Salazar não era vermelho (perdão, encarnado)
Nos directos televisivos de hoje em Santa Comba aparecia um indivíduo vestido de preto e com ar de caceteiro que fez questão de realçar ao repórter o pacifismo da manifestação popular a favor do museu. A apologia de Salazar por grupos neo-fascistas tem qualquer coisa de trágico-cómico, se se tiver em conta que a diferença entre um ditador fascista e o António Oliveira não é apenas de grau, mas é na própria essência. Para além da irrecusável falta de integridade moral que o caracterizava (bastando lembrar a forma intransigente e obsessiva com que se empenhou em destruir Aristides Sousa Mendes até à morte deste, sem se esquecer que, anos mais tarde, e com descarada falta de vergonha, discursou para o mundo lamentando não ter podido salvar mais refugiados) Salazar foi apenas um contabilista disciplinado que impôs a um país inteiro o seu próprio anódino, resignado e triste life style, onde não cabia uma pontinha de ambição que não passasse pela poupança (leia-se desinvestimento) e pelas acções de manutenção do ultramar. Por isso é que só se pode achar graça a estes caceteiros, que só conhecem a versão resumida e explicada em desenhos do Mein Kampf, ao pretenderem usar Salazar como bandeira para obter a possível penetração do movimento na populaça. Salazar e o seu sonho de país "pobre, mas honrado" aliado a uns poucos de jovens cidadãos desestruturados cuja auto-estima depende em grande medida de T-shirts pretas e de suásticas tatuadas, é, sem dúvida, um quadro hilariante.
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