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24.8.06

Castelo de Vide


Em Castelo de Vide, casario composto pela encosta acima, bonito, limpo, cheiroso e calmo, os dias têm escorrido plácidos pelas esplanadas do seu bafo. Os petiscos são inesgotáveis e convidam a beberes calmos, frescos e compridos. Deveres macios que se cumprem.

O metabolismo das patuscadas exige enzimas adicionais às do habitual processo digestivo. Castelo de Vide fornece abundantes catalisadores desta estirpe, bastando subir o Castelo, ou trepar o Burgo, ou esticar os passos à Judiaria, para fornecermos à vesícula, ao pâncreas e às restantes adjacências viscerais reforço importante de infantaria.

E há, ainda, o complexo desportivo. Municipal. Público.
Tem um relvado verdejante e bem tratado, circundado de pista de atletismo, a cor de tijolo brincando com o verde, apetecendo correria.
Ao lado, uns metros abaixo, o pavilhão polivalente, fresquinho do ar condicionado, tão diferente doutros mais pomposos que conheço, daqueles em que “faz lá dentro o tempo que fizer cá fora”. A sua utilização, desde que não colida com outras “horas marcadas”, é completamente livre. Mesmo para turistas em ânsias de andebol.
Por fim, a piscina. Um naco azul claro de humidade fresca por dentro da relva bem aparada. Cá fora, no muro novo e claro, os preços afixados são um soneto doutros tempos: nada se paga até aos seis anos, que são os anos mais verdes da verdura; daí para cima (ou para baixo?), os estudantes que documentem ser essa a sua actividade – mesmo que em férias -, desembolsam um euro e aos adultos, mesmo que possuidores doutros cartões mais mimosos e dourados, pedem-se apenas dois; dois euros. A chave d’oiro reza assim: os que tenham vivido sessenta e cinco primaveras ou ainda mais outonos, desde que residentes no concelho, façam o favor de entrar, a casa é vossa.

As crianças e os velhos e todos nós no meio, ali misturados no mesmo calor e na mesma necessidade de frescuras, na mesma vontade de petiscos, de beberes calmos e compridos, cumpram-se ou não na sua plenitude estes deveres macios, mesmo que seja em lugares públicos – sobretudo aí, acrescento eu e perdoe-se-me a inclinada geografia emocional, mas sou eu que traço os mapas que me guiam – são poesia simples de bonita. Concedo que não são sempre, mas às vezes são.

Com isto tudo já perdi trezentos gramas do meu sebo inútil.
Eu sei que falta mais, falta sempre mais às coisas grandes, quanto mais às pequeninas.
Mas às vezes parece mesmo que já falta menos.

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