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14.1.06

Psicoterapia à escala nacional

Importante, mesmo, nesta campanha eleitoral como em nenhuma outra antes, são as qualidades pessoais dos candidatos. Não sei se, até agora, os portugueses eram mais ingénuos ou menos influenciáveis, mas o certo é que ninguém se lembra de nenhum episódio eleitoral, desde há trinta anos para cá, em que se discutisse tão exaustivamente se Soares é efectivamente arrogante e porquê ou se Cavaco Silva é mesmo inculto e, em caso afirmativo, em que grau. Estavam, ambos, em semi-estados de graça, nos seus períodos apoteóticos.
Mas Soares e Cavaco são passado, ambos são anacrónicos. É provavelmente esse desconforto que nos estimula tanto ajuizamento moral, disseminado e abrangente, sobre as respectivas qualidades morais e perfis psicológicos de cada um. Tudo, evidentemente, estimulado q.b. por apoiantes disfarçados de cronistas políticos e de apoiantes - sem máscara, é certo - mercenários. Ganhará, claro, não o que se mostrar mais mobilizador, mas sim o que sair mais ileso desta impiedosa, embora manietada, análise da vox populi. É uma eleição estranha, e por isso desmotivada: escolhe-se, no fundo, entre Cavaco Silva e os indistintos outros.
Nem Cavaco Silva, com os seus sessenta por cento de intenções de voto, mobilizou rigorosamente ninguém para coisa nenhuma. Teve sucesso no drible, apenas. Quase seguramente de forma involuntária ou à custa de tácticas alheias, mas a verdade é que dribla melhor do que os outros. E, claro, começou antes.


P.S. Alonso: a ideia era, por um lado, deixar-te brilhar sozinho para a plateia e, por outro, ver se alguém sentia a nossa falta. Ambos os objectivos foram alcançados. Sobre o primeiro, basta consultares o sitemeter. Quanto ao segundo: estava a ver que nunca mais te queixavas...

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