blog caliente.

27.2.07

Grandes Armazéns dos Lóios

No telejornal, vi uma lojista do comércio tradicional lisboeta a dizer que é católica, e que o Domingo é dia de descanso. Preferirá, portanto, manter a loja fechada ao Domingo e exigir do estado que lhe subsidie o negócio e, já agora, que não permita a abertura de mais centros comerciais. O que o comércio tradicional ainda não percebeu é que o consumo moderno é, sobretudo, um acto inútil; já ninguém sai de casa para ir à leitaria da Quinta do Paço comprar leite do dia, mas sai-se alegremente para ir ao Continente encher o lar de pneus em promoção ou de desumidificadores do ar. O paradigma do consumidor moderno dispensa tafetás em peças de metro e meio de largura, linhas de coser e atendimento personalizado. Prefere pronto-a-comer, pronto-a-vestir, serve-se sozinho e não reclama por ser tratado como membro de uma imensa massa de gostos e hábitos heterodeterminados. O comércio tradicional caminha, portanto, a passos largos para se transformar numa "área protegida", susceptível de planos de requalificação subsidiados a fundo perdido para que possamos manter intactas as reminiscências do passado - e, claro, para fomentar o turismo. Condenado, portanto, a uma curiosidade histórica.

22.2.07

As maiorias pensam quase sempre mal.

À força de tanto estímulo à aposta na inovação (de que Sócrates e Cavaco Silva são os mais mediáticos arautos), até as opiniões já se constroem de forma a desconstruir factos, para os transformar em não-factos ou, na melhor das hipóteses, para os ofuscar com factos colaterais, tornados mais relevantes. Isto, a propósito de algumas vozes que se levantam contra os que querem a cabeça de Alberto João Jardim. Fala-se no PS, inexpressivo na Madeira, como se essa falta de penetração partidária branqueasse (ou, até, como se fosse a causa remota) o caciquismo que desde há trinta anos inquina a gestão política autonómica, a economia e a sociedade madeirense. Todos sabemos, de saber feito ou por simples bom senso, que o sucesso de qualquer investimento na Madeira depende inexoravelmente das loas que se cantam a Jardim e respectiva trupe. A Região Autónoma da Madeira é gerida e governada como um polvo de tentáculos longos e consolidados que difere da máfia siciliana apenas nos métodos, mas não na eficácia. Muitos sabem (sempre souberam) mas, possuindo os meios para combater essa esbórnia, colaboraram, silenciosos, em troca de favores partidários (e supra-partidários) do poderoso PSD Madeira. Sendo assim, não falemos em unanimidades "burras", porque corremos grave risco de sacrificar princípios às praxis sofríveis. É que, sem sequer ser por acaso, esta unanimidade surge clarividente. Grandiloquente. No - possivelmente único dos últimos trinta anos - momento em que uma unanimidade nacional (e, note-se, por defeito: Jardim não está só, tem pares no continente) está do lado certo da questão - a favor da limpeza e contra a podridão - eis que nos pedem... serenidade?

17.2.07

Numa suspeita de varíola, claro que sim. Mas vamos a exemplos.

Besugo: nesse comum bem que preoconizas, quem é que define o que é o bem comum?

16.2.07

Jogo de espelhos

Como seria Salazar sem Cunhal e sem o espectro do comunismo? E Cunhal sem Salazar, como teria sido, sem que um Estado Novo lhe aguçasse o engenho na luta clandestina? Sim, se um fosse Cristo, o outro seria o Anti-Cristo. A expressão prática do Yin e do Yang. Um, sem o outro, não representaria hoje, para o bem e para o mal (opostos, de novo) metade do que foi. Portanto: plenamente de acordo, João.

Comparando o medíocre com a mediocridade

Dividindo a história portuguesa do século XX em três períodos, o da Primeira República (1910-26), o do Estado Novo (1926-74) e o do regime democrático saído do 25 de Abril (1974 em diante), o período do Estado Novo foi, a grande distância dos outros, o período de maior crescimento económico no país.

15.2.07

Ontem, 14 de Fevereiro, dia de São Valentim

A 14 de Fevereiro, e pelo quinto ano consecutivo, assinala-se o Dia Europeu da Disfunção Sexual.

Um dia será uma curiosidade histórica; hoje ainda é uma curiosidade histérica.

A forma emotiva como se discutem as virtudes e os defeitos de Salazar mostra duas coisas óbvias: a de que já passou tempo suficiente para que se ressuscite a idolatria dos saudosos mas tempo insuficiente para que não se tema que Salazar nos assombre.

14.2.07

A saudade de deixar o tempo passar.

O relatório da UNICEF sobre o bem-estar infantil nos países da OCDE atira, como costuma suceder neste tipo de indicadores civilizacionais, Portugal para o fim da tabela, embora à frente de países como a Inglaterra e os Estados Unidos - mas sem esquecer que, de todos, Portugal é o país em que menos livros as crianças têm no lar. Todos sabemos: as crianças portuguesas lêem pouco, mas isso é apenas um sintoma dos pais e dos avós. Em Portugal lê-se pouco ou nada: é uma característica quase estrutural da nação, que explica uma série de coisas (nomeadamente o elitismo terceiro-mundista das classes ligadas às letras e às artes, sem exemplo em qualquer outro país europeu). Mas, apesar do panorama pouco simpático sobre os portugueses, o relatório mostra um dado curioso: no conjunto dos vinte e um países da OCDE, Portugal é o segundo a mostrar melhores níveis nos indicadores "estrutura familiar", "relações familiares" e "relações com os companheiros". Conclui-se, no relatório, que há uma maior percentagem de crianças portuguesas que declaram que os seus pais passam tempo com elas simplesmente conversando; e que declaram que os seus amigos são simpáticos e amáveis. Estes resultados, contrastantes com o medíocre desempenho do país nas restantes dimensões avaliadas (bem-estar material, saúde e segurança, bem-estar educativo, entre outros) são sintomas importantes a ter em conta num projecto de sociedade humanista, empenhada no bem-estar dos seus cidadãos (incompatível, porém, com projectos simplex socráticos e com estímulos da competitividade cavaquistas). Provavelmente, e talvez um dia se pense nisto mais a sério, o sentido de cidadania e o bem-estar social radicam mais na estimulação dos laços afectivos do que no investimento em excelências do desempenho escolar que formam excelentes profissionais, mas cidadãos apenas sofríveis. Se calhar, já é o momento de se perceber a diferença.

12.2.07

Rescaldo

Uma coisa em que os movimentos do não foram eficazes foi em fazer surgir a quem defendeu o sim algo de parecido com um complexo dos excessos. Receosos de alguma interpretação no sentido da colagem ao radicalismo dos defensores do aborto no referendo anterior ou ao discurso hiper-feminista do tipo "Maria Teresa Horta", os defensores do sim foram comedidos, politicamente correctos, quase assépticos. Festejaram tudo, ontem, em alguns minutos, com meia dúzia de aplausos e, fim. Já li por aí que é um disparate falar-se em vitória do sim. Não concordo, a menos que se clarifique onde reside o disparate. Disparatado é festejar vitórias por liberalizações. Legítimo é festejar vitórias pela abolição de uma perseguição legal absurda, injusta, soez. Acredito muito mais numa sociedade capaz de atender ao sofrimento dos seus pares do que numa sociedade espartilhada em proibições em nome de valores absolutos.
Quanto ao Alonso, que já faz projecções apocalípticas sobre as futuras possíveis medidas eugénicas da civilização ocidental, lembro-lhe, para ele se animar, que não está só: há todo um cortejo de pessoas que também gostaria de mandar na vida dos outros. Quarenta e tais por cento dos votantes. Com a vantagem de serem quase todos activistas de valores tão absolutos e invioláveis que lamentavelmente são incompatíveis com a liberdade dos indivíduos.
Sim, hoje respira-se melhor.

A hora é do SIM

Seja ele o "sim, mas", o "claro que sim", o "emocionadamente sim", o "sim jactante", o "sim por causa da prisão", o "sim por causa dos abortos clandestinos", ou outra qualquer espécie de "sim".

Eu ... não. E por isso não é a minha hora. Talvez nunca seja, de resto. E destarte me calo. Até um dia qualquer, em que me apeteça falar de mongoloides, velhos quase a morrer na casa em que viveram, e famílias pobres com muitos filhos. Assim uma espécie de "Discovery Channel" para pretty people ...

Ou não.

11.2.07

Da luz



E foi como se se acabasse uma noite longa e fria e muito cinzento-escura, uma noite maligna que estivesse sempre a fazer perguntas beatas retorcidas e cinzento-escuras, muito difíceis para serem respondidas por qualquer pequeno sol nas cores simples do sol, uma noite sempre a murmurar, de boca ao lado ou de gravata berrante cinzento-escura, de óculos finos ou grosseiros, cinzento-escuros, que "quero ver é amanhã, como é que é, quero ver!", sempre a mesma desconfiança da pureza, a suspeita da pureza, que a pureza como que se suja nas bocas ao lado, desdenhosas, é como nos ministros, como em alguns ministros, isto é como acontece com alguns padres, isto dos ministros, evidentemente, e o grunho que ministra agora saiu cedo, pela direira baixa que tenta disfarçar, mas ficámos nós, eu e a minha janela, uma janela que estava ali cinzento-sépia, castanho-sépia, ficou assim, vitral garrido da minha garridice antiga, vitral feito por mim do que consigo ver e vejo quase tudo.
Que o sol está sempre lá, no sítio dele, nem em cima nem em baixo, está lá, sempre lá, tapado ou posto ao léu, mas ignorá-lo é estúpido e saber que está lá é muito bom.
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Um apelo não é um apolo, mas também a lua nem se vê

Apelo, daqui, à blogosfera, que nunca mais cite ninguém duma maneira citadora simplex. Como se quisesse fazer crer, a quem anda a ler a blogosfera e ao mundo inteiro, que citar alguém dá razão ao citador, como se ele, o citador, se citasse. E não se cita: excita-se é um nico.
Pode ser assim, ou não?
Se não puder ser, façam antes assim: ponham o link do citado, sem mais nada, e eu decido sobre a razão do citado e, se for o caso - como parece ser cortês -, digo ao citador assim: "parabéns por se ter lembrado de quem disse isto", ou, se for o caso, "que pena que se tenha lembrado de trazer a bosta desse boi para aqui".

Isto é importante. Para mim é. Irritava-me menos e sabia-me menos àquela ladaínha (louvaminha presunçosa e onanista é ladaínha?) do sabão que caiu ao chão na latrina dos homens.

Jogar à macaca

Pode alguém pôr termo à sua própria vida, se já não a quiser? E, se quiser assim, pode pedir ajuda e ser ajudado nisso de querer morrer?
Custa-me dizer isto, mas parece-me que vai ser o tema do próximo referendo. Custa-me dizer isto porque sei o que significa referendar.
Referendar é a demissão de quem vai a votos dos votos que teve.
Vai tornar-se um costume, referendar. Já foi assim quando soltaram Barrabás.
Qualquer dia referenda-se para ver se se pode merendar ao ar livre, se estiver de chuva.

Besuguices

Sem necessidade de citar Tocqueville, que pasmava perante o seu potencial para a prepotência e a contradição - eu não, eu isso não me pasma nem me revolta, revolta-me e pasma-me é a passividade, tipo "não me apetecia agora, mas põe lá a vaselina, vá..." - digo, mesmo assim, que me apetecia escolher quem podia votar; e, se eu escolhesse (e devia ser eu a escolher) só votaria quem eu achasse que podia.

E sem me contradizer por dentro, sequer. Mandava eu, desígnios.

Mas isto hoje vai bem, ganhou o Póvoa "aos que são muitos e encarnados e muitos e encarnados e demais", "aos que agora também são ricos e muitos e encarnados e ricos e demais", há-de correr tudo bem.

Um abraço a este homem, que há-de estar contente apesar de tudo e por pouco tempo. E outro para mim, mais pequenino. Amanhã estaremos ambos, ele e eu, a pensar igual ao que pensamos hoje. E eu mais contente do que ele, em correndo bem.

9.2.07

Esguichos de besugo para quem gosta de misturas

1 - Tu és bom tipo, alonso, e esperto, e eu sou teu amigo. Sem "mas" nenhum (este tipo de frases costuma ser seguido dum "mas" qualquer, não é?, olha, aqui não).

2 - No AXN morreu, outra vez, o Mark Greene. Às 1976 semanas. Mais quarenta, para quem quiser fazer contas de fazer de conta. Na tumba dele, se tiver lápide, acho que constarão 1976 semanas, que é 38 vezes 52. Mas podem ser mais quarenta, ou trinta e seis, ou dez. Cada um conta a seu modo. Vão lá somar.

3 - "Sê generosa", disse ele à filha que andava metida nos drunfos, e que tinha 728 semanas. Ou, então, tinha mais quarenta, ou mais trinta e seis, ou mais dez. Mas que o ouviu, seja como for, com as semanas que preferirem que tivesse. Vão lá somá-las aos ouvidos dela.

4 - A vida onde começa? Não sei. Talvez comece no momento em que começamos a perceber que pode mesmo acabar-se-nos. Não é preciso estarmos a morrer para percebermos isso, mas é preciso termos, ao menos, respirado ar uma vez para depois darmos conta que ele nos falta. Isso e mais coisas.

Queria só deixar claro ...

Primeiro - que o segundo texto em itálico escrito pelo besugo não corresponde a nada do que eu tenha esscrito. Não corresponde a nada do que eu tenha dito. E não corresponde a nada do que eu tenha alguma vez pensado, pense agora ou - de tudo o que de mim conheço - possa alguma vez vir a pensar.

Segundo - que lamentarei se o excesso de retórica, como se lhe refere a lolita, induzir à abstenção. Mas que não lamento que esta camapanha tenha revelado, como já em 1998 aconteceu, que as supostas "verdades" indiscutíveis (e isto vale para ambos os lados) afinal são-no (discutíveis). É natural que isso obrigue as pessoas a pensar mais, e até pode ser que as pessoas habituadas a pensar pouco acabem por se sentir confusas, ou divididas interiormente, quanto ao sentido do seu voto. Mas é saudável que pensem. E que seja depois de pensar que votam.

8.2.07

O arraial acaba amanhã.

Quase a esgotar-se que está o torrencial debate sobre o referendo, mantenho intactos e exactamente iguais os motivos do meu voto e não li nem ouvi nada que me fizesse reforçar a minha opinião ou contradizê-la. Ninguém se lembrou, nem de um lado nem do outro, que retórica a mais convida os indecisos à abstenção. E ninguém se lembrou, também e quase sempre, que o aborto não se debate com a mesma ligeireza com que se discute o processo do apito dourado.
Em todo o caso estes últimos quinze dias, memoráveis na história lusitana, foram marcantes em vários aspectos. Passo a exemplificar.
- Confirma-se o que já se suspeitava: as alas conservadoras da sociedade portuguesa estão bem modernaças. Já se pressentia, na campanha presidencial de Cavaco Silva, que estava em crescendo uma nova atitude da direita portuguesa a demarcar-se do cinzentismo espartano salazarista, sem todavia perder os tiques betos que lhes marcam ostensivamente a diferença face aos modernaços de esquerda. Trata-se, no fundo, da geração pós-MEC, que este inaugurou. Essa nova atitude da direita valeu-lhes, julgo eu, algumas alterações de sentido de voto nas faixas mais jovens, deslumbradas com a bem organizada campanha fresquinha e colorida, embora com indisfarçáveis moralismo e inconfessadas intenções de expicar ao povo em que consiste a suprema experiência da maternidade.
- Só a Pacheco Pereira, que foi sóbrio e contido sobre este tema, se pode atribuir a legítima excepção ao marasmo profundo da cacafonia sobre o debate público do aborto. E a Marcelo Rebelo de Sousa, concedo, mas pelo humor (que supunha ter sido involuntário até ele próprio confirmar que o seu video é o mais visto na secção de comédia do YouTube).
- A campanha teve episódios burlescos. De entre muitos, lembro-me das "mulheres que abortam por negócio", segundo Castro Caldas. E das freirinhas a sair do convento para não pecarem por omissão. E Correia de Campos? A dada altura calou-se; o que, num certo sentido, é de lamentar.
- Um debate sobre o aborto serve como indicador do grau de progressismo da Igreja, quer pela confirmação dos métodos culpabilizantes para repressão de consciências quer mostrando ao mundo o que sucede com os seus dissidentes.
- Quase todos, de ambos os lados, mostraram abundante arrogância e sobranceria na discussão. Quase todos tomaram como sua uma causa alheia. É como digo: matérias do foro privado que não podem, e não deviam, sujeitar-se a referendo. Sobretudo se um referendo se faz anteceder de um imenso e colectivo debate de virtuosas vaidades.

as cataratas são quedas de água ou opacidades dos meios cristalinos? Pois, essa é que é essa...

Lamentarei ainda a vitória do "Sim", de modo mais específico, pelos milhares de abortos que adivinho irão ser feitos e que, vencendo o "Não", o não seriam.

Não fiz campanha, detesto campanhas, digo só o que penso, e sei que o que penso pode valer apenas para mim, chegando-me assim se for o caso. E nem sempre.

Esta frase do alonso, ali em cima, encerra duas adivinhas, dotes excelentes tem o alonso.
Adivinha que a vitória do "sim" causará milhares de abortos e adivinha que, se o "não" ganhar, não haverá abortos - ou haverá menos.

O alonso, se estiver um temporal aqui em Trás-os-Montes (e está) mas permanecer calmaria na Estremadura, assume que faz bom tempo no país inteiro. Excepto se estiver aqui, de passagem, sofrendo intempéries menos clandestinas e recônditas.

A vitória do "não" significará o que o alonso quiser, até - como ele diz - menos abortos. Pelo menos, menos abortos efectuados sem colocar a vida das mães em perigo, nos talhos escondidos.
Claro que isto nada diz a alonso: querem fazê-los, façam-nos, mas eu que continue a não saber; se eu não souber, se os fizerem em lugares esconsos, parece-me melhor e durmo bem.

Chega disto, por mim. Com 30 macas ocupadas por corpos relativamente vetustos na urgência do meu hospital, nem sequer comento a alusão ao que Sousa Franco disse sobre retrocessos civilizacionais. E nem sequer lá estou, a vê-las amontoadas. A vê-los empilhados.
Sei, contudo, que lá estão.
Percebe-se, o que eu disse? Talvez não. Mas chega-me na mesma.

Padres para todos os gostos ...

... vinha eu cá à espera de encontrar um post sobre o Padre Manuel Costa Pinto, e nada! Em todo o caso, esclareço já que não tenho nada a ver, nem com o Sr. Padre, nem com as ideias dele. LOL

Mais a sério:

besugo, eu, no que respeita ao aborto, nem terei mau ganhar, nem terei mau perder. Levo este assunto demasiado a sério, e lamentarei muito uma vitória do "sim", e não é só pela porta que isso abre (mais) a uma concepção de vida social, que não desejo, vida essa em que o fenómeno do aborto (que é, queira-se ou não, um fenómeno ligado à morte) passa a ser socialmente aceitável. Lamentarei ainda a vitória do "Sim", de modo mais específico, pelos milhares de abortos que adivinho irão ser feitos e que, vencendo o "Não", o não seriam.

Falas em "medo controlado e bravo". Isso eu tenho. Misturado com uma centelha de esperança, que também controlo porque não quero ficar excessivamente triste na noite do próximo Domingo, se essa pequena esperança se manifestar infundada.

Nunca apreciei muito o Sousa Franco, mas li hoje uma frase atribuída a ele que resume de modo lapidar muito do que penso. E que é esta:

"A legalização do aborto livre - diferente da justificação ou desculpabilização de casos concretos - é a passagem de uma fronteira decisiva representando um retrocesso civilizacional que permite - como outrora a lei da selva - o domínio dos fortes sobre os fracos, dos que já estão na vida sobre os que vêm depois. Essa não é a sociedade humana que sempre idealizei."

6.2.07

Regozijo? Outro benfiquista estranho, deve ser colombiano.

O alonso consegue observar regozijo onde não o há. E puxa esse regozijo hipotético, que ele assume como tese de outrem, ainda por cima como se fosse uma tese plural, para título.
Um título assim, em tese, é uma antítese. Da honestidade intelectual e da verdade: ninguém se regozija aqui, ninguém é dois aqui, mais ainda do que isso, ninguém se assume aqui como moinho-de-vento de Quixote-Alonso.

Uma coisa é querer, outra ainda é crer, ainda outra é ser contentinho e achar que vai correr tudo como gostaríamos, outra ainda é crismar vontades singulares somadas como se fossem plurais regozijos, que não existem nem são, fora desse somatório, nem regozijos nem plurais.

Serve esta para dizer que escrever às cegas sobre "o vosso regozijo", como escreveu o alonso - e isto que vou agora pespegar aqui é verdade sempre - é prenúncio de mau perder ou de mau ganhar. No contexto duma ante-peleja, seja do que for, traduz um medo. E procura exprimir, mostrando-o, que é um medo controlado e bravo. Mas é sempre mau prenúncio. Prenúncio de desnorte.

O alonso não gosta da pergunta sobre a IVG. Isso acontece. Tive vários colegas, ao longo do curso, que, em sucessivos exames diziam que não percebiam as perguntas, não as apreciavam. Eu lia-as e dizia: de facto, esta pergunta é bastante clara, mas admito que o Eduardo não lhe saiba responder.
No caso do alonso é diferente, ele sabe: para ele é não. Mas não gosta da pergunta, sobretudo porque teme que se possa responder à dita cuja de maneira diferente da dele e que essa barbaridade dissonante possa fazer perigar imensas coisas.

A professora de História da Medicina, uma vez, perante mais uma intervenção do Eduardo, em que o Eduardo, que era um tipo simpático e inteligente, mas teimoso como uma mula, expressava a sua costumeira estranheza perante uma questão qualquer, disse-lhe: "Ó Eduardo, tu, assim, qualquer dia, obrigas-me a não te fazer pergunta nenhuma: viro-me para ti e digo, ó Eduardo, fala sobre a História da Medicina e ai de ti que digas merda!".
A senhora não disse merda. Nem o alonso, convenhamos.

Fui ver o sítio que o alonso mostrou, aquilo dos abortos em Espanha. Vi por alto, são quase duzentas páginas de dados. Apercebi-me que a Espanha tem cerca de 44.708.000 habitantes e que, destes, cerca de 22.400.000 são mulheres. Vi que a taxa de natalidade em Espanha aumentou, mas isso pode ser à custa dos emigrantes do Magrebe, que não abortam, tendem mais a fazerem atentados que a abortarem, e que a taxa de fecundidade também tem subido. Isto não vi no sítio do alonso.
Vi que, em cinco anos, a taxa de IVG em Espanha nem sequer duplicou: em cinco anos, não duplicou, sequer. Não duplicou, sequer, em relação à ausência de dados anteriores. Isto é importante.
Crescimento exponencial, como gostam de dizer alguns matemáticos da treta, não é isto. Não há nenhuma potenciação do crescimento, em cinco anos, de coisa nenhuma, que seja assim ridícula.

E, sem ser onde o alonso me mandou ir, aquilo da Espanha (também andei a ver outras coisas que depois posso explicar melhor, até relembrei as taxas de fecundidade, coisa estranha da biomatemática), vi isto: na Dinamarca, no Reino Unido, na França - para ser largo na escolha, que não inclui a Irlanda por óbvios motivos - a taxa de IVG por 1000 mulheres (em idade fértil) estabilizou - quando não retrocedeu - ao fim de meia dúzia de anos. Dez, no máximo.

Claro. Há picos que se manterão sempre. Analisando as coisas, as assalariadas e as desempregadas abortarão sempre mais do que as patroas. E, sobretudo, que o patrão. As pobres mais que as ricas. As ricas mais que os ricos. E as mulheres que tendem a abrir as coxas de maneira embriagada, entre "shots", continuarão, em qualquer parte do mundo, a tender a abri-las mais do que as mulheres que tendem a abri-las apenas quando querem, sem outra embriaguez que a da vontade, precavidas. Ou não, que nem vem isto ao caso.
É só a vida. A vida é isto, não é um feto; um feto de dez semanas também é vida? Ah, está bem, então é. Também será.

Vamos falar do patrão, agora?
O patrão não sabe disto mais que o faxineiro.
Não me apetece.

O vosso regozijo

m'encanta, mas não m'alegra.

Faltam cinco dias, acentua-se a parcialidade do vosso olhar e a subjectividade da vossa análise sobre as intervenções dos defensores do "sim" e do "não" nos debates a que não tenho assistido.

Mas há uma questão que me parece deliciosa e que foi aqui colocada pela lolita. Que é esta: Porque é que a questão do referendo é capciosa?

Eu coloco a pergunta, para que não restem dúvidas:

«Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

Para os partidários de que "despenalizar" não é "liberalizar" (de que são expoentes importantes o Marcelo Rebelo de Sousa e a lolita, embora ele defenda o Não e a lolita defenda o Sim) a capciosidade da questão deveria ser, no entanto, evidente.

Porque, para ambos, (melhor, "segundo dizem ambos") despenalizar é que é importante.

Logo, a questão colocada no referendo deveria ser (apenas) esta:

«Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas?»

O resto da pergunta é inútil. Ou melhor, não é inútil, porque está lá por uma causa. A de apelar ao "Sim".

Porquê?

Porque não passa pela cabeça de ninguém que a mulher que aborta, até às dez semanas, continue a poder ser penalizada criminalmente apenas porque o fez em casa.

Logo, a "condição" de despenalização que consta da pergunta é absolutamente desprovida de sentido prático.

Mais, não é isso que está em questão, porque se o aborto até às dez semanas for despenalizado, e passar a ser acto legítimo, a ser considerado "acto médico" será necessariamente nos estabelecimentos de saúde que a sua prática vai ocorrer. (passo em claro que passará a ser uma espécie de eufemismo chamar "estabelecimentos de saúde" para locais que têm zonas próprias para a execução de fetos).

Em todo o caso, a regulamentação da execução de abortos em hospitais e clínicas, públicas e privadas, a taxa moderadora (ou a conta) que se paga, etc. ... extravaza manifestamente da verdadeira questão levada a referendo.

Assim, só há uma explicação para a segunda parte da pergunta: está ali para causar ruído, para "adoçar" o teor do que se pretende, para lembrar o povo votante de que o que se pretende é uma coisa "limpa", esterilizada e higiénica. Reconfortante, institucional e mesmo asséptica.

Como técnica de elaboração de perguntas em que se pretende obter uma determinada resposta, está muito bem. É capciosa, mas está bem feitinha.

Imaginemos a seguinte forma de fazer a mesma pergunta:

«Concorda com a despenalização do aborto, por vontade da mãe, até aos dois meses e meio de gestação do feto, desde que este seja morto em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

Formalmente, não lhe vejo nada de mal. Usei a expressão aborto em vez de IVG. A expressão "vontade", em vez de "opção", "dois meses e meio" em vez de "dez semanas", e até expliquei melhor o que é fazer um aborto, ao dizer "desde que este seja morto". (Porque realizar um aborto é matar um feto, não é? Desculpem lá se não for, às tantas sou eu que ando enganado pela desinformação da campanha do "Não")

E prontos, acho que esclareci a capciosidade da pergunta que vai a referendo. Sempre me pareceu que o Castro Caldas é um gajo que não se explica convenientemente.

PS - Continuo, no meu pessimismo habitual, a achar que vai ganhar o "Sim". É menos convicto do que o "Não", mas o caminho de resolver o fenómeno do aborto da maneira mais fácil (mandando-lhe com uma lei para cima) é o mais tentador. Em todo o caso, continuo expectante. E, como já aconteceu em 1998, estes referendos são uma boa maneira de pôr as pessoas a pensar (mais) um bocadinho. Já é qualquer coisa.

Só lamentarei, se ganhar o sim, que por cá aconteça o que aconteceu em Espanha onde, entre 1996 e 2005 o nº de abortos passou de 51.002 ... para 91.664 abortos!

(o link acima é só para quem quiser ver. Não é do "Sim" nem do "Não", são os dados oficiais do Estado Espanhol. Têm lá tudo, fria e metodicamente colocado em números. Por região, por estado civil, por situação laboral, por habilitações académicas ou situação escolar, etc. São números que dão que pensar, e arruinam alguns mitos.)

Kant custa?

Um calceteiro de Riachos encontrou um génio que - pensou o calceteiro - estava a contar as suas semanas de vida com dificuldade.
- Tens nove semanas, pá! - disse o calceteiro.
- ....
- Sai daí, anda ver o mar.
- ....
- Não dizes nada porque não sabes ou porque não queres?
- ....
- Já percebi: estás aí na lamparina mas ainda ninguém a esfregou e, por isso, não sais. É isso?
- ....
- Nem isso? É pena, sabes?
- ....
- A Rosa Amélia está cá fora há 29 anos e até já tem um filho, que não é génio como tu, e vai morrer. Tu, enfim, que és tu? Que nem de pedir três coisas és capaz, quanto mais de conceder três desejos?
- ...
- Fica calado. Deixa falar a tua mãe por ti, consoante ela quiser. Ela que esfregue a lamparina.

E foi calcetar, o calceteiro, embora desgostoso com Kant e o imperativo categórico e silencioso do génio. Ou, melhor dizendo, do projecto dele.

Kant e calceteiros, aliás, nunca se deram bem, porque Kant tinha mãos finas, mãos finas de obstetra fino e, naquele tempo fino, não havia estórias destas.

I Kant You Not: those sheets. Lençóis.

O alonso sobreviveu à mudança. Sobrevivemos todos. Queremos lá saber dos nossos textos que já estão no lixo do arquivo? Não queremos, porque todos sabemos quais são os nossos. Ninguém quer, aliás. Os senhores não os distinguem? Não nos distinguem? Não?
Ora, distinguem, sim. Não sejamos tontos. E, caso não distingam, perguntem. Digamos que este blogue, como acontece todos os dias, conta a partir de agora.
Não importa, aliás. Nada disto interessa: são textos do blogame mucho, assumidos pelo autor que, mas isso ninguém duvide, reconhecerá sempre como seu o que escreveu, mesmo que assinado por outra pessoa.

Por falar nissso: o alonso veio aí falar, entre outras coisas, de tiros no pé. E afinfou logo um balázio no pezinho, está agora amputado dum hallux perfurado e sem possibilidade de reimplantação.

Contou ele assim:
Era uma conversa entre uma filha moderna, defensora do "Sim" e a Mãe intolerante, defensora do "Não". No fim, a filha pergunta à Mãe se caso ela (filha) abortasse, a Mãe a ia denunciar à polícia. Foi a única pergunta que ficou sem resposta (e assim acabou o tempo de antena). Eu terminava-o assim. "Não. A verdade é que não sei que crime, cometido por ti, me faria denunciar-te à polícia."

Denuncia-a um tio, o padrasto, a vizinha de cima, o antigo namorado, ó alonso. Que queres provar? Que mãe defende a filha desta maneira inútil, em que se esquece que não basta esta defesa, a dela, para os ataques restantes?

Deixa-te disso, alonso. Aliás, essa tua mãe teria respondido a um embrião avantajado, não confundas cantigas de amor com canções de embalar mórulas.

A cinco dias do referendo, mais hora menos hora

Os defensores do não ainda se dividem e hesitam sobre o consentimento da mulher. Será suficiente? Oh, dúvida inquietante.

Sim a assinalar

O Adolfo Mesquita Nunes defendeu inteligentemente um sim que, conjugando realismo, moderação e ponderação ética, poderia ser a posição generalizada dos que defendem o não. Sem haver necessidade de referendo.

Reflexões sincréticas

Alguém conseguiu descobrir, por entre as abundantes banalidades e chavões sobre planeamento familiar que debitou, porque é que o Júlio Castro Caldas acha, afinal, que a pergunta do referendo é capciosa?

Tiro no alvo

O porta-voz da solução de crise do não, o Filipe Anacoreta Correia que estava agora no Prós e Contras do lado esquerdo da plateia (isn't it ironic?...) estava apostado em ser uma espécie de animador do debate. Teve azar, quando fez notar a "intolerância" da plateia da direita quando se ouviram risinhos ao que ia insinuando, porque nada de concreto se conseguiu perceber, afinal, sobre a tal proposta de suspensão (suspeito que, do lado esquerdo, o que dava vontade é de lhe dar uma sova; sobretudo depois daquela bisonha tentativa de descredibilizar o Rui Pereira mais a sua proposta à Unidade de Missão), quando o certo é que, logo a seguir, a plateia esquerda apupou o Rui Pereira por este afirmar que o feto é protegido numa solução de despenalização do aborto até às dez semanas.
Isto em esquecer o momento, bonito, em que fez questão de explicar que a proposta de suspensão dos processos de penalização do aborto não era nenhuma "solução de recurso a cinco dias do referendo". Bem assinalado. É pena é que ninguém lhe tenha perguntado nada.

5.2.07

Súmulas e sémulas. Vogais do tempo "destrocadas" sem cedilha.

Há coisas que só consigo ver até ao intervalo. Por exemplo, os jogos do Sporting já não. Há ali indefinição, e magia, por vezes.
O "Prós e Contras", sim. É fatal. Intervalo, acaba.
Não vai acrescentar mais nada, nem ao programa nem a ninguém, ficar a ver aquilo até ao fim.
Pode-se ficar, mas já está tudo dito. Atrevo-me a dizer: já estava tudo dito antes de começar. No entanto, decorre o programa. O presente decorre, mesmo enquanto nos retiramos dele: é quase sempre assim, em todos os processos que decorrem. Costumam prosseguir.
A mim chega-me o intervalo: eu sei lá se chego ao intervalo da minha vida, que é aquela parte em que apanhamos um susto e, assustados, decidimos começar a resumir a nossa vida à sua preservação?
Eu nem sei se quero isto: viver só para estar vivo é uma requisição de redoma ao serviço de preservação do sofrimento ou da vida em si, sofrida ou bela. Vai dar no mesmo. Adiante.

Do debate de hoje, sobre o referendo, o "sim" ganhou. O "não" é doente, como parece estar Pinto Leite. Tenho pena, mas parece estar doente, espero que não esteja: Santana Lopes, que é do tempo de Pinto Leite, tem muito melhor ar. Mesmo Marcelo, que é do mesmo tempo de ambos, tem melhor ar que Pinto Leite. Do que Santana não. Até a senhora que deu doze filhos a Roberto Carneiro tem melhor ar que Pinto Leite. Coitado. Se eu morrer no intervalo, ele sucumbe antes do prolongamento. Espero que nenhuma destas hipóteses se verifique, para bem de ambos e das respectivas proles e, mesmo, do Mundo. O Mundo pode passar sem toda a gente, mas, em começando a faltar gente ao Mundo, o Mundo pode mudar de opinião.

Hoje, no Prós e Contras, até ao intervalo, estiveram juristas a mais. Bastava o do "Sim". Rui Pereira. Os outros eram tributários dele, afluentes dele que quiseram ir ali ver se lhe desaguavam, nas ilhargas vulneráveis de quem fez "missão", riachos de punhais.
Juristas a mais, aliás, transformam um referendo na sua consequência: como se legisla a seguir? Eu respondo: ó senhores, isso é convosco. Oiçam e, depois, consoante a resposta, sim ou não, legislem a particularidade que acharem por bem particularizar. Um aviso: legislem de maneira boa.

E havia, também, médicos a mais. Sobejava ali Manuel Antunes. Um homem que só opera corações inviáveis em corpos viáveis é inteligente mas não pode estar ali sem ser nessa condição: para ser coerente tem de operar os corações todos.
Tem, sendo como é, de estar pelo "sim". Para ser Manuel Antunes, competente cirurgião dos sãos do resto, não precisa de se meter nisto. Nem deve. Parece mal. Parece, para quem o conhece, que vai ali dizer "que não" porque lhe deu para ali, apenas neste caso. Eu isto posso explicar melhor, mas não carece. Sabe a gente toda que o olha atentamente pelos melhores motivos e o reprova pela triagem: há triagem, professor? Então cale-se, quem tria trai, nisto.

Nem sequer foi ele que me impressionou mais.

Quem foi? Foi a Laurinda Alves.
A Laurinda Alves, pendurada agora no "não" sem que se lhe entenda a razão da birra, fez tantos trejeitos de desaprovação, tantos motetes, que é inevitável que intervenha na segunda parte. E eu, isso, é que não quero ver: uma mulher inteligente, destroçada pelos icebergues da teimosia ou do desgosto, a fazer de Tricas Cachenê. Não sei sequer do que falo quando falo dela, só a sei de a ler sobre outras coisas, mas o desgosto dela lê-se-lhe nos olhos, livro fundo da tristeza. É até por isso que me calo, nem digo mais nada.

Já cá tou ...

É só pra que se saiba. Esta semana antecede o referendo e é nela que assistiremos aos derradeiros argumentos, e aos inevitáveis "tiros no pé" de ambos os lados. A minha sondagem privada indica que vai ganhar o "Sim", mas que há muita indecisão no ar. Também no campo do "Sim", por isso nada é certo.

Ontem, numa curta deslocação de carro, ouvi um bom tempo de antena, do "Sim", na rádio. Era uma conversa entre uma filha moderna, defensora do "Sim" e a Mãe intolerante, defensora do "Não". No fim, a filha pergunta à Mãe se caso ela (filha) abortasse, a Mãe a ia denunciar à polícia. Foi a única pergunta que ficou sem resposta (e assim acabou o tempo de antena).

Eu terminava-o assim. "Não. A verdade é que não sei que crime, cometido por ti, me faria denunciar-te à polícia."

4.2.07

Havia de te cair um boi em cima, lançado dum avião que voasse alto!

Olhem para isto e, sobretudo, vejam como os gajos - ou o gajo, às tantas é só um - sabem que estão a foder a cabeça à malta! Eu até pus em bold e em grande, ali para baixo, para vos provar que o gajo (ou os gajos, façam os senhores a concordância) sabe a merda que está a fazer!

Olhem-me este naco de prosa em servo-croata:

How do I move a blog between accounts? (é suposto isto ser eu a perguntar, o idiota já sabe que vai dar merda e pensa nas perguntas que eu vou fazer-lhe por causa da merda que ele fez).

Note: Following these instructions will not change the ownership of a blog for Pro purposes (i.e., the original creator of the blog is still what matters).
Let's pretend (vai fingir para o raio que te encabe, ó italiano!), first of all, that your accounts are called BloggerUno and BloggerDos. In the BloggerUno account you have two blogs, and you have one blog called "I Love Blogger" at BloggerDos. The following steps will show you how to move the single blog in BloggerDos to be with the others at BloggerUno.
First, sign in as BloggerDos and go to Settings Members for the "I Love Blogger" blog.
On the team page, you will have to send an invitation to yourself. Yes, you read that right!
Mas que merda é esta!?
Click on Add Team Members at the top of the page and fill out the form with your e-mail address. Submit the form and then sign out of Blogger. Make sure you are completely signed out of Blogger before continuing.
Check your e-mail and within a few minutes of taking the steps above, you should have an e-mail inviting you to join the "I Love Blogger" blog. Click on the link in the e-mail. It will take you to the Blogger sign in page. This time, sign in as BloggerUno (this will be the opposite username from the one you were just using). Once you've signed in, you'll see a link asking you to confirm your desire to join the blog. Click Join and you will be added to the blog. Once this is complete, sign out of the BloggerUno account.
When you're signed out, sign in again as BloggerDos. Go to the Team page of the "I Love Blogger" blog. You'll see both of your usernames listed as being a part of the blog. Under "
Admin" you will need to check both users. When both users are listed as having admin access, sign out of the BloggerDos account.
Sign in again as BloggerUno.
(Yes, I know you're sighing in exhaustion at this point!), diz o gajo, entre os parêntesis que deviam apertar-lhe os guizos!

Go to the Team page of the "I Love Blogger" blog. Once again, you'll see both usernames as having admin status. This time, click the "Remove" icon next to the username that you're not currently using (BloggerDos). Be very careful (ai sim, biveriquê?) to select the correct one to remove, so you don't accidentally remove the current account (in which case you'll have to start this process all over again).
Once these steps are complete, you'll have moved your blog from one account to the other. This method can also be used to transfer ownership between two seperate user individuals – you'll just have to coordinate with the other person to follow the steps outlined above.
E se estivesses mas era quietinho, ó trampolineiro, que eu estava muito bem ali em casa?

"Yes, I know you're sighing in exhaustion at this point!", diz o palerma! O tipo sabe o que estava fazer!
Olha, vai mas é apanhar onde apanham as galinhas, ó franciú! Gostava de te dar um calduço nessa pescoceira de frango.

Vamos indo, isto a partir de agora dá.

Foi com alguma preocupação que vi a exibição do Carlos Bueno ontem. Cada golo que marcava me aprofundava mais os sulcos sofridos do rosto.
Isto é verdade.

O Carlos Bueno é um tipo que me enerva. O Nuno Gomes e o Simão Sabrosa, se fossem uns tipos assim mesmo, uns tipos e pronto, também me enervavam. Como não são, fazem-me rir.
O Bueno chateia-me porque se percebe que tem andado a mangar com as tropas, os dois últimos golos dele são dum gajo que podia estar a jogar no Barcelona e isto enerva-me, o que vale é que o gajo é maluco e não repete isto nem daqui a 3 anos, senão lá vendíamos o gajo por tuta e meia ao Sacavenense da Espanha, ou da Inglaterra, para pagar relvados.

Um relvado é para, e isto por ordem:
1 - Pastarem vacas
2 - Se fazerem concertos de bandas alternativas, ou pré-históricas (excepto o Júlio Iglesias), ou da GNR.
3 - Jogar à bola.

As bancadas existem ali à volta, eu sei que sim, mas é só porque 1 e 2 são mais importantes do que 3.
1 é mais importante do que 3 por causa do bucolismo. 2 é também muito importante, mais que 3, derivado à malta que quer curtiri.

É o que deve pensar o grande, o Franco, lá do alto do queque dele: aliás, o corpo que tem merece-lhe a cabeça, viva a pastelaria.

A tarde dos exemplos

A Invenção de Morel

Isto é uma das merdas que resulta de se estar sempre a mudar.
O caralho dos anglo-saxónicos, como usam uma língua que é saburrosa e merdeira, desconhecem certas e determinadas regras das línguas que não são paneleiras, nem saburrosas, nem merdeiras. Vai daí, um blogue decente sai com este nome.
E ninguém faz nada!

Isto correu mesmo bem. Mas mesmo.

Uma das "excelentes" coisas que a modernidade a que se adere porque tem de se aderir pode acarretar a um conservador, é a seguinte: efectua-se a trasladação do blogue para outro sítio, para aquele sítio que o tipo que agora manda nas coisas quer (no caso, parece ser agora um tal senhor Google), abre-se uma conta nova - começo a acreditar que o mundo é cada vez mais povoado por imbecis que acreditam mesmo que "new is better" e ficam epilépticos dos cornos se não estiverem sempre a mexer em tudo o que alcançam - e, espantosamente, verifica-se nomeadamente o seguinte (gosto desta palavra, "nomeadamente", é uma bengala estúpida com que até gostava de acariciar o lombo do senhor Google, de riba para baixo!):

1 - A listazinha de links, que tratávamos com algum esmero, embora não muito, surge agora com hieróglifos esquisitos em tudo o que seja cedilhas, ditongos com til, acentos circunflexos e, mesmo, em outras acentuações, sejam elas agudas ou graves. Isto é grave.
2 - Os pedaços de miséria que eu, besugo, fui publicando, de forma massacrante para a pequena parte da humanidade que calhou lê-los, surgem actualmente, na "new-fèxen-version"do senhor Google, todos assinados pela lolita. Isto, a bem dizer, tendo eu relido alguns deles, é capaz de ser melhor para mim, mas a lolita também não tem culpa nenhuma de algumas das escrevinhaduras que eu lá pus.
Olhem, afinal, bem me parecia, depois de me reler, às vezes: "hum, isto não fui eu...".
3 - O alonso, pelo seu lado, ainda consegue ter os seus textos assinados. Isto porque o desgraçado ainda não se apercebeu de nada disto e não deve ter feito nenhuma tentativa para seguir as instruções que o senhor Google deu ao senhor Blogger para nos dar a nós: por isso lá está ele, incólume na sua pujante assinatura.

Eu gosto muito do senhor Google. Muito. Por isto também, fez aqui um excelente trabalho. Parece que estou mesmo a vê-lo, ao grande boi do minho, com os cascozitos em ânsias: "bora mexer, que isto assim não vai pá frente!"
Boi!

Poderá haver almas mal intencionadas a quem passe pela cabeça uma ideia peregrina, que é a seguinte (e é sabido que aquilo que uma alma mal intencionada tende a fazer, logo que lhe passa uma merda maliciosa pela cabeça, é verbalizá-la): "cá para mim, tu não pescas mas é um corno de informática básica e fizeste bosta; e por isso é que agora estás com esse problema, por seres um besugo ignorante e inepto, que, já quando foi aqui há uns tempos, tiveste de mudar o endereço dessa merda para o "chumo", que eu lembro-me!, por isso valha-te mas é Deus ou um cavalo marinho!".

Perfeitamente. Para esta espécie de tricobezoares eu tenho o seguinte recado: anilha da tia, se for boa ela assobia. OK?

(Se ao menos ajudásseis, em lugar de estardes para aí a enervar-me, que eu bem sei que estais no gozo com esta merda! Cambada de imprestáveis!)

2.2.07

Olha a conveniência fresquinha!

"Não há provas cabais do benefício de determinada terapêutica no seu determinado caso, minha senhora. Nem provas em contrário. No entanto, essa terapêutica pode ser uma opção, caso a deseje, porque não está contraindicada e há estudos a decorrer sobre este assunto".

Isto é uma frase clara. Mas admita-se que não é. E não foi, aparentemente: a senhora perguntou coisas e explicou-se-lhe isto por palavras diferentes, durante longa hora.

No fim, a senhora exprimiu que "assim não!, assim isto não me agrada, eu é que sei o que é melhor?, ora abóbora".

Foi-lhe dito que a opção era dela: "não há provas de que seja útil fazer o tratamento, há quem diga que sim, há quem diga que não, mas não se provou haver vantagem em fazer, percebe? mas pode fazer, até há quem faça, como já lhe disse estão estudos em curso sobre isso, que ainda não foram conclusivos".

" E se fizer?, corre tudo bem?, os tratamentos?"

"Os tratamentos, que, no seu caso, não têm vantagem demonstrada, podem provocar-lhe alguns efeitos desagradáveis. Já lhos expliquei..."

"Pois, é sempre a mesma merda, é por isso que Portugal não vai pá frente!"

E é. Ela tem razão. É por estas e por outras. Se fosse ela a mandar já íamos todos para aí nas Berlengas, com o continente europeu inteiro a reboque, o Putin a berrar, lá do Kremlin, "olhia âs Bêrlengash, si câlhar tième piètrole! Pára!!!".

É. É desta massa que se faz uma eleitora. "Não sei, não quero saber, só sei que assim não me convém, por isso decida você e logo se vê se o fodo ou não".
Eu sei que não convém a ninguém, nem isto nem outras coisas. Nem a mim, calculem.

besugo

1.2.07

Esguichos de besugo

Já aqui disse, com o calor que desperta - pobre estilete aquecido na memória - a escrita no gelo, que "sim".
Usei palavras de outros, coisas que me servem para o efeito escasso da minha decisão de "sim": as da lolita, as de Pacheco Pereira; umas sílabas - poucas - do meu dialecto para fazer a fusão.
Fusão. Excelente reacção química.

A vida não se esgota na filosofia. Nem a morte. Digo mais: nem uma nem outra têm nada que ver com ela, com a filosofia. É que nunca se viu um morto a filosofar, excepto em crises muito graves. Nem me lembro de nenhuma.
E, quem vive, filosofa quase só por isso, por estar vivo. E por lhe apetecer, concedo. E por prazer. E mais coisas, pronto.

Na embriologia também não se esgota a vida, nem a morte. Sabe-se, tanto quanto sabemos nós de nós, quando a vida principia e, na mesma medida "de dentro", quando acaba.

A biologia (a embriologia encaixa aqui, na biologia; não encaixa na medicina mais do que o que encaixa aqui, penso eu) é uma ciência que, salvo erro, estuda os seres vivos. Mas, curiosamente, foi sendo feita por parte deles, pela parte angustiada desses seres vivos. Ou seja, por nós.
Ciência de dentro, já se sabe sem detença, é como Olegário Benquerença: é imparcial e justa até ao sorriso cínico do cartão laranja e do patrocínio - patrocínio escrito com um "l" subjectivo, como em "Pisboa, calitap de Lortugap".

Isto não é difícil de fazer, faz-se bem.

Bom. Não pretendo acrescentar nenhum argumento a nenhuma das campanhas. Nem nada a coisa nenhuma. Por mim, pelas razões que outros disseram por mim, antes e melhor do que eu, é "sim".

Vim só dizer, "à laia de guisa", que encontro diferenças grandes entre "a vida" de Paulo Brahms Pinto - que vai terminar essa sua vida, asseguro-vos isto, em pouco mais de um mês, vai sentir com a sua inteligência o fim desta sua estadia de 46 anos (e um mês e pico) no planeta onde nasceu e onde se estudam coisas como a embriologia, a biologia, a filosofia e a medicina - e "a vida" embriologico-filosófica-medico-biológica de Manuel Projecto Celular Ramos Muito Verdes, que dura há dez semanas em barriga alheia à "vida que faz falta ao vivo e que eu vos disse".

É a vida que ele tem, a de Manuel Projecto; não é "a vida".

Eu sei. Eu sei disso tudo. Há muitas complicações e coisas.
"É a vida". É a vossa vida. Façam como quiserem, discutam tudo. É bom. Não leva mais longe do que isto, mas força nisso de esgrimir, que é desporto de panascas se for com máscara e fatinho protector, como no laboratório, mas se for de peito feito parece-me que já não.

besugo

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