho. Penso que muita gente fará assim, também.
A muitas das coisas que fui escrevendo chamei "esguichos", por isso mesmo, sabendo embora que um besugo não esguicha nada. A serventia principal dum besugo, que eu saiba, é a sopa de peixe ou esturricar na grelha. Pretendia, com isso dos esguichos, que se percebesse o repentismo, nada mais que isso, com que escrevo.
É assim que faço. Faço assim e, logo a seguir, muitas vezes já depois de ter publicado, corrijo os erros de que dou conta. Umas gralhas, umas vírgulas. Ou seja, ficarão sempre alguns erros, que não notei, e ficarão outros que nunca notaria porque, como já disse, a minha vida não é esta, e isto não é um menosprezo para a escrita, é uma admissão de incompetência, quando for o caso.

Ontem escrevi uma coisa, que pode haver quem tenha lido, que me saiu assim, de esguicho, como de costume. Esta manhã, telefonei à lolita e pedi-lhe que a tirasse. Foi verdade. Eu não podia fazê-lo, por motivos que não interessam, até porque já estava no trabalho, mas não foi só por isso. E ela tirou. Deixou lá uma frase dela, em que diz que sou um homem de bem, mas ela é parcial, é minha amiga. Eu também sou parcial, percebo-a bem. E há mais gente assim, já dei fé disso. Talvez seja por isso que Portugal não vai para a frente, mas isso não sei dizer agora.

Quem leu, leu. Quem não leu, não perdeu nada. Estava mal e não passava, no fundo, dum desabafo fora de medida. Redigido com excessivo fel, estava medonho. Não me orgulho daquilo. Não penso que fosse insultuoso, nada disso. Mas trazia vagalhões demais para o mar que estava: calmo, como continua. Um mar quase de palha, parece-me.

Quem leu, já sabe. Peço que esqueça o tom, que era excessivo. Quem não leu, não perdeu nada.
Mas venho dizer sobre o que era, porque também me parece que é legítimo que se pense que, ou não tinha escrito nada ou, a ter escrito, era preferível ter deixado estar.

Era sobre isto: sobre não gostar de Cavaco, nem do que ele me faz lembrar, daquele tempo dele (com Beleza, entre outras pessoas, a fazerem-me regressar a um tempo que pensei não mais ter de reviver; e ela estava a rir-se, e de cada vez que vejo Leonor Beleza rir-se, e outras pessoas com ela, eu choro um bocadinho), do que me mortifica vê-lo como presidente do meu País: eu queria muito que não fosse, e agora é. E sobre alguma desilusão (que é culpa minha, que só se desilude quem se ilude antes) perante escritos recentes de Francisco José Viegas, de que não gostei. Nem gosto. E sobre Sócrates, que está de parabéns (mais sua turma): se a ideia era afastar, entre outros, Ferro Rodrigues, Carrilho, a família Soares, Maria de Belém e Manuel Alegre (que defendi aqui, já na altura, como candidato certo a secretário-geral, embora eu nem sequer pertença ao partido), parabéns, boa malha. Escapou-lhe, felizmente, Alegre. Que conta comigo, pouca coisa eu seja, como até aqui. Mas pressinto em Sócrates, apesar de tudo, um arzinho de missão (quase) cumprida que me entristece.

Não, não insultei ninguém, não pretendi ser (nem fui, creio) soez, nem pretendi mais nada. Foi só isto. E não devia, sequer, ter tido ar de ser diferente.
Mas escrevi ondas alterosas demais, como já disse, num mar que, vendo bem, ia chãozinho. E foi por isso que me pareceu melhor fazer assim: pedi que se apagasse, apagou-se.

Gostava que ficasse por aqui, esta aventura fraca. E que ninguém, por maldade ou outra coisa qualquer, tentasse empurrar-me borda-fora do meu bote, que eu só tenho um bote, não possuo veleiros. Nem tenho muito tempo para "tunnings", que são paneleirices, ainda por cima.
Tentarei remar, daqui para a frente, mais conforme o mar que estiver e menos consoante a raiva que me fizer pegar nos remos. Para que não se quebrem em vão, que só tenho estes e são, apenas, dois. E, se um dia se quebrarem, que seja por necessidade. Ou por uso melhor que o que, às vezes, lhes dou.

Siga!






Já de olhos postos no futuro, que faremos risonho.
A próxima década incluida.

Créditos

O Quadrólogo dos cegos que não querem ver

Esclarecimento Prévio: "Quadrólogo" é, provavelmente, um neologismo, o que é outra forma de dizer "uma asneira aberrante" ou "um atropelo inqualificável à lingua portuguesa". Mas fica assim.

Agora sim, começa o presente "post":
Andava eu por aí a pesquisar blogs e lembrei-me do que o Vital Moreira aqui há tempos escreveu sobre o "esvaziamento" da candidatura do Alegre (num post que só conheci porque o João Tunes o republicou, com irónica adaptação "Alegrista"). Como gosto sempre de ver como é que as pessoas que acham que têm sempre razão reagem às incompreensões da história, fui ver que tal. E o que vi tem graça. Seguem quatro transcrições de 4 posts sucessivos que lá encontrei. Com a devida vénia e sem outro comentário que não seja os títulos que escolherei para cada um deles.

1 - Eu não quero ver que ele é inteligente. Aliás, como ele não é de esquerda, mesmo que eu visse não acreditava. (no original, este post chama-se "Despromoção")

"O problema com Cavaco Silva não é só ele ser o primeiro presidente oriundo da direita política, nem o inigma sobre a sua prática presidencial. É ele suceder a quem sucede: 10 anos de um presidente maior do que o País (Mário Soares); 10 anos de um dos presidentes mais cultos e "aristocratas"(no verdadeiro sentido da noção) que já tivemos (Jorge Sampaio). Ter agora um presidente que não ultrapassa os limites de uma cultura economista e tecnocrática é uma enorme sensação de despromoção..." [Publicado por vital moreira] 23.1.06

2 - Eu não quero ver que ele sozinho teve mais votos do que os outros todos juntos. Aliás, mesmo que visse, isso é menos importante do que comentar o lamentável resultado do candidato oficial do Partido Socialista (no original, este post chama-se "A abstenção que venceu")

"Cavaco Silva ganhou com a menor margem de sempre (0,6%), em todas as eleições presidenciais até agora. E ganha com a maior taxa de abstenção registada na primeira eleição de um candidato (só ultrapassada nas reeleições de Soares e de Sampaio, quando o desfecho da eleição não estava em causa). A junção das duas coisas com uma outra quase certa -- a abstenção deve-se sobretudo ao eleitorado de esquerda -- torna claro que a esquerda só pode queixar-se de si mesma. Perdeu por falta de comparência de uma parte dos seus... "[Publicado por vital moreira] 23.1.06

3 - Eu não quero ver que a vitória do Cavaco resultou das trapalhices do Sócrates. Aliás, mesmo que visse, isso é menos importante do que recordar como o Soares foi "o melhor amigo" do Cavaco no primeiro mandato (no original, este post chama-se "Uma vitória fraca")

"A vitória de Cavaco Silva é obviamente inatacável sob o ponto de vista da sua legitimidade democrática. Mas é uma vitória politicamente fraca. Foi uma vitória à tangente, a mais magra de todos presidentes até agora; foi uma vitória assente numa forte abstenção, principalmente no campo socialista; foi uma vitória em queda acentuada, ficando a anos-luz das expectativas de vitória esmagadora do início (basta reler os bloggers e colunistas do campo cavaquista de há umas semanas). Dá a impressão de que com mais uns dias de campanha e a vitória escaparia.
Esta vitória fraca não lhe deixa grande margem para o intervencionismo presidencial que ele e os seus apoiantes acalentavam. Se a política tivesse lógica, seria de esperar uma moderação dos propósitos de activismo presidencial do candidato eleito. Tal como Mário Soares no seu primeiro mandato, o mais lógico seria uma presidência contida, sem obstaculizar o governo de Sócrates, esperando tirar proveito próprio do previsível sucesso deste na superação da crise económica e financeira. Mas será que Cavaco Silva é previsível?"
[Publicado por vital moreira] 23.1.06

4 - Eu não quero ver que o Alegre ganhava se tivesse chegado à segunda volta. Mas, mesmo que visse, não o dizia, para que não se notasse (mais ainda) que eu nunca percebi nada do que se estava a passar nestas presidenciais. Além de que era uma chatice para o Sócrates. (no original este post chama-se - elucidativamente - "Aqui entre nós ...")

"...creio bem que para o PS e Sócrates foi preferível esta vitória fraca de Cavaco Silva à 1ª volta do que uma 2ª volta sem hipóteses de sucesso entre Cavaco e Alegre. Primeiro, porque, o resultado seria seguramente uma vitória muito menos apertada de Cavaco, reforçando o seu peso político; depois, porque para o PS e muitos votantes soaristas seria insuportável o constrangimento de ter de apoiar o candidato que se apresentou contra o partido e ajudou à pesada derrota do seu candidato oficial. Do mal, o menos..." [Publicado por vital moreira] 23.1.06

5 - Nota final: Estes quatro textos, retirados do "causa-nossa" (peço desculpa, mas não sei fazer links), falam por si, e são ainda mais esclarecedores se lidos, em sucessão, no blog de origem.

6 - Nota pós-final: lindo, lindo, era se um canal de televisão passasse a ter como comentadores residentes o Vital Moreira e o Luís Delgado. Aposto que as audiências seriam excelentes. E o besugo teria muito para escrever.

albedos, orfandades e assaltos

E pronto. Segue sumário de análise (análises a sério deixo para os profissionais da coisa):
1 - O Cavaco ganhou;
2 - O Alegre demonstrou que, reunindo-se determinados pressupostos, é possível levar a democracia para lá da partidocracia; Nisso ganhou. No resto, assiste-lhe a amargura própria de quem chegou "quase lá";
3 - O Soares esteve tão cortez na derrota como ressabiado na campanha. Quanto ao Cavaco, porque no que respeita ao Alegre, o ressabiamento manteve-se;
4 - O Jerónimo ganhou a "sua" guerra político-partidária;
5 - O Louçã perdeu-a.
6 - O Sócrates foi igual a ele mesmo. E o que ontem se passou demonstra bem como um produto televisivo sabe usar a televisão para calar alguém;

Dito isto, só mais duas coisas, em tom apaziguador para que não se instale neste blog a guerra civil:

1 - do albedo - o besugo falou do meu albedo. Eu quero dizer isto: as minhas capacidades, quer de absorção, quer de reflexão, do que me rodeia depende directamente da qualidade, não da quantidade, da luz que é emitida. O problema não está, portanto, no albedo em si mesmo, mas na autodeterminação que me assiste no simples acto de aferir dessa qualidade. é o binómio razão-albedo, mas desta vez colocado do lado do receptor.

2 - da orfandade - lolita, eu entre outras coisas sou, também*, teimoso. Mas não falo do convencimento da esquerda (de que é moralmente superior) por razão estratégica ou vitimizadora. Falo porque esse convencimento existe, e basta saber ler e saber ouvir para se perceber que é assim. E se isto é vitimizador, então é da própria esquerda. Porque foi por isso que o Cavaco teve bem mais do que os 0,6% que lhe chegaram para ganhar. Foi porque foi pessoalmente "destratado", por todos menos pelo Alegre.

Eu disse-o, mas se calhar não fui claro. A forma como o Soares, o Jerónimo e o Louçã atacaram pessoalmente o Cavaco ao longo da campanha, deram votos a este. Vindos de eleitores que votaram PS nas últimas legislativas. E eu sei, porque ouço atentamente "conversas de café" (sempre um precioso indicador do que "se passa", convém aí reduzir o albedo ao mínimo), e porque ouvi muita gente a "reclamar" de o Cavaco andar a ser "o bombo da festa" na campanha.

Quanto à orfandade da direita, tens meia-razão. Mas isso era tema para mais uns quarenta parágrafos, que nem eu tenho paciência para escrever, nem tu tens paciência para ler.

Finalmente, isso de eu ter assaltado em 75 um escritório em Lisboa a meias com o Garcia Pereira é uma calúnia, por dois motivos:

a) em 75 eu tinha 11 anos;

b) em 75 eu assaltei foi uma sede do PCP, onde queimei os arquivos da PIDE que estes, por sua vez, tinham roubado no assalto à António Maria Cardoso. Tudo para que não se soubesse que eu tinha sido informador ainda antes de nascer.

Anagrama semântico

Há gente para quem é lixado a democracia ser esta coisa.


Original no Miss Pearls.

"Sou muito rápido a sair da confusão" (ou: os bois pelos nomes)

Ontem, pela mão do besugo, esteve aqui um escrito tão inspirado quanto emotivo.

O texto sai, por vontade expressa do besugo, que assim o decidiu, independentemente daquilo em que acredita e, claro, daquilo em que não acredita.

São assim, os Homens de Bem.

Lolita

O lado solar da nova era

Os vinte-vírgula-sete de Manuel Alegre são a prova concludente de que as sondagens de opinião, no mínimo, só servem para "ficar com uma ideia, embora genérica". No máximo, de que omitem ou manipulam. Mas, enfim, não é preciso ir tão longe. Os vinte vírgula sete por cento de votos em Manuel Alegre, acima de quaisquer expectativas (ainda que sem sondagens enganadoras) constituem uma reserva de esperança fora da partidocracia. Manuel Alegre foi muitas vezes inábil, mas conseguiu o fundamental: inaugurar, com expressão eleitoral, a participação política estranha a aparelhos, forçosamente comprometedores e disciplinadores. Afinal, só conhecemos a democracia há trinta anos e viciamo-nos em apenas escolher entre alternativas heterodeterminadas. Uma espécie de contrato de adesão, em que não temos qualquer margem negocial. É essa uma das razões que explica, quer a vitória de Cavaco Silva (preparada ao mílimetro, ao longo de dez anos, para hoje não falhar) quer, pelo inverso, o desastre do PS.

22.1.06

E cai o pano

Em perfeito contraste, Mário Soares foi iluminado por uma qualquer inspiração redentora. Limpou, diligentemente, a mancha quase desonrosa da campanha iníqua e desastrada. Perdeu e saiu pela porta da frente, sábio, ao tornar invisível a sua derrota pessoal e ao deixá-la inteira e, afinal, merecida, ao perdido Sócrates e ao PS.

A primeira hora do resto do mandato

Cavaco Silva inaugura, na verdade, um novo estilo político-presidencial pós-vinte e cinco de Abril. O seu discurso de vitória parecia, afinal, o discurso da derrota: semblante fechado, frases de circunstância, "acabou a festa, é circular, que isto agora é para trabalhar". Não se lhe viu, sequer, uma pontinha de emoção. Um sorriso que fosse. Os aplausos, mortiços; a plateia ensonada ou entediada. Um marciano que visitasse o CCB naquele momento acreditaria, se lhe dissessem, que aquele homem tinha sido derrotado numa eleição e se chamava, digamos, Marcello Caetano. Não é legítimo que uns se arroguem donos da legitimidade revolucionária, mas impressiona muito que outros se pareçam tão assustadoramente com os derrotados da revolução.

Onde está, afinal, a vingança?

Em complemento disto, é importante notar que, há meros quinze dias atrás, todas as sondagens davam sessenta por cento de votos a Cavaco Silva. O que aconteceu, para perder quase dez pontos em tão pouco tempo? Muito mais do que a queixinha ignóbil e a arrogância, manobras tão incontornavelmente primárias que só favoreceriam o recém-eleito presidente, é preciso atentar nos sinais, patentes, da falta de brilho. Da visível incapacidade de responder, de lutar, de contrariar. Em suma, na óbvia e inultrapassável incapacidade de dialogar. Nada me move contra Cavaco Silva, excepto como presidente de todos os portugueses - aliás auto-proclamado, agora que já tratou de assassinar a maioria. Que seria mais confortável se, durante a campanha, não tivesse dado que pensar a alguns portugueses, que quase embarcaram neste embuste de ter um presidente que se recolhe ao casulo sempre que se atemoriza e que, na prática, só pratica o monólogo. Seriam se calhar mais, se houvesse mais tempo. Foi, de facto, "por décimas".

Já é dia da função

O da reflexão já passou.

Considerando:

Os blogues que se levam muito a sério e que, por isso, ontem se abstiveram (segundo vontades expressas, avisadas), em estrito e rigoroso cumprimento das regras de cidadania, de fazer declarações de voto;

Os blogues que também se levam muito a sério e que, por isso, ontem fizeram das declarações de voto pretensos actos de rebeldia, inebriados com o inconfundível prazer de quem quebra um tabu, desrespeita uma ordem materna ou rouba um doce na mercearia;

Eu, já em pleno D-day, declaro o meu voto, convicto e esperançoso, em Manuel Alegre. E acredito que as variáveis "descida paulatina e segura de Cavaco Silva nas intenções de voto" e "onze por cento de indecisos" hão-de estar do lado certo.

E pronto. Voltarei, claro, para as flash-interviews.

P.S. Já me esquecia. Não votem em Cavaco Silva. É um favor que lhe fazem (desculpe, Evaristo).

Domingos

Afinal não foi a tempo. Ou, então, foi; mas não resultou.
Não me correu bem, de facto. Acontece-me, por vezes. Melhorarei.
Paciência.
Pode ser que seja em breve, já amanhã, uma alegria, pode ser que não, pode ser que seja tudo fora do meu tempo, ou que nunca seja. Mas pode sempre ser enquanto puder ser, é um feitio.

21.1.06

Ainda a tempo (espero eu)

Quase que me esquecia.

Ó Paulo Bento:
Daqui a bocado é para ganhar. A táctica é essa. Sem estados de alma, que o Beto até nem joga. É ir lá para dentro e ganhar aquilo.

Atenção: nada de pensar no jogo com o Benfica. Isso é depois.
Já hás-de ter explicado aos tipos, Paulo Bento, que o que eles já sabem (que o Benfica e o Porto estão a jogar melhor que nós, isso é tão evidente que eles também já deram conta) não serve para hoje. Hoje é com o Marítimo.
É jogo a jogo, conforme é dia-a-dia. O futebol tem regras e tem sortes, tem juízes e arguidos, equipa médica e inocentes. Tem, mesmo, advogados e jornalistas! Veigas e Vieiras, Costas e Gonçalves. E Ferreiras, qualquer dia. É como a vida. No entanto, o futebol faz, apenas, parte dela: ou seja, nem sequer é assim tão importante como a vida inteira, limita-se a imitá-la, lá de dentro dela, num cantinho.

Descontrai os putos. Não ponhas cara de medo. Conta-lhes uma história qualquer de quando ainda jogavas, olha, conta-lhes outra vez aquilo: quando marcaste um golo, logo a seguir à morte do teu Pai, foi tão bonito!, há momentos que saem bem e, contra esses momentos, não se pode nada. E ainda bem, por muito que essas pequenas glórias se ergam nas cinzas de momentos maus e, porca miséria, nunca os apaguem.

Eles que entrem para ganhar, sem mais discursos. Força e calma. Mais nada. Berra-lhes isso, a sorrir.

Ah! Já agora: e amanhã que votem bem, os que puderem. Mas que pensem nisso só depois do jogo.

Darwin para nós

Ora, compreender não é justificar. Criticar um dos lados não implica necessariamente uma identificação com o outro.

Só li agora e já tem quatro dias. Mantém frescura.

O retrato de um artista enquanto Homem de direita

Mal tu sabes, Alonso. Mal tu sabes que aquela "posta colectiva" era, também*, um teste, em que tu, meu caro, te espalhaste ao comprido. Num padrão de “normalidade”, a masculinidade não se põe em causa através da contemplação estética e só um vago (ou algo acima disso) marialvismo a associaria a uma suposta dimensão erótica da observação. Marialvismo esse que, em geral, é homofóbico. Homofobia que, por sua vez, é típica da atitude conformista perante o mundo. Conformismo esse que, conforme é empiricamente constatável, é, politicamente, um fenómeno de direita. Et voilá.

Bom. Não seria preciso mais para situar o Alonso na sua área ideológica, mas tudo isto que ele disse merece contraditório.

Eu percebo, Alonso, que a tua decisão de votar em Manuel Alegre tenha de se escudar em valores bem demarcados (e contrastantes) dos valores de esquerda. Para um homem visceralmente de direita, votar num homem de esquerda há-de ser, no mínimo, penoso e desconfortável.
E pressente-se que, nos últimos tempos, te tens sentido meio orfão, meio desiludido com os rumos dos teus pares ideológicos. Tomemos isto como um pressuposto (confirmável ou infirmável; tu, Alonso, o dirás).

O voto do Alonso em Manuel Alegre decorre, sobretudo, de um factor decisivo que tem agradado a uma parte significativa do eleitorado de direita, crítica e pensante, que não se revê em Cavaco Silva (mas, também, quem é que pode rever-se, credo). É que o discurso de Alegre está recheado de exortações neo-nacionalistas e patrióticas, algo líricas, enfim, mas caras e preciosas a alguém que, como o Alonso, anseia pelo regresso da nação aos valores do patriotismo proteccionista. E o Alonso não me parece ser um abstencionista em coisa nenhuma. Ponderados os pressupostos, as vantagens e os riscos, é fácil perceber que o Alonso, homem de direita que não gosta de Cavaco, renega Soares e literalmente ignora as candidaturas de esquerda, digamos, extremista, optaria, como diz ter optado, por votar em Manuel Alegre.

Dizia eu que o Alonso quis, aqui, demarcar-se da esquerda, imputando-lhe, com censura, o discurso da negação que, de resto, conforme adianta, só favorece Cavaco Silva. Por outras palavras, o Alonso quis dizer que vota em Manuel Alegre mas não faz parte da pandilha de esquerda que o apoia, e que faz campanha de negação, através da crítica à pessoa de Cavaco Silva. Eu acho tudo isto muito bem, excepto na parte em que ele me inclui nessa pandilha de esquerda, por causa do meu desvario dos nãos (obrigada, Evaristo, eu nem os tinha contado! Se eu pudesse imaginar que aquilo ia ser publicado aqui, tinha escrito uns quinhentos e cinquenta, a ver se preenchia uma página do DN…).

Nada disso, Alonso. Eu não sou activista política nem faço campanha a favor ou contra. Confio, porque assim o desejo, que o candidato que em decidi votar forçará uma segunda volta, mas não transformo isso num desígnio próprio e muito menos numa batalha minha. Limito-me a ver, a ler e a observar e é, para mim, muito difícil de entender como é que um candidato a presidente da República que, segundo as sondagens de ontem, pode ser eleito à primeira volta é tão evidentemente despreparado, hesitante, pusilânime, dissimulado. Não retiro, sequer, um daqueles nãos; a alguns observei-os, a outros adivinho. Aquele discurso é de negação, sim; mas não é meu. É o de Cavaco Silva, sem tirar nem pôr.

Devo dizer, para finalizar, que me parece que a direita (e tu também, Alonso) terá de reformular este discurso, já gasto, sobre essa suposta superioridade moral da esquerda que, como estratégia de vitimização da direita, já serviu alguns propósitos, em diversas vezes com apreciável sucesso. Parece-me, porém, que os tempos são outros. No caso português, é fácil constatar que bastante mais notório do que isso é que a esquerda fala (demais) e a direita cala (há tempo demais; sabes aqueles silêncios incómodos?). Se a esquerda está pulverizada e enfraquecida pelo advento da esquerda radical (atraente para alguns, mas seguramente objecto de curiosidade para todos, pelo "colorido estardalhaço") a direita portuguesa está pior; desestruturada, decomposta, quase moribunda, só sairá desta travessia do deserto quando deixar de se sentir orfã. No meio deste marasmo político, Cavaco Silva é só a ponta do iceberg.

E isso custa-te, Alonso. Pois custa. Admite.

E pronto. Ainda não é desta vez que és expulso, mas apenas por falta de enquadramento jurídico. E tu nem sequer tentes expulsar-me a mim, que eu conto aqui tudo sobre o teu passado anti-fascista, particularmente sobre aquele dia em que, nos idos de 1975, tu assaltaste o prédio da baixa pombalina onde ainda hoje manténs o escritório a meias com o Garcia Pereira (embora não se falem).

*Vês, besugo? Sai assim, sem querer. Que má vontade a tua, pá...

of human bondage

Todos sabemos da banalização da crueldade. E de tudo. Falar muito nas coisas, pensar muito nelas, pode dar nisto: excesso de estimulação cansa, mesmo, músculos de rã. Isto aprende-se na escola, numa experiência simples, em que, para o fim, o músculo da coxa da rã (e deve passar-se o mesmo com o da nossa consciência, fui eu que descobri este músculo, há alguns anos, embora não venha nos tomos das anatomias) já nem responde.

Tem-se debatido o problema (sempre problemas, eu sei, isto é assim, uma sucessão de problemas) das sevícias que determinadas crianças sofrem, nas escolas, às mãos de outras. As outras são, geralmente, mais. E mais crueis. Maiores é que não sei, uma por uma. E tendem ao liberalismo competitivo, à ausência de regras que não emanem da singela Constituição da Alcateia, e dela emanam muito poucas e muito más. A criança que sofre é, geramente, só uma. No sentido de que é fácil, assim, para quem vem de alcateia atrelada, atacar a presa mais tenra e desgarrada do rebanho.

Isto transporta-se para vida adulta. Crescemos assim. E pode prolongar-se para além da morte, como herança: já não há inferno, lê-se por aí, e não o há, de facto. Não há castigo, paciência, senão terreno. E a polícia, medo real e terrestre, vigariza-se, é sabido.

Tudo se justifica pela natureza humana, como se saber da existência duma natureza humana que é um bocado lamacenta, como se reflectir sobre ela, não impussesse mais nada que reconhecê-la e reflecti-la, como fazem um detector banal e um reflector comprado nos chineses. Mais: como se o simpes reconhecimento dela a legitimasse. Mais ou menos como se lê aqui, não é para pegar, quero que se foda, mas lê-se isto (o que caracteriza especificamente a espécie humana não é só a «dignidade humana». É, também, a inteligência, a cobiça, a moral, a mediocridade, o altruísmo, a inveja, e por aí fora) como se fosse - e era - um argumento desprovido da condenação do seu próprio reconhecimento como argumento fraco. E fica-se desconsolado.

Uma miúda que eu conheço tem sido vítima disto, na Escola. Os professores foram, agora, quando se soube, alertados pela Mãe. Provavelmente já sabiam, mas os miúdos da alcateia, hoje em dia, ameaçam com os pais que têm em casa, como se os pais que têm em casa valessem grande merda, sendo eles assim. E isso tende a aumentar o limiar de percepção dos professores, eu compreendo: é dificil estar só, no meio da selva de Darwin das novas melopeias, sem assobiar um bocadinho para o lado. É engraçado, isto: uma teoria elaborada para explicar coisas da vida animal, há muitos anos, agora adoptada, por quem se cuida quase excelso e incorpóreo nas suas meras análises e nas suas meta-análises, como justificação para quase tudo. A selva substantiva que se transforma, por artes de desleixo, em imperativo verbo. "É assim" como se se dissesse que "tem de ser assim".

A miúda também tem pais, mal feita fora, que tomarão as suas medidas; sei que sim.
Aqui, em casa, já foram decididas duas coisas, pelos meus filhos, que são amigos dela, até são mais que isso, embora sejam um bocadinho mais velhos e de turmas diferentes:
1 - Vão procurá-la mais, nos intervalos. Teoria da integração do cordeiro só.
2 - Quem lhe bater leva, imediatamente, na tromba (e eles têm tomates para isso). Teoria do "isto é assim, mas não tem de ser e vai deixar de ser". Mesmo sabendo que isto dar na tromba pode implicar, e implica quase sempre, levar nela também.

E outras duas foram decididas pelos pais deles, dos meus filhos, que vão como 3 e como 4, porque são aditivas e não se misturaram na primeira conversa, por motivos de deixar à solta os tomatinhos de quem tem de os exercitar, a ver se tilintam:
3 - Se a coisa tocar a chamar paizinhos maus, os pais da miúda também não estão sós contra a moirama. Vamos a ver, então, o cheiro das tintas.
4 - Se os conselhos executivos, os pedagógicos, os directores de turma, o mundo inteiro, tiverem mais gente assim, menos condescendente com as pequenas e as grandes inevitabilidades da natureza humana, mesmo enquanto infanto-juvenil, escusam os professores de ter medo dos alunos ameaçadores, dos pais perigosos deles e, mesmo, dos tios "que até são ciganos ou que, não o sendo, fazem carrancas". Escusa a natureza humana de ser uma espécie de cavalo manso atado ao poste da inevitabilidade da sua condição de atado a um poste ainda mais manso, que um cavalo à solta é bem melhor. Porque corre sempre livre, sem deixar de ser manso; mas tem, ainda assim, obrigação de relinchar alto, de escoicinhar quando é preciso, abanando a crina sem vergonhas, para escrever um prado que apeteça a muitas mansidões.

A natureza humana não tem de ser, só porque tende para isso, "of human bondage". Há um belo livro que explica (e quase expia) isso muito bem. A natureza humana não é um jogo de servidões, a menos que o árbitro esteja sempre comprado pelos que têm maior PIB (Poder Influenciador de Bacocos) e não se possa, merecidamente, pendurá-los pelas patas, ao árbitro e aos PIBes, para os aliviar um bocadinho do cagueiro mole, ainda que isso seja chato e lamentável: é chato, é lamentável, mas impossível é que não é.

Tabaco (é um título, pronto)

Alonso:

Isso dos olhos, francamente, não entendo. E não entenderia de qualquer maneira. Que raio te incomoda? A lolita escreveu que "bonito vem dos olhos". Eu acho que sim, que vem. Ia quase dizendo "que também vem", que diabo.
Na maior parte das vezes vem.

Depois, é aquela história do albedo de que eu falava ontem (admito que me interesso pelos estudos dos meus filhos e, com isso, recordo, reaprendo, não passa disso): tens uma fonte de energia, que podem ser os olhos; emitem aquela coisa que todos os olhos emitem em proporção variável, chamemos-lhe energia (ou beleza, por que não?), que é o denominador da razão-albedo; depois, ainda, há aquela quantidade de beleza (ou de energia, pronto) que é reflectida por nós, os receptores - é a que não queremos, a que achamos que não é connosco, pronto -, que é variável; e que é o numerador da razão-albedo; e temos pouco mais.

Ah! temos isto, desculpa lá, pá. São duas coisas que me fazem franzir o cenho; mas tu e eu, não sendo companheiros de guerras antigas, somos amigos de há mais de doze dias, por isso tas digo. Até te digo três.

1 - Tu sabes o que penso da paneleiragem; e eu acho que já expliquei que não penso, da paneleiragem, o mesmo que penso dos homossexuais. Os paneleiros são só caricaturas de coisas mais sérias (e nem sequer se limitam a ser caricaturas de homossexuais, são caricaturas de quase tudo o que lhes der na mona), são palhaços. E podem sê-lo, gosto de circo, desde que não me chateiem; e chatear-me é muito difícil (não é como irritar-me, isso é mais fácil e passa-me logo). Posto isto, diz lá, claramente, o que te fez escrever isto: "...Homem que é Homem pode dizer dos olhos de outro homem muita coisa, mas não diz que são bonitos" . Alonso: um homem pode, como uma mulher pode, dizer o que quiser dos olhos que quiser. Não pode? E nem sequer foi dito que os olhos de ninguém eram bonitos, disse-se ali que "bonito vem dos olhos".
Ora relê, regula lá isso para o teu albedo mínimo.

2 - "... com a conivência do besugo, que ante a lolita ou murmura coisas incompreensíveis ou se limita a dizer sim, com a cabeça, não vá ela chatear-se". Isto disseste tu, Alonso, em dia de almoço tardio - sim, que eu sei da tua vida, pá!, comes coisas que te fazem mal e dá nisto. Ora bem: isto de conivências é tramado. Por um acaso que eu acho mais estranho que a própria cronologia das marés - e ela é bem simples para qualquer pescador - somos os três, a lolita, tu e eu, que eu saiba, coniventes numa causa. Isto é raríssimo. Portanto, não me acuses de murmurar coisas incompreensíveis: podem ser incompreensíveis mas são ditas alto. Nem de me limitar a dizer que sim, animal, que eu posso dizer que sim, ser limitado, mas nunca fiz as duas coisas ao mesmo tempo.

3 - Sou teu amigo, por isso vai-te lixar. Fuma, que te faz mal. Devíamos deixar este vício, sabes? Eu pago-te um maço de cigarros - lá está, sou teu amigo - se precisares, que não precisas, mas devíamos parar com ele. E a lolita também.


Última nota:
Eu acho que tu não tens um albedo elevado, porque te conheço e sei muito bem da tua capacidade de absorção. Tu tens é medo de absorver em demasia, porque achas que já absorveste tanto que possa não caber aí quase mais nada. E, às tantas, ainda cabe.
Tungas.

20.1.06

Parece que o Comité Central se reuniu outra vez ...

... e desta vez nem me disseram nada. A lolita voltou a usar a procuração que em hora aziaga me esqueci de trazer da sede, e pôs-me ali (com a conivência do besugo, que ante a lolita ou murmura coisas incompreensíveis ou se limita a dizer sim, com a cabeça, não vá ela chatear-se) a dizer que os olhos do Alegre são bonitos.

Ora, neste caso, o abuso da procuração foi evidente. Homem que é Homem pode dizer dos olhos de outro homem muita coisa, mas não diz que são "bonitos" (a não ser que o homem em causa seja um filho, ou o Pai). E eu cá acho os olhos do Alegre ... olhos.

Levo este abuso à conta da bezana que os meus colegas, sedentos de notoriedade (sim, que eles são ambos vaidosos e inseguros), apanharam quando viram que o blog passou a fantástica marca das 100.000 visitas. Das quais 50.000 são visitas nossas, e as restantes de três ou quatro caramelos que não trabalham puto e visitam todos os blogs que há, várias vezes por dia.

Adiante.

Hoje os jornais publicam sondagens. Todas dão mais de 50% ao Cavaco nestas eleições, o que significa, se estiverem certas, que esta primeira volta se arrisca a ser a última.

Tenho, quanto a estas eleições, ambivalentes sentimentos. Chateia-me não haver um único candidato em quem reveja o meu modo de pensar e ver a coisa pública, mas também não tenho dúvidas de que, caso algum assim se apresentasse, teria a mesma dimensão eleitoral do Garcia Pereira.

Dos principais candidatos, o único que me inspira simpatia é o Alegre, e isso será revelador daquilo a que ele próprio chama a "transversalidade" da sua candidatura. E, devo dizê-lo, foi o único que manteve, ao longo da campanha (não falando no tacticamente silencioso Cavaco) um discurso de afirmação, não de negação pura.

O que acho notável, considerando que 99% dos seus apoiantes (entre os quais se incluem, e são lapidar exemplo, os meus colegas de blog), do que gostam mesmo é desse discurso.

Sendo que o exemplo mais acabado do que acabo de afirmar é o curto post da lolita, recheado da palavra "não".

Fôra eu um apoiante do Cavaco e responderia a tal post repetindo-o integralmente, dele apenas retirando os muitos "nãos" que nele se encontram. E o mais engraçado é que a verdade estaria do meu lado.

É que pode-se não gostar do Cavaco, tendo-se ou não já votado nele (e eu nunca votei, coisa que desconfio - sem ter a certeza - que a lolita não poderá dizer, se se lembrar dos idos de 1985, 1987 e 1991), mas não se pode, seriamente, sequer pensar que ele se pode definir pela palavra "não".

Penso ainda que este tipo de menosprezo, que chega a ser desprezo, do adversário, praticado abundantemente pelo Soares, não produz qualquer efeito útil. Eu sinto, quanto a esse senhor, visceral e se calhar pouco lógica repulsa. Mas não me passaria pela cabeça, fosse ele o principal adversário de um projecto político a que eu aderisse, dedicar mais tempo a vituperá-lo do que a defender as virtudes desse "meu" projecto.

Eu conheço a esquerda, assumida ou não, o suficiente para saber que, quando a discussão aquece, a racionalidade se esvai e a capacidade argumentativa também. A esquerda, ao contrário da direita, parte de uma matriz intelectual feita de certezas, verdades adquiridas e suposta "superioridade moral e intelectual". Quando se lançam dúvidas sobre tais certezas, quando se contestam tais "verdades", quando se põem em causa tais superioridades, a resposta ou reacção normalmente descamba. Para a negação feita nestes termos: "Não! Porquê? Porque sim!"

Tanto a esquerda como a direita têm fantasmas ou esqueletos nos armários. Curiosamente, a direita lida com eles muito melhor do que a esquerda. Aceita-os como são, não com o eufemismo dos "erros de percurso" que a esquerda costuma usar. Talvez porque a direita seja estruturalmente mais relativista, não sei.

Bem ... isto já vai muito para lá do que a princípio pretendi escrever. E termino dizendo o seguinte: os esforços do Soares, secundado pelo Louçã e pelo Jerónimo e ainda por uma multidão de apoiantes seus e ainda do Alegre (entre estes a lolita), para demonizar pessoalmente o Cavaco, foram uma das melhores prendas que este recebeu nesta campanha. Estou convencido que lhe granjearam votos.

E fico, por isso, contente por o Alegre não ter embarcado em tal discurso. Fica a crédito dele. E tenho a impressão que esse crédito não só não lhe alheia votos, como os granjeou.

Bonito vem dos olhos



Alonso, besugo e lolita

Osmoses, diálises "e tragam mais absintozinho"

Mais lhe valia ter ido às aulas de geografia. Sabe o que é albedo? É uma razão entre a quantidade de energia reflectida pelo receptor (dela, da energia) e a quantidade de energia emitida pela fonte (dela, da energia).
Miguel Esteves Cardoso não era para ler tão cedo, muito menos durante faltas a disciplinas importantes. Portas, esse, nem sequer era para ler. E Vicente Jorge Silva tinha razão, pelo que absorvo.

Para manter o nível sintáctico do seu texto-base, digo que Vicente Jorge Silva "tinham" razão. E que o seu albedo é relativamente alto: quando não, absorvia mais.

Reflectir é, também, outra coisa. Lá estou eu, alguém que me abata, como naquele filme em que os bois eram cavalos.

Mira, Chanquete!



















Separados à nascença (sim, isto é competamente desfasado no tempo e é, mesmo, mentira, eu sei; mas fixem-se nesta verdade: há placentas, por exemplo, que demoram a sair completamente lá de dentro, do sítio escuso em que apodrecem do tédio puérpero, que isto de sair pode ser, também - foda-se, ok, e o também, também! - um processo complexo, que pode demorar lustros infindos; aliás, o apodrecimento é mais lento quando está de inverno; lá está, por isso é que se congelam os frangos; e, lá está também - isto vai mal... - , por isso é que o verão é tão bonito, desde que não haja muitos incêndios e o sol se ria para nós, mostrando-nos as gengivas limpas dum estio azul, ou doutra cor qualquer que também - lá estamos nós, caraças! - cheire bem).

Com o alto patrocínio da TIR

Já se sabe. O besugo mente, e mente descaradamente.
Aliás, ele sabe muito bem que tirámos a carta ao mesmo tempo*, mas eu até admito que ele tenha mais tarimba.

Ei-lo, ao lado do bólide em que diariamente desliza no asfalto:




*Ele com algumas dificuldades, enfim. No exame de código, só foi lá com explicações.

Como se dá uma boa cabeçada (não tentem isto em capoeiras avulsas)

Olha-se o garnizé nos olhos e cerram-se os punhos, para ele pensar que o perigo vem dali. Podem abrir-se os braços, para o garnizé se fixar neles e pensar "Ah! Toiro lindo!", enquanto assume pose de forcado amador de Santarém. Depois, faz-se um movimento de pescoço, para trás. Logo a seguir faz-se outro movimento de pescoço, para a frente. Isto tem de ser muito rápido e, de preferência, devemos acertar com a testa na bitrácula do pequeno galo que nos afronta, o forcado, que sangrará abundantemente e chamará, sem demora, por toda a ascendência materna, em correndo bem. Em correndo mal, podemos aleijar-nos. Até aqui, estamos de acordo.

Se o outro tipo for maior que nós é preferível dar-lhe logo uma biqueirada no escroto. Ele baixa-se e podemos regressar ao plano um, o da testeira na nariganga. Ou aplicar a sábia e uruguaia joelhada na maçã de adão. Em correndo bem, que isto é sempre mais ou menos como calha e nunca se sabe quando somos nós a fracturar a traqueia em joelhos alheios.

Ou seja, tudo na vida é muito relativo mas há gajos que estão sempre sentadinhos e a mim apetece-me escrever estas merdas sobre pescoços e outras cartilagens, mas com músculos à volta.

Por falar em Renault

Não percebo como se pode dizer que "eu gosto da Ferrari!". Que é esta merda da Ferrari? É uma confeitaria que ardeu há muitos anos, no Chiado e com ele, ou é uma marca de carros? E, sendo assim, uma marca de carros ou uma confeitaria, torce-se por confeitarias, por "escuderias" mecânicas, ou derramamo-nos (a ter de ser) por homens e mulheres que os/as conduzem?

Fica aqui a minha homenagem a Michelle Mouton, gazela (um bocadinho nutridita de mais, para o fim da carreira) do asfalto e da terra batida, que descia o Marão, pela estrada de terra, de tal maneira que até parecia que o Walter Rohrl era um mero pendura de tractorista. Claro que eu preferia o Markku Allen, lê-se "Alén", mas isso é porque eu sou um boi e a estrada do Marão, a antiga, tinha pastos verdejantes derramados pelas bermas. Agora não sei.

Que a lolita não tem carta, não tem. Mas guia, paciência...

Alonso (isto vai render visitas dos maluquinhos da Renault):

Já não escreves nada desde o dia treze de Janeiro e hoje já são vinte.
Gostas de ameaçar pessoas de despedimento mas tu é que não cumpres o horário. Não cumpres, sequer, o semanário!
Estás feito.
Tens vinte e quatro horas.
Minto: tens menos.

Revelação primeira, após as 100.000 visitas em dois anos e meio, grande coisa: o alonso não sabe guiar; a lolita sabe mas não tem carta.

Eu antes queria estar a escutar o Jorge Palma. E os meus filhos o Pacman.

A lolita está a surpreender-me cada vez mais. Arranja cada fotografia!
Quem é o senhor esquálido que está a abraçar o aka?
O Tino não é, que é menos comprido...

Nirvana (não, não é a agremiação melódica)

OK. O EPC, quando quer, é chato como o caraças.
O Vasco Graça Moura é que é chato mesmo quando não quer, mas isso são outros nirvana (*).

E não merece a pena derramar a minha linfa. É verde.

(*) Nirvana é, também (**), o que vai já a seguir.
(**) Lá está o que eu digo.

19.1.06

Mas atenção: a minha candidatura é supranumerária!


Oops... desculpa, confundi-te com o Marques Mendes.

Foto do Mandatário Digital.

Pouco mais se sabe dele, além de que leu o suplemento do boletim do Banco de Portugal

Sabe-se, ainda, que Cavaco Silva não fala, não comenta, não sabe, não favorece, não viu, não foi, não leu, não esteve, não pensa, não percebe, não ouve, não seduz, não descontrai, não explica, não critica, não salpica, não exulta, não emociona, não sonha, não atrai, não amacia, não mexe, não alegra, não ri, não sorri, não enternece, não amortece, não enobrece, não vai, não fica, não adianta, não avança, não afirma, não raciocina, não convence, não sossega, não apazigua, não é.

Por favor e não vos peço mais nada

Não vou escrever mais sobre eleições. Não faz sentido, estou dorido. Leram-me (leram-nos) menos de cem mil pessoas em dois anos e meio. Gota de água. Não temos voz senão a nossa e poucos mais ouvidos temos que os que temos.
Antes de ir dormir, pus o bonito hino da campanha de Manuel Alegre (está aqui) e decidi contar-vos isto. Coisas soltas de que gosto, eu, homem imperfeito e dado aos solavancos do chorar e do rir liberto, tantas vezes desprovido dos travões de mão da cautelinha.

Gosto muito da voz do Paulo de Carvalho e de palavras que me encantem. Gosto das frases que afirmam, ou que negam, não me contentando, nunca, nas meias tintas de redondilhas menores. Não gosto de poesia sem música, nem de música sem palavras. Aprendi com os meus erros e hei-de repeti-los, ainda assim, se acreditar neles ainda mais um bocadinho. Hei-de mudar a vida por dentro dela, a menos que morra antes de a minha vida acabar. Se morrer antes dela, como dizia Tordo, "esta luz fica acesa". Gosto de Manuel Alegre, como gosto de Jorge Costa, capitão do Sporting que eu queria, e da minha Mãe e do meu Pai. E de mais gente, que não posso agora. Enfim, um bocado menos que da minha Mãe e do meu Pai, mas muito, ainda assim. Gosto de pessoas que são chatas, imaturas na madureza, capazes de ferir sem perceber, de perceber que ferem mas ferem na mesma, de tocar nos outros (e nas outras) e de ser tocado, nem que seja mal amado. Gosto dos meus amigos, que cada vez são menos mas melhores, gosto de céus azuis e de chuvadas. De geadas. Gosto dos meus filhos e da mãe deles, que mos deu sendo eles dela. Gosto de mim, mas menos, que sou menos importante que os meus gostos. Gosto do alonso, que gosta de mim pelo que só ele saberá, acaso goste. Gosto da lolita, que gosta de mim sei lá porquê, eu já me tinha despedido, se fosse a ela, mas gosto muito dela, até por isso.
Gosto de quem me procura precisando-me, trazendo-me nos olhos a candura ou a malícia da precisão, que nos olhos lê-se quase tudo. Gosto de quem gosta de Manoel de Oliveira e de Sean Penn, porque gostar é gostar e é muito belo, isto de gostar, seja do que for. Gosto das diferenças, porque tenho, da minha razão, certeza relativa. Gosto de toda a gente que seja , ou me pareça ser, de bem. Já me enganei e sei, de fonte minha, que ser de bem é ser "quase toda a gente", dependendo.

Peço a quem me lê e me tolera, mesmo aos poucos e poucas que calhem gostar de mim pelo que me pressentem, coisas de bom, coisas de mau, que votem em Manuel Alegre. Um homem melhor que eu, mais velho que eu, mais jovem que eu em tantas coisas. Nem sempre seguro, como Leanor, nem sempre certeiro, como um desajeitado sniper, nem sempre ganhador como o Sporting. Votem nele. É do Benfica, paciência. É um Homem bom e altivo na bondade, como bons devem ser os homens, a altivez é que os guinda. Por isso eu fico aqui e ele, se puder ser, chegará lá. Por nós, que nos gostamos todos duma maneira misturada, como tudo o que se cozinha em cadinhos de lava.

Escutem a música, por favor. É muito bonita. Está ali ao lado.

Revelações cataclísmicas

Estamos perto de atingir as 100.000 vistas. Como não temos comentários, achamos que todas as nossas visitas limparam os pés antes da porta. Ter 100.000 visitas é banal. O Abrupto parece que já tem. Não sei, mas acho que sim.
No dia (ou na noite) em que atingirmos as 100.000 visitas eu prometo que revelaremos a verdadeira identidade da lolita e do alonso. A minha não, porque eles me pediram que "não, besugo, não faças isso, não te percas, diz antes a nossa!". E eu, debaixo desta capa de inconsequente, sei bem retirar consequências de pedidos destes. E não diremos a minha.

Hoje levanto, apenas, a ponta do véu.
A lolita é uma pessoa com uma situação precária no que respeita aos serviços de Estrangeiros e Fronteiras e o alonso é ponta de lança do Benfica, uma espécie de Francisco José Viegas em mais magro.

(se eu aparecer pendurado pelas patas não pensem que foi o povo!, foram eles!)

Now, singing this lovely ballad... here is Mama Cass



Dream a little dream of me, The Mamas and the Papas

18.1.06

Ah, mas já 'tava morto, ora!

Anda agora uma série italiana na RTP (acho que é na RTP) que é boa. Mas eu não vejo porque já sei o fim.
Aquilo é sobre um gajo que casa com a filha do Mussolini, mas acaba por ser sobre o Mussolini. Não há história nenhuma em que entre o Mussolini que não seja, também (*), sobre ele.
Assim sendo, aquilo há-de acabar com o Mussolini pendurado pelas patas. Salvou a Itália, conforme ele disse variegadas vezes, pôs a "botinha" nos "cornos da Europa", mas depois deram-lhe alguns tiros e dependuraram-no pelas patas. Pronto.
Eu não concordo que se pendurem pessoas pelas patas, mas admira-me como é que há gente que consegue cismar que não é candidata a esta "inversão posicional", durante a vida ou, quanto mais não seja, "post-mortem".
O povo é sereno, mas também é um bocadinho como aquela história das tempestades de neve: vai o alpinista a escalar o seu K2, de fato quente e de botinha aventureira, quando, nisto, vem a neve e diz: "ah! estás aqui, pá? que pena tão grande!". E derrama-se sobre ele em grande algazarra algodonosa, sendo certo que trinta mil quilos de algodão pesam tanto como trinta mil quilos de chumbo.

É uma sina. Os ciganos lêem bem as sinas. Eu, quando era miúdo, até pensava que liam a "cigna".

(*) Lá está, isto do "também" é uma doença praticamente transmissível.

Estrangeiros

Um sérvio encontrou um lapão, que mascava um coirato numa esplanada, e perguntou-lhe:
- Olha, ó lapão: tu não és aquele lapão que costumava contar anedotas sobre deficientes, rindo alarvemente?
- Sou - respondeu o lapão ajeitando-se dentro de si e por fora, mas pouco, do coirato. - E tu não és aquele sérvio que também se ria das minhas anedotas?
- Sou. Quando as contavas bem. Mas olha: tu agora estás como presidente da junta dos deficientes por causa de seres um gajo com piada ou por outra coisa qualquer?
- Não. Estou lá porque estou.
- Ah! Pronto, então.
- Não é "pronto, então"! Eu sempre me senti um defensor de causas!
- Mas tu ficaste famoso, em tempos, por abandonar amigos em apuros, lapão. Desde os tempos da universidade. A tua maior causa era, segundo sei de fonte luminosa, o "dar de frosques"...
- Esses eram amigos não deficientes. Lá está. Eu defendo causas, mas não defendo as causas todas. Por exemplo, se houver molho eu retiro-me, que sou civilizado. Mas defendo causas, ora.
- Defendes só as tuas?
- Não, estúpido. Por exemplo, agora defendo as deles. Mas eles são deficientes, portanto tenho de me defender deles, não entendes que eu só gosto deles na medida exacta do meu gosto por mim e pelo meu seboso harpeiro?... Olha, tu és parvo. Nunca passarás de sérvio.
- Nem tu de lapão. Bom apetite para o resto de coirato que estás a mascar.

Estás aí, São Tomé?

Querem ver que os tipos da SAD não só não conseguem arranjar um avançado qualquer com mais de sessenta quilos e de um metro e setenta como, ainda por cima, vão renovar contrato com o Beto? Querem ver? Querem ver?

Boa malha

Olha, pois foi, lolita. E disse mais coisas.
Mas resumem-se. Enfim, as partes que me interessam, pronto.
Eu faço isto, basicamente, para que metade do eleitorado de Cavaco entenda o artigo, que está puxadote.

Bom. Fundamentalmente, defende que Cavaco não diz grande coisa ou, então, em alternativa, parece-lhe que diz; e que os outros também não dizem coisa grande ou, então, o que se lhe afigura menos que remoto, parece-lhe que dizem, mas, se dizem, dizem pior, claro, sobretudo porque Cavaco é austero e muitíssimo trabalhador e empenhado e aquela malta da esquerda tem a mania de complicar tudo, evidentemente por falta de preparação e de categoria e, mesmo, de mais coisas. Por isto tudo, essencialmente, diz ele que prontos.
É mais ou menos isto.

Ah! Já mais para o fim, afirma que o que é preciso, o que faz falta, é sacudir a malta, esbofetear a malta, chatear a malta.
Portanto, por Deus!, se o Dr. Cavaco for eleito, pode começar pelo aka, na parte das chapadas e das sacudidelas! Pode demorar-se bastante com ele, que ele aprecia. Mais: se for outro qualquer a ser escolhido para "homem sério e preocupado com o país", pode dar-lhe chapadões na mesma, ao aka, chateá-lo à brava; deve mesmo começar por ele, deter-se ali, que ele parece precisar destas provas de seriedade e, sobretudo, de bastante estímulo.

Eu passo.

E nem sequer estou a contar com o IP4

Abre-se, esta noite, o Pulo do Lobo e salta uma crónica assinada por Carlos do Carmo Carapinha (aka MacGuffin). Que, a dada altura, reza assim:

Acima de tudo, os candidatos da bendita esquerda limitaram-se a disfarçar o vazio e a indigência das suas próprias propostas acusando Cavaco Silva de falar de assuntos indizíveis e estranhos a um presidente da república. (o sublinhado é meu, naturalmente)

Há que dizê-lo com toda a clareza: isto só em parte é verdade.

Por um lado porque só um adversário muito distraído acusaria, com essa pompa toda, Cavaco Silva de falar. É sabido que ele, geralmente, "nada tem a comentar". E, por outro, porque em qualquer caso a acusação sempre será justa e acertada, venha de quem vier: é que sempre que quebra a regra do silêncio e se lança, pesaroso, a discursar, o seu verbo é indizível. E, não raramente, muito estranho.

17.1.06

Operação "bico calado"

No próximo domingo vai haver uma sondagem, parece-me. Embora não se deva atribuir-lhe mais importância que às outras que já houve. Por Luís Delgado (eventualmente, se ocorresse uma metamorfose no seu sistema de cristalização, um dos mais acutilantes minerais da escala de Mohs, talvez só comparável ao talco em proeminência de aresta), já nem havia esta de domingo.

Eu vou mais longe.

Eu acho que Cavaco deve ser proibido de entrar na tal sondagem de domingo, nem que seja pela brigada de trânsito da GNR. " - Nã, nã, nã, meu amigo, tenha paciência, não há cá mais sondagens, nem o caraças, andor! O senhor já entrou em sondagens quando nem sequer era, ainda, candidato a coisa nenhuma, por isso faça favor de dar de frosques. Vá ler relatórios. Vá jogar matrecos. Não me interrompa aos gaguejos, senhor! Vá gaguejar para casa! Nesta sondagem não entra, já lhe disse, já leva pelo menos duas sondagens de avanço, cavalheiro! Vá fazer sondagens na costa algarvia, a ver se sai pitrol! É circular, homem, é circular, sefáxavor!"

Palpite para domingo, caso a GNR não cumpra a sua missão patriótica: 44,6% (e, mesmo assim, cerca de 10% dos votos depositados no candidato de Pacheco Pereira - e de mais dezassete ou dezoito mil sinceros e respeitáveis aficionados, incluindo uma fadista que não é da família Câmara Pereira e o Sá Pinto - serão de invertebrados que "também" se revêem em valores como a solidariedade, mas isso é só se for com eles, em forma de pilim contado ou apresentando-se como aliciante simulacro de manejo de corpos cavernosos alheios... a ver se sai pitrol, exactamente).
Toma nota, "cátedras". Abana e depois vê se tilinta.

Ele veio para estes lados? Olha, nem dei fé...

De facto, isto que ele diz do IP4 (e que a lolita me conta, obrigado, lolita) é mentira.

O IP4 não está, de facto, graças a Deus e a mais gente, conforme ele o deixou. Algumas pessoas de bem, que se chatearam de ver aquela merda a matar de maneira perfeitamente descomunal, resolveram dedicar-se a exigir (e a conseguir) alguns melhoramentos na "obra". Tornaram-na mais lenta, paciência, mas mais segura. Não falo em nomes, são conhecidos de quem se interessa por estas coisas, e são nomes usados por gente empenhada. Não, não pertenço a nada disso, estou à vontade, portanto, para lhes tecer elogios, mas conheço algumas das pessoas e pareceria mal. São boa gente.
Portanto, mente, o senhor catedrático filho de Teodoro que abomina veterinários. Aquilo não está, de facto, uma merda tão grande como ele a deixou, semeada em forma de poia, aos ventos do Marão.

Por outro lado, é interessante percebermos isto: que o senhor que só entrou na corrida para presidente da república depois de não sei quantas sondagens favoráveis à sua fantasmagórica pessoa, continua convencido que aqui deixou "obra de jeito". Nenhum empreiteiro medianamente honesto falaria com tal devoção e orgulho duma empreitada que lhe tivesse saído assim, um inenarrável monturo.

Isto acontece a quem passa dias, meses, anos a ler.

Olha! O IP4 ainda está no mesmo sítio onde eu o deixei há dez anos atrás!

Quem viu o Jornal da Noite na TVI saberá que Cavaco Silva esteve hoje em terras transmontanas, região onde, para além de lhe terem falhado os populares nos banhos de multidão (excepto em Tchabes), pôde verificar com os seus próprios olhos que o IP4, como o país, não foi pá frente. Não se sabe se do pasmo ou do frio, o certo é que repetiu aquela frase tantas vezes que, receoso de uma indigestão do telespectador, José Eduardo Moniz ordenou ao repórter de serviço que abreviasse o directo no jantar-comício em Vila Real. "Cavaco Silva falará, conforme sucedeu ao longo do dia, do IP4 que deixou há dez anos atrás... ou isso".

E sobre agapantos? Também não fala?

Por falar em fihos (já vos disse que tenho dois?... ok, está bem, caramba, está bem) dei-lhes a ler aquele artigo da Visão em que se faziam perguntas triviais aos candidatos à presidência da república e, também (*), ao Cavaco Silva (o Sá Pinto estava a fazer juras de sangue com a Juve Leo, mostrou-se indisponível).

Perguntaram eles, no fim.
"Ó pai, o que são purdeys?"
"São espingardas de caça, eu também não sabia, mas vem explicado por aí..."
"Gosto deste senhor das barbas".
"Fazes bem".
"É neste que votas tu?"
"É..."
"Por que é que o C. nunca responde a nada?"
"Sabes ao menos quem é o C.?"
"Sei lá...Cromo...?"

Eu gosto muito dos meus filhos.

(*) - Como vêem, aqui se explica para que serve o "também". É para usar quando se enumera, e assim. Não é para atirar ao calhas, quando calha não sabermos mais que um cisco sobre o que estamos a dizer e queremos deixar no ar a impressão de que só não dizemos mais porque somos poupados na exteriorização do conhecimento, limitando-nos a deixar cair, do tema, uns pingos de subjectividade.
Eu sei, passo a vida a fazer isso, mas não caio na esparrela. É, também, uma forma de estar. Ooops....

Cuidados de besugo

Já vos contei que tenho dois filhos? Já? Trinta e cinco mil vezes? Ai respondeis em coro?
Perfeitamente. Ide-vos foder.

Bom. O mais velho estava a estudar História na mesa da cozinha, com ar pesaroso. Perguntou-me: "Pai, sabes quem publicou os edictos de Milão e de Tessalónica?".
Eu não resisti: "Foi o Vasco Graça Moura, pá".
Ele é um excelente filho: "Ah! Então aqui está mal. Aqui fala em Constantino e Teodósio...".

Eu gosto muito dos meus filhos, sempre, mas hoje gostei mais deste. O outro fez cara de parvo desconfiado, tenho de me pôr a pau com ele.

Esta rapariga, valha-me Deus...

Caramba, lolita, nunca tinha visto o Tino assim, enfeitado de fatinho e gravatame! A fotografia foi tirada na cerimónia da entrega de prémios da Quinta das Necessidades, aquilo que havia na TVI antes de abrir a tropa?

Parece o Cavaco, bolas! A sério! Reparaste? Ora repara bem.

Buh!


Terei esta foto à mão nos próximos cinco anos, a menos que ele nos surpreenda com um esgar ainda mais emblemático no próximo Domingo.

Roubada ao José Ferreira Marques.

16.1.06

Não eram notas soltas; mais pareciam as Valquírias.

Quanto a propaganda subliminar, Mário Soares não tem qualquer razão de queixa. Nenhum outro candidato dispõe de um comentador da actualidade política que ponha ao serviço de uma candidatura a sua astúcia sibilina, quase imperceptível, quase a parecer distanciada isenção. Parte, claro, de evidências cândidas: a pulverização dos candidatos da esquerda não só não capta eleitorado a Cavaco Silva como o beneficia. E Manuel Alegre, esse, já vai tarde para tentar bipolarizar. Partindo da premissa (que dá como assente) de que não haverá segunda volta, o que António Vitorino, assumindo o rosto do desespero da causa perdida, quis hoje dizer com aquele discurso especialmente polido foi isto: "Todos com Soares (já que, tal como gostaríamos, os outros candidatos não desistem) contra o cavaquismo."

Sobre falar baixinho

Eu também. E muito. Às vezes apago-me só no dia seguinte, outras é logo.
É nessas alturas que me sinto pior da coluna, é certo, mas eu só tenho uma fiada de vértebras, não tenho mais. Da mesma forma que a estimo, assim lhe dou tratos de polé. No fundo, é minha. E é disso que se trata.

Da doçura

Doce é sabermos que, de vez em quando, mesmo quando não assinamos um texto, ele foi escrito.
É com a lolita que falo, neste caso. E com quem mais quiser que seja.
Eu sou parcial, como Ana Gomes. Antes isso que ser ainda menos.

Regra antiga, mas pronto.

Cada vez possuo mais esta certeza absoluta de dever julgar por mim. De pensar por mim, de fazer passar pelo meu filtro o que se me apresenta, o que vou beber ou cuspir para o lado.
Sei que beberei muita mistela insana e que cuspinharei muito elixir bondoso, fazendo assim. Mas culparei cada vez menos gente das minhas digestões.

Notas sobre pequenas contrariedades

O que chateia, mesmo, é que toda a gente esteja tão viciada em “comparar”. O Audi do vizinho do segundo esquerdo é mais caro do que o BMW do vizinho do segundo direito. A praia é melhor do que o campo. O campo é melhor do que a praia? Lobo Antunes será melhor do que Saramago? De frente ou de lado? Maria Filomena Mónica pode lá comparar-se à Susan Söntag? E o Porto é mesmo melhor do que Lisboa, do ponto de vista de um senegalês?
Perdem-se, pelo caminho, as competências para definir sem relativizar. Nenhum conceito possui conteúdo próprio que não se situe perante a sua antítese, o seu superlativo ou a sua imitação. Esta obsessão instalou-se, viciante, nos raciocínios e opiniões de tal forma que o desassossego de muitos frequentemente depende de, perante um hipotético cotejo, a resposta lhes surgir, impiedosa, desfavorável a si.

É neste preciso momento que se manifesta a inveja. A inveja, da qual se diz à boca cheia ser feminina, da mesma forma que se diz ser de direita o ultra-nacionalismo. Enfim, são os efeitos nocivos das absurdas generalizações. Mas não faz mal; vive-se bem, com esse estigmático carimbo. Em nome da aproximação dos sexos - ideia que é tão acarinhada por tantos e tantas -, há, porém, que repor a verdade e a justiça. É comum, sabe-se, que uma mulher cause inveja a alguns (poucos)* homens - o que sucede, de resto, justamente por causa dessa socialmente correcta aproximação das oportunidades. Uma mulher em destaque torna-se, mais tarde ou mais cedo, vítima de ataques soezes, crus e ressabiados. Vêm por vezes de algumas (poucas)* mulheres, é certo, mas vêm, na mesma medida, de homens cujo demérito ou falta de empenho os impediu de alcançar a notoriedade que cobiçam. Se essa notoriedade pertencer a uma mulher, pior.

Uma mulher destacada por virtudes não estritamente reconduzíveis a umas boas pernas ou prendas semelhantes tem, sobre si, a espada pontiaguda do preconceito e da intolerância ao erro. Isso já se sabe. Na sua dimensão positiva, uma mulher que suscita ressabiamentos verbais/escritos representa uma ameaça. E, como também se sabe, só se sente a ameaça de quem é melhor ou de quem se suspeita ser. O que é bom sinal para quem, sem querer ou saber, ameaça.

Isto tudo, que já vai longo, não é um manifesto feminista. Disso eu não gosto, não lhe vejo qualquer préstimo e tenho como certo que a excelência e o mérito não só não dependem de proteccionismos como se secundarizam, se forem construídos sobre os alicerces errados. Muito menos é um recado, seja a quem for. Os blogues servem para tudo o que se queira: mostrar talentos, revelar segredos, derramar verrina, denunciar insuspeita arrogância e, até, para causar invejinhas de quem nem sequer mostra a cara. E, ainda, quando se quer e quando se impõe, para se ser solidário(a) nos pequeninos infortúnios que, seguramente, (quando muito) só arranham.


*Eu sou optimista.

Coisas mesmo importantes

Quando for a minha vez de fazer esse percurso de devolução (que eu não desejo à minha Mãe o que não me desejo, essa coisa de nos pervertermos na perversão do tempo, essa coisa horrível de ver enterrar um filho), quando for a minha vez de devolver quem me deu tudo, Evaristo, venha aqui dar-me um abraço tão apertado e tão inútil como este que aqui lhe deixo. Um que lhe deixo aqui por não saber apertar entre os braços pessoas que só conheço de palavras. São, talvez, abraços sem a entrega do toque, meu Deus, e se eu gosto de tocar! Mas aceite o meu abraço como eu lho dou e devolva-mo, nos mesmos moldes, se for o caso, quando achar que sou eu a precisar.

15.1.06

Posições no terreno

Sá Pinto apoia Cavaco. Acho bem.
A letra com a careta, o tonto com a vareta.

Sá Pinto não tem altura para ponta de lança nem para defesa central. Não tem rapidez para ser ponta esquerda, nem ponta direita. Não tem velocidade (que é, também*, uma espécie de rapidez) para ser defesa esquerdo, nem direito. Não tem discipina táctica para ser médio defensivo, nem altura para ganhar bolas, sequer, ao Chaínho! Não tem clarividência para ser médio centro. Não sabe jogar na baliza.

Recomendo a Sá Pinto que se reconverta em porta-bandeira duma claque qualquer antes que seja tarde.

* - Lá está, gosto disto, pronto...

Dos enemas de limpeza

A Juve Leo adora Beto e Sá Pinto.
Eu penso que a Juve Leo é, também (*), uma grande merda.

(*) aqui, este "também", destina-se a englobar os super-dragões, os tipos do Benfica que agora não me lembra o nome (nem a eles) e, mesmo, a claque da Académica.

Solidariedade

Ser solidário é, também(*), garantir a Vítor Baía que continua a ser um grande guarda-redes, apesar de ter tido, esta noite, na Cova da Moura, uma exibição que, vírgula, se fosse Ricardo a protagonizá-la, vírgula, cairiam sobre ele (Ricardo) o Carmo, a Trindade e, eventualmente, toda a carga de confrades dessas interessantes agremiações religioso-sanitárias.

(*) cada vez gosto mais desta preposição, "também". Quando uma pessoa escreve "também" parece sempre que sabe muito: parece que sabe o que lhe deu para escrever e que sabe, aqui é que está o segredo da magia desta singela palavra, muitas outras coisas. Coisas que guarda numa espécie de relicário que, por acaso, resolveu apodar de "também".

Minha senhora, é a mãos ambas!

Já aqui escrevi (não me perguntem quando, foi há muitos meses) que Ana Gomes me é extremamente simpática porque, entre outras coisas, se enerva. Quando se enerva, como qualquer pessoa, se lhe dá para falar, tanto acerta como se engana. Eu defendo que as pessoas podem enganar-se, sobretudo quando estão enervadas. E que, quando estão enervadas, se - nem que isto seja raro, e em Ana Gomes não é - acertam, se o raciocínio se lhes não tolda, são grandes.

Eu não sei se Ana Gomes é grande ou pequena. Reconheço-lhe é aquela enorme grandeza de quem se expõe em quase tudo o que escreve e diz. Às vezes faz-me sorrir, outras assentir, respeitoso; ocasionalmente também me irrita, o que é normal: aliás, eu irrito-me comigo, quase sempre, tenho direito a outros "irritares". Mas uma coisa Ana Gomes nunca me provocou: foi desprezo. Leio Ana Gomes, sempre, atentamente.

Ana Gomes, se outras qualidades não tivesse (e tem, tem de ter; e tem-nas, mesmo), tem esta, que lhe está à flor da pele e que é grandiosa: é amiga dos seus amigos - é amiga de quem é, melhor dizendo, que eu não sei de reciprocidades, antes as haja, que ela merece, mas não sei - e não gosta de ver circos a arder com gente lá dentro.

Eu também não.

Há blogues que fazem serviço público. Outros cumprem serviço cívico. E outros, serviço mínimo

Eu confesso: por pura preguiça, raramente me apetece acrescentar blogues na lista à direita. Há vários que, segundo o amplo critério que aqui usamos do "genuinamente bom pensamento", já lá deviam estar. Tendo presente o aforismo irrecusável segundo o qual "um bom blogue não é forçosamente o mais conhecido, mas deve sê-lo, se for bom", é de justiça que se atente para o lida insana, um blogue de boa escrita com gente dentro. Gente que pensa, que pensa bem e que não é homem, canhota ou cega (nem avó).

É justo. Até porque há blogues que são famosos apenas porque são conhecidos.

A causa das minhas aventuras na república das coisas

A Carla tem opiniões parecidas com as minhas em algumas coisas.
É do Sporting, para começar. Começamos mal? Pois.
Depois, atreve-se a considerar que Lobo Antunes não será (talvez) o melhor escritor português que aí anda (eu acho que talvez seja o melhor escritor que aí anda, dos que se debruçam sobre a zona de Carnide, sobre si - ele - e sobre alguma África, pequena).
Finalmente, lembrou-se de Miguel Esteves Cardoso. Isto agrada-me. Não será um grande escritor, assim no sentido da "extensão intensa e densa e paginável dum volume inteiro dissecado por linguistas", ou seja, não será um mono-volume com assentos de topázio, nem sequer uma frota deles; mas era bom; e deve ser, ainda.

Eu partilho, isto para que se saiba, uma característica com esse ex-cronista talentoso. Não, claro que não é o talento. Nem o par de orelhas. Nem o benfiquismo, assumido como estado de espírito contra a Agência Abreu, em versão de "pantomineiro". Nem a irreverência, que eu sou reverente e essas coisas todas. Não.

É que também tenho gémeas.

Não, agora a sério, não tenho nada gémeas.
É só isto que tenho em comum com ele, mesmo: dizem-me sempre que também sou irritante. Eu não me importo, eu isso sou.
O "também" é meu, embora o resto também seja.

Momento anual "um violino no telhado" de besugo

... mas vamos ganhar, não me perguntem como, é só cerrar os dentes e respirar pelo nariz! (a menos que tenham problemas respiratórios, nesse caso abstenham-se de experimentar isto em casa e dediquem-se a pensar que o trengo do Lucho Gonzalez é um grande jogador. Isto costuma sossegar mentes devotas). Não, a seguir aos parêntesis pode não vir mais nada, aqui é assim.

Momento anual de lucidez de besugo

Bem, às tantas o Sporting não ganha o campeonato.

O jogo das verdades

Não jogámos nada. O Sporting é de segunda divisão, tal como está. Mas ganhámos, pronto, é futebol. É só a bola.

Não somos um povo; somos uma espécie de baixo clero em ânsias de clausura monástica numa casa de putas em que se escute fado. E faltarão sempre putas e fadistas, por muitas putas e fadistas que aí haja, já.
Somos uma espécie de sopa de nabos, dependendo sempre do tempero. Sopa de nabos sem tempero é só sopa de nabos, sabe a nabos em água, sabe a ... que vamos jantar?

Não temos um presidente da república. Também não temos um rei, se fosse o caso de termos de o ter. Temos, como "quase rei se fosse o caso", um regente agrícola delicado. Pelos vistos, não teremos um presidente da república, conforme não teremos um rei. É assim.

Nunca pensei que uma das pessoas mais sopeiras de que eu já ouvi falar, de seu nome Aníbal Cavaco Silva, mas eu juro que nem sequer é pelo nome, pudesse vir a ser presidente do meu país. Nunca pensei. Pensei sempre que tudo se trataria duma brincadeira de mau gosto, que ele desistiria, que nós o desistiríamos. Não faz sentido termos um tipo assim como símbolo. Pode viver, que viva em paz, mas como símbolo vivo do nosso país, não, nunca pensei.

Eu já aturei quase tudo, acho que me falta só isto: um zezinho a mandar e um anible a presidir à mandadura. Eu encerro para obras.

Não encerro nada. Fico aqui a ver como se elege um catedrático parolo. Se vierem aí tempos de mais escutas, de mais medo, tempos de mais restrições escolhidas "a dedo" (olá zezinho, sim, que você tem dedo), eu tenho medo e tenho tudo isso que um homem simples tem. Podem fazer-me mal, que sou só um e contra mim serão sempre muitos. Mas digo isto: Cavaco Silva é um dos homens mais mal talhados que eu já vi na minha vida inteira e Sócrates é outro igual, em melhorado, porque tende a mentir (veja-se campanha eleitoral) em lugar de estar calado. Em melhorado? Eu devo estar doente...

(risos na plateia e, no balcão, pateada)

Sócrates, tu, que não me lês, que tens melhor(?) para ler: limpa as mãos à parede. Entre as orelhas tens pouca coisa que eu respeite, excepto essa despudorada falta de vergonha, que, de tão imensa, chega a merecer um respeitoso espanto.

Eu hei-de ir preso um dia, às tantas. A minha sina é ir preso, agarrado por canalhas e a pedir a minha Mãe. Vão ver.

Vou votar Manuel Alegre, nem que seja a última coisa que faço antes de ver o filho catedrático do gasolineiro, o homem que nem sequer é capaz de dizer "de que livro gostou mais, senhor?", como presidente da república. Eu sei que a monarquia depende sempre de como se faz um filho, se aquilo sair mal temos um rei cretino, mas pensei que as taras, na república, não viessem assim à baila, tão ao de cima, tão premiadas, como se isto fosse um concurso de fadunchice dos Câmara-Pacheco.

É vergonhoso. Paciência. Siga a marinha.
Vai ser assim, goste eu ou não? Perfeitamente, que seja: não gosto, na mesma. Cavaco representa quase tudo aquilo que eu gostava de ver num aterro sanitário, com qualquer coisa por cima que o escondesse de mim, que o sepultasse de mim, que me fizesse esquecê-lo por profundo soterramento.
Os portugueses querem-no? Que se fodam, então, os portugueses, miseráveis guerreiros de bandeirinha pequena.

Já disse. Não apago. Esta não apago. (Mas aligeirei um bocadinho, teve de ser).

14.1.06

Bento: é para ganhar e mais nada, diz isso aos tipos.

Para que conste: preferia ser amigo de José Peseiro que de José Mourinho.
Lido mal de caralho com altares, ainda por cima não gostando da capelinha que alberga o sutentáculo da figurinha excelsa.

A lolita disse-me, uma vez, que eu era muito parcial. Não sou.
Um exemplo: perante Cavaco Selva, Selva, sim, eu digo, imparcialmente: ele é uma bosta. Vêem que sou imparcial? "Cavaco, és uma bosta, do ponto de vista olfactivo, do ponto de olfacto visual". Vou preso?

Ah, pois, não vêem que sou imparcial. É que ainda não lhe sentem bem o cheiro e isto dos sentidos anda tudo ligado.

Despedimentos não, trabalho sim!

O Sporting vai jogar daqui a bocado. Em Belém. Tudo se redimensionará, para mim. Vou centrar-me na bola, boi que sou.
Não sou um homem de "solucionáticas" para a vida, sou um adepto dela, sem soluções para ela - porque soluções me lembram soluços e porque sim - e complicador dela sempre que posso, por cuidar que assim é que está bem. Assisto às coisas, geralmente, do peão. É normal.

Quero saber duas coisas.

1 - Serei acusado de parvoíce, mais logo, se vos garantir agora que o Sporting ganha?
2 - Uma droga que prolonga a vida em 37 meses é um mero empate de capital, não uma vitória?

Eu volto ao tema. Ou seja, a droga que seja aprovada que eu falo do Sporting.

Façam anúncios. Rende mais.

- E, agora, José Mourinho está aqui e vamos... e vamos... sai da frente, pá!.. e vamos perguntar-lhe o que acha disto, José Mourinho, José... Jos... Mourinho, foda-se, deixa-me passar, croma!, Mouri... em dir... em directo para a RTVIC... sobre isso de haver uma droga que prolonga a vida cerca de ... sai daí, posso perguntar ao homem, foda-se?, ah! pensei que não, puta!!... sobre haver uma droga para o - caralho! que me pisaste, já te fodo! - cancro da mama, que oferece cerca de 37 meses de vid.... está a ouvir, Mourinho? Ó puta, tu levas uma chapada nas trombas, deixas-me passar ou não?... de vida, Mourinho, que tem a dizer?...

- Bom, se não for para ganhar, eu...

trantuzumab (em adjuvante)

Valeu a pena estar fora. Para já, fui ameçado de despedimento. Isso mobiliza. Por outro lado, conviver de perto com Kathleen Pritchard e di Leo (enfim, não foi "de perto", foi "ao perto") é uma experiência boa.
A sessão de ontem era para terminar às seis menos um quarto e prolongou-se para além das sete. Foi bom. Devia ser proibido haver congressos sem "workshops". Geralmente, nos congressos, as perguntas que se fazem aos palestrantes são estudadas. São do género "pega lá, embrulha, e agora diz ainda bem que me perguntas isso!".

Ontem, para o fim, porque escasseou gente e aquilo se transformou numa espécie de "jam session", Kathleen já era Kathy, di Leo foi sempre di Leo (há nomes que não se abreviam), e as questões eram mais cálidas, mais confortáveis, embora pudesse parecer que não. A sério, podia ter dado para o torto, que o intimismo, se estivermos diante de falsários, é desagradável.
O certo é que Kathleen e di Leo não são falsários. Tratam doentes e estudam muito. Estudam-se muito. Mas, fundamentalmente, o que é raro nestas coisas, tratam doentes; e calhou serem estes a virem cá, calhou muito bem. E foi por esta coisa quase ao calhas, por este "hasard", de terem vindo estes em lugar de outros quaisquer, que perguntas básicas do tipo "como é que trata uma doente com cancro da mama de risco intermédio se tiver menos de três gânglios positivos?" obtiveram respostas e suscitaram contra-respostas que nos fizeram sentir, a todos, aos poucos que ficámos até quase ao fim, ao menos naquele momento, que éramos pares.

Psicoterapia à escala nacional

Importante, mesmo, nesta campanha eleitoral como em nenhuma outra antes, são as qualidades pessoais dos candidatos. Não sei se, até agora, os portugueses eram mais ingénuos ou menos influenciáveis, mas o certo é que ninguém se lembra de nenhum episódio eleitoral, desde há trinta anos para cá, em que se discutisse tão exaustivamente se Soares é efectivamente arrogante e porquê ou se Cavaco Silva é mesmo inculto e, em caso afirmativo, em que grau. Estavam, ambos, em semi-estados de graça, nos seus períodos apoteóticos.
Mas Soares e Cavaco são passado, ambos são anacrónicos. É provavelmente esse desconforto que nos estimula tanto ajuizamento moral, disseminado e abrangente, sobre as respectivas qualidades morais e perfis psicológicos de cada um. Tudo, evidentemente, estimulado q.b. por apoiantes disfarçados de cronistas políticos e de apoiantes - sem máscara, é certo - mercenários. Ganhará, claro, não o que se mostrar mais mobilizador, mas sim o que sair mais ileso desta impiedosa, embora manietada, análise da vox populi. É uma eleição estranha, e por isso desmotivada: escolhe-se, no fundo, entre Cavaco Silva e os indistintos outros.
Nem Cavaco Silva, com os seus sessenta por cento de intenções de voto, mobilizou rigorosamente ninguém para coisa nenhuma. Teve sucesso no drible, apenas. Quase seguramente de forma involuntária ou à custa de tácticas alheias, mas a verdade é que dribla melhor do que os outros. E, claro, começou antes.


P.S. Alonso: a ideia era, por um lado, deixar-te brilhar sozinho para a plateia e, por outro, ver se alguém sentia a nossa falta. Ambos os objectivos foram alcançados. Sobre o primeiro, basta consultares o sitemeter. Quanto ao segundo: estava a ver que nunca mais te queixavas...

13.1.06

Bem ...

Eu despeço-vos, pá!

11.1.06

É preciso que alguma coisa mude ...

... para que tudo fique na mesma. Esta frase não é minha, é do Lampedusa, que no seu "O Leopardo" a pôs na boca do nobre siciliano cujo nome não se me alembra, mas que o Burt Lancaster interpretou. Livro e filme memoráveis.

Tudo isto vem a propósito de duas notícias que hoje ouvi na TSF. QUe são as seguintes:

a) na sondagem diária de hoje, o Alegre passa para 2º lugar, por escassa margem. Ainda bem. Se em Dezembro notava desânimo nas hostes Alegristas, em Janeiro noto desespero nas soaristas. Que andam por aí a pedir que o Sócrates se envolva na campanha. Pobres coitados, para pedirem isto é porque já não sabem mesmo o que fazer. Mas eu sei isto: por muito que façam, por muito que mudem, algo ficará na mesma. O Soares é quem é e o Sócrates é quem é. E o Alegre é diferente, para melhor. É isto, tão simples, que eles não entenderam e, parece, continuam a nã entender.

b) Os galheteiros passaram a ser proibidos nos restaurantes. Agora, o azeite tem que ser servido em embalagem descartável e não-reutilizável.

Eu sei que, por defeito de formação e personalidade, tenho atávicas resistências a mudanças em hábitos enraizados, e que se calhar exagero nisso, mas ... os galheteiros??????

Eu nem escrevo mais nada, mas faço votos que os gajos que determinaram esta alteração no prazer de ver uma mesa em que vai ser servido um bacalhau cozido com batatas e grão sejam servidos, nos restaurantes chiques em que comem, por cozinheiros que mijam no peixe. Que é para ver se passam a achar que também a garoupa deve vir para a mesa em embalagens descartáveis.

Eu não sou adepto do vernáculo besuguiano, mas aqui deixo um "porra!" prós tipos que são responsáveis por estas coisas.

Laias

Hoje pediram-me poucos minutos do meu tempo para me comunicarem o que tinham andado a fazer em dias anteriores. Tinham de me comunicar isso, por motivos que se prendem com antecedências que agora não interessam. Aqui há uns dias, a mesma coisa; um único denominador comum, em forma de gente.

Eu escutei, atento e silencioso, ambas as vezes. Levantei, apenas, uma ou duas questões pequenas, percebendo logo , pelas respostas que obtive (rápidas, a fugir, aquela coisa de "tem de se ver isso..."), que tudo aquilo não passava duma encenação de ávidos que querem parecer empenhados noutra coisa sem ser a sua saciedade. Eu entendo isto. Não creio em pecados, embora saiba que os haverá sempre e que não serão, nunca, pecados: antes gulazinhas. E que, tendendo nós todos a ser gulosos, há quem diga logo que vem aos bolos e há quem meta os docinhos na bolsa, disfarçadamente, para parecer que está de dieta.

Sabem aquelas expressões de vago contentamento, só no fundo dos olhinhos, que os malignos escondem (cuidam que escondem) quando pensam que estão a um pequeno passo de nos tramar? Devem saber, toda a gente passa por isso, volta e meia. Pois bem, é precisamente essa centelha de emboscada que os trai.

Rewind penoso

Pois saiba miss Pearls que não. Lamentavelmente, não.
A coisa conta-se rapidamente: foram copiosamente batidos, ele vinha mal disposto, embora, do ponto de vista físico, só se lhe notasse algum amachucamento naquela partezinha do encéfalo que aloja o ego.

O pior foi depois. Como sabe (sim, não tire o corpinho fora, agora!), à noite levámos com nova dose de Braga. Outra vez por um canudo. De maneira que, aqui por casa, anda tudo lesionado. Houve quem falasse, mesmo, em mudar de clube. Claro, esse petiz descrente está, desde esse momento, a sofrer sevícias.

No fundo, isto encerra alguma tristeza e leva a uma boa dose de injustiça: lá vai o Belém ter de pagar as favas... Pobres cruzados.

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