Há 2 anos era assim
Não é interessante contar histórias que não importam a ninguém. Muito menos contar um pedaço de filme, um pequeno episódio duma série longa de comprida: quem viu, viu, quem não viu, não viu.
Ainda por cima, não sei contar histórias. Perco-me em detalhes, disperso-me e disperso. Já me disseram isto e é verdade.
Para que conto esta? Sinceramente, para nada. Por que conto? Isso é diferente. Conto, porque vi. E porque é uma história simples. Eu, às outras, nem as entendo.
A sério, se tiverem tempo, continuem a ler. É um favor que me fazem.
Na semana passada, um miúdo maltratado pelo pai (fracturas várias, hematomas, essas coisas) foi colocado sob a custódia da assistência social. A assistência social é uma merda, já se sabe, mas tenta evitar mais fracturas. É uma questão a discutir, sobretudo pelos pobres do mundo. Se a querem.
O pai ficou aborrecido e, neste episódio, transformou-se num serial killer, por lhe terem tirado o miúdo dos amores e das práticas torcionárias (onde é que isto se mistura?). Matou várias pessoas, feriu gravemente outras.
Criou, sem o saber, uma colecção de histórias que, excepto no final, o ultrapassaram largamente.
Disparou sobre um homem de cinquenta anos, talvez menos, com SIDA, que escolheu morrer do ferimento em lugar de se esvair, deslizante, na sua falta de CD4. Benton quis operá-lo, mesmo contra a sua vontade verbalmente expressa, mas isso é porque há Bentons que não concebem que ninguém lhes morra, mesmo quando lhes dizem que se estão a cagar para o "lhes", perfeitamente.Tentou abater um miúdo, mas falhou. Ficou quase ileso, o petiz. Mas a radiografia que lhe fizeram levantou uma questão: terá um osteossarcoma? Tinha.
Criou-se uma cumplicidade entre Carter e o miúdo, acabando ambos a perspectivar percentagens... 70% ou 30%, vida ou morte, nenhum deles sabia, nunca se sabe. E eu nunca saberei entender estas conversas entre pais e filhos, em que o pai (que era ali Carter?) não se limita a afagar o filho, tristemente.
Finalmente, foi ele próprio abatido, o pai, sumariamente, chegando em estado precário ao Hospital.
Tinha-se discutido, na urgência, que tudo aquilo se devia à venda livre de armas nos EUA. Eis que quem o abate é um taxista puto, que também gosta de andar armado. Greene, que já foi agredido quase até morrer no sítio em que trabalha, sabe que está na lista do assassino, porque foi ele que desencadeou o processo que levou à separação dos dois entes fulcrais desta pequena história: o pai que maltrata mas ama e o filho que é maltratado mas também ama. E o taxista, sabedor do drama pelas notícias, quando um tipo com ar de louco lhe pede para o levar a uma morada qualquer, percebe que tem ali, à mão, o homicida. Dispara cinco tiros, prostra-o, mas não o mata. Fez isto com uma arma de venda livre, o que coloca dúvidas em mentes mais franzinas.
O homem chega vivo ao hospital, reconhece Greene (que, entretanto, estivera a tratar da assistente social, também ela vítima da sede de tiros e vingança do liberal mais liberal do filme, o pai que ama e que bate, que a vida é como é!) e ameaça-o, mesmo quase morto.
Greene trata-o, executa maquinalmente e de forma eficaz os gestos do costume, mesmo sabendo que a morada que o assassino ordenou ao taxista, na sua última viagem, era a sua, a do careca Dr. Greene, aquela morada onde estavam, "jiboiando", a mulher e o rebento.
Quando calha terem de subir para o Bloco, é Greene que vai com ele. O homem olha-o com ódio, como desde sempre. Subitamente, no monitor, lê-se "fibrilhação ventricular". Greene arma as pás, carrega a 360 W, lê o monitor, que se aproxima das nossas caras, lê os olhos do outro, que também sofrem de "zoom" e, determinadamente, dispara as pás no ar, sucessivamente, deixando-o morrer aos sarrabiscos.
Que se passou ali?
Quem viu que diga. Eu vi e sei que, se escrever sobre isto, demoro uma semana, quinze dias, a vida inteira. Sem me sair nada de jeito.
A culpa do fim
Vamos imaginar que Amélia Rosa, aos 79 anos, reformada, existe mesmo.
E que tem, em existindo, algum dinheiro.
Vamos agora supor que lhe aparece um cancro no intestino e que, nos exames seguintes, se lhe encontram já metástases no fígado e nos pulmões.
Suponhamos, também, que Amélia Rosa, apesar da idade e do cancro, se sente bem. E que lhe custa aceitar que lhe proponham, assim sem mais nem menos e sentindo-se ela bem, uma operação aos intestinos e um tratamento de quimioterapia.
Amélia Rosa, que tem algum dinheiro e uma vida só, reúne o conselho de família e, imaginemos, vota-se toda nele. Resulta do sufrágio que, estando-se em Portugal, está-se mal. Muitas histórias. Amélia Rosa, ao fechar das urnas, sabia já que o seu destino e a sua esperança eram uma coisa só, que ficava lá fora, por exemplo em Espanha. Suponhamos isto, já agora.
E lá foi Amélia Rosa, "à fonte limpa".
Regressou hoje. Lá fora fizeram-lhe quimioterapia cara, cirurgia cara, embolização intempestiva de metástases caras de ordinárias, apenas de algumas delas - que se queden las otras, coño. Pagou o resultado eleitoral do seu medo e da sua desconfiança com língua de palmo. Já não tem mais dinheiro.
De lá de fora trouxe um relatório escrito em estrangeiro que cumpre, na forma e na apresentação estética, todas as normas de qualidade. Nele lê-se que a doença progrediu e que lhe propõem, agora, outra quimioterapia. Protocolos de quimioterapia sempre caros, sempre fora do "estado da arte", sempre entusiasmados de si e do seu formato "avant-garde", chiques na sua impertinência ineficaz, reles no seu preço e no seu propósito. Suponhamos, aqui, que o propósito é o que eu penso que é, ou seja, que o propósito é "o sórdido lucro legitimado na bondade falsa do cinismo asséptico do lucro sórdido", embora eu admita que mais ninguém sem ser eu ache esse propósito, a existir - que isto são meras suposições -, sórdido.
O certo é que, isto sempre imaginando, Amélia Rosa me chegou mais pobre, muito mais pobre do que quando foi lá fora, muito mais triste, ainda mais doente, "portadora de doença piorada lá fora", e veiculando-me papel onde consta mensagem cínica de esperança, escrita lá fora, muito bem escrita, tipo despedida cordial e fria, que reza, friamente - tão friamente que, se isto não fosse mero delírio de besugo, mereceria logo forca seguida de julgamento - "fazei-lhe agora vós aí assim, ou então fazei-lhe assado, que dizemos nós, e ponto final, cordialmente, por nós já está".
Amélia Rosa não quer voltar lá fora. Se existisse, provavelmente iria morrer aqui, com os culpados do costume, continuando a duvidar fortemente de tudo o que se passa menos daquilo que a teria feito regressar, com pena: a conta bancária quase a zeros, suponho eu.
Outra coisa
3 - E porque não "Phoda-se"?
Ouvi hoje na rádio que os CTT vão lançar uma nova rede de telefones móveis. A que vão dar o nome de "Phone-ix".
A intenção, no plano fonético, é clara e, no plano comercial, deve ser um apelo`aos mais jovens, que são buébué sensíveis e predispostos a dizer, com orgulho: "eu tenho um fónix".
Como de costume, devo ser eu que sou obscurantista, mas o que me parece é que, nas palavras desse político de excepção que é o Santana Lopes: "Este País está doido!"
Duas coisas
1 - o Acordão referido pela lolita - é notícia porque a doença do cozinheiro é a sida. Fosse ela a doença dos pezinhos, ou qualquer outra, e seria apenas caso de estudo para académicos, sobre a problemática da caducidade do contrato de trabalho por doença que, não incapacitando fisicamente para o trabalho, por qualquer outra razão determina a "impossibilidade" do contrato.
A sida, no entanto, é daquelas doenças que, por ter sido inicialmente conotada com a homossexualidade, tem por inerência relevância mediática. E uma decisão que pode ser mais ou menos justa (como tantas outras) ou mais ou menos formal (como tantas outras) passa a poder ser também catalogada como "mais ou menos obscurantista".
São consequências da "sociedade de consumo informativo" em que vivemos. E este é, provavelmente, o único fenómeno digo de nota neste caso.
2 - o crime de Abuso de Confiança Fiscal - Tive a oportunidade de presenciar recentemente um julgamento de pessoas que tentaram, na sequência da morte do Pai, segurar a empresa familiar que este tinha fundado e que, no caminho, pagaram aos seus trabalhadores os salários devidos, mas, por escassez de tesouraria (a empresa acabou por falir) não entregaram ao Estado as quantias supostamente retidas aos trabalhdaores (mas que na verdade não existiam "ab initio" nos cofres ou contas da empresa) a título de IRS.
A forma como este crime está regulado faz dele, não um crime de abuso de confiança, mas um "crime de dívida". É um retrocesso civilizacional, considerando que há séculos que se fixou o princípio legal de que dever dinheiro não é crime.
Nestes casos, à pergunta: " mas o que podia eu fazer?" só há uma resposta: "Não pagar os salários". Porque é "melhor", de acordo com a Lei, não os pagar de todo (fica-se com uma dívida) do que pagá-los só aos trabalhadores, sem entregar ao Estado a parte que este reclama (se se fizer isso, comete-se um crime).
É que eu conheço um homem que fez exactamente isso. Herdou, por morte do Pai, a necessidade de gerir a empresa deste. Numa semana procedeu à análise económica e financeira dessa empresa e, na semana a seguir, chamou os trabalhadores e disse-lhes: "Acabou, ide para casa ou procurar emprego". Com o dinheiro que havia em caixa (mais algum do bolso dele) pagou todos os IVAS, Seguranças Sociais e IRS em dívida.
Aos fornecedores informou também que a empresa não pagava mais um tostão, eles que fizessem o que lhes aprouvesse.
E depois limitou-se a esperar que o primeiro trabalhador ou o primeiro fornecedor requeressem a falência da empresa.
Uma coisa é certa. A este não o apanhou (ou só apanhou muito pouco) o Estado. Mandou a empresa ao charco e pronto.
Rapidinha é alternativa?
Uma vez eu vinha do Porto para a Régua, numa sexta-feira à tarde, e havia greve da CP, de maneira que tive de vir de autocarro, ou seja, de camioneta de carreira. Como ia ter exame de Fisiologia na segunda feira seguinte fiquei logo mal disposto, porque pretendia estudar durante a viagem e, na carreira, estudar enjoa. No comboio, na altura, também enjoava um bocadinho estudar, aliás estudar andava a provocar-me uma emese de grau 2 em qualquer lugar em que tentasse exercer o mister, mas era menos, coisas do cerebelo e do sistema vestibular. E de ser uma besta.
Mesmo assim, depois de me assentar no lugar que me venderam, lá abri o "Guyton".
Em Valongo já ia numa náusea tão intensa que só me apetecia mandar parar o veículo e ir a pé, de maneira que fechei o livro e os olhos.
Não adiantou. Havia um cheiro mole e acre na carreira que me deu vontade de, além de fechar os olhos e o livro, cerrar também as narinas. Mas respirar pela boca aqueles miasmas assustou-me, de maneira que acendi um cigarro - ainda se podia fumar nas camionetas de carreira e nos autocarros e, mesmo,nos comboios - e tentei atingir paroxismos fumegantes de deleite. Sem sucesso.
A mulher que ia ao meu lado tinha um vestido branco, era de verão, e a imagem daquele vestido começou a parecer-me uma sanita, um penico antigo e imaculado na sua brancura e, de tão agoniado que ainda estava, hesitei - aquela coisa da vertigem da náusea, sim, nunca vos aconteceu?, não?, não faz mal, acreditai em mim, não faz hesitar mas é o caraças - entre despejar-me em cima dele ou recostar-me nele. No vestido, dona inclusa.
Penso que à mulher terá ocorrido apenas que me passaria pela cabeça a segunda hipótese, até porque se virou para trás e chamou "ó Nelo, chega aqui", e o Nelo veio e era uma espécie de recruta da GNR montado no cavalo e de envergadura semelhante à composição, mais o penacho do suposto capacete.
Não se estuda bem nas camionetas de carreira, Nos comboios é muito melhor. Por estas e por outras é que estive a suplicar aos meus filhos que nunca andem de carreira, porque não se estuda bem lá e porque nos dá para vomitar se tentamos fazer isso. Nos comboios sim, pode dar para estudarmos. E, mesmo que não nos apeteça, paciência: ao menos não nos desencadeia a emese facilmente, a tentativa.
Agora, por falar nisso: TGV, não. Definitivamente.
Eu sei lá se um filho meu vai estudar, um dia, para Lisboa e depois, de Lisboa ao Porto, partindo do princípio que vai haver TGV e que eu tenho dinheiro para pagar o bilhete a um filho meu num veículo desses que o transporte de lá para cá e de cá para lá, coisas de fim-de-semana, à conta da modernidade que transforma o "chegar" numa coisa tão importante que tem de ser rápida (o que contraria todas as luxúrias e seus prolongamentos dendrítico-leydigianos com gajas, e isso), dizia eu, quem me garante que não vai esse meu filho ( e eu tenho dois) ter menos dez minutos do que os necessários - e ninguém nos reembolsa disto, depois - para estudar o seu "Guyton", o seu "Ham", o seu "Gray", o seu "Tratado de bem cavalgar toda a sela"?
Proponho isto: por mim, o TGV ficava na OTA. Ou em Alcochete. Ou em Mesão Frio. Ficava ali estacionado, transformado em comes-e-bebes, em loja de peúgas ou, se calhar até era melhor, em livaria: "Temos Grandes Volumes". Ou então em sucursal do PC (Partido do Centro): "Tapamos Guelras Vulgares".
E o novo aeroporto? Esse fazia-se nas Berlengas, para acabar de vez com as cagarras e para favorecer a criação duma nova empresa de cacilheiros, ou de berlengueiros, no caso. Isto é economia, estúpidos!
Já agora, na minha carreira do Douro, aquela que me transportava do Baixo Douro para o Alto, acabei por conseguir impedir-me quer de vomitar quer de me recostar no alvo (aqui, alvo, é mesmo nos dois sentidos) colo da senhora que me ladeava, mas para atingir esse nirvana tive de me concentrar muito no Nelo. Que já não saiu dali, a fumar de pé, o boi.
Os Nelos são lixados. Provocam efeitos de contenção. São uma espécie de loperamidas universais, funcionam mesmo na cabeça. Em certa medida, são talhados para a dissuasão´ou para o poder. E é sempre bom sabermos que há gajos talhados para uma merda qualquer, mesmo que não seja em talha dourada: isso sossega-nos a necessidade do "predestino", embora os Nelos sejam sempre chatos como o raio que os carregue.
A resposta correcta à pergunta do título é "sim, se estiverdes com pressa".
A famosa quinta (linha)
Peguei n'"O Alienista", de Machado de Assis, que acaba na página 85. Não serve. A seguir, no "Portugal, Hoje" de José Gil. Quase servia: 147 páginas. Tive, pois, de ir à estante e peguei no primeiro livro que me pareceu ter mais do que 160 páginas. A 5ª linha da página 161 do que tenho aqui ao lado as I write conta, em caracteres muito pequeninos (como é costume nas edições de bolso da Penguin) que:
"- and the idea was, to see which pair would look best and then scratch out all the other arms;"
Esperando que esta quinta linha sirva de aperitivo para se (re)ler o "
Huckleberry Finn", dou por cumprida a
missão que me foi... encadeada.
Ontem falaram-me de sociedades de formiguinhas acríticas
No
Eixo do Mal desta semana falou-se do processo do cozinheiro seropositivo. O Daniel Oliveira, perorando sobre os esclarecimentos divulgados pelo Conselho Superior de Magistratura, salientava que, segundo explicou o CSM, não se tratou de um despedimento com justa causa, mas antes de um contrato cujo prazo não foi renovado. Porém, não foi nada disto que o CSM veio esclarecer, mas antes que se tratou daquilo que a lei designa por extinção por caducidade do contrato por impossibilidade superveniente, absoluta e definitiva de prestar o trabalho. Está bem claro, na notícia do
Público, bastava ler com atenção mediana. Mas enfim: uma vez que o efeito é semelhante, isto nem importa muito. No entanto, referiu-se também que o tribunal tinha ignorado pareceres técnicos que esclareciam não existir qualquer risco de contágio, quando na verdade só os ignorou porque não foram entregues dentro dos prazos processuais. Já isto faz uma diferença maior. Cuidado com os desinformadores.
Pode-se criticar, com efeito, o conteúdo da sentença e a sua confirmação pela Relação de Lisboa; mas não porque, na apreciação dos factos, se ignorou a evidência científica em favor do preconceito obtuso. O que se pode criticar é, antes, o autismo do sistema judiciário, que impede o julgador de promover a obtenção de provas por sua iniciativa ou de pedir pareceres técnicos sempre que a bondade da decisão o exija, tornando o sentido da decisão refém dos elementos que as partes tragam ao processo. Mais: sempre que a consciência social lhe dite, ainda que longinquamente, que só perante uma evidência científica do efectivo risco que representaria um cozinheiro seropositivo para terceiros se poderia legitimar uma extinção de um contrato de trabalho que, de outra forma, seria bolorento, de preconceituoso e desinformado.
Depois há outras coisas estranhas, neste caso grotesco. O médico de trabalho, por exemplo, que se borrifou para o sigilo profissional e divulgou a natureza da doença à entidade empregadora. Não contente com isso, emitiu informação escrita atestando a incapacidade definitiva do trabalhador para prestar o trabalho apesar de tudo e também apesar de o médico que assistiu o cozinheiro o considerar apto para trabalhar.
O mais inquietante de toda esta bizarria é que isto tudo ameaça ser o futuro próximo da (des)protecção social dos mais desfavorecidos, seja por doença, procriação, vício ou
handicap. Quem se fragiliza, sai do sistema. Liberalismos à parte, que isto nem sequer obedece a qualquer ideologia (ou pseudo-ideologia) que suscite oposição ou censura.
E a vaselina?
Está a dar agora, na 1, um filme sobre as merdas que fazemos e nos fazem a nós quando estamos na merda da guerra.
Já o vi , já sei aquilo.
Por isso é que estou aqui, em lugar de estar a ver o filme e, acima de tudo, por isso é que vim aqui escrever duas vezes "merda". Uma delas até escrevi no plural, mas isso é uma questão de concordâncias e de iterações. De adições adictivas.
Como diria o Joel Cleto, esse cronista em sépia, isso tudo da merda inteira é apenas uma questão de "novas crónicas, outras histórias, outras conversas".
A resposta correcta à questão do título é "que eu saiba é esterilizada".
gostas se for o trivial, por exemplo à missionário?
Muito bom Sporting, hoje. Vai começar agora o campeonato. Tarde, como de costume.
Foi dia de galo. Noite de galo. Acontece.
Não tenho mais nada a dizer sobre a bola. Tenham medo, contudo. Ha quem bata no fundo com molas nos pés.
A resposta correcta à questão do título é "sim, gosto de quase tudo, desde que nada seja o trivial".
está doendo?
Não me lembro de ter visto jogo nenhum em que, ao intervalo, uma equipa estivesse a perder um a zero sem que a equipa adversária tivesse feito um remate à baliza. Já tinha visto (e estou a ver outra vez hoje) outras coisas, mas esta ainda não tinha.
No entanto, fora esta aberração futebolística, o Sporting não está a jogar mal.
Provavelmente, na segunda parte, o Paraty acabará por expulsar um tipo qualquer do Sporting. Mas não será por isso que deixará de suceder uma de duas coisas: o Sporting vai abrir-se todo e ganha o jogo, ou o Sporting vai abrir-se todo e não o ganha. Depende sempre da maneira como uma equipa se "abre toda".
Esta última hipótese, a de não ganhar o jogo, não me passa seriamente pela cabeça. No entanto, existindo como hipótese, devo explicar aos mais interessados nestas coisas de ser sportinguista (que é uma merda fodida e parece uma doença, até porque dá sintomas) que essa hipótese engloba o empate, o ficar assim conforme está, ou levarmos um "pinhão".
Sportinguistas que viestes ler-me neste momento de sentimentos contraditórios que é o intervalo dum jogo em que estamos a perder e os outros gajos não tiveram a bola: calmai vossos ímpetos de dizer barbaridades, como "ora foda-se lá esta merda!".
Na segunda parte o Sporting vai jogar pior mas acredito que terá a devida compensação dessa inevitabilidade e marcará 3 golos em 2 remates.
A resposta correcta à questão do título é "está, sim".
E pelo outro lado?
O certo é que Paulo Bento diz que pode vir a fazer alterações no sistema (de jogo) do Sporting, mas sem modificar o modelo. Isto pode ser bom, mas preocupa-me. E se o gajo está só a dizer que o Sporting é o Miguel Veloso e mais dez, mantendo portanto o modelo e alterando apenas o sistema (isto deve ser comprarmos nós um árbitro, para variar)?
É chato. É que não me apetece nada perder ou empatar, ali ao pé de Leça, só porque o modelo se mantém inalterado e desfilante e o sistema novo não funciona, às tantas por falta de verba.
A resposta certa à questão do título, isto sobretudo para os nossos amigos brasileiros e restante viadagem monhé do google, é: "dizem que também é bom, experimenta e depois diz qualquer coisa".
Como é que se faz quando ela sai fora?
As pesquisas que conduziram essa cambada de "fanados" ao meu excelente texto estão todas relacionadas com o título, que era o seguinte: "Para ganhar centímetros quando elas pingarem".
Isto dá-me ideias para novos títulos e decepciona-me relativamente.
Devem ser brasileiros ou monhés a "googlar", mas mesmo assim, fica-se desalentado.
A resposta correcta à questão do título ali em cima é: "faz-se como sempre se fez e a seguir não se deixa a gaja saltar tanto".
Três desafios e eu só tenho culpa de dois
Primeira parte
Verifico com algum espanto e bastantes nervos que ninguém fez o menor caso do meu talento para as coisas da bola, talento esse que ficou bem expresso no meu escrito anterior,
datado de 21 de Novembro, onde antecipei de forma pouco menos que brilhante a utilização de Fernando Meira como médio defensivo.
A partir de agora, de cada vez que eu escreva uma coisa qualquer que, a meu ver, demonstre infinito génio, mas que não despolete, ao menos, umas míseras convulsões focais na blogosfera, ficais a saber que rilharei os dentes de raiva, como de costume, mas que nunca mais expressarei nem a admiração nem o desalento um bocado apaneleirados com que comecei este texto.
Bom, a primeira parte já está.
Segunda parte
A segunda parte é para responder ao desafio do
Eclético, aquilo da página 161 do livro mais próximo, etc. Eu já respondi a isso ali para baixo, era outro desafiante, claro está, mas como agora o livro mais próximo é outro e o
Eclético se lembrou de mim (embora sem se ter referido uma única vez ao
episódio Fernando Meira, o que denota bastante desatenção e profunda falta de cultura futebolística), aqui vai:
Isto é Miguel Esteves Cardoso, em edição de 1990,
"As minhas aventuras na República Portuguesa". É do Círculo de Leitores, a edição, e é uma coisa maldita, o Círculo de Leitores, desculpem lá o interlúdio, porque até o senhor escritor António Lobo Antunes uma vez, numa feira do livro que ele abrilhantava um bocadinho já para lá de Bagdad - e em que eu, por esse tempo sofrendo muito nos meus vinte e poucos anos de imbecilidade e pasmo perante a escrita dos outros, resolvi levar-lhe os livros dele para ele autografar - se encheu de gozar, à flor da pele gordurosa daquela cara vermelhusca que ele tinha na altura, com a capa dos "Cus de Judas" que lhe confiei prostrado de admiração. O que me levou a mirá-lo intensamente e de tal forma que ainda hoje ali tenho autógrafos simpáticos e um bocadinho contritos em alguns livros que nunca mais li, por causa disso e por ter, entretanto, percebido a diferença entre a genialidade e a presunção, o que nos devolve à
questão Fernando Meira , e interpretem isto como quiserem, e presunçoso é mas é o caralho.
Voltando à segunda parte, que me parece que andei a divergir, o que até é raro em mim: o livro de hoje já disse qual é e, na página 161, começa uma crónica que se chama "A aventura de Lisboa". E, na linha 5, lê-se "... uma única casa de banho limpa, a Lisboa do cheiro a sovaco, a Lisboa...".
Não era preciso, está tudo ali, mas eu a seguir transcrevo o resto do parágrafo, embora pedindo desculpa a toda a gente pelo Miguel Esteves Cardoso, por mim, pelo irmão do mandatário de Cavaco Silva e, mesmo, pelo
Fernando Meira:
"Há uma Lisboa eterna, linda, que resistirá, nem que seja numa única pedra ou num único braço de rio, a todos os construtores civis, a todos os urbanistas, a todos os presidentes de câmara. O pior é que há outra Lisboa, igualmente eterna e incontrolável. E a Lisboa em que não há uma única casa de banho limpa, a Lisboa do cheiro a sovaco, a Lisboa do cuspo no chão, a Lisboa da boca ordinária e do apalpão.É a Lísbia."
Isto é muito discutível, sobretudo a parte que vai até ao primeiro ponto final, a menos que Esteves Cardoso se referisse, nessa pequena secção do seu texto, ao Sporting - o que me deixa perplexo é a referência ao rio, porque isso é mais coisa tipo Belenenses. É um texto enigmático.
Terceira parte
Um jornalista venezuelano levou uns pequenos mas assertivos tabefes seriados duma peixeira venezuelana que se guindou à deputaria nacional lá naquela azeiteirada petrolífera que Chavez anda a comer à pressa. Incapacitou-lhe os óculos. Vi isso num crescendo de enervamento e, depois da irritação - que me levou a pedir a Deus que o jornalista, no final, enfiasse um chapadão definitivo na peixeira - chegou-me o medo. O medo é uma coisa gelada que nos nasce dentro e que, depois do parto, aquece dificilmente.
A lolita depois que fale melhor nisto, que foi ela que me mostrou o vídeo.
Para ganhar centímetros quando elas pingarem
Por que não colocar o Meira a médio defensivo, jogando a centrais o Pepe e o Bruno Alves? O Meira começou a "trinco", aliás, já jogou aí variadíssimas ocasiões, conhece o lugar. E é relativamente veloz.
Assim não cabe o Veloso?
E é obrigatório que o Veloso caiba?
Para a lolita
A história do príncipe que julgava ser príncipe só quando sonhava
Fez-me correr quatro cantos da casa, em busca de outras tantas pistas escritas em letra redondinha, personalizadas e salpicadas de mimos. As pistas levavam à história do poeta João, que sonhava ser príncipe e casar com uma princesa, que sonhou que era filho de um rei gordo e que, quando acordou, descreveu o sonho num poema. No fim, escreveu: "vira a página". E eu virei. O que a seguir se passou não importa para embelezar a história; nem sequer se trata de uma qualquer apoteose, porque o que se passou a seguir é tudo. Durante duas semanas, premeditou tudo cuidadosamente para ter a certeza de que hoje o meu dia seria especial. O dia mais especial de todos os dias. Logo hoje, nem ele sabe, logo hoje. Como ele diria, este dia ficará nos primeiros lugares do ranking de um campeonato qualquer, a que só nós assistimos e no qual torcemos sempre pela mesma equipa.
vírgulas e admirações
Já vos disse: desde que saiu o Sol voltei a ler o Expresso.
Na revista desta semana, entre outras coisas, li esta tarde que Vasco Pulido Valente (mais uma entrada no google para o senhor azedo, já agora) chama Mena Mónica à Maria Filomena Mónica (MFM).
Eu achei graça porque, se quando lhe saiu - à MFM -, e eu a li, a biografia do Eça, nunca me passou pela cabeça chamar-lhe Mena Mónica, já quando ela publicou o Bilhete de Identidade e eu o li - e a lolita sabe disto melhor que ninguém - passei a referir-me a ela, à MFM, naquele despudor da minha "montanhice besugal", como Mena Mónica. Intimismos bacocos e barrocos que nunca se sabe se partem de quem escreve se de quem lê. Certo?
Agora, saber que Vasco Pulido Valente se refere a MFM como Mena Mónica, em entrevistas biliares, muito neuronais e um bocadinho pancreáticas, dá-me uma estranha sensação de andar aqui a ser um dos mais íntimos "voyeurs" de dois seres amargos, inteligentes, azedos, ácidos, ternurentos, básicos, com talento e, acima de tudo, com alguma estrada para trás. De ambos.
Já as opiniões de Vasco Pulido Valente sobre os livros de Miguel Sousa Tavares não me interessam muito, mas as minhas sobre seja o que for também não devem interessar a nenhum deles. Já as opiniões de Vasco Pulido Valente sobre Sousa Tavares interessam a Sousa Tavares e, verdade seja dita, as de Sousa Tavares sobre Pulido Valente importam a Vasco Pulido Valente. Isto é claríssimo.
Eu venho sempre aqui relativamente despido, e olhem que está frio. Eu digo aqui que não li o Equador, tentei ler, mas não gostei, pus de lado. Gostei do "... David Crockett" (que tenho de devolver um dia destes), excepção rara. Dos romances de José Rodrigues dos Santos também não gosto, ofereceram-me dois, coisas pastosas e maçudas de documentadas; nem gosto doutros que agora nem me lembro, nem quero lembrar-me, estão para aí e tenho-os para aqui aos molhos.
Tenho, do romance, uma noção de "coisa mais observada e cismada e sentida e vivida e fingida e escrita do que pesquisada".
Saindo do romance, mesmo do histórico.
Isto tudo para dizer que quando Vasco Pulido Valente parir a sua biografia de Eça lhe darei o mesmo trato que dei à que escreveu, também de Eça, a Mena Mónica: vou lê-la toda.
Depois, como quando foi da Mena Mónica, vou pensar que "lá está mais um a regressar-se pelo Eça abaixo, sim senhores, isto está muito bem escrito", a menos que Vasco Pulido Valente tenha passado tempo importante da sua vida a escalá-lo, e que ainda esteja nisso, e que isso se note, e que eu tenha de vir bradar aqui, depois, um entusiasmado "Ena!!".
A coisa fria da malta de Leiria e o problema da culpa
A verdade é que dava muito jeito que o Figo, o Rui Costa, o Costinha e o Pauleta tivessem conseguido ficar durante mais dois lustros com menos de trinta anos de maneira a poderem manter-se na selecção. Pois é. Mas que aconteceu? Não se tratou disso, não há organização, "isto só em Portugal, pá!". Fazia-se um requerimento ao Altíssimo, ou assim, custava alguma coisa? Mas não, em Portugal já se sabe como é, não se trata de nada, as pessoas não querem é trabalhar, além disso a culpa é do Scolari, porque deu um sopapo no Dragutinovic e porque não convocava o Quaresma e outras coisas que agora não me lembro, e depois dá nisto, e "é por isso que Portugal não vai para a frente!", como dizem os inúmeros amargurados que anseiam um país buéda cinético.
Por outro lado, também ajudava que o Ricardo Carvalho, o Petit, o Deco e o Jorge Andrade estivessem em forma, em lugar de estarem no estaleiro. Isto só em Portugal, pá! Quer-se dizer, temos aí jogos decisivos para que "Portugal vá pá frente" - como seria do agrado dos sonhadores dum "Portugal tipo Jangada a Motor" - e estes tipos encontram-se, digamos, lesionados! Isto é alguma coisa? Isto só cá! Num país a sério este tipo de lesões cura-se fazendo os gajos passarem por uma máquina especial que há nos países a sério. Mas cá não há essa máquina, gastam o dinheiro mal gasto e é o que se vê, isto só em Portugal, não haver essa máquina!, que incompetência!, aqui ao lado na Espanha parece que têm meia dúzia delas! E a culpa de quem é? Pois, é dos gajos que não querem trabalhar e do Scolari, porque deu um sopapo no Dragutinovic, não convocava o Quaresma, nem o Baía, nem o Hugo Almeida, e outras coisas que agora não me lembro, e "é por isso que o país não vai pá frente!", como se lamuriam os adeptos dum Portugal dotado de propulsores na rectaguarda, seja lá isso da rectaguarda onde for, assim numa perspectiva colectiva.
E se o Caneira não estivesse fora de forma? E se o Bruno Alves e o Meira se complementassem melhor, em lugar de parecerem, de longe, separados à nascença? E se o Veloso e o Maniche não estivessem duma lentidão impressionante, o Maniche porque já correu muito na vida dele e o Veloso porque é geneticamente dotado dum poder de arranque digno duma carroça carregada de abóboras e puxada por uma doninha? E se o Simão fizesse mais alguma coisa do que deambular pelo campo, naquele seu estilo corridinho, com o cu para trás, parece sempre que corre assentadinho e, além disso, em lugar de fazer de número "ah, eu agora vou mas é ali para a ponta perder mais uma bola", fizesse de número 10, que foi o que lhe pediram para fazer? E se o Quaresma fosse um bocadinho menos amuado e fosse também mais versátil e inteligente, e desistisse de fazer as vinte e quatro trivelas por jogo que alguém lhe enfiou na cabeçorra que tem de fazer, porque assim é que é buédabem? E se o Cristiano percebesse duma vez duas coisas: que nem pode fazer tudo sozinho, nem pode pensar que tem ali ao lado o Saha, o Giggs, o Rooney, o Carrick e o Scholes, porque não tem: tem quase só O'Sheas?
E se o Hugo Almeida fosse o Pauleta em lugar de ser um cepo que de vez em quando marca um golo? E se o Nuno Gomes tivesse outra vez vinte e cinco anos e não estivesse tão carregadinho de mazelas que se transformou num indivíduo em estado de perpétua recuperação? E se o Manuel Fernandes não fosse uma espécie de mistura do Djaló com o Varela, mas com mau feitio e com beiças maiores?
Claro, a culpa é de quem? Já se sabe! É dos gajos que não querem trabalhar, é dos funcionários públicos e de muita malta que aí anda!, é do Scolari, que não convocava o Quaresma e agora, está claro, convoca-o, o boi, mas ele não joga um corno, coitado do rapaz, ele tem sentimentos e está buéda magoado, de maneira que olha para a bola e pensa "ai é? pega lá uma trivela e se cá voltas levas mais! olha, vou mas é fazer seis fintas, aiiiiiii, tiraram-ma, ai o brinco, assim não brinco!", e porque não convocava o Baía, "el manitas de mantequilla del Camp Nou", e porque deu um pêro no Dragutinovic, e por outras coisas que agora não me lembro, e "é por isso que Portugal não vai pá frente", como bradam, encolhidinhos no seu casaquinho de "Tuga" (que coisa azeiteira, o "auto -Tuga"!), os que se deixariam sodomizar sem um uivo por uma horda de senegaleses se isso lhes garantisse que Portugal iniciaria, finalmente, a deriva marítima que o levaria a encalhar nos Estados Unidos, após o competente abalroamento das Berlengas, da Madeira, dos Açores - e doutros calhaus pelo caminho.
Não falo do Bosingwa. Grande José. Que, por sinal, também tem muita culpa, lá está: então não se vai lesionar agora, o incompetente? É por estas e por outras...
as cores do cieiro
A explicação do Bob, ali na música
Eu sei, aquilo do Live Aid e do resto, a puta da análise e a análise da puta, essa feira biunívoca do costume.
Mas eu não gosto mesmo de segundas-feiras. Claro que uma segunda-feira pode ser à quarta, à quinta, mesmo ao sábado.
Domingo nunca conta: domingo já é segunda-feira, pelo menos a partir das cinco da tarde, hora de inverno. Sim, isto da hora sazonal é uma conquista parva dos reivindicativos que preferem acordar já de dia do que adormecer ainda de dia. Isto é profundamente reaccionário e rouba dia ao lazer e ao lombo. Mas pronto, é assim que querem, siga a marinha.
Segundas-feiras, não gosto.
Uma segunda-feira é quase como aquela coisa do Natal, mas ao contrário: segunda-feira é sempre que um homem não quiser. Seja o que for.
18/11/2007: a música já mudou, já não é o "I don't like mondays", portanto este texto ainda faz menos sentido hoje do que (não) fazia ontem.
Restos de escrita ...
... a propósito do Rei de Espanha.
Subscrevendo o que a lolita já escreveu - à parte a comparação que fez do AOS aos nossos actuais PM e PR, que atribuo a "tique" intelectual" -
e subscrevendo o que o besugo escreveu também - vernáculos à parte, que eu ainda hei-de arranjar um quilo de pimenta para despejar na goela desse montanhês.
E pronto, lá está, não sei muito mais que dizer. A não ser que achei piada. O Rei de Espanha pertence a uma espécie em vias de extinção - que, aliás, normalmente até julgamos extinta. A dos monarcas que não são só "chefes de estado para fins protocolares" (vulgo "verbos de encher"). Não estou a ver nenhum outro que vá a uma cimeira, a não ser que seja para debitar umas generalidades politicamante correctas na sessão de aberturo ou encerramento, generalidades aliás que nem sequer escreveu, foram escritas pelo Primeiro Ministro (ou nem isso, pelo seu staff de apoio).
Mas este vai. E senta-se ao lado do primeiro ministro dele. E faz parte da delegação. E participa nas reuniões, lado a lado com os presidentes e primeiros ministros de outros países.
Só que é diferente deles. Pelas piores razões, se calhar (considerando que ninguém o elegeu para aquilo).
E foi por ele ser diferente, ou seja, por não pertencer à classe política europeia nem ter suportado o "processo de destruição da espinha vertebral" hoje necessário a quem quer ser político e ganhar eleições ... que foi capaz daquele momento.
Eu sei, eu sei, o homem tem muitos defeitos e - pelos modernos padrões de representação política - nem lá devia estar. Mas mal não faz a ninguém, que eu saiba. E, mesmo que isto seja uma ridicularia irrelevante (dificilmente se pode dizer que ele "mereceu a coroa" por isto), sabe bem ouvir um sonoro "por qué no te callas" dirigido a um ditador demagogo.
esguichos de besugo
Um homem cuja mais marcante característica - além da que decorria do excelente feito de ter feito, porventura refeito dalguma maleita, um doutoramento - era falar muito depressa, disse à namorada:
"Tu dizes que gostas de mim, e tal, mas a verdade é que não me amas".
Não devia ter feito o doutoramento.
esguichos de besugo
Eu já sabia que estas duas coisas iam acontecer. Ambas.
Uma já está um bocado recessa, que é aquilo do pacto de dez anos proposto pelo chefe do maior partido da oposição ao chefe do governo (e chefe do maior partido, isto em termos da mais recente introdução de papéis nas urnas - leia-se por urna "recipiente mais ou menos sacro para cadáveres derivados eventualmente da celulose ou, em sendo a ranhura mais larga, tipo tampa, eventualmente do carbono"), que eu vim aqui dizer que devia haver mas era uma guerra civil sem explicar mais nada, porque também não me pagam para isso.
Pois bem. O Pacheco Pereira em vários locais e oportunidades e o Sousa Tavares no Expresso (e, eventualmente, entre duas zagalotadas numa perdiz) já explicaram. Descobriram foi com dias de atraso que ali estava uma merda para explicarem. E não estava. Era só dizer: "O quê? esta merda? foda-se, guerra civil!". Mais nada.
Esta é minha. Ninguém ma tira (sem pagar bem).
A outra coisa é o enervamento do rei de Espanha com o tipo da Venezuela. Eu calei-me (a lolita não conseguiu, mas eu calei-me), nem falei nisso, porque já sabia o que ia acontecer.
Há mentes que passam a vida a pensar, coisa de que não podem acusar a minha porque meto-os logo em tribunal por difamação. E há, dentre essas mentes, algumas que passam dezenas de milhares de minutos por ano (pode dizer-se assim, embora também se possa dizer dezenas de milhar de minutos por ano ou, mesmo, colhões de tempo) a definir muito bem quem são os filhos da puta e as anjolas suas mães.
Há muita gente assim, que passa o tempo nisto. Eu também leio blogues.
Bom. No caso vertente (porque o caso verte, de facto) o que eu quero deixar aqui escarrapachado é que foi, exactamente, de algumas mentes que já decidiram e vêm escrevendo e vociferando há muito tempo (ou então andam a fingir peremptoriedades que não sentem, o que pode ser sempre sintoma de gula pela sodomia ou por outra espécie de fruta) que o Chavez é um refinadíssimo sacana montadíssimo em refinarias, que brotaram os "poréns" do costume.
Eu sabia. Foi desta estirpe neuronal cumulativa e um bocadinho alternadeira que nasceu o velho ditado popular: "não batas no meu filho da puta, sim, que é meu, é o meu cabrãozinho particular, que senão eu readopto-o logo aos beijarocos!". Ou, em intelectualês corrente, "ele é uma pústula, como eu sempre disse, mas é "também", visto de certa maneira - deve ser visto de cu -, um nativo interessante".
Como é que ficou o Braga?
The spur of the moment
Não me parece nada que Chavéz, o mais actual e bisonho
out-put da globalização da democracia e do sufrágio universal se ajuste bem ao epíteto "
índio americano". Um ditador eleito e sustentado no petróleo venezuelano não faz
pendant com o paradigma do indígena do mundo ainda por explorar (ou explorado pelo primeiro mundo) que dá o grito do Ipiranga.
Além disso: mais do que mandar calar o índio, o rei desceu do pedestal e irritou-se. Ao irritar-se, perdeu a pose de cera. Ao perder a pose de cera, brotou-lhe de dentro um "por qué no te callas?". E eu pergunto: há alguma coisa mais pró-democrática do que isto?
Womaniqueísmo?
No Eixo do Mal, a Clara Ferreira Alves disse de Santana Lopes que não se prepara, não estuda, fala de improviso e que depois faz-se vítima, quando corre mal. De Sócrates, disse que é decidido, bem preparado e que inspira, até, respeito aos seus ministros; em suma, que é um bom primeiro ministro. O que CFA acha do primeiro tornou-se há muito uma evidência tal que não seria necessário sequer consultar o oráculo de Bellini para se saber que se espalharia ao comprido no debate do orçamento.
O que acha do segundo é que me parece verdadeiramente estupendo. Não se lembrou de que é muito fácil atirar Santana Lopes ao tapete recorrendo à memória de curto prazo, que todos temos, sobre a comédia que foi o seu Governo. Tão fácil, que até Sócrates o soube fazer (com a ajuda do Silva Pereira, é certo, a sussurrar-lhe umas dicas).
Estes dois também foram democraticamente eleitos
À margem da cimeira, Sócrates e Cavaco Silva desdramatizaram o incidente. Acrescentaram uns chavões (curioso superlativo de Chavéz, o que os transforma em chavones) sobre democracia, líderes democraticamente eleitos e importância da diversidade de opiniões. O que quer isto dizer? Nada. É o tal discurso conveniente, levado ao plano do patético. Não perdem nem ganham. Só empatam.
Se bem me recordo, era este o modus operandi do António Oliveira.
¿Por qué no te callas?
As regras protocolares, assim como as de cortesia, servem para assegurar serenas convivências políticas ou sociais. Qualquer chefe de estado é muito mais refém dessas regras do que beneficiário, pelo menos no plano do "dever ser". De facto, basta ter dois dedinhos de testa para se ter a exacta percepção de que, numa cimeira ou num qualquer outro episódio semelhante, ninguém diz exactamente o que pensa, mas antes aquilo que é conveniente dizer. Essa funcionalização do discurso é pacificamente aceite por todos os participantes, e sabe-se, de experiência feita, que estas cimeiras só têm - se tanto - fins estritamente diplomáticos: é como se encontrassem todos para uma lauta jantarada, ou assim.
Por isso foi muito agradável ver o esfíngico Juan Carlos, de quem o gossip fala de escapadelas ao matrimónio mas de quem nunca se viu, investido em pose de monarca, sequer uma piscadela de olho a mais, perder as estribeiras e aplicar a oportuna chicotada psicológica a Chavéz, o homem que se fez famoso, sobretudo, por insultar quem quer e como quer. Por uma vez esteve o homem, antes do rei.
Eu, como tenho uma particular irritação por gente que se acha no direito (?) de apontar o dedinho a quem entende e de debitar verdadinhas morais com insultos intercalados, associo-me à irritação do rei de Espanha. Diria até que, no contexto, foi com brandura que mandou calar a picareta falante. Mas claro: há regras protocolares.
Queimadas
Os homens pararam e disseram-lhe "já está, senhor Custódio".
Ele fez o que a vida inteira lhe mandou fazer: foi ver se já estava.
A prensa estava naquela tensão das prensas depois de já estarem. E já estava. A prensa já estava.
Para o senhor Custódio não se tratava de saber se a prensa já estava. Era de saber se já estava tudo, não era se estava a prensa, era se estava tudo.
Foi ver. Agarrou-se, ele ali magro e velho e tendinoso, ao ferro e deu-lhe mais uma volta. Depois, sempre com o "Porto" entre os beiços, tentou dar-lhe outra volta. A última volta.
Mas a última volta saiu-lhe mal, a última volta só se sabe que é a última quando se sabe mesmo, isto é mesmo assim, de maneira que saltou-lhe um gato da prensa e acertou-lhe na mão direita, gatos que não miam, quem não sabe o que é um gato de prensa que vá saber, a mão direita toda a gente sabe, e aquilo era coisa para dez pontos com anestesia local.
Percebeu que exagerara e que todos o miravam, até o caseiro e o bravo mudo que mandava na pousa, ele, o senhor Custódio, velho e magro e tendinoso e mutilado ali, naquela mistura de sangueira brava e de arrependimento - é que a prensa já estava, ele é que ainda não estava e nunca haveria de estar, e toda a gente sabia isso.
Tirou dos beiços o resto do "Porto" e queimou a ferida toda. Cheirou ali, no armazém, a churrasqueira, mas ele, o senhor Custódio, o meu querido e duro avô que me morreu tão cedo e que me mandava comprar maços de "Porto" a cinco escudos, disse só que "já está, já está, ide mas é pesar o vinho".
Pesar o vinho, num lagar, é uma outra graduação. Um dia conto-vos.
Efeitos colaterais do decurso do tempo
Já não consigo fintar-me tão bem como dantes.
Still
Uma vez, há muitos anos, li um livro policial cujo enredo mal recordo. Nem interessa. Podia relê-lo, às tantas, se soubesse qual é.
Lembro-me que o tipo que andava a tratar de desensarilhar o homicídio conduzia a investigação procurando presumíveis assassinos de nome "Carpenter", porque "Carpenter" fora a última e única palavra proferida pela vítima antes de fenecer.
O livro passava-se ali quase todo à volta duma data de "Carpenters" suspeitos, até se fazer luminotecnia barroca no encáfalo do detective: a vítima era duma região qualquer - que agora não me lembro também qual é - dos Estados Unidos em que "Carpenter" e "car painter" se pronunciam da mesma maneira. Depois foi fácil.
Para quem não sabe, "car painter" é "carpinteiro".
Ora, uma vez, numa carpintaria, estavam a confraternizar um besugo e uma rena...
Falta de provas
Uma rena e um besugo estavam a conversar numa carpintaria e diz a rena:
-"A Roma lá empatou em Alvalade..."
Quando o Pai Natal chegou meia hora depois e viu a rena degolada não se conteve:
- "Filho da puta do peixe!"
E, num futuro próximo...
... Sócrates, pressuroso, há-de fazer publicar a declaração de rectificação à declaração de rectificação à republicação da alteração ao Código Penal.
E agora, um bocadinho de Governo Sócrates a "faler français"
"
Artigo 400º
Decisões que não admitem recurso
1.(...)
2.(...)
3. Mesmo quando não seja admissível recurso quanto à matéria penal, pode ser inteposto recurso da parte da sentence relative à indemnização civil."
A sério. É mesmo assim que lá está, é só ir ver.
Eu disse: dêem-lhes baixa.
P.S. O negrito é meu. Claro.
Dêem-lhes baixa
O Governo Sócrates não desilude. Como sempre se suspeitou, tem demonstrado de forma esplendorosa a imensa cabotinice da sua (digamos) estratégia para atacar os males nacionais. Não há sector, departamento ou secção onde não queira intervir, nem onde falhe ou a estupidez explícita ou a bizantinince inútil. O mais engraçado é quando se atropela a si próprio na "promoção dos motores de desenvolvimento da economia". No caso da funcionária pública, doente e fisicamente inapta para sequer cuidar de si própria, até os outros funcionários da Junta de Freguesia assinalaram o óbvio: "ela, aqui, até nos empata".
Encarnado não, em carne viva!
Um dia há muitos anos fui ao Jardim Zoológico e estava lá uma ema atrás duma rede e eu disse logo que ia haver merda e houve porque a aleivosa da ave embicou comigo e enquanto andei ali à volta da rede a ver como ela era estúpida e a referir-me a esse facto em termos jocosos e científicos ao mesmo tempo a puta passou o tempo a seguir-me e a tentar dar-me bicadas no focinho e eu fui-me embora dali porque era melhor.
Fui ver os hipopótamos e até tirei uma fotografia dum acto de sodomia.
Vi uma data de passarocos.
Fui ao Binguduzu e perdi seiscentos mil réis.
Isto a propósito dos babuínos; que puta de léria para quem tem o cu tão vermelho.
Dez? Por que não sessenta e oito?
Quando o líder dum partido da oposição propõe ao primeiro-ministro um pacto de dez anos sobre seja o que for, eu não sei porque caralho não começa já uma puta duma guerra civil ou, mesmo, militarizada.
Esta merda vem no Expresso.
É mesmo verdade que a necessidade aguça o engenho.
Se não foi a necessidade, terá sido a curiosidade. Agradeço encarecida àquela ferramenta blogger que se chama "pré-visualizar" e que, atenta e vigilante, me ia mostrando como eu podia arrumar com a formatação do blogue em poucos segundos, se não se tratasse apenas de um ensaio geral. E pronto, livrei-nos de vez (um bocado sem saber como) das duas irritações de estimação que ensombravam o blogue- o
spam saltitante dos telemóveis e as inúteis bolinhas da lista de links. Depois, já
sempre a abrir, fiz pequenos retoques no décor. A lista de links está diferente, tomem atenção. No essencial, nada mudou: o besugo continuará a escrever daquela maneira dramatúrgica que todos conhecem e eu manter-me-ei no pelouro da logística. Ando a tentar descobrir, por exemplo, as vias alternativas ao monopólio do
youtube para publicar música.
Stay tunned.
Ao calhas, pois
Duas pessoas manifestaram vontade de me meter numa cadeia e eu apeteceu-me denunciar logo isso, antes que isso aconteça mesmo.
As pessoas em questão, que agem de maneira sincronizada, chamam-se
Nuno Ramos Almeida e
Fernanda Câncio (esta última senhora rasou, inclusivamente, os píncaros duma coisa qualquer ao afirmar desejar meter-me na cadeia
"porque o maradona já está" - como se eu não soubesse que sim,
que já está -, sem salvaguardar, ao menos, o higiénico imperativo das celazinhas separadas).
Afinal, a cadeia era uma coisa sobre livros, disseram-me. E fui
lá ver melhor e, pronto, está bem, parece que é uma coisa sobre livros, o que me acalmou um cisco. Mas nunca fiando, fica ali acima o competente alerta sobre certas e determinadas possibilidades e coisas.
Bom.
Sobre os livros, ao calhas (mas mesmo ao calhas, que eu tenho para aí dezassete livros com mais de cento e sessenta e uma páginas), agarrei dois e resultou-me nisto:
No "Alternativa Wilt", que é dum tipo qualquer relativamente malcriado, estava isto: "Vítima inocente uma ova. No dia em que esse gajo for inocente deixo eu de ser bófia e de receber a merda das sagradas ordens."
No "Quando Nietzsche Chorou", que é da autoria doutro gajo bastante laureado e meticuloso - e é, além disso, um livro bastante grosso - vinha assim: "Preciso de o persuadir de que me está a ajudar; enquanto isso, lentamente, imperceptivelmente, trocarei de papel com ele, até que se torne novamente no paciente e eu volte a ser o médico."
Mais logo passarei mandados de captura a algumas pessoas. Agora não tenho tempo. Vou "engalinhar" os lampiões, que já estão a ganhar e isso não me convém.