Súmulas e sémulas. Vogais do tempo "destrocadas" sem cedilha.
Há coisas que só consigo ver até ao intervalo. Por exemplo, os jogos do Sporting já não. Há ali indefinição, e magia, por vezes.O "Prós e Contras", sim. É fatal. Intervalo, acaba.
Não vai acrescentar mais nada, nem ao programa nem a ninguém, ficar a ver aquilo até ao fim.
Pode-se ficar, mas já está tudo dito. Atrevo-me a dizer: já estava tudo dito antes de começar. No entanto, decorre o programa. O presente decorre, mesmo enquanto nos retiramos dele: é quase sempre assim, em todos os processos que decorrem. Costumam prosseguir.
A mim chega-me o intervalo: eu sei lá se chego ao intervalo da minha vida, que é aquela parte em que apanhamos um susto e, assustados, decidimos começar a resumir a nossa vida à sua preservação?
Eu nem sei se quero isto: viver só para estar vivo é uma requisição de redoma ao serviço de preservação do sofrimento ou da vida em si, sofrida ou bela. Vai dar no mesmo. Adiante.
Do debate de hoje, sobre o referendo, o "sim" ganhou. O "não" é doente, como parece estar Pinto Leite. Tenho pena, mas parece estar doente, espero que não esteja: Santana Lopes, que é do tempo de Pinto Leite, tem muito melhor ar. Mesmo Marcelo, que é do mesmo tempo de ambos, tem melhor ar que Pinto Leite. Do que Santana não. Até a senhora que deu doze filhos a Roberto Carneiro tem melhor ar que Pinto Leite. Coitado. Se eu morrer no intervalo, ele sucumbe antes do prolongamento. Espero que nenhuma destas hipóteses se verifique, para bem de ambos e das respectivas proles e, mesmo, do Mundo. O Mundo pode passar sem toda a gente, mas, em começando a faltar gente ao Mundo, o Mundo pode mudar de opinião.
Hoje, no Prós e Contras, até ao intervalo, estiveram juristas a mais. Bastava o do "Sim". Rui Pereira. Os outros eram tributários dele, afluentes dele que quiseram ir ali ver se lhe desaguavam, nas ilhargas vulneráveis de quem fez "missão", riachos de punhais.
Juristas a mais, aliás, transformam um referendo na sua consequência: como se legisla a seguir? Eu respondo: ó senhores, isso é convosco. Oiçam e, depois, consoante a resposta, sim ou não, legislem a particularidade que acharem por bem particularizar. Um aviso: legislem de maneira boa.
E havia, também, médicos a mais. Sobejava ali Manuel Antunes. Um homem que só opera corações inviáveis em corpos viáveis é inteligente mas não pode estar ali sem ser nessa condição: para ser coerente tem de operar os corações todos.
Tem, sendo como é, de estar pelo "sim". Para ser Manuel Antunes, competente cirurgião dos sãos do resto, não precisa de se meter nisto. Nem deve. Parece mal. Parece, para quem o conhece, que vai ali dizer "que não" porque lhe deu para ali, apenas neste caso. Eu isto posso explicar melhor, mas não carece. Sabe a gente toda que o olha atentamente pelos melhores motivos e o reprova pela triagem: há triagem, professor? Então cale-se, quem tria trai, nisto.
Nem sequer foi ele que me impressionou mais.
Quem foi? Foi a Laurinda Alves.
A Laurinda Alves, pendurada agora no "não" sem que se lhe entenda a razão da birra, fez tantos trejeitos de desaprovação, tantos motetes, que é inevitável que intervenha na segunda parte. E eu, isso, é que não quero ver: uma mulher inteligente, destroçada pelos icebergues da teimosia ou do desgosto, a fazer de Tricas Cachenê. Não sei sequer do que falo quando falo dela, só a sei de a ler sobre outras coisas, mas o desgosto dela lê-se-lhe nos olhos, livro fundo da tristeza. É até por isso que me calo, nem digo mais nada.
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