Por favor e não vos peço mais nada
Não vou escrever mais sobre eleições. Não faz sentido, estou dorido. Leram-me (leram-nos) menos de cem mil pessoas em dois anos e meio. Gota de água. Não temos voz senão a nossa e poucos mais ouvidos temos que os que temos.Antes de ir dormir, pus o bonito hino da campanha de Manuel Alegre (está aqui) e decidi contar-vos isto. Coisas soltas de que gosto, eu, homem imperfeito e dado aos solavancos do chorar e do rir liberto, tantas vezes desprovido dos travões de mão da cautelinha.
Gosto muito da voz do Paulo de Carvalho e de palavras que me encantem. Gosto das frases que afirmam, ou que negam, não me contentando, nunca, nas meias tintas de redondilhas menores. Não gosto de poesia sem música, nem de música sem palavras. Aprendi com os meus erros e hei-de repeti-los, ainda assim, se acreditar neles ainda mais um bocadinho. Hei-de mudar a vida por dentro dela, a menos que morra antes de a minha vida acabar. Se morrer antes dela, como dizia Tordo, "esta luz fica acesa". Gosto de Manuel Alegre, como gosto de Jorge Costa, capitão do Sporting que eu queria, e da minha Mãe e do meu Pai. E de mais gente, que não posso agora. Enfim, um bocado menos que da minha Mãe e do meu Pai, mas muito, ainda assim. Gosto de pessoas que são chatas, imaturas na madureza, capazes de ferir sem perceber, de perceber que ferem mas ferem na mesma, de tocar nos outros (e nas outras) e de ser tocado, nem que seja mal amado. Gosto dos meus amigos, que cada vez são menos mas melhores, gosto de céus azuis e de chuvadas. De geadas. Gosto dos meus filhos e da mãe deles, que mos deu sendo eles dela. Gosto de mim, mas menos, que sou menos importante que os meus gostos. Gosto do alonso, que gosta de mim pelo que só ele saberá, acaso goste. Gosto da lolita, que gosta de mim sei lá porquê, eu já me tinha despedido, se fosse a ela, mas gosto muito dela, até por isso.
Gosto de quem me procura precisando-me, trazendo-me nos olhos a candura ou a malícia da precisão, que nos olhos lê-se quase tudo. Gosto de quem gosta de Manoel de Oliveira e de Sean Penn, porque gostar é gostar e é muito belo, isto de gostar, seja do que for. Gosto das diferenças, porque tenho, da minha razão, certeza relativa. Gosto de toda a gente que seja , ou me pareça ser, de bem. Já me enganei e sei, de fonte minha, que ser de bem é ser "quase toda a gente", dependendo.
Peço a quem me lê e me tolera, mesmo aos poucos e poucas que calhem gostar de mim pelo que me pressentem, coisas de bom, coisas de mau, que votem em Manuel Alegre. Um homem melhor que eu, mais velho que eu, mais jovem que eu em tantas coisas. Nem sempre seguro, como Leanor, nem sempre certeiro, como um desajeitado sniper, nem sempre ganhador como o Sporting. Votem nele. É do Benfica, paciência. É um Homem bom e altivo na bondade, como bons devem ser os homens, a altivez é que os guinda. Por isso eu fico aqui e ele, se puder ser, chegará lá. Por nós, que nos gostamos todos duma maneira misturada, como tudo o que se cozinha em cadinhos de lava.
Escutem a música, por favor. É muito bonita. Está ali ao lado.
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