O fenómeno Salazar
Nem soube que houvesse ontem uma "manif" em Santa Comba, não há como ler o blog para estar a par do que se passa nessa terra beirã.
Salazar é, na verdade, um fenómeno. A lolita bem pode vir aqui, na virulência de um assomo "Odetiano", usar um dos dois modos de que, alternadamente, se usam para o atacar: o "apoucamento". (o outro é o clássico "fascista assassino" que ainda usam nos manuais escolares cuja leitura tanto me diverte), mas começo, com gozo, a aperceber-me que tudo isso é dito e escrito ... debalde.
O Salazar foi quem foi. Se se quer buscar a essência, nela se encontrará a tentativa que ele fez de encontrar nas suas raízes rurais, conservadoras e católicas um guião político.
Tentativa que foi feita por um homem invulgarmente inteligente, que formou a sua personalidade e as suas opiniões políticas algures nas duas primeiras décadas do séc. XX, e que buscou, no País da treta em que vivia, dar-lhes forma e coerência no plano do "Estado" que ele tanto prezava.
Esse guião político foi lapidarmente recitado - como talvez em mais parte nenhuma - no famoso discurso de Guimarães, logo nos princípios do Estado Novo (na década de 30). Aquele em que ele disse:
"Às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século procurámos restituir o conforto das grandes certezas. Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua história; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever."
Se mais se buscar na essência, nela se encontrará ainda um homem muito duro, idólatra das regras e da sua observância. O que sucedeu ao Aristides de Sousa Mendes foi muito simples, na visão salazarista: o Sr. Cônsul de Bordéus desrespeitou, directamente, uma ordem dada pela hierarquia do Estado a quem devia obediência.
Ordem essa que foi dada num contexto político-diplomático de grande delicadeza (estávamos em 1940) e que não tenho dúvidas que hoje seria dada de novo, pelo nosso actual PM, se o nosso cônsul no Darfur - provavelmente nem o temos - começasse a passar vistos aos milhares e aos milhares começassem a chegar sudaneses aos portos e aeroportos de Portugal.
( Como sempre, é mais fácil pregar como Frei Tomás, e como Frei Tomás não fazer o que se prega)
O que é que impediu um homem destes de ser um ditador "à maneira", com milhares de fuzilamentos políticos, noites de "facas longas", execuções sumárias e a demais parafernália de terror típica de quem concentra em si mais poder do que devia?
A meu ver, dois elementos estruturantes do seu carácter :
1º o seu catolicismo;
2º a sua cultura jurídica.
Nenhum deles, como se vê, tem que ver com "falta de integridade moral" (integridade que em Salazar, a meu ver, abundava)
ou com "falta de vergonha" (considerando que onde Salazar falha não é até 1945, é depois. E que - depois - não foi por falta de vergonha que se manteve no poder. Foi por falta de humildade e de capacidade de entender que o seu tempo tinha passado. Mas isso é pecado corrente, seja na política, seja nas empresas, seja mesmo nas famílias).
Voltando ao princípio: estes assomos de anti-salazarismo militante, em que a violência da escrita só se ameniza quando se acentua a mordacidade ou, mesmo, algum desdém de suposta superioridade, esbarram numa evidência:
As pessoas de hoje são tão capazes de acreditar que o Salazar era burro ou merceeiro como as de há 30 e 20 anos eram capazes de acreditar que o Salazar era um monstro sanguinário.
Ou seja, lêem estas coisas, ouvem estas coisas, encolhem os ombros e seguem em frente. Como se costuma dizer, dão o "devido desconto".
Que, neste caso, é um desconto enorme.
E isso, é na verdade um fenómeno. Porque é a demonstração acabada de que é falsa aquela máxima corrente que nos diz que "uma mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade".
Neste país, há 30 anos que se andam a dizer mentiras sobre o Salazar. E nem por isso essas mentiras passaram a ser tidas como verdades.
PS - Como vêem, lolita e besugo, sobrevivi ao Conselho Geral das Varinas. Por uma razão simples. Não estive lá! É que prefiro estas discussões àquelas ...
Lá perdemos outra vez
Parece-me que há-de estar toda a gente contente, menos eu, de maneira que foda-se.
Certezas de besugo
Hoje, cerca de sete milhões de portugueses sentem-se um bocado benfiquistas. Os benfiquistas e os portistas encontram-se irmanados, hoje, numa querença de lampionice, porque se o Sporting não ganhar é bom para todos eles.
Todos?
Não.
Há uma pequena aldeia "gaulesa", um pequeno nicho de portistas de bom gosto e asseio nítido, que prefere a vitória do Sporting. Esse pequeno grupo de portistas, tão pequeno que, às tantas, é só uma pessoa - mas mais vale uma pessoa do que massas, de massas eu já disse que as prefiro no prato, com iscas de fígado ou com almôndegas -, esse pequeno aglomerado de inteligências grandiosas que gosta do FCP (o que prova que não há incompatibilidade entre possuir neurónios e não ser do Sporting, embora isso possa parecer impossível à vista desarmada) já percebeu que mais vale ficar com um ponto de vantagem sobre o Sporting do que com dois pontos de vantagem sobre o Benfica.
Dois pontos de vantagem sobre o Benfica, implica que isto vai ser uma roubalheira, um Carnaval Lísbio Aplicado, daqui até ao fim. O Sabrosa vai cair dezoito vezes em 3 jogos, são seis penalties.
Um ponto de vantagem sobre o Sporting, vai ser uma espécie de "vamos lá a ver, então, aqui entre nós, como é que isto se decide, sem ser com paneleirices, porque somos as duas melhores equipas e isto deve ser entre nós que se decide".
E é preciso notar isto: a querença pode pouco diante da crença.
Vamos ganhar.
Salazar não era vermelho (perdão, encarnado)
Nos directos televisivos de hoje em Santa Comba aparecia um indivíduo vestido de preto e com ar de caceteiro que fez questão de realçar ao repórter o pacifismo da manifestação popular a favor do museu. A apologia de Salazar por grupos neo-fascistas tem qualquer coisa de trágico-cómico, se se tiver em conta que a diferença entre um ditador fascista e o António Oliveira não é apenas de grau, mas é na própria essência. Para além da irrecusável falta de integridade moral que o caracterizava (bastando lembrar a forma intransigente e obsessiva com que se empenhou em destruir Aristides Sousa Mendes até à morte deste, sem se esquecer que, anos mais tarde, e com descarada falta de vergonha, discursou para o mundo lamentando não ter podido salvar mais refugiados) Salazar foi apenas um contabilista disciplinado que impôs a um país inteiro o seu próprio anódino, resignado e triste life style, onde não cabia uma pontinha de ambição que não passasse pela poupança (leia-se desinvestimento) e pelas acções de manutenção do ultramar. Por isso é que só se pode achar graça a estes caceteiros, que só conhecem a versão resumida e explicada em desenhos do Mein Kampf, ao pretenderem usar Salazar como bandeira para obter a possível penetração do movimento na populaça. Salazar e o seu sonho de país "pobre, mas honrado" aliado a uns poucos de jovens cidadãos desestruturados cuja auto-estima depende em grande medida de T-shirts pretas e de suásticas tatuadas, é, sem dúvida, um quadro hilariante.
Mais curiosidades da vida animal
Se o campeonato fosse no Cambodja em vez de ser em Portugal, se se jogasse cricket em vez de futebol, se o Sporting se chamasse Dínamo de Phnom Penh, se o Paulo Bento fosse um khmer vermelho, se não houvesse fome no mundo e, sobretudo, se o Sócrates nunca se tivesse inscrito na UnI, o Sporting também poderia, eventualmente, amanhã ficar empatado com o Porto (e, aliás, com vantagem directa).
Curiosidades de besugo
Se o campeonato fosse como era há uns anos largos, em que uma vitória valia dois pontos ao vencedor, um empate rendia um pontinho aos "empatas" e uma derrota dava zero, neribi, ao perdedor, a classificação estaria agora assim (já depois da azia andrade no Bessa):
1º - Porto - 42
2º - Sporting - 41 (menos um jogo, com os lampiões)
3º - Lampiões - 40 (menos um jogo, com o Sporting Clube de Portugal)
4º - Não interessa para o caso - 32
Bom. Isto significa o seguinte, nesse cenário antigo e, por mim, hoje por hoje, desejável; essa coisa do "não pode ser, mas se pudesse, hem?": bastaria ao Sporting empatar amanhã no Galinheiro para passar para o primeiro lugar, empatado com o Porto, mas com vantagem directa sobre os Baías. Pelo contrário, uma improvável vitória dos encarnados amanhã (acho que isto, "encarnados", quer dizer cor de carne, uma espécie de "têm de me tirar a pele antes de verem isso") levá-los-ia ao segundo lugar, ex-aequo com o Porto, mas em desvantagem no confronto directo.
Isto não passa duma curiosidade, mas refiro-a aqui "à laia de guisa". Eu sei, lolita, eu devia era escrever num almanaque, tipo "O Guelras das Antiguidades". Eu sei que estás pelo Carnide.
Quase que mas
Quase todos nos entristecemos perante uma senhora negra e judia, desempregada, de vinte e oitos anos, que acabou de perder a filha mais velha, de treze anos, com leucemia aguda, por não poder pagar os tratamentos nos EUA.
Certo?
Certo. Quase todos. Eu disse "quase" todos. A organização do mundo baseia-se no "quase". E no "mas", mas o "mas" era mais ali abaixo.
Vamos ver agora como é a organização do mundo, em rabiscos? Vamos.
É que alguns de nós não nos entristecemos.
O Rogério diz que não tem de se entristecer, porque conheceu um homem branco e semi-católico, que era jovem agricultor desde os trinta e cinco anos, e que tinha sete filhos - todos rapazes e dados à higiene -, que feneceu de politraumatismos por via de se lhe ter virado um tractor às cinco da manhã, que se tinha levantado cedo "e que tão cedo se pôs". E que, por isso, "não me venham falar de pretas e de glóbulos brancos".
A Palmira afirma-se possuída dum afã de sensibilidade: que sim, que se sente muitíssimo tocada, mas que "também há muita miséria nos bairros de lata!" e que isso é que a faz chorar imenso, que até nem dorme bem desde anteontem.
A Isabel, que é uma mulher que já leu umas coisas que nem o autor leria se fossem escritas por outra pessoa qualquer - isto é verdade! -, tem ideia dissemelhante das dos outros dois. Resolve introduzir aqui a componente "cultural". Sendo presentemente uma educadora em ânsias de colocação, Isabel presume que tudo se deve à falta dela, Isabel, isto "primas", e ao défice de educação e à carência de outros subsistemas quejandos da formatação do carácter. Isabel não é mais imbecil do que Rogério e Palmira, mas é mais nova. Isto é grave, porque há coisas que tendem a piorar com o envelhecimento, como é o caso da estupidez, do tesão e da bronquite crónica.
O Thomaz e o Francisco, em conversa amena, já decidiram: "que pena da preta e da filha!, mas que pena!". E entretiveram-se, até, no "Chez Maman", durante sete minutos, a imaginar um mundo em que essas coisas de desgraças dos pobres não acontecessem, tendo mudado de assunto porque Thomaz e Francisco têm verdadeiros problemas para resolver, nomeadamente quem vai negociar com o Ramires Tamboril "aquilo do Xarroco".
O Rafael e a Clara, que partilham "A Bola" com o Manuel (na varanda das traseiras, ao sábado à tarde), pressentem no drama da mulher preta uma leucemia que os mói. Mas vai jogar o Benfica, que se foda a Taça. E a Clara, que é de Bragança, vai mais longe: "que a não tivesse, filha minha há-de ser perfeitinha!", afirma ela, a passadeira dos olhos toda derramada no Manuel, que pede "mais uma mine, ó cunhada, fáxavore!"
Torres e Eleutério, sentados diante de Sófocles - que lê o diário do governo - , sufocam.
"- Está calor!", brada Torres.
" - Já vi pior...", sussurra Eleutério.
Sófocles hesita entre as mamas de Isabel e os sete filhos de Rogério. Opta, duvidoso, pelo leque. "Está pouco calor, mas o leque é branco, foda-se, lembra-me isso do caralho dos leucócitos, liguem antes o ar condicionado! No
meias tintas, dezassete graus!".
E até consta que foi a preta judia, órfã de filha e de dinheiro para a manter, que se deslocou da América a regular a aparelhagem sofisticada ao gosto do senhor, pedindo desculpa por não conseguir deter a medida exacta e universal do sofrimento.
Tanto que se dedicou a corrigir os outros sofrimentos, mais legítimos. Mais de suadoiro cevado.
O problema do "mas"
O mundo está muito bem organizado.
Mas é ao calhas.
Esguichos de besugo
Há outras maneiras de identificar grandes mulheres e grandes homens. Maneiras melhores, até.
Mas eu tenho esta, que é singela, que consiste em verificar a maneira como se comportam homens e mulheres quando estão à rasca. Não gosto de ver ninguém à rasca, não aprecio por aí além estar eu próprio enrascado, mas passamos todos por isso nos finais de Abril, inícios de Maio. E isto vai, muitíssimas vezes, até ao fim de cada Março novo.
Eu vou observando sempre, enrascadamente.
Sei muito bem que dizer "à rasca" é rasca. Estar à rasca também é um bocadinho rasca, portanto desculpem. Podia escrever, em lugar de "à rasca", "atrapalhado". Mas "atrapalhado" é palavra para palhaços no circo, trapalhões profissionais. E à rasca, muitas vezes.
Protestos
Na quadratura do círculo, Lobo Xavier faz protestos de estima.
Eu vi de relance, posso estar enganado, mas pareceu-me que ele disse, sobretudo, que estima muito Paulo Portas e Ribeiro e Castro, que lhes protesta essa estima à laia de prefácio do que pensa deles, sendo que o que pensa deles não é grande merda. Pacheco Pereira deve estar a fazer, agora, uma espécie de pós-fácio da geometria toda. Não tenho paciência, hoje, mas há-de estar a fazer isso bem.
Eu não conheço Lobo Xavier, mas sei que temos todos excelente potencial para estimar o que quer que seja quando nos dá para aí.
Também recebo
Não quero saber tudo da amargura dos outros.
Não quero saber tudo da minha amargura.
Não quero que me investiguem, que me abram, que me dissequem.
Não quero esquadrinhar ninguém que páre só para isso.
Não sou cirurgião, nunca vi vísceras que não estivessem mortas.
Não sou psicoterapeuta, nunca ouvi couves a fazerem de abróteas.
Quem achar que isto, mesmo que tenha de ser muito burilado, pode dar um poema, faça o favor de me informar.
Envio risos.
Mando rios.
Ofereço rosas.
A ocasião da revolução
Quanto mais longínquo parece o dia da revolução, mais expurgado parece dos excessos, das demagogias, dos oportunismos pós-revolução, dos caciques da democracia, dos arautos da sociedade sem classes. Dissipados esses engulhos, vêem-se bem melhor aquelas vinte e quatro horas em que, numa boa parte não intencionalmente, talvez pela primeira vez se soube neste país antigo o que é ser livre, e é isto, sobretudo isto, que vale a pena considerar e guardar na memória do Torre do Tombo.
Não houve, na verdade, heróis de Abril, a não ser ocasionais e em conjunturas favoráveis. Hoje, trinta e três anos depois, há outro tipo de heróis, construídos como palafitas, de carreira meteórica mas porém segura, em incubadoras de aparelho partidário. Como se viu, até à maioria absoluta.
O meu problema com Deus é mais meu
"Deu um excelente episódio do ER na RTP2, esta noite, senhoras e senhores! Quem não viu, pode ver na sexta-feira, no AXN! Eles repetem!"Isto seria o que eu diria se não me estivesse marimbando para o que os senhores vêem ou deixam de ver, ou se fosse histérico. Não sou. Vejam, ou deixem de ver, o que quiserem. Estejam à vontade, pelo amor de Deus.
De maneira que me limito a afirmar que, desde que corra tudo bem, o Sporting vai ganhar o campeonato; e que eu, mesmo que Deus não queira isso - mas me queira -, hei-de estar bem um dia.
E, se Deus quiser, Deus há-de querer.
O problema da bola e do 25 de Abril e do azeite, tudo hoje
Para começar, não se pode abordar isto assim, tudo à molhada.
Por não se poder é que eu o faço?
Não. É por eu não poder doutra maneira e por, de facto, se poder.
O Manchester United ainda não percebeu como é que conseguiu ganhar hoje ao Milan, mas não admira. Os ingleses analisam quase tudo mal, os escoceses pior e, quando acolitados por um Queiroz sem ser o Eça -esse também acolita só da tumba -, são dados "ao calhar".
O Manchester ganhou porque o Gattuso se aleijou - e entrou o sacana do Brochi, ou lá o que é, e este cromo mais o Oddo atinaram a secar o Cristiano, o peneirento Cristiano -, porque o Maldini está prestes a apagar quarenta velinhas e já arreia no fim da primeira, porque o Giggs é um galês de merda, isso é, mas tem um pé esquerdo que parecem quatro pés direitos do Quaresma e, sobretudo, fundamentalmente, porque o Rooney fez o jogo perfeito.
É raro haver um tosco com tanta finura como o Rooney. Qual Ronaldinho, qual Cristiano, qual Kaká! Com jeiteira, também eu! Agora assim?
Não: hoje foi o Rooney. Esse oligofrénico potencial. Também podia ter sido o Scholes, esse Petit melhorado (pouco), mas não foi, por um motivo simples: eu também sei fazer daqueles passes que ele fez, aquela espécie de "colher", pois sou, mas eu é só nos treinos.
E o Rooney não tem muita jeiteira, é só aquela coisa bárbara, aquele penedo baptizado,
um misto de joelhadas e de toques de calcanhar e de "vai mamar" e, mesmo assim, eu não sei fazer o que ele faz. Nem no quintal, marcado só pelo O'Shea. Ou pelo Brown. Ou pelo Nesta, que é um passarão peneirento, cuidava estar a marcar o Nuno Gomes e sai-lhe o "badocha" do Rooney, pois é, Nesta, amigo, palhaço, vai ler.
Por falar em "badocha": é deprimente ver o programa do Borges, o "badocha" dos pastéis, agora reconvertido em Bruno Nogueira na sala dos espelhos. Mesmo que não entrasse o Fernando Alvim - um dos únicos portugueses vivos que saltou dos vinte e cinco para os cinquenta anos sem tomar metanol (acho eu).
Eu digo isto por duas ordens de motivos: a assistência do evento é composta quase só de gajas feias e gastas - às tantas por passarem tempo demais a aturar gajos como o Borges e o Alvim - e a piada daquilo é muito relativa, mesmo estando lá a Odete Santos a desrelativizar. Que eu nem a vi, vim para aqui desrelativizar sozinho.
O Fernando Alvim deve ser, juntamente com o Nuno Markl e aquela actriz que fazia de quase irmã do Granger na novela da TVI, aquela em que o Campelo fazia de bonzinho, uma das pessoas com o cabelo mais oleoso de Portugal. Isso do cabelo ainda é o menos: o óleo escusava era de escorrer dali de cima para as goelas, ficava na trunfa rala, assim é uma azeiteirada pseudo-radiofónica, faltam só as bimbas da SIC radical para cheirar ali à costumeira mistura de surro, unto e beita.
Eu páro.
Salgueiro Maia já morreu, mas não é por ter morrido que o prefiro aos cravos. É que, por muito que ele gostasse deles, dos cravos, e eu disso não sei, nunca lhe vi nenhum cravo na sepultura. E a essa, à sepultura, vi-lha.
Misturar alhos e bogalhos (ou bugalhos) não dá grande salada. Não faz mal, eu não nasci para a cozinha. E, de temperos, sei pouco. Não me liguem. Sei isto: que, às vezes, para me sair escrito o que gostava que me saísse, não havia de ser assim, "havia de ser
mais menos".
Eu lembro-me de si
anatomias autónomas de besugo
Mesmo o cérebro é um mecanismo.
De autonomia variável, o cérebro é musculado.
Tem lá o carácter, está lá ele, ao menos.
Ou ela, essa estrutura dada à acidose láctica.
O carácter estrutura? Ou acidula, só?
Isto é conforme o esforço da sua massa anexa.
Varia mais, o cérebro, aliás - e o resto - quando se cansa.
Autonomias discutíveis, variáveis.
Musculatura trivial.
Isto é péssimo. Como poema é, mesmo, abaixo de cão.
É.
Sai-se do ciclo e entra-se no liceu, na escola secundária. E, daí, numa universidade qualquer. Ou, então, começa-se a trabalhar em alguma coisa.
Já não nos ligam pêvas as namoradas do ciclo, nem as do liceu, nem as da escola secundária. Andamos com outras universitárias (que preferiam que fôssemos industriais ou comerciantes), ou com colegas de trabalho, ou com empregadas, ou com patroas (que preferiam, se pudessem preferir-nos assim, que fôssemos universitários).
Estamos preparados para isto tudo, mais copo menos ranho.
Não estamos preparados é para ter um cancro aos vinte e nove anos. Parece que chumbámos às cadeiras todas, que fomos despedidos, ou que despedimos quem nos merecia confiança e afecto.
Parece que fomos deixados por toda a gente, mesmo que continue toda a gente ali à nossa volta.
Não é, António?
Quase logo
É o nome.
Universidade soa a "Vem, pega lá o Universo, fá-lo agora tu".
Mas não é.
É
"Vem, já está feito, pronto-a-coiso".Isto chateia-me, mas não me importa que ninguém se importe com esta minudência de eu me chatear: chateia-me, chatear-me basta-me. Bonda-me a importância de me chatear.
A mim basta chatearem-me que fico, quase logo, chateado.
Isto é parvo e mais me valia comer um arroz de lebre.
Ainda mais coisas minhas
Está claro: se me perguntassem se preferia frequentar o Conservatório ou o Reformatório eu hesitava.
Se fosse eu a decidir o que me conservava, Conservatório.
Se fosse eu a decidir o que me reformava, Reformatório.
Mas assim, sem autodeterminação carimbada, antes Oratório. Deve meter língua.
E rezinhas: cento e vinte, mais sete, mais duas, mais cento e vinte, mais vinte e oito benzedelas.
Isto é estúpido?
Estúpido é desconhecer as técnicas difíceis do autocontrole (TDA).
Há quem leia TDA como se fosse
Tu Desapareces Amanhã, mas eu também não açoitaria demasiado essas pobres pessoas que lêem assim.
Ao menos hoje.
Mais coisas minhas
A próxima pessoa que me disser que o James Taylor é uma espécie de Tiago Alfaiate que rouba nas medidas eu fodo-a.
A essa pessoa.
E eu nem ligo muito a isso da costura, da alfaiataria, da música. Embora tenha feito uma semi-licenciatura no Conservatório.
Mentira. Eu nunca iria para o Conservatório.
Conservatório é um nome parvo para uma semi-alfaiataria.
Coisas minhas
Se eu fosse francês gostava de me chamar Jean François. Jean François Chevalier de Lagardère.
Ou Jacques Pierre. Jacques Pierre Chevalier de Lagardère.
Ou Jean Michel Jarre. Jean Michel Jarre Chevalier de Lagardère.
Ou Bernard Lacombe. Bernard Lacombe Chevalier de Lagardère.
Ou então Ségolène Royal. Ségolène Royal Amazone Domestiquée D'Auparavant.
Tanta gente boa a morrer e estes filhos da puta a gastar-lhes o ar
Solicito aqui às pessoas que militam na extrema direita nacionalista (o que inclui Paulo Portas em certa altura da sua vida - olá, Indy!) que se abstenham de cantar o hino nacional.
Cantem antes outra merda qualquer.
As janeiras. Por exemplo, as janeiras. Sabeis a música de cor:
"vamos apanhar no cu-evamos apanhar no cu-evamos levar no cuzinho-eó, meu Deus, que não me trais-e"E começa o hino. O hímen, que até o Belém vai agora aonde não devia
ir-e.
Se houvesse, ao menos, um flautista
O debate, na RTP, entre Portas e Ribeiro e Castro está a decorrer.
Olhei para ambos e vim para aqui.
Portas representa mais adequadamente do que Ribeiro e Castro a trupe de imbeles que o CDS tem no seu grupo parlamentar e, às tantas, em grande parte da sua militância básica.
Tem o olhar que ensinou ao seu grupelho de cabos milicianos de pulsos fininhos, um olhar de quem já nem sequer disfarça a gula roedora.
E tem as mesmas guedelhas alternativas, a mesma dissimulação ridícula (de tão evidente) no gesto e no esgar, ambos cómicos e incredíveis.
E tem o mesmo cheiro a rato-comandante, dos que abandonam o casco danificado na tempestade e, depois, querem logo regressar à torre de comando, antes que seja tarde e a embarcação se afaste, como costumam fazer as embarcações logo que o tempo amaina: os ratos têm de ser animais atentos às várias meteorologias, às várias "janelas de oportunidade".
Os ratos com ambição de mando costumam fazer bem isso, todos eles.
Um apelo deste género podia poupar turnos de vigília, não?
Governos alternativos
Não percebo, sequer, que se tenha dúvidas sobre a incompatibilidade da defesa dos direitos individuais com esse subproduto das ideologias nacionalistas que, em grupelhos dispersos por toda a Europa, defende políticas anti-imigração. Pode-se tolerar, de facto, patetices profundas ou intenções soezes, mas apenas enquanto esses grupelhos se mantêm em casulo. Já não se percebe que, perante um cartaz miserável, anacrónico e indigno Sócrates nada diga ou faça - como sucede com o Presidente da República, mas desse já todos sabemos que só não se poupa a ondas se não puder - e que a única atitude de condenação explícita tenha surgido da sociedade civil (via Gato Fedorento), muito embora prematuramente abortada por incumprimento de posturas camarárias. Este país está cada vez mais assim; eficaz no "law enforcement", distraído na percepção da substância.
Por isso é que Sócrates foi à entrevista carregado de papéis.
A bola quase toda
O futebol é uma coisa muito simples, como não me canso de dizer. Se não fosse, o Eusébio e o Mantorras e o Rooney e o Cristiano (e outros petizes) não o jogavam. Se não fosse, eu não gostava tanto dele, também.
Não tenho falado da bola porque não tenho tido motivos.
Agora também não tenho, mas vou pespegar aqui variadas asserções sobre alguns aspectos marcantes da actualidade futebolística europeia, tudo isto cozinhado com a sensatez que me caracteriza.
1 - Em relação ao campeonato nacional (liga buíne) e à taça (não sei se alguém patrocina aquilo, parece que ainda se chama só taça de Portugal):Quando o Sporting joga bem, como tem sido ultimamente o caso, não me dá vontade de escrever nada sobre o Sporting. Se o Sporting joga bem, e anda lá na vida dele, nas lutas pelos campeonatos e pelas taças, eu fico calado, acho normal assim. Não faz sentido vir dizer "que bem jogámos, olé-olé!" qundo jogamos bem. Isso é coisa de benfiquistas e portistas, que são dados à chafurdice.
Se o Sporting faz merda, bom, assim já me irrito e sou capaz de dizer duas traulitadas ou três. Quatro, vá.
Mas assim, com o Sporting a jogar bem, fico calmo. Isto chateia os portistas e os benfiquistas, eu sei, mas é tão evidente que os portistas e os benfiquistas se vão chatear tanto, ainda este ano, que nem digo mais nada.
Aliás, eu não disse nada. Eu, e desculpem a repetição, mas quem fala muito tende a repetir-se - não é que eu fale muito, lembrei-me foi agora disto e disse -, eu, dizia eu, não disse nada.
2 - Em relação à bola na Inglaterra:Isso é outra coisa. Isto, aqui, já falo
O futebol inglês é aquele futebol que se joga na Inglaterra e que é agora muito bom porque quase não jogam lá ingleses. O Cristiano não vale, já chateia falar dele. Mas um tipo olha para o Chelsea e vê dois ingleses que tinham lugar no Sporting (o Lampard e o Terry - no banco) e outros dois que estavam bem no Boavista (os dois Cole); olha para o Liverpool e, de ingleses, observa o Crouch, o Gerrard e mais um ou dois, tudo gajos dados à suplência; olha para o Manchester e quem "
inglesa por lá?": o Ferdinand - banco do Sporting, evidentemente -, o Scholes (titularíssímo no Benfica, porque o Benfica gosta de ter gajos com feições alternativas no meio campo, veja-se o Petit e o Karagounis e, em versão softcore, o Simãozinho), o Carrick (este gosto) e o resto é coreanos, galeses, irlandeses, portugueses, argentinos, sérvios, escoceses e franceses; olha para o Arsenal e não vislumbra lá inglês nenhum, a menos que joguem desfalcados.
Portanto, pode falar-se de bola na Inglaterra, de futebol "marca Inglaterra", mas os melhores produtos da marca, enfim, não são de lá.
Ou seja: joga-se lá bem à bola, mas é preciso que haja poucos tipos de lá a jogá-la.
3 - Em relação à bola na Espanha:Na Espanha, basta-me que o Real Madrid e o Barcelona percam para eu ficar contente. O Real Madrid faz-me lembrar uma hipérbole do Benfica (também é um clube apanascado, com muitos homens por trás, e também têm lá um Mantorras - que é o Guti), e o Barcelona faz-me lembrar uma espécie de mistura chôcha entre o Porto e o Chaves, derivado à tendência para o separatismo e, é claro, ao equipamento - respectiva e simultaneamente.
Gosto do Valência, do Sevilha, do Bétis, do Corunha e do Celta e, desde hoje, do Racing de Santander - mas pensando bem já gostava deste, porque jogou lá o Damas. E do Salamanca também gosto. E dos Atléticos. E do Hércules de Alicante. Mas este é por outras coisas.
Do Real Madrid e do Barcelona não gosto. São clubes parvos.
4 - Em relação à bola na França:Os franceses conseguem fazer um campeonato mais ou menos jeitoso e aborrecido, isto apesar de cerca de 7376 dos seus melhores jogadores serem titulares em variados clubes doutros países. Isto é verdade: até o tosco do Steed Malbranque é titular do Tottenham - embora seja chato que tenha nascido na Bélgica, mas isso já se sabe, os franceses nascem onde calha.
Mesmo assim, lá conseguem fazer um campeonato giro, onde a equipa da capital (o Paris, leia-se "Parísh", pelo amor de Deus, deixem lá o "Pàrí" para os "didonques") leva na bolha regularmente e duma maneira que chega a ser obscena. Se os franceses fossem como os portugueses, o Paris equipava de encarnado e o país estava de luto; o L'Équipe escorria lágrimas de sangue e fel; mas como não são, está-se bem.
Não há muito mais a dizer sobre a bola na França. Apenas resta acrescentar que, como está bom de ver, o campeonato francês é uma espécie de segunda divisão do futebol francês. A bola na França é um refugo da França da bola.
5 - Em relação à bola noutros países:Há-a, há mesmo - eu sei que custa a crer - bola noutros sítios. Na Alemanha, por exemplo; e na Holanda, na Itália, e mesmo na Suíça; e -pasme-se - na Albânia, na Bélgica e na Rússia. Mas eu depois trato dessas curiosas minudências.
À transversalidade
De quem vamos rir agora? Sobram tantos,
Caro João. Tantos, que mais vale pensarmos em excepções à comédia.
Sem desprimor para os Franciscos
O nosso PM é um chico-esperto. É novidade?
PS - O Sócrates já pertence à geração política formada no pós 25A.
Essa geração não só não tem, como não pode ter sólidas formações académicas, capacidades científicas ou bagagens culturais.
Não pode porque, para chegar aos mais altos cargos da nação tem que se penar primeiro o caminho das juventudes partidárias, das estruturas de base, depois intermédias e depois de topo dos partidos.
E nesse caminho aprender o princípio do "sound byte", o princípio da "eficácia política", o princípio da "gestão dos silêncios" na cava da onda e o da "visibilidade máxima" na crista da onda. Finalmente, o da simplicidade discursiva, da repetição exaustiva de duas, vá três, banalidades ... enfim ...
Aprender tudo isto é incompatível com os estudos. Mas é de políticos assim que a malta gosta.
PPS - Quer dizer, a malta até diz que não gosta, mas é em políticos assim que a malta vota.
PPPS - E os (poucos) políticos que subsistem, apesar de não corresponderem ao estereótipo acima descrito subdividem-se em 2 categorias:
a) pensadores livres, mal amados pelas estruturas partidárias - "malamor" que retribuem, porque desprezam tais estruturas - e que nunca passarão do cargo de deputado, ou equivalente. A líderes não chegam. O JPP e o ALX são dois bons exemplos. Melhor o ALX, porque é da mesma geração do Sócrates.
b) professores universitários ou profissionais de reconhecida competência que surgem na política, normalmente como "independentes", designadamente para compor governos. Normalmente dão desastre, porque não percebem nada de "sound bytes" nem de "política moderna". Não têm amigalhaços na comunicação social, não têm solidariedades partidárias. Acabam considerados pelos gurus do "opinion making" como "erros de casting" e rapidamente desaparecem.
Este é, assim, o tempo dos chicos-espertos ... e é por isso que o Sócrates é Primeiro Ministro.
Esguichos de besugo
Deus me conserve alguma lucidez. Ao menos a suficiente para não ser um salteador, daqueles que espreitam janelas de oportunidade para as penetrar com o descaramento da falsa fé; nem, evidentemente, um lorpa - apenas dono de janela escancarada.
A diferença entre um homem em bicos de pés e um homem agachado pode não ser nenhuma, se o homem for o mesmo.
Sendo assim, talvez seja melhor para o homem não assumir posturas extremas de bipolaridade mesquinha - por ser falsa - e limitar-se a estar de pé, sentado, ou deitado, conforme entender ser indicada cada postura em cada momento.
Um homem em bicos de pés tende a desequilibrar-se ao mínimo empurrão. Um homem agachado tende a ver muitas solas de sapatos, que não compensam as vantagens do "upskirt".
Ficas tu
Fica para a próxima
Teatro de vanguarda
Apresentou-se seguro e sereno, com respostas seguras e serenas para tudo, incluindo para o que ninguém lhe perguntou; ia de cartilha estudada, munido dos papéizinhos necessários para desfazer os equívocos, as suspeições e as cabalas. Como sempre esteve alinhadinho, bem comportado, impoluto, pontuando o discurso com alertas, reiterados, para que todos tomem a devida nota da sua própria transparência. No entanto (como diria o José Pacheco Pereira), essa não é a questão essencial. Sócrates estudou exaustivamente tudo: o discurso, a imagem, a carreira; estudou até, eventualmente, a forma mais fácil e escorreita de poder ter um certificado que atestasse a sua formação superior. Fabricou-se a si próprio: premedita cada frase, cada expressão, cada chavão. Daí que não pareça tão importante assim que tenha logrado obter a absolvição. Fundamental, mesmo, é perceber que estes golpes palacianos nunca serão os adequados para o derrubar. Falamos de um mestre da fabricação, em que tudo é estudado com obsessivo rigor e infinita paciência – quase, quase como na engenharia.
Esguichos de besugo
1 - A entrevistaFoi nervosa. José Alberto Carvalho esteve mais tenso e severo do que costuma estar, não tem perfil de inquisidor. Já a outra - a que faz de "sparring-partner" de Marcelo Rebelo de Sousa - esteve ao seu nível: nem sequer evitou alguns remoques de galináceo. Sócrates, esse, esteve entre o perplexo, o irritado, o comprometido e - a partir da meia hora de jogo - o "fodo-vos na segunda parte".
2 - A reacção
a) Marques Mendes quer uma investigação independente. Acho mal. A investigação não, acho que ele pode dizer isso sem mingar, investigue-se, quero lá saber. Independente é que acho mal. Independente era, pelos vistos, a universidade moderna. A moderna no sentido de "aquela de que se fala agora", não me refiro à outra, à moderna mais antiga. Independente era, supostamente, aquele jornal que serviu de trampolim ao Paulo Portas para me pairar na lembrança. Independente e ignomínia começam pela mesma letra.
b) A SIC fez uma daquelas sondagens telefónicas que costuma fazer, tipo TVI e SLB, e parece que - ao contrário do que a SIC previra -
Sócrates convenceu. Não acho bem que tenha convencido, a mim não me convenceu, por exemplo - nem tem de convencer -, mas acho deprimentes estes inquéritos assim, que tanto servem para avaliar um primeiro-ministro, como um concorrente do Big Brother, como uma canção do festival, como outra merda qualquer.
c) Na
Quadratura do Círculo, Jorge Coelho esteve quixotesco. Fez lembrar Sousa Tavares, quando defende o FCP em crónicas coléricas e coleréticas, escritas sobre desérticas dunas, havendo vento: tanta areiazinha fina. Já Pacheco Pereira
colocou a questão, como de costume. É o que ele faz melhor,
colocar questões. As questões existem, ele coloca-as. Há quem diga que também as cria, às questões, e eu até o acho capaz disso, veja-se abaixo, mas parece-me que o que lhe dá mais gozo nem é criá-las: é colocá-las, pô-las no sítio em que ele acha que elas devem estar. É um filatelista de caderneta, um dos que mexe nos selos com pinças lavadas. Gosto disso.
3 - O resumoTemos, salvo erro, um primeiro-ministro que é engenheiro, mas que andou a dizer que já o era antes de o ser. Quero crer, como Jorge Coelho, que isso não tem importância nenhuma:
acabou por o ser, que importa se mentiu antes, se tudo não passou duma antecipação do futuro, que -ainda por cima - agora é passado?
Mas não consigo. Não creio nisto. Sócrates tem o olhar e o gesto fugidio dos que espreitam "janelas de oportunidade". Ele próprio instalou esta expressão nas nossas vidas, "janelas de oportunidade".
Eu aprecio o oportunismo, por exemplo, num ponta-de-lança do Sporting. Mas não sei se sou capaz de generalizar o apreço por esta característica às pessoas de quem gosto. Ou às outras todas, que não sejam pontas-de-lança do Sporting. Sai daí, Postiga, que estás fodido.
Portanto, das duas uma: ou eu não gosto de Sócrates, ou - e isto tem muito de cumulativo e de catárctico -deixei de gostar de vez.
4 - A questão de PachecoNão é irrelevante e é, até, a única a que falta responder (a do favorecimento, a meu ver, já está respondida na ausência de resposta):
"está bem, ele disse umas mentirolas quando era jovem - tinha 40 anos, mas está bem, foda-se, era jovem e impulsivo e essas merdas -, isso desculpa-se, mas agora é primeiro-ministro, tem maioria absoluta, e eu quero saber se ele não será tão leviano a tratar dos nossos assuntos como foi ao tratar do seu curriculum."
Isto é verrinoso, não passa disso, mas é a única coisa que pode ser dita sem parecer
chuva no molhado. E foi Pacheco Pereira quem a disse, em piso seco, pneus "slicks" em ordem, o sacana.
Consultório de besugo
Um
e-mail acabado de chegar, enviado por Santos Rocha, demonstra à saciedade que me encontro no interessante estado de "vigiado de perto".
Diz Rocha, crítico: "... a referência alarve à sua preferência em se debruçar sobre um par de mamas, no seu último texto, em lugar de o fazer sobre o tema
o que está mal em Portugal, demonstra bem a sua inutilidade e a sua cupidez xéxé...".
Rocha: não eram uma mamas quaisquer. Entenda como conseguir, mas ainda não me debruço de qualquer janela. No resto tem razão, Rocha. Mas da minha inutilidade não me dê você lições, uma inutilidade quer-se só, inculta, abandonada. Desensinada. Deixe estar assim.
Vá lavar-se por baixo, Rocha. Mesmo que ainda não tenha tido queixas, muito sabãozinho.
Consultório de besugo
Muitas pessoas me têm questionado, à vezes por
e-mail (mas sobretudo por telepatia e aerograma), sobre o que é que eu penso que está mal em Portugal.
De maneira que me tenho debruçado sobre isso, embora sem o deleite que experimentaria se o fizesse sobre um par de mamas.
Como sou uma pessoa organizada em termos do processo de mentação, comecei por tentar perceber por que raio me perguntam isso a mim. Demorei cerca de trinta e oito segundos a escolher a resposta C, que é "porque sei bastante disso". As outras quatro hipóteses (A,B,D e E) eram estúpidas. A hipótese D, "porque a culpa é toda minha, que sou uma alimária", era mesmo absurda.
Ora, como sei bastante disso, vou expor. Exponho aqui e poupo em
e-mails, aerogramas e telepatia. E dou à manivela a este blogue, que anda perro. Oleio-o. Torno-o oleoso, sim senhor, eu sei que há engraçadinhos que me lêem.
Ora bem. Eu penso que em Portugal não há assim nada que esteja muito mal. Comparado com outros países, não há assim nada demasiado odioso no nosso país.
O que está um bocadinho pior é aquilo de haver umas seiscentas mil pessoas que estão constantemente a bradar que há coisas que estão mal em Portugal, basicamente por dois motivos fúteis, que são "elas acharem que há muitas coisas que estão muito mal porque sim" e "elas acharem que está tudo muito mal por causa de já terem ido lá fora ver como é ou lerem muito".
Se se vedasse a estas pessoas o acesso aos meios de comunicação social, excepto em algumas retretes de algumas tascas antigas, em que o meio de comunicação social já se encontra cortado em pequenos rectângulos e se torna eficaz - mesmo em termos de tatuagem caduca - para aquilo que merece, ou se se interditasse a esta gente a penetração nos circuitos do poder (ou seja, nunca poderiam bitaitar de púlpito, quanto mais serem "a nascente do bitaite"), embora pudessem penetrar outros orifícios mais complacentes, enfim, tudo seria mais ecológico, no sentido de "fazer mais eco" e "ser mais lógico".
Deviam ser enviadas, estas seiscentas mil pessoas, para países africanos dados à chacina. Aí, sim, poderiam dar vazão ao seu apurado sentido crítico. Por exemplo, poderiam dedicar-se a dar na cabeça do Mugabe, tipo "ó Mugabe, pá, isto tá mal, tu sai mas é daí, pá, só fazes merda!". Seria útil ao Mugabe e ao mundo, isto.
E a Portugal.
Fora isto, está tudo bem. Ou menos mal. Ou não me aborreçam, pronto.
40 dias
Não vale a pena irmos passar a Páscoa a lugar nenhum. Ela passa por nós e pronto.
A Páscoa que passa por nós, aliás, passa bem sem nós; e não carece de observatório nosso, de miradoiro nosso, muito menos dum que escolhamos para o efeito de lhe ignorarmos a passagem, para passar.
Ela passará na mesma.
Ela passa sempre.
E, quando passar mais uma vez, ainda desta vez, nós saberemos que passou, uma vez mais. Mesmo que estejamos outra vez, desrespeitosamente, sentados de costas para ela, a fazermos de conta que ainda é carnaval.
Condicionais 1
Se houvesse uma cidade amarela e acinzentada, seria Évora.
De maneira que não disse nada e boas Páscoas
Eu gostava de conseguir escrever com a desfaçatez bárbara dos que estão habituados à impunidade, como o presidente do Benfica. Nomeadamente quando se refere a uma profissional da PSP com responsabilidades de comando como se fosse uma Barbie com ânsias.
Mas não consigo. Sem ser a brincar, não consigo dizer certas coisas.
E gostava de conseguir escrever, também, que contratar um punhado de burocratas americanos, ideólogos ou comparsas pagos dum sistema de saúde como o americano, toda uma vara "acortelhada" de americanos, uma corja infame, que tem andado empenhada, há anos, a foder os imensos americanos pobres que lá há, ainda por cima acolitados por um punhado de néscios de cá, versados na felação do empiema colectado, essa espécie de brochistas de abcessos que os babujam, babando-se neles, para virem cá fazer o favor de verem se o nosso sistema de saúde tem qualidade, é duma perversidade sem nome: vêm aí provar-nos o que já sabemos, que o nosso sistema não é bom, mas nada mais têm a propor-nos senão papéis com normas, procedimentos de papel, mais a informatização das normas e dos procedimentos previamente em papel, e mais o papel destas normas e destes procedimentos na optimização da nossa miséria até que fique igual à deles.
Mas não consigo. Sem medo de represálias e da chacota dos vendidos, também não consigo dizer certas coisas.
Solicitação seguida de proposta
Solicito às escassas pessoas que visitam este soberbo local que ignorem uma espécie de publicidade aqui inserida à falsa fé por um panasca qualquer, sobre uma marca de telemóveis.
Comprai antes dos outros, ou nem compreis nenhum, e ensinai-me mas é a tirar aquela merda dali. Eu pago-vos em aulas grátis de impropérios.
besugopedia
Com aquele rapaz que andou a atarantar a Maria Rueff antes do esqueleto que a ataranta agora, ou seja, era atarantada pelo Vasconcelos e agora é atarantada por aquele Nogueira sem ser o Nogueira Pinto, um que parece - anatomicamente - esgotar-se nos capítulos "ossos e articulações" do Gray, aprende-se que "as gónedas", ou "as gónodas", são perto dos "tintins".
Já as gónadas, ouvi dizer, são uma espécie de colhões, mas isso não se pode dizer aqui, de maneira que vão antes ao Abrupto.
da canga
Espreitei um programa da TVI (não é a novela dos Açores, hoje nem deu) e vi o júri.
Clara Pinto Correia e Marisa Cruz são o ramalhete feminino do júri. A cientista e a tonta.
Rui Zink e Carlos Quevedo, o masculino. Mais nada.
Não consigo emparelhar Marisa Cruz. Consigo, no item "os mais exaltados", no sentido de a "exaltação" ser um estado em que se está fora de si.
Sim, que "fora de si" o Zink nunca está. Nem a Pinto Correia.
Emparelhei, para o bem e para o mal.
Fico sossegadamente, sorridente.
Parecia o Sacavém contra o Infesta
A minha questão é esta, depois de ver o Benfica - Porto: como é possível o Sporting não ser já campeão nacional, antecipadamente, tendo já 21 pontos de avanço, mesmo a jogar com miudagem de casa?
E a minha resposta é esta: pode-se ser muito melhor e não ganhar; no entanto, caramba, são ambos tão fraquinhos, Porto e Benfica, que nem esta resposta me serve.
Boa semana.