blog caliente.

26.11.07

Rapidinha é alternativa?

Uma vez eu vinha do Porto para a Régua, numa sexta-feira à tarde, e havia greve da CP, de maneira que tive de vir de autocarro, ou seja, de camioneta de carreira. Como ia ter exame de Fisiologia na segunda feira seguinte fiquei logo mal disposto, porque pretendia estudar durante a viagem e, na carreira, estudar enjoa. No comboio, na altura, também enjoava um bocadinho estudar, aliás estudar andava a provocar-me uma emese de grau 2 em qualquer lugar em que tentasse exercer o mister, mas era menos, coisas do cerebelo e do sistema vestibular. E de ser uma besta.
Mesmo assim, depois de me assentar no lugar que me venderam, lá abri o "Guyton".
Em Valongo já ia numa náusea tão intensa que só me apetecia mandar parar o veículo e ir a pé, de maneira que fechei o livro e os olhos.
Não adiantou. Havia um cheiro mole e acre na carreira que me deu vontade de, além de fechar os olhos e o livro, cerrar também as narinas. Mas respirar pela boca aqueles miasmas assustou-me, de maneira que acendi um cigarro - ainda se podia fumar nas camionetas de carreira e nos autocarros e, mesmo,nos comboios - e tentei atingir paroxismos fumegantes de deleite. Sem sucesso.
A mulher que ia ao meu lado tinha um vestido branco, era de verão, e a imagem daquele vestido começou a parecer-me uma sanita, um penico antigo e imaculado na sua brancura e, de tão agoniado que ainda estava, hesitei - aquela coisa da vertigem da náusea, sim, nunca vos aconteceu?, não?, não faz mal, acreditai em mim, não faz hesitar mas é o caraças - entre despejar-me em cima dele ou recostar-me nele. No vestido, dona inclusa.
Penso que à mulher terá ocorrido apenas que me passaria pela cabeça a segunda hipótese, até porque se virou para trás e chamou "ó Nelo, chega aqui", e o Nelo veio e era uma espécie de recruta da GNR montado no cavalo e de envergadura semelhante à composição, mais o penacho do suposto capacete.
Não se estuda bem nas camionetas de carreira, Nos comboios é muito melhor. Por estas e por outras é que estive a suplicar aos meus filhos que nunca andem de carreira, porque não se estuda bem lá e porque nos dá para vomitar se tentamos fazer isso. Nos comboios sim, pode dar para estudarmos. E, mesmo que não nos apeteça, paciência: ao menos não nos desencadeia a emese facilmente, a tentativa.
Agora, por falar nisso: TGV, não. Definitivamente.
Eu sei lá se um filho meu vai estudar, um dia, para Lisboa e depois, de Lisboa ao Porto, partindo do princípio que vai haver TGV e que eu tenho dinheiro para pagar o bilhete a um filho meu num veículo desses que o transporte de lá para cá e de cá para lá, coisas de fim-de-semana, à conta da modernidade que transforma o "chegar" numa coisa tão importante que tem de ser rápida (o que contraria todas as luxúrias e seus prolongamentos dendrítico-leydigianos com gajas, e isso), dizia eu, quem me garante que não vai esse meu filho ( e eu tenho dois) ter menos dez minutos do que os necessários - e ninguém nos reembolsa disto, depois - para estudar o seu "Guyton", o seu "Ham", o seu "Gray", o seu "Tratado de bem cavalgar toda a sela"?
Proponho isto: por mim, o TGV ficava na OTA. Ou em Alcochete. Ou em Mesão Frio. Ficava ali estacionado, transformado em comes-e-bebes, em loja de peúgas ou, se calhar até era melhor, em livaria: "Temos Grandes Volumes". Ou então em sucursal do PC (Partido do Centro): "Tapamos Guelras Vulgares".
E o novo aeroporto? Esse fazia-se nas Berlengas, para acabar de vez com as cagarras e para favorecer a criação duma nova empresa de cacilheiros, ou de berlengueiros, no caso. Isto é economia, estúpidos!
Já agora, na minha carreira do Douro, aquela que me transportava do Baixo Douro para o Alto, acabei por conseguir impedir-me quer de vomitar quer de me recostar no alvo (aqui, alvo, é mesmo nos dois sentidos) colo da senhora que me ladeava, mas para atingir esse nirvana tive de me concentrar muito no Nelo. Que já não saiu dali, a fumar de pé, o boi.
Os Nelos são lixados. Provocam efeitos de contenção. São uma espécie de loperamidas universais, funcionam mesmo na cabeça. Em certa medida, são talhados para a dissuasão´ou para o poder. E é sempre bom sabermos que há gajos talhados para uma merda qualquer, mesmo que não seja em talha dourada: isso sossega-nos a necessidade do "predestino", embora os Nelos sejam sempre chatos como o raio que os carregue.

A resposta correcta à pergunta do título é "sim, se estiverdes com pressa".

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