blog caliente.

31.3.07

Preto e branco e mar e azul e cinza e verde, sempre mais verde

Anda agora uma novela na TVI que decorre em São Miguel. Misturam-se imagens do Pico e do Faial e da Terceira? Muito bem: decorre nos Açores.
Mas é em São Miguel que se entretece a trama: eles misturam tudo, as Furnas com as Sete-Cidades, a Gorreana com o chazinho dos Câmara - mas é lá.
Não se nota é nenhum esforço para, sequer, imitar o sotaque micaelense.
E era um bom trabalho de actor.
Não se pode pedir isso a reformados dos morangos com açúcar? Nem sequer à Helena Isabel?
Está bem. Mas deve haver actores em São Miguel, sem ser o Medeiros - que nem é actor, nem tem sotaque -, capazes de fazer melhor do que esta seita de micaelenses frouxos e feitos à pressa, provenientes do continente lísbio.
A hospedeira da SATA é um desastre, parece que está de cinco meses e tem olhos de burra.
Bem, vão os canadianos todos. O Vingador, o Perdoa-me Mas Não Te Entendo, a Puta Velha e a Filha da Puta Velha. E a Solnado, enfim, como bicho. E o Campelo a fazer de mau - novidade!
A Sofia, essa, a que não é Aparício, quando aparece, parece sempre que vai tocar aquela merda dos "olhos d'água": vomita-se. A velha "abuela" que toca piano parece uma ema com uma ablação de sessenta e oito por cento do encéfalo. Ou por aí.
Vou ver isto. Não passo já sem isto. O homem sem cabeça há-de ser o Granger, o Rodrigues da Joana, a morcona inexpressiva da outra novela que eu via.
E vejo a minha antiga rua todos os dias, que mais quer um homem das ruas inteiras da sua vida senão repisar calçadas?

30.3.07

Os tontos do dever e do poder

Era a isto que me referia ontem, ao escrever assim.

Gente


"Prontos, mãe, vês? Fizemos uma banda. Chama-se "Tirem-me as pastilhas". É uma banda de blues, mas não há guitarras, é só metais.
Porque é que só eu é que não estou de pé, mãe? Porque sou só eu que toco, mãe, o resto da malta canta".

29.3.07

Pequeno texto censurado

A censura é minha. Não leiam. É uma estória censurável que deveria merecer particípio passado. Não o teve.

"Um génio atendeu o telefone da empresa hoteleira que lhe pagava e respondeu a um hortelão, que o indagava sobre "quanto custam três noites num dos hotéis da sua empresa?", que "custam oitocentos euros", ao que o hortelão lhe retorquiu "oitocentos?, que bem!, e chupam?", ficando o génio indeciso, de início, mas acabando por exprimir um duvisoso "por mais cem euros, enfim, acho que sim". "

Podas

Gostei de ver a reacção dos jovens que estudam na Universidade Independente a não sei o quê que mete bófia e reitoria.
Gostei, porque parte dos estudantes jovens da Universidade Independente têm, pelo menos, a minha idade. E porque aquele estudante de fato que estava mais dado ao "wrestling marceneiro" conseguiu arrombar uma porta de "tabopan" à terceira tentativa (até penso que caiu lá para dentro e tudo, com o impulso do fatinho e da televisão - enerva sempre mais, a pantalhinha).
Gostei, porque gosto de ver reacções, então destas ainda mais, fazem-me sempre rir, reacções recessas de recessos, alternativamente raivosos e contentes de o serem, tudo ao mesmo tempo no telejornal de micro-ondas.

Também gostei de ver aquele ministro que manda no dinheiro dizer que "sim, foda-se, que caralho, já disse que sim, às tantas baixamos um imposto qualquer - ou mesmo vários -antes de 2009!".
Gostei, sei que se isso se verificar é porque se pode fazer; e eu acredito muito na poda no tempo dela. E fora dela também, mas menos.

Gosto cada vez mais de quase tudo. O que deve significar um certo laxismo instalado no meu gosto; ou que, cada vez mais, quero que se foda; ou outra coisa qualquer, que também cedo à autópsia dos sentidos que queiram fazer-me, mas só no tempo certo.

28.3.07

armários de besugo

Isto é um pormenor sem importância nenhuma, mas a verdade é que Telmo Correia aparece agora sem óculos em toda a parte. Deve ver na mesma, quero lá saber.
Contudo, sigo.
Sei muito bem que não lhos quebraram, aos óculos, no Conselho Geral das Varinas Tontas: nem o vi lá, além de que aquela gente é mais de se "arrepelar e esguedelhar e aleivosar" do que de (se) bater.

O que registo nem é bem a falta dos óculos: é a frialdade glauca dos olhos de Telmo Correia, que, agora sem óculos, se nota melhor.

"Ah! É da miopia!" - disse Porfírio, vendido ao ano.

Está bem, está.

A como é a sardinha?

Já não se fala aqui de futebol há muito tempo. A bem dizer, não se fala aqui de nada há muito tempo, mas a gente trabalha.
Hoje é bola.

A Sérvia é um país a sério, como nós. Não é brincadeira. Já foi bombardeada pela ONU e tudo, nós ainda não, ali não se brinca. Aquilo não é uma espécie de Bélgica em nada. Jogam à bola, aliás, ainda por cima, bastante razoavelmente.

Eu já conhecia o estádio do Estrela Vermelha doutras transmissões, de maneira que quando vi aquilo, no início, tudo pintado de azul-branco-e-vermelho, mais o vozear alto, pensei: "estamos fodidos". Eu podia ter escrito "estamos a encarar problemas sérios, ora bolas, que aborrecimento, que ambiente este, assim ao mesmo tempo belo e assustador!", mas trairia, nesta forma polida de dizer o que pensei, o que pensei.

De maneira que, sem me trair, o que pensei foi isto: "estamos fodidos e o empate é bom".
Isto de pensar se o empate é bom ou não, é no início, não é no fim. No fim, já se sabe, "arrive" o coro das carpideiras, que olha para aquilo como quem olha para um sável morto na sertã, "passa-me aí o molho verde, sim?" e brada sempre "ah! empatámos, portanto quer dizer que podíamos ter ganho!".

Há uma espécie de pessoas que é assim. Geralmente, quando não é abatida cedo, esta espécie de pessoas tende a formar empresas altamente competitivas, que empregam outras pessoas que se matam a trabalhar para vender, digamos, quinhentos "taparuères" por ano, obtendo, no final do ano, mil euros de prémio e a obrigação de vender o dobro no ano a seguir. "Ah, vendeste quinhentos! Portanto quer dizer que podes vender mil! Certo, Valter?".

Ou seja, limite absoluto de besugo: é sempre possível fazer melhor do que o que já se fez, pelo que não vale a pena fazer nada - porque assim, ao menos, os químicos da álgebra malévola multiplicam dois por zero, o produto é um corno, produto da casa. Há quem chame a isto mercado, o meu filho mais novo também chama "Valter" ao pirilau dele, mas eu chamo-lhe "filhadaputice de gosmas frouxos, maus e doentes da cabeça", não ao pirilau do meu filho, ao mercado.

E o empate foi bom. Não é depois que se vai ver, nas contas finais, estão muito enganados. É agora que se vê. No fim, vê toda a gente.

27.3.07

Eis o mercado livre

Este blogue foi, nos últimos dias, assaltado por um parasita saltitante de publicidade, conforme se pode observar ali à direita. Sempre fascinada com o mundo da informática mas ciente de que há uma explicação positiva e científica para qualquer fenómeno, tratei de procurar no template o cantinho onde se alojou o obtuso quadradinho publicitário. Debalde, porém. O mercado livre continua ali, persistente e indiferente aos meus intentos. Resta-me aguardar que desbote, fazendo votos de que, antes disso, venda todo o stock de telemóveis a um bando de caloteiros.

24.3.07

Vai correr bem (2)

Amanhã já aqui temos a lolita, outra vez.
Ainda bem.
No entanto, devo referir que, como enviada especial a África, a lolita foi um fiasco : relatou aquilo da "écharpe" no aeroporto de Pedras Rubras e, aparentemente, depois disso, limitou-se a gozar as férias - a expensas do blogue.
Vais esmifrá-las, lola!

Claro, eu tenho tentado escrevinhar aqui umas coisas, tipo "olhem aqui, uma vela acesa". Mas faz sempre falta um lume grande quando a precisão é mais de calor do que de luz velada. E eu, de calor, enfim, "disso não tenho, já encomendei, mas agora não tenho; tenho esta velinha, sem aroma; quer?".

Boa viagem.

Letras tontas

Continua a não haver camas vagas no serviço. E já vamos em Março, vamos quase no fim dele.
Quem me ler e for internista sabe, por experiência, que não há doente nenhum que não seja nosso. O que nos enobrece, por um lado, mas nos fatiga muito pelos outros lados todos.

A senhora A, admitida por fractura trocantérica, tem febre. Que faz o dos ossos? Pede observação por medicina interna. Não é com ele: febre não é ossos. Fica com a medicina.

O senhor B, internado por traumatismo da cabeça, fica desorientado ao quinto dia e, detectaram os enfermeiros, começou a saturar abaixo dos 90%. Que faz o especialista da cabeça? Pede uma radiografia, ausculta-o? Não. Pede colaboração de medicina interna. Não é com ele, falta de ar não é dos nervos. Com a medicina fica.

O senhor C, que tem doença má nos intestinos (e espalhada) e, ainda por cima, deixou de obrar, é admitido na medicina interna. O internista pede que o cirurgião ajude e diga, sobre isso, qualquer coisa. O cirurgião vai e diz que é tudo da doença, o que já se desconfiava antes. E fica a olhar para o internista com um olhar igual ao do internista, a esperança toda nos laxantes. E só não pede colaboração de medicina interna porque entre a cirurgia geral e a medicina interna existe a cumplicidade tensa das estações terminais dos comboios todos: cada estação trata dos seus e todas se miram fundo.

Apeadeiros? Não somos: os passageiros vêm sempre deitados, quais apeadeiros? Não.

É por isso que não há vagas no serviço? Não sei.
Limitei-me a descrever duas verdades, decida quem souber se descrevi apenas uma. Ou mesmo nenhuma, que eu sou só internista.
E gosto de cirurgiões: são do mais parecido com um internista que eu já vi num hospital, logo a seguir aos doentes e à família deles.

Vai correr bem

O meu filho vai amanhã para o Algarve, com amigos e amigas, e eu devia estar contente. Porque devia lembrar-me de como me soube bem, a mim, com a idade dele, ir para longe, com amigos e amigas, sem os meus pais.
Mas a diferença é simples, qualquer um entende isto, se estiver de boa fé: é que eu nunca fui para longe sem mim; e ele vai.

23.3.07

Ides levar. Ides. Gosto de "ides", parece mal escrito, não é?

Não aprecio particularmente os belgas. São parolos e - suprema inglória - passam a vida a serem gozados pelos franceses. Que se lavam pouco. Ambos .
Isto das conversas é como as cerejas: vem um nevão, feliz Natal, traz-me mas é os bolinhos de abóbora.

O guarda-redes da selecção belga veio aí dizer umas coisas sobre hospitalizar Cristiano logo aos dois minutos de jogo, à patada, umas baboseiras de belga flamengo com fenótipo de metafêmea. Os valões não são muito melhores que os flamengos, aliás: é tudo parolada, ali.
Ali, é quase tudo Van - ou Mbo: que querem? É!

Bom. No entanto, aquele defesa do Chelsea que só joga de vez em quando, o "Bularruçe", é holandês - e a Holanda não é assim muito parola. E foi este javali do "Bularruçe" que se dedicou a dar patadas no Cristiano, no Mundial, até o abater.

O Benelux é muito lindo, muito limpinho nas ruelas. Mas tem ruelas demais para a limpeza, conceito absoluto. Nem é de parolice tripla que se trata aqui, é de higiene: também me chateia o Luxemburgo, esse naco curioso de terreno que dá mais letras a uma sigla de três (Benelux,sim, filhos, é do Benelux que se fala aqui) que os outros dois.

De dentro da cerca

Excelente entrevista de Judite de Sousa a Valentim Loureiro, partindo do princípio que uma excelente entrevista não pressupõe interactividade dialéctica, dicotomia pura, que não se limita àquela coisa do "pergunto eu, respondes tu".

Por falar nisso, dei por mim a pensar que José Sócrates é, provavelmente, um dos tipos mais parecidos com o ex-vocalista (e autor) dos "Ban" que eu conheço.
Sócrates não é parecido com João Loureiro, não é isso que eu digo: tenho olhos.
Eu digo isto: que na terminologia, na atitude, na maneira como pega no microfone, na vocalização da ideação simplex, Sócrates podia ser vocalista dos "Ban", sim, mas não presidente do Boavista.

Que tem isto que ver com Valentim Loureiro? Nada. Nem com ele nem com ninguém, de facto. Aliás, se fizerem o favor, considerem isto como um mero e gemebundo balido de cercado.

Nos blogues, por aí

Este texto de Pedro Von Hafe, mostrado por José Pedro Nunes, é um excelente e singelo naco de análise.
Não falo aqui como médico, nem sequer como internista - que também sou. Professor é que não sou, aí não cheguei; mas li na mesma.
Li, pronto. Basta-me estar de chinelas de ourelo para ler e, portanto, li: está bom.

"Defendo que a avaliação de qualidade deve depender muito mais de dados processuais do que de dados de resultados", afirma-se. E explica-se por que deve ser assim.

O texto é simples e centrado. A ideia é clara.
Defendo-a sempre, desde sempre, extrapolando - sempre que posso - do circunscrito conceito de qualidade nos cuidados de saúde para a qualidade da vida inteira.
Concordo inteiramente: dados de resultados são dados sujeitos à inquinação dos próprios resultados, descuidando a forma como resultaram assim; dados processuais são inquinados de muitas coisas, sei algumas, mas, ao menos, pelos resultados, não são.

Não se julga um acto pelo resultado. É pelo acto puro.
Acho que deste atoleiro não sairei nunca. Nem eles, pelos vistos. Ainda bem.

Curioso é o comentário que já lá está, dum anónimo. É uma espécie de mote para um gag do RAP. Uma pedrada no charco do lado. Leiam, vale a pena ler um anónimo no seu pior, ainda por cima sabendo que se assinasse seria igualzinho. É o comentário tipo "Ah! e tal!" em que, acerca dum texto sobre coisas "como punhos", o anónimo quase que se vem - num onanismo tonto a propósito de consultas atrasadas de Ortopedia.

22.3.07

Vai, Jaquim

É tramado, o Saraiva.

Chegou lá hoje, com a família toda de requitó, e pareceu-me pior. Mais fraco, ainda mais exaurido da armação do que já estava há quinze dias. O fígado mantinha-se na pasmaceira de permanecer igual a ele próprio, é o fígado que tem, está na mesma, ocupando-lhe a barriga inteira. E as análises estavam quase desastrosas, do ponto de vista do "que te vou eu fazer agora, Saraiva?".
Mas vinha a andar, ligeiro, quase saltitante. E a família saltitando-lhe ali, também, atrás dele, sempre atrás dele, mimando-o em todos os sentidos, aligeirava-se nele. E ele, mimo de si, nela.

Estranhei aquilo. E perguntei-lhe a que se devia aquela agilidade toda, curioso, como todos os ignorantes, da novidade. Ele falou:
"- É que estou cada vez melhor, sabe? É dos tratamentos. E de treinar na bicicleta fixa. É disso e dum bacalhau frito, que comi ontem à noite e que me fez bem, com broa e azeite do meu."

A broa. A triga-milha. O azeite. A bicicleta.
O velocípede do pão de milho incorpora a fé dos fortes e, se tudo for regado pelo sumo da azeitona nova, dá ganas de campainhar pelo Joaquim Agostinho. E de o chorar de novo, num sorriso de salgadeira.

Os Reis de Março

Começou a Primavera, de forma que fui lá fora ver se a via, ou se a sentia.
Não estava. Não a vi, não a senti.
Mas estavam lá fora três graus centígrados, de maneira que cumprimentei os três polidamente, isto porque, embora não os tendo visto, senti-os bem. Estive para lhes cantar os Reis.

Isto do tempo tem que se lhe diga.
Eu já vi nevar em Maio, no Douro, em pleno tempo das cerejas. Há dez anos.
Já me aconteceu estar para a serra, a ver se via a neve, isto foi no Inverno antes deste último, e vi - mas foi pela televisão -, vi nevar no país inteiro - Alentejo e Estremadura incluídos -, menos lá, na solarenga serra.
Já me sucederam coisas antes do tempo, depois do tempo e fora do tempo.
No tempo certo também me aconteceram coisas, mas as coisas que nos acontecem "no tempo certo" ocorrem tão discutivelmente "no nosso tempo certo" como as outras todas, de maneira que parece que se chega à conclusão - e eu também chego, descansem - que vim aqui dizer, basicamente, que está frio demais para mim. Ou ainda menos do que isso: que está frio.

21.3.07

Revista da semana

Há um sinistro controle sexista de passageiros em Pedras Rubras que, pese embora a boa intenção, faz lembrar os métodos nazis de separação dos prisioneiros a caminho de Birkenau. Mulheres para um lado, homens para o outro. Despojam-nos, com firmeza, de todos os apetrechos; desconfiaram até da minha écharpe, que quiseram desenrolar para se certificarem de que não escondia... um frasquinho de explosivo líquido?...
Na Portela é bem pior: as regras anti-tabágicas levam-se muito a sério. Quando já tinha desistido de procurar um "smoking point" descobri o café do Harrods', onde, felizmente, ainda qualquer céptico das directivas de Bruxelas pode fumar sem se sentir um delinquente.
Entretanto, vejo que o Alonso, entre o impiedoso e o desolado, expõe num desabafo aquilo a que se poderia chamar de "requiem pelo CDS-PP". E o Besugo fascinou-me com as persignações futebolísticas. Já esclarecida sobre a matéria, exorto os benfiquistas para que se persignem o mais que possam, que o dia 1 de Abril há ser o do Juízo. Para além de tudo, há boas notícias da Invicta: vários noventas que me enchem de orgulho.
No governo, continuam a surgir sinais inquietantes: hoje, andaram alguns ministros a declamar poemas -o que, visto à distância de uma pequena ilha do Atlântico, é ainda mais pitoresco.

O Tema Quente ...

É esse partido com 2% nas sondagens que já foi CDS, já foi PP, agora é CDS/PP e sabe-se lá se no futuro será ainda alguma coisa.

Há quem diga que tal partido não passa de um equívoco. Depois do 25 de Abril surgiu como o único partido que não tinha Marx no programa, mas que ainda assim conseguiu - à justa - passar no crivo político do MFA e apresentar-se às eleições da constituinte. Ficou para sempre associado à imagem de partido da direita, dos saudosistas reaccionários, porto de abrigo e (única) opção de voto possível para quem, se o 25 de Abril não tivesse acontecido, também o não faria.

Os dirigentes - apesar de terem votado sozinhos contra aconstituição de 1976, o que quase lhes custou a clandestinidade - estavam à esquerda das estruturas, as estruturas à esquerda das bases, as bases à esquerda dos votantes. E esse equívoco só se desfez com o regresso falhado do Freitas do Amaral, no início dos anos 90.

Por outro lado, há quem pense que esse partido cumpriu uma função importante, a de "integrar" no jogo democrático e no regime que se seguiu à Constituição uma parte da sociedade (pequena, mas existente) que teria, de outro modo, mantido uma postura de alheamento de tal jogo (ou, no caso de alguns mais radicais, de confronto com ele). Esse papel foi cumprido, e esgotou-se, em cerca de 5 anos.

Assim, e de algum modo ironicamente, o papel do CDS foi o de fazer a "ponte" entre o regime findo em 1974 e o que, constitucionalmente, começou depois do PREC, ou seja, de 1976 para cá.

Isto dito, o que é e que interesse tem tal partido em 2007? Não sei. A direita portuguesa - se é que tal coisa existe, porque neste País toda a gente acha que o Estado é que tem que resolver tudo - não é liberal. O conservadorismo popular está no PSD (até porque gosta do poder). Uma direita teórica/ideológica (cfr. blog futuro presente) nunca sairá da cátedra, a não ser que o poder lhe seja oferecido de bandeja (como aconteceu com o Salazar). A direita tecnocrática está no PSD (até porque gosta do poder).

"Grilo falante" da direita? Falta-lhe neste momento capacidade interna para tanto, até por estar dilacerado por guerras intestinas, de que os lamentáveis episódios do último Conselho Nacional são apenas espelho, ou inevitável consequência.

Muleta do PSD, para que este possa dizer que é de esquerda, e assim melhor captar os votos do flutuante centro eleitoral? Triste coisa, se é essa a sua real utilidade de hoje em dia.

Sinceramente ... não sei.

(to be continued)

Aforismos

A Dra. Maria José Nogueira Pinto parece preconizar uma cisão no PP.
Eu acho bem.
Em termos de expressão numérica, tudo se passaria como se trinta por cento dos noivos de Santo António que se desposaram desde, digamos, mil novecentos e sessenta e nove, se separassem agora: se considerarmos os(as) que já morreram, os que entretanto se divorciaram, juntando a estes(as) os(as) que assumiram relações de facto com parceiros(as) do mesmo género e, acima de tudo, os(as) que sustentam amantes e só vão a casa para deixar a roupa suja na Hoover, meus amigos: cisão se faça.
Dava isto para meia hora na TVI, antes do programa "As parvas e os complementos indirectos", seis horas na SIC (contando com quadraturas e eixos), na RTP dependeria de jogar ou não a selecção - e de Marcelo optar por se referir ao tema ou, em alternativa, a outra merda qualquer. Para Portugal, no fundo, a ocorrência teria o efeito de quando se vê o boletim meteorológico: se for de Verão, geralmente, em não chovendo, está sol; se for de Inverno, também está bem.

Agora se não houver cisão, é outra coisa.
Mais grave.
O PP é um partido que, em não se cindindo, caraças! Aqueles portentos novos todos ali atrofiados? Nem quero pensar.

Al(lg)arves

O departamento de marketing do governo (espero que paguem bem a estes tipos, sinceramente, até para eles poderem gastar em precisos, como por exemplo sabão amarelo, colgate com gardol, pitralon e quitoso), com esta história do All Garve, ainda nos vai arranjar uma espécie de Gibraltar em casa, mas um Gibraltar agravado e em mais plano.
Dos macaquinhos nem falei. Repararam? Eu repenso!
É da maneira que o Figo pode, nas férias, ir treinar a um estádio da League One, o do Allgarve United. Cumprir o sonho.
E parece que também vem aí o Beckham, mais a Victoria. A Principal.
E o China já lá está.
O Chaina.

20.3.07

missões e missas grandes: que paramentos em cada cerimónia?

O prometido é devido.
Por conseguinte, é penetrado duma placidez reflectida que aqui volto, hoje, para cumprir duas missões.

Uma, foi-me encomendada (a mim e ao alonso, mas ninguém sabe onde pára esse fugidio indivíduo, homónimo do menos predestinado dos campeões do mundo de fórmula um que já houve - Damon Hill incluído -, esperando-se que não esteja - ao menos - a preparar um texto de desagravo ao militante do CDS-PP que se cuida vítima de discriminação racial apenas porque não reside na Cova da Moura, exercendo a presumível plenitude das suas funções vitais, o portista militante, outrossim, em Viseu; que é um sítio bom para as minorias, como é consabido, que o digam os ciganos) pela lolita.

A outra, é o resultado duma análise serena e perfeitamente desprovida de interesse (como costuma acontecer-me amiúde) sobre o jogo Braga - Naval.

A primeira missão remete-me ao desafio da lolita, evidentemente, já disse isto, um que ela deixou aqui escarrapachado ontem, antes de partir para aquele país que depende do Senegal para se arranjarem uns comprimidos de"Bactrim": perguntava-nos ela "como contornar um regimento partidário".
Pois bem: no caso de Paulo Portas, com cautela. Sempre sem virar as costas ao regimento. Repare-se que não se fala aqui dum pelotão: é dum regimento inteiro. Ora, portanto, dada a multiplicidade de cargas genéticas que se encontram ou podem encontrar num tão vasto e heterogéneo (ia a dizer heterossexual, mas não posso afirmar isso, estão a ver como reflicto cada vez mais?) aglomerado de pessoas do mesmo "género" (viram que não usei "sexo"?, isto evolui!), dizia eu que dado isso tudo, portanto, " contorna-se com muita cautelinha e sempre a encarar o regimento, sempre de olhos postos nos da fila da frente, pelo menos, e o mais rente à parede que for possível!".
Sobre isto, era isto.

Sobre o jogo Braga - Naval (do qual só vi os últimos dez minutos) posso dizer que tudo aquilo foi uma roubalheira, com um penalty assinalado àquele jogador figueirense que já jogou no Sporting e que se chama Mário Sérgio - o que é estranho, mas é verdade, ambas as coisas são verdadeiras, chama-se assim e já jogou no Sporting - que nunca existiu. O árbitro, cuja graça não recordo, não hesitou na exibição do cartão amarelo, nem no apontar da bolinha de cal que indica donde se chutam as roubalheiras, nem no sorriso pulha de quem não sabe o que está a fazer mas acha que sim.
Acresce que grassa uma onda de indecisão entre os comentadores futebolísticos, actualmente, quando se trata de analisar se houve "mão na bola" ou "bola na mão". Os comentadores da bola são, hoje em dia, uma espécie de analistas da subjectividade, o que não deixa de ser pitoresco quando se está a falar de futebol, que é o desporto mais fácil de analisar do mundo inteiro: até o pólo aquático é mais difícil, e nem sequer é só por mais de metade do corpo dos praticantes estar submerso.

Ora bem. Eu ensino. Considerem isto uma "regra simplificada de besugo para comentadores que lêem merdas esquisitas e aplicam conceitos psico-filosofico-poetico-jurídicos às leis da bola".

Parágrafo único: é permitido a um jogador abrir os braços, ou persignar-se, ou, mesmo, limitar-se a não os amputar - aos braços -, antes ou mais ou menos ao mesmo tempo (friso: "antes ou mais ou menos ao mesmo tempo") de o caramelo fução que quer rematar a porcaria da bola o fazer. Se a bola, chutada nestas condições, embater numa parte qualquer dum dos membros superiores do indivíduo que defende - sem ser o guarda-redes, mas se for tanto melhor, excepto se for fora da área, porque aí só o Vítor Baía é que tinha uma regra especial - não é penalty. E o jogo segue.

Eu simplifico a regra, um dia destes. Por hoje, acrescento apenas um exemplo prático.

Exemplo prático:
Vamos supor que o Simão Sabrosa está preparado para marcar um livre à entrada da área, contra a minha equipa. Já está com as beiças arqueadas e tudo, e já foi focado ao perto pelo repórter de imagem - para se perceber que o tipo tem mesmo aquele aspecto.
Eu, que sou - suponhamos - um "trinco" dos outros desgraçados, e que até já levei um cartão amarelo por ter acertado uma canelada no cu alçado do Simão Sabrosa, e por ter - adicionalmente - chamado fiteira (entre outras rimas) à hiperlordótica criatura, e ainda (se para aí me tivesse dado, suponhamos que possuía o temperamento dum Petit ou dum Jorge Costa) por ter apodado de tubérculo podre ou de alheira o senhor juiz-árbitro, posso, mesmo assim, nesta impunidade tenebrosa, perfeitamente, colocar-me imóvel, desde que o faça à distância regulamentar - que é aquilo dos nove metros, contados em passinhos ou passões de árbitro -, de braços abertos, como se fosse o Roger Daltrey no "Tommy" a cantar "I'm free!" e, assim especado e vagamente crucificado nessa minha liberdade de assim estar, aguardar que o pequeno vilarrealense com sotaque de Cascais chute a bolota com a força que puder e a direcção que conseguir.
A regra que se aplica é esta: se a bola assim rematada pelo pequeno gnomo for contra um dos meus braços, que se quedaram imóveis e alheios à esférica trajectória, já estou como dizia o Francisco José Viegas, uma vez, citando um brasileiro de maus fígados - coisa que não entendo por ser desprovido de maldade nessa esponjosa víscera -, sobre as bolas ao poste - " que foi mas é bola mal chutada!, qual penalty, qual cabaça, siga mas é o jogo" (*). E estava o Francisco José Viegas, esse hooligan perigoso, coberto de razão (até porque tinha sido um tipo do Benfica a chutar ao poste, que eu bem vi).

Claro que pode sempre vir aí algum purista destas coisas, cheio de virtude "made in play-station by CA", recordar-me: "Ah, seu parvo!, aquilo em Braga nem foi de livre, nem o Mário Sérgio estava imóvel! Cala-te!".
OK. Pois não. Mas estava de costas, pá! Estava de costas, pá! E, que eu saiba, um jogador do Braga (mesmo que fosse o João Pinto, e não era ele, mas mesmo que fosse!) não é um regimento! Por isso, pode-se estar de costas quando ele chuta! Cala-te tu!

Ora aqui está onde eu queria chegar. Missão cumprida. Grande missa.

(*) Penso que o Francisco José Viegas , se bem me recordo, não chegou a ir tão longe nesta análise, na altura. Penso. Mas às tantas foi; e eu é que não dei fé.

Para que não se pense que isto é à balda e que não sei quê

Problemas vários, que envolvem uma reflexão séria sobre o que é a blogosfera e - embora menos - a vida, têm feito deste blogue uma coisa mais inútil e inactiva do que uma prótese auditiva sem pilhas colocada num rim hidronefrótico, ainda por cima com intenção correctiva.

Pela minha parte, nunca mais escreverei nada que não me seja ditado pela sensatez. Pela minha sensatez, evidentemente, que é bastante grande e competente. E, já agora, também pelos bons costumes. Que são, por definição, isso mesmo.

Haverá, e isso será notável e notório, uma inflexão reflectida nos meus escritos. Serão, a partir de hoje, mais contidos e pensados. Serão repensados. Ruminados. Ou seja, nunca mais escreverei directamente do folhoso.

Dito isto, começo por afirmar que Paulo Portas é um ser que não me merece a mais pequena confiança nem consideração, um ser extremamente detestável, e que, ainda por cima, devia apertar mais um botão da camisa - ou dois, vá, dois era melhor - quando fala às massas com ar de esgrouviado. Isto porque é, por um lado, desprovido de músculos peitorais e, por outro lado, praticamente raquítico. E parece ter ali, na zona da quilha, pêlos finos. Pouco adubo, fraca vegetação? Sinceramente não sei.
Além de que - e isso seria ao menos interessante do ponto de vista etnográfico - não tem sequer cara de cigano: mas é um dos piores que eu conheço e olhem que eu até conheço muitos ciganos bons.
Muitos não, pronto; só alguns. É como tudo.

Aqui, não se desperdiça uma janela de oportunidade.

Como se viu, a emissão esteve interrompida por motivos alheios à nossa vontade.
Continua a partir de hoje, com um restyling à direita (besugo, tu não te estiques) e, durante esta semana, com reportagens da África profunda (espero eu).

Quanto a vocês, Besugo e Alonso, aproveitem os temas quentes: teorizem sobre o tema "como contornar um regimento partidário" e entretenham-se a arranjar designações modernas e competitivas para as restantes regiões do país. Para a Madeira, por exemplo, sugiro All Garden.
O Stkaneko, esse, já se sabe. Há-de estar a festejar a vitória in extremis na Reboleira - mas, como sempre, nem sabemos.

9.3.07

Endogenia comunitária

Mais um passo (se vier a ser) a caminho da uniformização europeísta: o livro único da Europa. Que seria pouco mais do que indiferente se não se pretendesse que seja um manual escolar da história reescrita da Europa que, afinal, há pouco mais de cinquenta anos, era apenas um continente com nações dentro, bem mais longe de ser a união que hoje ainda é apenas institucional, o que é muito pouco. A ideia de uma história da Europa é, por outro lado, excludente do que se passa fora dela, o que pode significar o ressurgimento da ideia despudorada de superioridade civilizacional, que nunca morreu mas se manteve em cativeiro nas últimas décadas em nome do politicamente correcto. Para além disso, o maior absurdo desta ideia reside no seu grau de abrangência: ficariam de fora os países europeus não membros da europa comunitária? Parece que sim. Redefinir-se-iam, portanto, as fronteiras da Europa relevante. A Turquia será, se for assim, cada vez mais asiática.

8.3.07

Douro dourado



Trinta e quatro telas imperdíveis sobre o Douro, desde a nascente até a foz e passando pelo Douro vinhateiro, em exposição no Palácio de Cristal e que acabou hoje. Não as pude ver ao vivo mas encontrei-as aqui (clicar em galeria). De Balbina Mendes.

Técnicas de persuasão

Percebe-se o que quer o Miguel Silva dizer, quando salienta o leit-motiv visível - a protecção dos direitos de quem não fuma - da campanha anti-tabágica. Mas, a ser assim e em nome da coerência, restringir-se-iam também outras actividades potencialmente danosas ou poluentes das quais não resulte um qualquer ganho económico ou social. Por exemplo, que é absurdo, proibir-se-ia a circulação de automóveis em deslocações que não fossem de carácter estritamente profissional, para que pudessem diminuir as emissões de dióxido de carbono (bem mais perigosas do que o fumo do tabaco). Não me parece, de facto, que a razão decisiva das ânsias anti-tabagistas se restrinja à promoção da saúde de quem não fuma; parece-me, muito mais, a imposição de um projecto de vida saudável e asséptica, europeia no pior que isso significa ao nível da obsessão reguladora da vida dos cidadãos, que nos querem não apenas impor como a única socialmente aceitável como inculcá-la nas nossas cabeças como a mais proveitosa. Para garantir a eficácia do plano, o Governo convidou todos os cidadãos a fiscalizar (e a denunciar) os prevaricadores que fumem nos locais agora proibidos. Seremos polícias uns dos outros, determinados no objectivo de obrigar os fumadores a reconhecer que não devem fumar e, sobretudo, que essa acção repressiva é exercida no seu próprio bem. Bem esse que, insistem em fazer-nos crer, é igual ao bem de todos os outros.

6.3.07

A triste noite do FCP

Um jogo de futebol em que se decida um "tudo ou nada" pode transformar-nos em involuntários fiéis de uma teologia da redenção. Hesitamos entre confiar, temendo que a confiança nos traia e entre desesperar, temendo que o pessimismo nos culpe. Insistimos que há detalhes que são bons presságios e actos falhados que nos destinam ao infortúnio. Vagueamos entre a razão e a fé, entre a justiça e o poder. E a certeza, funda, que tínhamos na vitória dos mecos londrinos era tão certa como a crença de que os primeiros quarenta e cinco minutos foram nossos, por justiça divina.

2.3.07

Imagens de arquivo

Não há exemplo de uma reportagem televisiva sobre a OPA da Sonaecom à PT em que não apareçam as imagens dos Azevedos sorridentes e ufanos a entrar na sala onde anunciaram a oferta, acompanhados pelos acólitos assessores de entre os quais se conta o Carlos Osório de Castro, agora de figura bem mais esbelta do que há uns vinte anos atrás, quando, na Católica antiga da Rua do Paraíso da Foz (onde ainda havia, imagine-se, pastos e gado de pastoreio), ensinava sobre as posses e os esbulhos.

View blog authority