A Europa está doente, mas oxigeniza-se cada vez mais.
A regra europeia passa, então, a ser a de que não contratar fumadores não constitui acto discriminatório. A Europa burocratazinha e asséptica, correcta e exemplar, que hesita entre condenar bombardeamentos israelitas e em catalogar o Hezbollah como grupo terrorista, a Europa das meias-tintas consagra, portanto, uma espécie inovadora de diferenciação pedagógica, que poderia ser, de resto resumida em propaganda numa frase como "Companheiro: queres ser europeu e civilizado? Renega o tabaco ou liberta-te do servilismo islâmico (riscar o que não interessa) e alista-te! Em troca, oferecemos-te trabalho, desodorizantes e uma bandeirinha dos vinte e cinco!". Ou coisa semelhante.O mais curioso (ou o mais assombroso) nem sequer é aquilo, que já começa a ser banal no coração europeu. É mais o meu Colega, co-autor do Código de Trabalho português (e portentoso dono de uma gravata fucsia de nó proeminente), que explicou à TVI por que razão condena esta interpretação do comissário europeu. Com a argúcia aguçada, talvez, pelo brilho da gravata, recorreu a um exemplo: "Se eu tiver de contratar um pintor para pintar a minha casa, não posso contratar alguém que seja alérgico a tintas." Para além da óbvia conclusão - a de que, afinal, a discriminação pode ser funcionalizada - arrisco extrair daqui, por exemplo, que se eu tiver de contratar um fumador, não posso contratar um fumador que seja alérgico a anti-tabagistas. Ou, ainda, que se eu tiver que contratar um limpa-chaminés, estou-me perfeitamente nas tintas para saber se ele fuma.
Para mais sobre o tema, dissertando sobre o âmago da questão (cuja dimensão menos grave é a da discriminação), vale a pena ler o que pensa este irascível livre-pensador.
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