blog caliente.

23.1.06

Pausa

Tenho escrito demais. Quando era miúdo, era daqueles que acreditavam que as palavras se gastavam, ou que nos gastávamos nelas. Mas isso era quando falava, apenas. Pouco escrevia, era só nos pontos e apontamentos. Agora é uma ideia mais geral.

Tenho pouco tempo para escrever. O que tenho, é roubado ao sono, quase sempre. A minha vida não é, de facto, esta. Isto faz parte, mas não é a minha vida. Não me importava que fosse, mas não é.

Como tenho pouco tempo escrevo sempre, aqui, directamente. Vou pensando e escrevendo, outras vezes já tinha pensado antes de escrever mas, mesmo assim, nunca uso rascunho. Penso que muita gente fará assim, também.
A muitas das coisas que fui escrevendo chamei "esguichos", por isso mesmo, sabendo embora que um besugo não esguicha nada. A serventia principal dum besugo, que eu saiba, é a sopa de peixe ou esturricar na grelha. Pretendia, com isso dos esguichos, que se percebesse o repentismo, nada mais que isso, com que escrevo.
É assim que faço. Faço assim e, logo a seguir, muitas vezes já depois de ter publicado, corrijo os erros de que dou conta. Umas gralhas, umas vírgulas. Ou seja, ficarão sempre alguns erros, que não notei, e ficarão outros que nunca notaria porque, como já disse, a minha vida não é esta, e isto não é um menosprezo para a escrita, é uma admissão de incompetência, quando for o caso.

Ontem escrevi uma coisa, que pode haver quem tenha lido, que me saiu assim, de esguicho, como de costume. Esta manhã, telefonei à lolita e pedi-lhe que a tirasse. Foi verdade. Eu não podia fazê-lo, por motivos que não interessam, até porque já estava no trabalho, mas não foi só por isso. E ela tirou. Deixou lá uma frase dela, em que diz que sou um homem de bem, mas ela é parcial, é minha amiga. Eu também sou parcial, percebo-a bem. E há mais gente assim, já dei fé disso. Talvez seja por isso que Portugal não vai para a frente, mas isso não sei dizer agora.

Quem leu, leu. Quem não leu, não perdeu nada. Estava mal e não passava, no fundo, dum desabafo fora de medida. Redigido com excessivo fel, estava medonho. Não me orgulho daquilo. Não penso que fosse insultuoso, nada disso. Mas trazia vagalhões demais para o mar que estava: calmo, como continua. Um mar quase de palha, parece-me.

Quem leu, já sabe. Peço que esqueça o tom, que era excessivo. Quem não leu, não perdeu nada.
Mas venho dizer sobre o que era, porque também me parece que é legítimo que se pense que, ou não tinha escrito nada ou, a ter escrito, era preferível ter deixado estar.

Era sobre isto: sobre não gostar de Cavaco, nem do que ele me faz lembrar, daquele tempo dele (com Beleza, entre outras pessoas, a fazerem-me regressar a um tempo que pensei não mais ter de reviver; e ela estava a rir-se, e de cada vez que vejo Leonor Beleza rir-se, e outras pessoas com ela, eu choro um bocadinho), do que me mortifica vê-lo como presidente do meu País: eu queria muito que não fosse, e agora é. E sobre alguma desilusão (que é culpa minha, que só se desilude quem se ilude antes) perante escritos recentes de Francisco José Viegas, de que não gostei. Nem gosto. E sobre Sócrates, que está de parabéns (mais sua turma): se a ideia era afastar, entre outros, Ferro Rodrigues, Carrilho, a família Soares, Maria de Belém e Manuel Alegre (que defendi aqui, já na altura, como candidato certo a secretário-geral, embora eu nem sequer pertença ao partido), parabéns, boa malha. Escapou-lhe, felizmente, Alegre. Que conta comigo, pouca coisa eu seja, como até aqui. Mas pressinto em Sócrates, apesar de tudo, um arzinho de missão (quase) cumprida que me entristece.

Não, não insultei ninguém, não pretendi ser (nem fui, creio) soez, nem pretendi mais nada. Foi só isto. E não devia, sequer, ter tido ar de ser diferente.
Mas escrevi ondas alterosas demais, como já disse, num mar que, vendo bem, ia chãozinho. E foi por isso que me pareceu melhor fazer assim: pedi que se apagasse, apagou-se.

Gostava que ficasse por aqui, esta aventura fraca. E que ninguém, por maldade ou outra coisa qualquer, tentasse empurrar-me borda-fora do meu bote, que eu só tenho um bote, não possuo veleiros. Nem tenho muito tempo para "tunnings", que são paneleirices, ainda por cima.
Tentarei remar, daqui para a frente, mais conforme o mar que estiver e menos consoante a raiva que me fizer pegar nos remos. Para que não se quebrem em vão, que só tenho estes e são, apenas, dois. E, se um dia se quebrarem, que seja por necessidade. Ou por uso melhor que o que, às vezes, lhes dou.

View blog authority