blog caliente.

20.1.06

Parece que o Comité Central se reuniu outra vez ...

... e desta vez nem me disseram nada. A lolita voltou a usar a procuração que em hora aziaga me esqueci de trazer da sede, e pôs-me ali (com a conivência do besugo, que ante a lolita ou murmura coisas incompreensíveis ou se limita a dizer sim, com a cabeça, não vá ela chatear-se) a dizer que os olhos do Alegre são bonitos.

Ora, neste caso, o abuso da procuração foi evidente. Homem que é Homem pode dizer dos olhos de outro homem muita coisa, mas não diz que são "bonitos" (a não ser que o homem em causa seja um filho, ou o Pai). E eu cá acho os olhos do Alegre ... olhos.

Levo este abuso à conta da bezana que os meus colegas, sedentos de notoriedade (sim, que eles são ambos vaidosos e inseguros), apanharam quando viram que o blog passou a fantástica marca das 100.000 visitas. Das quais 50.000 são visitas nossas, e as restantes de três ou quatro caramelos que não trabalham puto e visitam todos os blogs que há, várias vezes por dia.

Adiante.

Hoje os jornais publicam sondagens. Todas dão mais de 50% ao Cavaco nestas eleições, o que significa, se estiverem certas, que esta primeira volta se arrisca a ser a última.

Tenho, quanto a estas eleições, ambivalentes sentimentos. Chateia-me não haver um único candidato em quem reveja o meu modo de pensar e ver a coisa pública, mas também não tenho dúvidas de que, caso algum assim se apresentasse, teria a mesma dimensão eleitoral do Garcia Pereira.

Dos principais candidatos, o único que me inspira simpatia é o Alegre, e isso será revelador daquilo a que ele próprio chama a "transversalidade" da sua candidatura. E, devo dizê-lo, foi o único que manteve, ao longo da campanha (não falando no tacticamente silencioso Cavaco) um discurso de afirmação, não de negação pura.

O que acho notável, considerando que 99% dos seus apoiantes (entre os quais se incluem, e são lapidar exemplo, os meus colegas de blog), do que gostam mesmo é desse discurso.

Sendo que o exemplo mais acabado do que acabo de afirmar é o curto post da lolita, recheado da palavra "não".

Fôra eu um apoiante do Cavaco e responderia a tal post repetindo-o integralmente, dele apenas retirando os muitos "nãos" que nele se encontram. E o mais engraçado é que a verdade estaria do meu lado.

É que pode-se não gostar do Cavaco, tendo-se ou não já votado nele (e eu nunca votei, coisa que desconfio - sem ter a certeza - que a lolita não poderá dizer, se se lembrar dos idos de 1985, 1987 e 1991), mas não se pode, seriamente, sequer pensar que ele se pode definir pela palavra "não".

Penso ainda que este tipo de menosprezo, que chega a ser desprezo, do adversário, praticado abundantemente pelo Soares, não produz qualquer efeito útil. Eu sinto, quanto a esse senhor, visceral e se calhar pouco lógica repulsa. Mas não me passaria pela cabeça, fosse ele o principal adversário de um projecto político a que eu aderisse, dedicar mais tempo a vituperá-lo do que a defender as virtudes desse "meu" projecto.

Eu conheço a esquerda, assumida ou não, o suficiente para saber que, quando a discussão aquece, a racionalidade se esvai e a capacidade argumentativa também. A esquerda, ao contrário da direita, parte de uma matriz intelectual feita de certezas, verdades adquiridas e suposta "superioridade moral e intelectual". Quando se lançam dúvidas sobre tais certezas, quando se contestam tais "verdades", quando se põem em causa tais superioridades, a resposta ou reacção normalmente descamba. Para a negação feita nestes termos: "Não! Porquê? Porque sim!"

Tanto a esquerda como a direita têm fantasmas ou esqueletos nos armários. Curiosamente, a direita lida com eles muito melhor do que a esquerda. Aceita-os como são, não com o eufemismo dos "erros de percurso" que a esquerda costuma usar. Talvez porque a direita seja estruturalmente mais relativista, não sei.

Bem ... isto já vai muito para lá do que a princípio pretendi escrever. E termino dizendo o seguinte: os esforços do Soares, secundado pelo Louçã e pelo Jerónimo e ainda por uma multidão de apoiantes seus e ainda do Alegre (entre estes a lolita), para demonizar pessoalmente o Cavaco, foram uma das melhores prendas que este recebeu nesta campanha. Estou convencido que lhe granjearam votos.

E fico, por isso, contente por o Alegre não ter embarcado em tal discurso. Fica a crédito dele. E tenho a impressão que esse crédito não só não lhe alheia votos, como os granjeou.

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