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2.8.06

Das luzes de néon que chamam mosquitada

A publicação da lista de devedores ao fisco parece-me um simulacro infantil daquela coisa estranha que se passava na escola primária, no ciclo, no liceu, em que o professor ausente - por motivos dele - colocava no estrado, ao pé do quadro, uma espécie de chefe-de-turma: a tomar conta e a escrever, na ardósia preta, os nomes dos meninos que se portavam mal. O investido inquisidor punha os nomes dos outros todos e, à frente de cada nome, colocava "pês", premonitórios de castigos, consoante a interpretação pidesca que fazia do comportamento desviado e desviante das futuras vítimas.
O professor chegava e punia os mais penalizados. "Pênalizados".
Lá fora, depois, ao lusco-fusco, o "chefe-de-turma" ia a perguntas e, não raro, regressava ao regaço materno pingando sangue do nariz, após ajuste de contas.
Todos os ajustes têm o seu quê de subjectividade e de injustiça.
A verdade é que o professor, em não ficando, deveria delegar a sua ausência na presença doutro. Que fiscalizasse na mesma, com a mesma competência. Ou ainda maior, para mostrar serviço.
Que quem tiver de ser cobrado o seja, mas poupem-me a listagens de pecadores.
Espero que nos encontremos todos no Céu, no Purgatório, no Inferno, sem tautagens: quem as quiser, que as faça lá, há-de haver tatuadores nos três departamentos do degredo eterno.

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