Tempos e amores
Tardei a comprar um livro que devia ter comprado há mais de vinte anos. Sabia da Torre de Menagem, que ali estava há séculos, mas queria saber que a mandou construir D. Afonso IV de Portugal; sabia da fortificação da vila, em forma de estrela, mas não sabia que todos os dias vejo um dos seus torreões e um dos muros de pedra, agora coberto de hera, mesmo em frente da minha varanda.
Estadias recorrentes, onde se regressa sempre para tornar a saborear os dias de anos anteriores, tornam-se partes da nossa vida. Sem se dar por isso, passa-se a estimar esplanadas de café como se estima o cadeirão favorito onde respiramos fundo, em profundo gozo, com um livro na mão ou um olhar preguiçoso sobre telhados de casinhas em escada sobre o rio.
O livro ensina: o futuro tem o coração no passado. E hoje este blogue não periódico e desalinhado faz três anos do passado de quem nele escreve, o que constitui pretexto suficiente para interromper rotinas de férias e assinalar a data.
O
blogame mucho, o blogue mais atentamente desatento a norte do rio Mondego, há-de continuar muito provavelmente como sempre foi, feito sem projectos, ao sabor dos humores, das perplexidades e das alegrias dos seus bloggers. Nunca teremos outra linha editorial que não seja a que deriva da observação empírica, desordenada, do que vemos e do que pressentimos. Do que temos e do que nos falta.
Cá continuaremos, espero eu.
Foto retirada daqui.
Castelo de Vide
Em Castelo de Vide, casario composto pela encosta acima, bonito, limpo, cheiroso e calmo, os dias têm escorrido plácidos pelas esplanadas do seu bafo. Os petiscos são inesgotáveis e convidam a beberes calmos, frescos e compridos. Deveres macios que se cumprem.
O metabolismo das patuscadas exige enzimas adicionais às do habitual processo digestivo. Castelo de Vide fornece abundantes catalisadores desta estirpe, bastando subir o Castelo, ou trepar o Burgo, ou esticar os passos à Judiaria, para fornecermos à vesícula, ao pâncreas e às restantes adjacências viscerais reforço importante de infantaria.
E há, ainda, o complexo desportivo. Municipal. Público.
Tem um relvado verdejante e bem tratado, circundado de pista de atletismo, a cor de tijolo brincando com o verde, apetecendo correria.
Ao lado, uns metros abaixo, o pavilhão polivalente, fresquinho do ar condicionado, tão diferente doutros mais pomposos que conheço, daqueles em que “faz lá dentro o tempo que fizer cá fora”. A sua utilização, desde que não colida com outras “horas marcadas”, é completamente livre. Mesmo para turistas em ânsias de andebol.
Por fim, a piscina. Um naco azul claro de humidade fresca por dentro da relva bem aparada. Cá fora, no muro novo e claro, os preços afixados são um soneto doutros tempos: nada se paga até aos seis anos, que são os anos mais verdes da verdura; daí para cima (ou para baixo?), os estudantes que documentem ser essa a sua actividade – mesmo que em férias -, desembolsam um euro e aos adultos, mesmo que possuidores doutros cartões mais mimosos e dourados, pedem-se apenas dois; dois euros. A chave d’oiro reza assim:
os que tenham vivido sessenta e cinco primaveras ou ainda mais outonos, desde que residentes no concelho, façam o favor de entrar, a casa é vossa.
As crianças e os velhos e todos nós no meio, ali misturados no mesmo calor e na mesma necessidade de frescuras, na mesma vontade de petiscos, de beberes calmos e compridos, cumpram-se ou não na sua plenitude estes deveres macios, mesmo que seja em lugares públicos – sobretudo aí, acrescento eu e perdoe-se-me a inclinada geografia emocional, mas sou eu que traço os mapas que me guiam – são poesia simples de bonita. Concedo que não são sempre, mas às vezes são.
Com isto tudo já perdi trezentos gramas do meu sebo inútil.
Eu sei que falta mais, falta sempre mais às coisas grandes, quanto mais às pequeninas.
Mas às vezes parece mesmo que já falta menos.
Geografias de besugo
O blogame mucho rumou a Sul há vários dias. E ainda mais a Sul reside o seu destino próximo.
O Sul faz bem, quanto mais Sul melhor. Quanto mais Sul, se for mesmo cada vez mais Sul, mais Norte. E mais bem faz.
crónica dum esturro anunciado
Gostava que me explicassem como é que o Sporting vai, este ano, escapar a uma carga de lama na "Liga dos Campeões". Já para não falar nas competições nacionais, que são, até, o meu maior temor. É que eu vi o Braga, por exemplo.
O Sporting vai à liça com os mesmos jogadores que tinha no ano passado.
Não se acautelou na defesa, onde é notória a falta dum “zagueirão” que varra aquilo tudo quando for o caso.
Persiste na crença de possuir ali, no meio do campo, dois “números dez”, o Martins e o Romagnolli, quando é notório que, com ambos, não se faz – sequer – um “oito”. Com Carlos Martins, aliás, duvido que se possa fazer seja o que for que seja vantajoso. Acertou quando comprou Paredes, se bem que Paredes está, agora, bem menos talhado para correrias do que estava há meia dúzia de anos. E contratou Farnerud, um sueco fatalmente fadado para suplências, fatal como o destino.
Para jogar ao lado de Liedson, arranjou um uruguaio que, viu-se contra o Inter, é tão fácil de atar e pôr ao fumeiro como era (e continua a ser) o Deivid. Não, não me parece mais Bueno do que Carlos.
Há Custódio, há Moutinho, há Nani, há Yannick, há Veloso, há a miudagem raçuda para compor o ramalhete de mais viço, há os outros todos. Paulo Bento há-de estar contente, o Sporting vai interpretar a sinfonia preferida do seu maestro:
“tudo ao molho, para ver se os outros tipos não jogam, mesmo que também não joguemos nós”.
Falei ali acima em ramalhete, mas pode até ser que aquilo seja um ramo grande. Feito de flores todas iguais, sem sequer um cravo ou uma rosa a colorir de classe tantos malmequeres siameses e esforçados, pode bem ser um ramo grande. Duvido é que venha a ser um grande ramo.
Flashes
Simão Sabrosa parece que quer mesmo sair do Benfica, o que se entende. O que se entende menos é a aparente vontade que o Benfica exibe de o ver sair.
O pequeno jogador dos "encarnados" (isto quer dizer "cor de carne", ou seja, é o equivalente ao "cor de laranja" num talho) dificilmente será titular de qualquer equipa estrangeira de topo (e aqui refiro-me a qualquer uma que se bata por uma posição do sétimo lugar para cima) que o queira. Precisa de mimo e de boa imprensa, o que não lhe está garantido fora do torrão natal.
No Benfica, tirar Simão a Rui Costa é um
desperdício de Rui Costa que o Benfica pode pagar caro. O Benfica arrisca-se, assim a brincar, a não fazer o que parecia provável aos olhos de muita gente: uma grande temporada
Não que eu sofra muito com isso, mas também não me alegra por aí além.
Esguichos de besugo
Há as putas velhas e as velhas putas. E há as putas novas e as novas putas.
As novas putas são de ambos os géneros, como as outras putas todas, mas não são tão novas como as putas novas.
A nova puta, o que é?
A nova puta, que é afinal antiga, distingue-se das outras todas por se limitar a aflorar o microfone com as beiças, enquanto fala.
Felar é distinto (*).
(*) Até porque há relatos de senhoras bem vestidas a fazê-lo satisfatoriamente, ou assim pareceu ao relator.
Aguente-se, homem
Se Fidel Castro melhorar, fico contente.
Desejo-lhe as melhoras.
Não as desejo ao "ser humano", ao "velho doente", nada disso. Isso deseja-se a toda a gente, toda a gente faz isso todos os dias - nos intervalos.
É mesmo ao ditador cubano, ao sacana do Fidel, ao bárbaro barbudo de boné que as desejo.
Não explico, não tenho de me explicar aqui, era o que faltava.
Ó pá, tens aqui um isqueiro, mas depois devolve-mo que só tenho este...
Sempre esta ânsia de servir, de ajudar, de informar.
A ser verdade (eu duvido, porque soube por um jornal, mas às tantas foi) bem hajam, seus grandes filhos da puta.
Olhando bem para a focinheira de alguns jornalistas que conheço de vista, narradores potenciais dos factos que ajudaram a criar, ainda bem que a coisa não se passou por cá. Com estagiários da TVI, por exemplo. Porque a coisa era bem capaz de se passar na mesma e os reporteres ainda eram artistas para fazerem outra peça, "relacionada com a tragédia", sobre o
"imenso tempo que os bombeiros demoraram a chegar ao local do sinistro e o excessivo peso do Estado nas corporações anti-ígneas".
O João Miranda, do "Basfémias" diria, directamente de dentro da sua cabeça - que é uma espécie de estúdio móvel com carências luminotécnicas -, que tudo não teria passado duma elementar poupança em quantidade de ignições,
"até porque o tipo ia arder de qualquer maneira, mais cedo ou mais tarde, de forma que só se pouparam coisas precisosas, como o tempo e os recursos".
De maneira que devolvam-lhe lá o isqueiro.
Peças a retalho
A lógica da relativização aplicada a uma peça jornalística do telejornal da TVI pode resumir-se assim: se as amas pagam muitos impostos e os advogados pagam poucos impostos, logo as amas pagam mais impostos do que os advogados e - aqui surge, esplendorosa, a dedução - isso não é justo porque toda a gente sabe que os advogados ganham mais do que as amas.
O que é grave, nisto, não se esgota nestas fantasias esotéricas dos repórteres da TVI. É bem pior saber que a peça trágico-cómica se baseia em dados fornecidos pelo Estado português, que os concebeu e tratou pela rasa da generalização pseudo-corporativa e preconceituosa. Os
advogados, os
engenheiros, as
amas. O Estado que nos protege e nos denuncia os podres poderes civis, nem que seja através de propaganda sibilina.
Batuques
Não se devia poder colocar bombos e baquetas em mãos de moçoilos em festarola.
Devia ser, mesmo, proibido.
Os moçoilos, muitos já com netos a aprender o "bê-à-bá", desatam a descarregar as baquetas que têm nas mãos nos bombos que carregam e fazem isso com uma força igual à da sua raiva. Que assim entoam.
Irrita, irritam-se, bulham, engalfinham-se. É quase certo que tomam a festarola pelo ruído e, por mais não poder ser, fazem dele mesmo a festarola. A bulha.
O excesso de ruído não se limita a ser sintoma de ensandecimento mas está ainda mais longe de se constituir em terapêutica dele.
E o ruído não tem a mínima importância para o prognóstico da doença, mesmo sem ser em excesso.
O excesso é relativo e isto aplica-se também ao silêncio. Mas o silêncio, incomodando na mesma, ouve-se menos.
Da brancura
Ontem pararam-me duas pombas muito brancas à beira da água. Não mostraram vontade de beber. Apenas de estar ali. Quietas.
Não as quis lá, tenho de estátuas as doses já esculpidas, de maneira que promovi o acto de fazê-las voar de espantamento.
Agora tenho medo de ter espantado o Espírito Santo e uma prima qualquer dele.
De qualquer forma, não acredito em símbolos que chegam aos pares.
Se bem que acabei por encontrar um rato morto. Sozinho. Mas longe da água, muito longe. E não o vi chegar.
Da morte de Greene (fim)
O preto velho confundiu Carter com Greene.
Houve quem quisesse ver ali um testemunho que se tivesse passado entre mãos distantes, numa estafeta mal cronometrada desde o início do percurso.
Mas não.
Há é vozes parecidas e a retinopatia diabética não ajuda precisões que envolvam acuidades.
Cristo, quando o mataram, dizem que teve sede e que bebeu o vinagre que lhe chegaram à boca. Nem sequer é seguro que o vinagre fosse de vinho branco, mas devia ser.
Da morte de Greene
Carter, que anda naquilo há oito anos, cuida-se um veterano.
Tudo depende de com quem se fala? De quem escuta?
Não.
Depende tudo, quase sempre, de quem fala. E donde fala.
Quem escuta, escuta apenas. Quem escuta é que é a silenciosa voz passiva do verbo falar: não é quem é escutado.
A gramática não passa dum livro de capas grossas e de páginas finas, que cabe em pasta de coiro velho e cheiroso disso.
Circulares
Ela fica sempre com os olhos no mesmo sítio, ali onde eles são.
Mas fica, de cada vez, com menos brilho neles; e, de cada vez, com mais sulcos à volta deles. Sulcos redondos, concêntricos, aditivos.
Não se pode culpar, disto e de mais nada - muito menos em tão pouco tempo -, o tempo.
O tempo é uma charrua bruta mas não consegue sulcar tão fundo e tanto e tão notavelmente de repente.
Lameiros moles que sejam os olhos e mole a tundra à volta deles. Não consegue.
É outra coisa.
Do costume
Finalmente.
Estas últimas semanas foram-me custosas, chafurdei nelas como se fossem uma lenta e mal gostosa gelatina que me tolhesse.
Mas acabaram. Estou de férias. Comecei hoje. Começaram-me hoje.
Para já, ainda estou com saudades de ontem. Ou de mim ontem.
Sabem como é, é sempre assim: espera-se, devagar e ansiosamente, por seja o que for e a demora faz-nos imaginar que vem aí divina dádiva. Vai-se a ver e o que nos chega, como refrigério para a paciente canícula do cansaço, é a terrena dúvida de sempre: e agora?
Amanhã, se for como de costume, começarei a tentar responder à terrena dúvida de sempre, como de costume. Se for como de costume, em cada dia que passar terei menos dúvidas e notar-me-ei cada vez mais distraído de mim. Isso dá-me sempre paz, porque me parece sempre que não é nada comigo, que me assisto apenas a fingir de mim: é uma paz que me banha sem me deixar nunca banhar-me nela, a minha paz não é daquelas águas que correm dentro, nem para dentro, nem mesmo para fora. Não. A minha paz humedece só por fora, poucochinho e pouco tempo.
Cada dia que for tombando, morto, apressará o inevitável processo de evaporação da paz, coisas da física e do sossego frágil. E a minha pele, de novo apenas embalagem de mim, voltará a ficar tão seca como agora ainda está.
Sentir-me-ei chegar cada vez mais perto de mim e, se for como de costume, não apreciarei demais o reencontro.
O tempo passa, mesmo para besugo
O conceito de blogosfera é-me estranho: é muito redondo e eu sou um bocadinho quadrado.
Mas sei que a há. Seja o que for, a blogosfera, há-a.
Muitos blogues, pelo que tenho lido, fazem anos por estes dias. O nosso há-de fazer três anos daqui por duas ou três semanas.
Sabemos que é de bom tom - e, sobretudo, justo - festejar aniversários. Celebrá-los, assinalá-los.
Gostamos quando fazem isso connosco, ficamos contentes. É por isso que sabemos.
Mas nós não podemos fazer o mesmo. Não temos tempo.
Podem retorquir-me: "Ah! Nós também temos a nossa vida e, mesmo assim, lembramo-nos e assinalamos as datas!".
Eu sei. Nós sabemos.
Mas a questão é mesmo esta e singelinha: nós, no
blogame mucho, por esta altura do calendário - pelo menos -,
não temos a nossa vida, sequer. Andamos a queimar os últimos cartuchos de pólvora seca, antes das férias.
Pedimos a todos os blogues aniversariantes - e a todos os que estão à beira de mais uma festa de anos - que considerem verdadeiro e inexorável o seguinte:
1 - Não podemos agora festejar-vos a todos, sob pena de falharmos muitos. Não podemos. Não temos vagar. Por isso, mais vale não vos celebrar
"na data certa, com o link correcto e com palavras de circunstância".
2 - Cada visita que vos fazemos, todos os dias, é a melhor homenagem que podemos prestar-vos e, aqui há que ser coerente, a única que temos tempo para vos fazer.
Parabéns a todos. Sem link nenhum. A conjuntura é ruim.
O efeito Maria Armanda
Exactamente. É cimentar tudo.
São ciclos de 15 a 20 anos, é uma espécie de lusco-fusco do delírio, da adoração de betoneiras.
Não há incentivos, malta. Não os há!
É cimentar.
Atenção, isto é tudo a reinar, ok?
Eu contribuía, se me pedissem, para uns sapatinhos de cimento que servissem a João Miranda, uns que ele calçasse antes de o submergirmos no Varosa. O Varosa é um bom rio.
Dava três euros. Pagava os cordões e boa parte do cimento, que ele deve calçar uns "sapudinhos" 38,5, se tanto.
Mas 38,5 já é febre, atenção: hemoculturas, radiografia do tórax e exame microbiológico de urina, já. Façam-lhe uma TC antes da punção lombar. E dêem-lhe alta a seguir, forçando-o a assinar um termo de responsabilidade. Se ele não assinar internem-no e encham-no de soro, ministrado por agulheta empunhada por mãos calosas.
O Vitorino é dos piores, habituem-se.
Como se pode ler
aqui, os parlapatões lá conseguiram dar cabo da minha teoria da "negação de emprego por causa do sexo - ou do género". Deram-me cabo dum esguicho. Fica o das "bufas", mas eu também estou habituado a esguichar só uma vez por noite.
No entanto, também se lê lá isto,
naquele chorrilho de belguices, e é no número 29:
"As pessoas que tenham sido vítimas de discriminação em razão da religião, das convicções, de uma deficiência, da idade ou da orientação sexual devem dispor de meios de protecção jurídica adequados".Um fumador pode estar convicto de que fumar, mesmo apenas ao ar livre, lhe dá prazer. E isso ser, mesmo, uma profunda convicção sua.
Portanto, eu quero aqui a minha advogada!!!
Dois esguichos.
Arménio sofria de flatulência e emitia gases com uma cadência tormentosa. Não se podia estar com ele sem ser a céu aberto. E mesmo assim.
Ninguém queria trabalhar com Arménio entre paredes, debaixo de tecto. Mas Arménio, que recusara uma "deslocalização" para uma imensa planície onde ganharia o mesmo e poderia dar "corda intestinal à sua timpanização crónica", manteve-se na empresa. Entre paredes e debaixo de tecto. Tinha uma deficiência.
Claro que Arménio não fumava, o que é mais que bom.
Maria foi recusada na empresa a que se candidatou porque era mulher.
"... a legislação europeia proíbe a discriminação com base em raça, etnia, deficiência, idade, orientação sexual, religião ou crença."
Toda a gente sabe que ser mulher não é uma orientação sexual. Nem uma crença. Nem, mesmo, uma deficiência.
A Europa era linda quando tinha muitos países e quando não eram os mais estúpidos de cada país a baralhar, partir e dar.
"... a legislação europeia proíbe a discriminação com base em raça, etnia, deficiência, idade, orientação sexual, religião ou crença."Por conseguinte, não se considerando o hábito de fumar uma questão racial, nem étnica, nem relacionada com evidente deficência do fumador, nem dependente da sua idade, nem de
se o fumador gosta mais assim ou mais assado nas coisas que também se passam nos motéis, nem decorrente do facto de o(a) fumador(a) professar deuses menores ou maiorzinhos, nem fundamentada na crença em Adriaanse ou em Paulo Bento, para dar exemplo de crenças simples e credíveis (que em Santos ninguém acredita muito), um fumador (ou uma fumadora) pode ser recusado(a) num trabalho qualquer com base nisso, unicamente.
Pelo mesmo motivo, se a legislação só diz isso, pode recusar-se trabalho a uma mulher. Ou a um homem. Quaisquer. Apenas por isso.
Digam-me se estou enganado.
A Europa está doente, mas oxigeniza-se cada vez mais.
A regra europeia passa, então, a ser a de que não contratar fumadores não constitui acto discriminatório. A Europa burocratazinha e asséptica, correcta e exemplar, que hesita entre condenar bombardeamentos israelitas e em catalogar o Hezbollah como grupo terrorista, a Europa das meias-tintas consagra, portanto, uma espécie inovadora de diferenciação pedagógica, que poderia ser, de resto resumida em propaganda numa frase como "
Companheiro: queres ser europeu e civilizado? Renega o tabaco ou liberta-te do servilismo islâmico (riscar o que não interessa) e alista-te! Em troca, oferecemos-te trabalho, desodorizantes e uma bandeirinha dos vinte e cinco!". Ou coisa semelhante.
O mais curioso (ou o mais assombroso) nem sequer é aquilo, que já começa a ser banal no coração europeu. É mais o meu
Colega, co-autor do Código de Trabalho português (e portentoso dono de uma gravata
fucsia de nó proeminente), que explicou à TVI por que razão condena esta interpretação do comissário europeu. Com a argúcia aguçada, talvez, pelo brilho da gravata, recorreu a um exemplo: "
Se eu tiver de contratar um pintor para pintar a minha casa, não posso contratar alguém que seja alérgico a tintas." Para além da óbvia conclusão - a de que, afinal, a discriminação pode ser funcionalizada - arrisco extrair daqui, por exemplo, que se eu tiver de contratar um fumador, não posso contratar um fumador que seja alérgico a anti-tabagistas. Ou, ainda, que se eu tiver que contratar um limpa-chaminés, estou-me perfeitamente nas tintas para saber se ele fuma.
Para mais sobre o tema, dissertando sobre o âmago da questão (cuja dimensão menos grave é a da discriminação), vale a pena ler o que pensa este irascível
livre-pensador.
Citado de memória
"- Porque é que a noite é sombria? Porque é que é à noite que mais nos assaltam os medos, as angústias, o desespero, o pesadelo? - Apenas porque o dia ofusca os temores, assim como ofusca as estrelas. Elas estão lá sempre; o sol é que as esconde."(de uma conversa entre Josef Breuer e o seu paciente Eckhart Muller)
O Fontoura
Não sei se se recordam do Fontoura.
O Fontoura morreu sem dentadura e magro, de barriga inchada pela acumulação de gases, fluidos e resíduos antigos - que, para o fim, já nem comia.
Morreu de causa natural, naturalmente, ainda na pré-história dos super-homens. Que será sempiterna.
Foi-se naquele torpor do ópio e da encefalopatia hepática: o fígado - quando falha - e a morfina (quando é eficaz) sossegam sempre, ao menos à volta do sossegado.
Fui vê-lo todos os dias. Vê-lo é, mesmo, o termo mais adequado, que para o fim já nem me via.
Agora vem-me aí o filho do Fontoura. Ao mesmo.
Exame aos intestinos, lá estava o bicho, a babar as naturalidades da sua e da nossa natureza. Tirou-se o bicho.
A natureza, a do bicho e a nossa, fica sempre: tem de fazer quimioterapia.
De maneira que vai começar amanhã e, como é de Verão, não terá de arregaçar as mangas da camisola preta: há-de vir de mangas curtas e com dois lutos às costas, um ainda em carne viva.
Em carne viva os dois, melhor pensando.
Guerra plástica
A manipulação das fotografias de Beirute debaixo de fogo israelita é bizarra e desastrosa. Se tivesse passado como fiel, não iria aumentar o nosso sentimento de repulsa pelos bombardeamentos - seria, portanto, inútil. Denunciado o embuste, passa a ser manipulada pelos israelitas e respectivos simpatizantes, que a usam agora como a prova decisiva de que, nesta guerra insana e sanguinária, sempre há um lado - o outro - que age de má fé.
Suaves prestações bi-horárias...
Tenho para mim que
isto se refere a depósitos de quotas pagas pelos militantes do CDS-PP, mais ou menos por atacado. Não pode ser outra coisa. Ou então a donativos de Freitas do Amaral e Manuel Monteiro, faseados.
Além disso, no CDS - PP de há alguns anos a esta parte, desde que PP se colocou, imbele e feroz, depois do tracinho, não se branqueia nada. Nem cabelos. Nos cabelos, é apenas
nuances. Se não for peruca, mas também não acredito.
Não.
Se fosse outra coisa não estavam tranquilos e eles dizem que estão, portanto é porque estão. Mesmo aquele alto e de óculos, loiro, que parece a versão alternativa e queque do Roberto Begnini: tranquilíssimo!
São boa gente, tudo boa rapaziada. Pulsos finos, corpinhos franzinos, expressões ansiosas, fugidias e enervadas, mas são todos boa gente.
(ao largo!)
Reflexões sobre virtudes (Miami versus Havana)
Se substituir
serial killer por assassino em série,
cara Charlotte, ainda assim persistimos num domínio pantanoso. Note, por exemplo, que os assassinatos em série são, quase sempre, perpretados por indíviduos com graves distúrbios do foro psicológico. Falta, portanto, o elemento volitivo; falta-lhes a autodeterminação necessária para que sejam
conscientemente coerentes.
Por outro lado, dou-lhe razão quando afirma a coerência não é virtude em si; mas seguramente será, quando relativizada e entrosada com outras virtudes. Já o Bem, como virtude absoluta, é pura retórica; carece de materialização ética. Precisa de desdobramento valorativo.
Em suma, o que debateria o póstumo Sócrates, se soubesse de Castro e de
serial killers? Talvez isto, por exemplo: "
Estarei mais próximo do Bem se dedicar a minha vida a uma utopia cuja execução se revelou repressora ou se a dedicar a uma estratégia prepotente e oportunista de domínio dos povos?"Se Sócrates optar pela segunda via, então ele era tão póstumo que já sabia dos efeitos - anestesiantes - da globalização.
Rodovalhos, nortada, que raiva!
Caro
Mário:
Você deve estar aí refrescadinho pela nortada e eu estou aqui, a suar em bica neste Douro do inferno. Mas não posso deixar de lhe sugerir que leia
isto, um texto de Vital Moreira, onde me parece que se resume muito bem toda a baixa trama mediatico-política de aqui há uns dias, a propósito de Manuel Alegre.
Cuido que ele sintetiza bem o que andei a ler, na altura, nos jornais.
Como vê, não se trata de
medir bitolas pelo porte, pela voz, pelo "parecer".É muito mais que isso.
Quanto ao rodovalho: caramba, você sabe que eu não tenho a
minha vida, bolas! E que só por isso lhe não invado o couto!
Obrigado.
Quanto à história dos novos medicamentos caros: isso vai dar pano para mangas, não deve tardar nada. Sobretudo na área da oncologia vai ser preciso
tê-los pretos. Talvez a partir do Outono haja estrebuchos.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Coisas que melhoram alguma vidas*
Perfeitamente.
Isso, e o comprimento e o diâmetro das pilas dos faltosos, e o número das calças, dos sapatos e das saias, e se têm ou não amantes, e de que género, e quantos filhos e filhas estão a seu cargo, e os hobbies, e a opção sexual, e as fotografias de todos e das famílias (incluindo sogras, se houver), e mapas para chegar lá a casa elaborados pelo Guia Michelin, e o tipo de calhaus a arremessar em lá chegando, etc.
A seguir faz-se isso com outros grupos de pessoas, mesmo com toda a gente, e alcançaremos o que Vital Moreira almeja: uma Pide Pública. É
Simplex.
*Peço desculpa pelo uso abusivo dum título recorrente que não é meu, eu é mais esguichos recorrentes, mas pronto, deu-me agora jeito.
Coisas que revoltam um bocado
Malditos suecos.
Podiam ter feito
este estudo no século passado.
Talvez a minha Mãe o lesse.
Está? Nuno Rogeiro?
Eu às vezes fico perplexo: como é que ainda ninguém do governo se alembrou de arranjar um lugar destacado no
Simplex Para A Defesa Nacional ao
João Miranda?
É incompreensível!
É ou não é de raciocínios inatacáveis e lineares, atordoantes na sua simplicidade genial, que o
Simplex (mesmo o
Simplex Para a Defesa Nacional) mais precisa?
É! Fartos de complicadinhos andamos nós! E é por causa desses complicadinhos que (eu agora vou dizer a frase que me faz convulsivar quando a oiço ou leio, por isso desculpem, costuma ser um ataque rápido, nem sempre desmaio)
"Portugal não vai pá frente!".João Miranda, em mais um texto praticamente geométrico, compara duas estratégias defensivas para garantir a segurança da nossa fronteira. Presume-se que se refere à fronteira com Espanha, mas dá na mesma se for o Mar. Tem é de haver um desembarque, mas também estava bem visto se fosse, há
zebros.
Basicamente, nós minamos aquilo tudo. A questão é se pomos bandeirinhas nas minas, assinalando-as, ou se as deixamos escondidinhas, clandestinamente.
João Miranda parece optar por as esconder. De maneira que os espanhóis, não sabendo onde as enfiámos (às minas), ficam um bocado aos papéis: têm de desminar aquilo tudo, isso chateia e, já se sabe, podem sempre topar com meia dúzia que rebentem. E lá se vai um punhado de invasores pelos ares, eventualmente já sem vida - ou com pouca e de inferior qualidade.
João Miranda vai ainda mais longe na sua acutilância, quando afirma que
"no caso dos escudos humanos é a mesma coisa. Quando não se sabe onde estão, é necessário pressupor que estão em todo o lado".Ou seja, a eficácia parece-lhe ser a mesma: coloquemos nós, na fronteira, minas escondidas e em barda, ou escudos humanos (são pessoas, presume-se) escondidos e em barda, isto, tacticamente e do ponto de vista do efeito dissuasor, é tudo batatas com grelos!
Bem visto! E
simplex!
Se bem que me pareça que os castelhanos são capazes de se sentir um bocadinho mais lixados e dissuadidos com as minas, não sei, é o meu feitio mau que me não larga e que - reconheço - sempre me tolhe. A menos que os escudos humanos estejam armadilhados, isso aí já me parece que iria fazer os espanhóis rabiar mais um nico.
Eu confesso a minha natureza muito pouco abrangente, inclusivamente em assuntos militares.
Mas pronto: desde que João Miranda, na primeira oportunidade que lhe surja, vá fazer de escudo humano oculto na fronteira prestes a ser invadida e nos traga, depois, provas da sua teoria, com gráficos e tudo, eu adiro a mais este
Simplex.
Até esse dia - que espero com alguma ansiedade, admito -, acho mais vantajoso minarmos aquilo.
Retratos do tresler
Por acaso tenho lido muitas coisas sobre bombardeamentos de civis. É condenável. Deve doer imenso.
No
Abrupto, um senhor escreveu muitíssimas palavras sobre uma coisa que, repito hoje o que escrevi ontem, resume "Dresden" - a película e o resto:
"A seguir, vi vinte minutos de "Dresden". Não gosto. Não vi mais que isso. São bombardeamentos a mais à volta dum caso banal, uma gaja a trocar um gajo por outro, em condições difíceis.
Não passa disso."Isto disse eu. Gosto de me citar. Fosse eu um boi e citar-me ia, lidar-me-ia, banderilhar-me-ia, pegar-me-ia. Matar-me-ia. Mutilar-me-ia de orelhas e de rabo e, fantástica metáfora (mais vale isto que andar a descrever emagrecimentos de gramas, todos os dias), arrastar-me-ia pela praça, morto e mutilado, herói de mim, despojo da minha vitória sobre mim, boi de rastos mas bonecreiro de mim, vitorioso.
Eu, para falar com franqueza, não gostava que me bombardeassem, mesmo que estivesse de farda.
Acho que, de farda, dói na mesma. Isto escreve-se depressa e é como punhos.
Era o julgamento da dor ou era de quê?
Quando um juiz profere uma sentença e, acompanhando-a, remete mensagem para o exterior, deve ter presente que os destinatários da sentença e da mensagem para o exterior são diferentes.
A sentença para os pequenos homicidas não necessitava de mais nada: são 11 a 13 meses duma coisa qualquer que deve estar na lei. Andor. Reformatório. Até à próxima. Não quero discutir isto, já sei, já sei. Já sei, foda-se!
A mensagem para o exterior deveria ter sido mais dura, já que não era com os miúdos (estes, como já disse, levaram meses - e não digo que esteja mal assim, não sei de leis), era connosco: era "para fora".
Não se mata ninguém, nem assim nem de qualquer maneira, mas assim muito menos. Ninguém. Ponto final.
Se eu fosse juiz (ainda bem que não sou, não tenho estaleca para jurismos), berraria alto, para que toda a gente me escutasse: "o que vos safa é serdes putos; adultos que façam esta merda são vinte anos de choça, seus filhos da puta".
Eu nem gosto dos filmes do Almodôvar, acho-os berrantes e parolos, sempre baseados em camionistas com mamas, mães estranhas, retoques em cima de retoques, e comatosas que desendaeiam tesões em paneleiros, entre outras coisas que me dão sempre sono e tédio.
Mas conheço a dor. Que não tem mamas postiças. Que faz berrar, sem ser berrante. E é muito simples, a dor, quase dispensa simbolismos histéricos de hipersensíveis: mas não dispensa o senso e a revolta de quem a julga. E, com a temperança necessária ao facto simples de a dor não ser sua - mas podendo vir a ser -, quem a julgar tem de a julgar, de facto, sempre, como se fosse sua. Ou nossa.
Mais ainda que isso: como se fosse dor.
Brincadeiras
Quando um juiz qualquer, por mais excelentes que sejam sua toga e seu martelinho, decreta que matar uma pessoa aos poucos, devagar, em dias sucessivos, é uma brincadeira de mau gosto, reprovável, mas - fundamentalmente - uma brincadeira de mau gosto que foi longe de mais, eu já nem pasmo.
As crianças brincam, tendem a brincar. Mesmo aos juízes de mau gosto que vão longe de mais.
Deve ser só isso, uma brincadeira que já passa. Sossega, besugo.
Discriminação positiva
Tenho um enorme respeito pelas criaturas da noite.Já se vinha ensaiando o périplo de defensores das
vítimas crianças, agora complementado com um (desnecessário) manifesto de respeito pelas
vítimas criaturas da noite. Claro que se respeitam. Todos, crianças, vítimas ou criaturas da noite merecem, suponho, nada mais nada menos do que o mesmo respeito que todos os outros, todos nós, merecem. Afinal, tudo devia resumir-se a mostrar apenas respeito
pela vida dos outros. Nada nos obriga a ir mais longe e a respeitar
o modo de vida dos outros, desde que se cumpra o velho e são princípio do respeito pelas liberdades alheias.
Perdeu-se uma vida, praticou-se um assassinato. É só isto. Ou é, aliás, tudo isto. Mas a busca da vitíma
vs culpado é tentadora e constitui uma das frágeis dimensões da condição humana, quando perante um facto terrível. Até o
tsunami na Ásia valeu imputações de culpa. E a fragilidade humana portuguesa tem uma especificidade curiosa: o culpado é frequentemente o Estado. Mas, culpar o Estado não é muito diferente de manifestar respeito pelas criaturas da noite: é inútil e, sobretudo, redundante. Como é evidente, todos as respeitamos - e, com a mesma evidência, respeitamos-nos uns aos outros.
O valor facial da vida de um desgraçado
Para além de aplicar penas de internamento em centros educativos para jovens difíceis, o juiz não deixou por mãos alheias uma pequena admoestação aos menores, depois de lida a sentença.
Não voltam a fazer uma destas, pois não, seus meliantes?Pois não. A medida da pena determina-se, entre outros parâmetros, pela qualidade da vítima. Execute-se.
Das luzes de néon que chamam mosquitada
A publicação da lista de devedores ao fisco parece-me um simulacro infantil daquela coisa estranha que se passava na escola primária, no ciclo, no liceu, em que o professor ausente - por motivos dele - colocava no estrado, ao pé do quadro, uma espécie de chefe-de-turma: a tomar conta e a escrever, na ardósia preta, os nomes dos meninos que se portavam mal. O investido inquisidor punha os nomes dos outros todos e, à frente de cada nome, colocava "pês", premonitórios de castigos, consoante a interpretação pidesca que fazia do comportamento desviado e desviante das futuras vítimas.
O professor chegava e punia os mais penalizados. "Pênalizados".
Lá fora, depois, ao lusco-fusco, o "chefe-de-turma" ia a perguntas e, não raro, regressava ao regaço materno pingando sangue do nariz, após ajuste de contas.
Todos os ajustes têm o seu quê de subjectividade e de injustiça.
A verdade é que o professor, em não ficando, deveria delegar a sua ausência na presença doutro. Que fiscalizasse na mesma, com a mesma competência. Ou ainda maior, para mostrar serviço.
Que quem tiver de ser cobrado o seja, mas poupem-me a listagens de pecadores.
Espero que nos encontremos todos no Céu, no Purgatório, no Inferno, sem tautagens: quem as quiser, que as faça lá, há-de haver tatuadores nos três departamentos do degredo eterno.
Se puderem, vejam. É às terças-feiras e deve estar a acabar.
Na mesma noite em que Mark Greene decidiu acertar o tempo pelo seu tempo, acertei o meu tempo e vi que ainda era cedo.
Quando for mais tarde eu vejo as horas.
A seguir, vi vinte minutos de "Dresden". Não gosto. Não vi mais que isso. São bombardeamentos a mais à volta dum caso banal, uma gaja a trocar um gajo por outro, em condições difíceis.
Não passa disso.
Esguichos de besugo
Os meus pais deitaram abaixo a pocilga, de maneira que em vez de ir para lá ver refocilagens e "snifar" lavagem, li
isto.
Também li o que escreveu o Luís Delgado, mas já não lhe acho piada: se a ablação radical do encéfalo fosse possível e compatível com a vida, seria, no caso de ser levada a cabo neste cronista, em termos de efeito prático, como chover no molhado.Lêem-se
coisas destas e o estômago desata a pedir mais fumeiro para alimentar o cancro.
"Uma maioria clara de portugueses (55%) defende a realização de um novo referendo sobre o aborto. Esta é uma conclusão do Barómetro feito pela Marktest para o DN e a TSF."Ou seja, 5% de seja o que for confere claridade seja ao que for. Tontice inútil, abusiva, parva.
Os eleitores mais jovens (entre os 18 e os 34 anos) mostram maior entusiasmo perante o referendo (67%), inversamente aos inquiridos com mais de 55 anos (apenas 43% apoiam uma nova consulta).
Isto traduz, apenas, uma grande vontade dos eleitores mais jovens de que lhes sejam perguntadas coisas. Depois, como habitualmente, ou não vão responder (que está sol, e tal), ou não sabem o que responder. Mas gostam que lhes perguntem coisas, pronto: "ó Tómané, que achas disto assim-assim?", "Eu?, disso assim-assim?, olha, ainda bem que me perguntaste!". E calam-se.
A margem de manobra do Presidente da República está condicionada: eis outra conclusão relevante do barómetro. Cavaco Silva deve aprovar a realização de um aborto -concorde ou não com ele - caso o PS lhe faça esta proposta. Só 18% dos inquiridos entendem que o Chefe do Estado não deve dar luz ao referendo mesmo sob proposta governamental.O "bold" é meu, mas a frase inteira está no DN online. E é de gosto abaixo de cão.
Entre os sociais-democratas prevalece uma opinião contrária à despenalização (50%), embora a percentagem dos que advogam uma alteração do actual quadro legal seja também significativa (41%). Aqui, o cronista do DN parece acreditar que a unidade corresponde a "cento e qualquer coisa por cento"; ou, em alternativa, não atribui significado interessante aos 50% de sociais-democratas que, embora não prevalecendo do ponto de vista da opinião, apoiam a despenalização - contra os outros 50%. Por outro lado, é hilariante ler que é significativa aquela percentagem - de 41% - dos sociais-democratas (presume-se que o cronista se refere, sempre, aos sondados do PSD) que advogam uma alteração do actual quadro legal. Um dia que eu detenha 50% do capital da Sonae terei de me desfazer de 9% dele para ser respeitado e para ser significativo. Está bem.
Inversamente, os adversários da despenalização estão entre os mais idosos (44%), maioritariamente do sexo feminino (36%), residentes no Litoral Centro (42%) e pertencentes às classes baixas (36%). Mário Zambujal escreveu, uma vez que "... e era muito religiosa e conservadora, como todas as putas".
Eu achei bem visto. Sobretudo depois de ler a frase acima, a que pus em itálico, a do DN, em que se afirma que os adversários da despenalização são, maioritariamente, do sexo feminino (ou seja, 36%) - presumindo-se que os restantes adversários, a maioria, ou seja, uns meros 64%, estarão distribuídos pelos restantes sexos minoritários.
Vão de férias, não me chateiem. Ou melhor: vão assentar tijolo, ou chegar massa.
Sondagens destas deviam ser feitas pelas gaitolas acima dos "interpretadores", quando as bexigas lhes inchassem de colectado e "indrenável" mijo. Sondagens feitas com algálias grossas.
É muito fraco, mesmo para embrulhar peixe.