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12.2.07

Rescaldo

Uma coisa em que os movimentos do não foram eficazes foi em fazer surgir a quem defendeu o sim algo de parecido com um complexo dos excessos. Receosos de alguma interpretação no sentido da colagem ao radicalismo dos defensores do aborto no referendo anterior ou ao discurso hiper-feminista do tipo "Maria Teresa Horta", os defensores do sim foram comedidos, politicamente correctos, quase assépticos. Festejaram tudo, ontem, em alguns minutos, com meia dúzia de aplausos e, fim. Já li por aí que é um disparate falar-se em vitória do sim. Não concordo, a menos que se clarifique onde reside o disparate. Disparatado é festejar vitórias por liberalizações. Legítimo é festejar vitórias pela abolição de uma perseguição legal absurda, injusta, soez. Acredito muito mais numa sociedade capaz de atender ao sofrimento dos seus pares do que numa sociedade espartilhada em proibições em nome de valores absolutos.
Quanto ao Alonso, que já faz projecções apocalípticas sobre as futuras possíveis medidas eugénicas da civilização ocidental, lembro-lhe, para ele se animar, que não está só: há todo um cortejo de pessoas que também gostaria de mandar na vida dos outros. Quarenta e tais por cento dos votantes. Com a vantagem de serem quase todos activistas de valores tão absolutos e invioláveis que lamentavelmente são incompatíveis com a liberdade dos indivíduos.
Sim, hoje respira-se melhor.

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