Teatro de vanguarda
Apresentou-se seguro e sereno, com respostas seguras e serenas para tudo, incluindo para o que ninguém lhe perguntou; ia de cartilha estudada, munido dos papéizinhos necessários para desfazer os equívocos, as suspeições e as cabalas. Como sempre esteve alinhadinho, bem comportado, impoluto, pontuando o discurso com alertas, reiterados, para que todos tomem a devida nota da sua própria transparência. No entanto (como diria o José Pacheco Pereira), essa não é a questão essencial. Sócrates estudou exaustivamente tudo: o discurso, a imagem, a carreira; estudou até, eventualmente, a forma mais fácil e escorreita de poder ter um certificado que atestasse a sua formação superior. Fabricou-se a si próprio: premedita cada frase, cada expressão, cada chavão. Daí que não pareça tão importante assim que tenha logrado obter a absolvição. Fundamental, mesmo, é perceber que estes golpes palacianos nunca serão os adequados para o derrubar. Falamos de um mestre da fabricação, em que tudo é estudado com obsessivo rigor e infinita paciência – quase, quase como na engenharia.
<< Home