blog caliente.

27.2.08

da bola

Só há um programa sobre bola que vejo e em que gostaria de participar - e, já agora, no lugar de Fernando Machado, que é um sportinguista do Porto, estilizado à "nerd", uma coisa fina, uma coisa muito "sei lá", e émulo infradecimal e alternativo daqueloutro sportinguista que se chama Rui (sem ser o Rui Moreira, presidente dos comerciantes do Porto, mas o programa, neste caso, é diferente, é aquele programa apresentado pelo 6º gajo que, em Portugal, mais sabe de bola, o Carlos Daniel, aquele em que entra também o cineasta que fala à beirão mas que conseguiu pôr aquela gaja bimamária e monocórdica que andou a papar o padre Amaro, naquele filme Eça-softcore, a desdenhar do oleoso cidadão encarnado por Nicolau Breyner - o que é inimaginável para cegos e para surdos e, ainda mais, para quem não tope de ginjeira o ex-autarca de Serpa, ou seja, para qualquer indivíduo monossensorial), esse Rui das estatísticas, um careca que tem um bocadinho cara de quem está sempre a calcular no vácuo e que, a estar ali, já agora, era na régie, a fazer contas de cabeça, a percentualizar sem chama em frente a um PC ligado a uma rampa de oxigénio.
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"A bola é redonda", no Porto Canal, vale pela ambivalência lipídica tipo "estou hoje, como sempre estou, gordo e para onde me dá" de Manuel Serrão (que é das poucas pessoas em Portugal destinadas por Deus, em termos de morfologia expressionista, ao celibato onanista, que se dá ao trabalho de se enfeitar com adereços modernaços, talvez derivado ao facto de trabalhar em féxen e ter a noção de fazer parte daquele grupo de homens que proporcionam o chamado bi-gozo ao femeeiro, que é "quando estão em cima e quando saem, finalmente, de cima" que, uma vez entregue ao exercício da derrapagem neuronal no gel capilar, ainda pensa que há algum mistério no sucesso do FCP que não se esgote na óbvia evidência de o FCP ter sempre melhores jogadores - desde o tempo do Cubillas!- que os outros todos, excepto, isto para ficarmos só pelos nossos dias, o Liedson, o Rui Costa - e o Vukcevic, já agora), pela maneira muito "estou lixado do feitio mas vou conter-me porque tenho fama de calmo e a minha vida não é esta" com que Paulo Ferreira do Amaral debita factos pontuais como se fossem jurisprudência, pela irreverência benfiquista de Raul Lopes, o único benfiquista idoso que, questionado sobre os maus resultados sucessivos do Benfica, consegue responder que "o Sporting e o Porto e o Milan são clubes irrelevantes" e chamar "ó Aida", o que, num benfiquista, é cada vez mais raro, e vale ainda pela persistência - quase conseguida - de António Sousa Cardoso em analisar o Benfica mais ou menos a sério, embora sorria cada vez mais perante mais uma época de desencanto e, the last but not the least, ainda vale por José Fernando Rio, outro andrade contentinho, não pelo que diz - diz pouquito - mas pela maneira como consegue afigurar o risco ao lado de forma praticamente rectilínea enquanto fala sem entreabrir as beiças mais do que 0,7 mm, saindo, mesmo assim, algum som.
O programa é apresentado por um jornalista com nome de artista de circo romano que, quando sorri, mostra ter mais 37% de área de gengivas do que de dentes e que, vejam lá isso da falta de cadeiras, está sempre em pé. Se não tivesse o nome que tem - Rémulo - podia chamar-se, portanto, Zé Tolas. Ou Paulo Borges Varizes.
Se puderem, não percam. É conversa de café, pura, sacana, sabida e engraçada.

21.2.08

Las moradas inútiles

É preciso controlar a infecção nosocomial nos cemitérios

Não sei se é só nos filmes e nos documentários mas, se não for só nos filmes e nos documentários, é bizarro, depravado, "kinky"; e remete-nos ao "manual dos procedimentos", coisa útil nos nossos dias, pode ser que sim, que seja mesmo fundamental, mas é género sebenta.
Eu refiro-me, particularmente, àquilo que se passa quando vão executar alguém com cloreto de potássio, acho eu que ainda é com cloreto de potássio que fazem isso, KCl em alta dose, o capacêèle injectado em "bolus" na veia mais à mão do antebraço do desgraçado ou da desgraçada que se decretou assassinar.
Para que é que desinfectam a área da picada, antes da picada? É para prevenirem uma espécie de sepsis-tumbae? Para pouparem nos antibióticos? Nas campas de isolamento?

Je te trouve très mignonne; mais moi, tu sais, je suis un huppert-sensible


A frase do título li-a algures; não é minha. Fora da boca, aliás, nenhuma frase tem propriedade.

18.2.08

Futebol total

Estava Eça a escrever, de pé, num comedoiro qualquer em Newcastle, quando, nisto, entrou Ramalho.
Eça, que nunca se empiteirava mas, naquele dia, estava com vertigem alucinósica, bradou logo: "ó Santo Antero!, que fazes tu, amigo e pai, por estas terras de carvão?". O outro, no seu comedimento de secundário temperamental, pediu um chá e corrigiu o magro adunco de monóculo: "Sou o Ramalho, Zé Maria; o Antero está em Ponta Delgada e consta que vai matar-se um dia destes...".
Eça entusiasmou-se: "Não vai nada, os Santos são mortos, não se matam! E como vai essa bizarria, hem, Ramalho? Tem-se lido muito a "Revista de Portugal", pelos Brasis ao menos? E aquilo do Faria? Coitado, o Faria, longe de mim querer-lhe Paris para mim, tu bem sabes, Joaquim Pedro, tu conheces-me, mas se Paris o já não quer a ele... quero eu Paris!".
Ramalho respondeu-lhe fora de tempo: "Desculpa, Zé Maria. Eu sou dragão de ouro e Eanes de apelido; Joaquim Pedro é o caralho do Oliveira Martins. Estás talvez confuso...".
Eça suspirou.
"Não estou, não, não estou - disse Eça, rabiscando mais Fradique -, não estou nada confuso. Estou é aqui de pé desde "A cidade e as serras" e isso faz-me mal às varizes: e a Sra. D. Carolina?, continua a banhar-se nas salinas de Gaia, em pelota?"

11.2.08

Regras minhas

Nunca aqui escrevi nada de jeito, nem em lado nenhum. Eu sei disso com a imperfeição dos que, de si, só sabem que não prestam para grandes coisas.
Mas escrevi aqui com alguma assiduidade, em tempos. Tenho essa responsabilidade: atulhei isto de palavras. Ocas, bacocas, barrocas. Tonterias locas. Y pocas.
Agora já não consigo tanto. Já não consigo mais. Agora, já não consigo atulhar nada. Nem sequer mal, como era uso. Já não atulho: entulho.
Os motivos são alguns.
Já não tenho velocidade para o mundo. Fui ultrapassado pela aceleração global do globo inteiro e sinto-me um bocado em fora-de-jogo posicional. Eu isto explico melhor depois. (*)
Bem para além do problema da velocidade do mundo, acontece que este blog era a várias mãos, era um blog peculiar; era marginal, não fazia broches, mas era ..."sui generis"; e sempre foi, pelo menos, um tango a quatro mãos. Depois foi ficando maneta, maneta, cada vez mais maneta... e a duas mãos é que não dá, já não dá, já mal se aguenta. Foi ficando "vítima da talidomida moderna", um blog "amélico".
Por outro lado, eu não tenho muitos pensamentos. Já tive mais, nunca tive muitos, mas admito: já tive mais. E os que tenho (mesmo os poucos que tinha) já os disse todos.
Ou quase todos.
Suponho que os disse quase todos porque acredito que ainda posso, talvez, ter mais alguns. Não digo "pensamentos sérios, jurisprudências", mas "repensamentos: regurgitações do folhoso".
Umas doideiras ocasionais, coisas que me parecem claras mas com que ninguém concorda, continhos para eu ler sozinho, aforismos, pequenas contabilidades, meia dúzia de frases de almanaque: há sempre o Sporting, os meus pequenos ódios viscerais, as minhas incorrecções de cisma, as minhas cismas mal fundamentadas, os meus amores e desamores, todos esses amargores metidos num vidrinho que ainda guardo - mas só para recipiente deles.
Este blog é o meu frasquinho? Não. O frasquinho é só meu. O blog nem meu é, quanto mais só meu.
Ninguém lhe liga? Nem a mim? Está perfeitamente bem.
Enquanto o blogame mucho existir e eu puder escrever nele, fá-lo-ei. Sempre que me apetecer, mesmo que seja de ano a ano. E sempre cada vez com mais cuidado. E cada vez mais raramente, por decência.
(*) Fora de jogo posicional é quando um tipo pensa que está sossegado num sítio e lhe começam a fazer sinais com uma bandeirinha; e quando o tipo dos sinais saca duma arma, acreditem, nem que ele puxe apenas duma pequena adaga, mas acreditem mesmo nisto, percebe-se que é "livre" contra nós. Percebe-se que é contra nós e percebe-se que "ser contra nós é livre" e, a dada altura - até porque ainda cremos ser longe da nossa área - já nem formamos barreira.
Pode dar golo? Pode. Perdemos todos, geralmente, mas o dedo apontado queima mas é nas costas do que estava fora-de-jogo. Posicional. E longe.

9.2.08

Ó Paulo Bento:

Deixa-te lá disso dos "bufos". Sempre os houve e há-de haver.
Hoje é assim que vais fazer: mete o guarda-redes que entenderes; aliás, mete a equipa que entenderes, os jogadores escolhes tu, tu escolhes tudo. Eu só te mando fazer isto e aqui não tens escolha: aumenta-lhes a pressão; estão pressionados, ai, ai, estão pressionados?, coitadinhos, estão?, então aumenta-lhes isso, fá-los entrar em campo como se dependesse do jogo com os pataratas do Marítimo a refeição que vão comer à noute. A da noute, a da manhê, e o jantar e a ceia de amanhê, também.
Queres a palestra? Pega lá, pá. Eu devia fazer isto sempre, mas não me pagas para isto. Imprime e lê aos gajos. Vai de borla.
"Vamos lá para dentro ganhar o caralho do jogo e não há nem meio , nem sequer mémé, é ganhar o caralho do jogo e ponto final. Já se sabe que há muitos problemas, essa merda da psicologia e da motivação, já se sabe, sois uma putas ardidas e problemáticas do ponto de vista do desgaste, mas hoje é ir lá para dentro e ganhar, asfixiar os gajos, dar cabo deles. Andor. Depois ides a uma psicoterapeuta fazer queixinhas da mãe, do pai e da professora primária, mas agora andor, lá para dentro!".

Por acaso também é importante

Esqueci-me de dizer o óbvio, ontem: não há nenhum jogador italiano, nem na primeira nem na segunda divisão, que não saiba jogar à bola. Aquilo de "a chincha" não atrapalhar.
Isto também é importante.
Um italiano médio não sente necessidade de passar as patas dezassete vezes por cima da bola antes de arrancar para a linha de fundo. Um italiano médio, perante Quaresmas, Nanis e Cristianos, sorri do desperdício e da falta de mioleira específica que esses génios esbanjam em simulações. E tira-lhes a bola, simplesmente.

8.2.08

O problema de perdermos com a Itália

Não é problema nenhum. Ou, se é, é um problema global, não é só nosso: toda a gente perde com a Itália quando se trata de futebol. Ou perde mais vezes do que as que ganha.
Ao contrário das explicações que, num programa de televisão, Eurico (ex-futebolista) debitou, não há maneira de inverter esta situação "através de medidas e organizações e o caralho". Não há.
A Itália, qualquer equipa italiana, qualquer italiano médio, em tudo que seja jogo da bola, sabe isto:
1 - O desafio começa sempre zero-a-zero.
2 - "Se os outros se sentem incomodados com o resultado, é uma chatice deles: que venham para cá, que nós cá estamos, está-se bem assim, para já".
3 - Os outros, geralmente, incomodam-se: por exemplo, se uma equipa mais ou menos evoluída e entusiasmada, por exemplo a Espanha, resolve começar a fazer o mesmo que os italianos, ou seja, a jogar como eles, a engonhar, na convicção de que "quem com ferros mata, com ferros há-de morrer", ao fim de vinte minutos já está toda a gente farta daquela merda, os adeptos espanhóis já estão cheios de ver posse de bola entre o Casillas e o Xavi e a berrar "ataquem esses gajos, caralho!", os próprios jogadores espanhóis já estão capazes de pedir para irem antes jogar golfe, em benefício da emoção individual.
4 - Outra coisa que os italianos sabem é esta: "eles hão-de chatear-se e depois abrem-se todos. Nós não: nem nos chateamos, porque zero-a-zero já está, nem nos abrimos, porque senão depois somos nós que nos chateamos".
5 - Vai daí, costuma acontecer o seguinte: três ataques perigosos da Espanha, da Alemanha, da França, de Portugal ou da Turquia, que resultam em seis cantos consecutivos e alarido guerreiro nas bancadas, sendo que um dos remates pode mesmo ir ao poste, e, logo a seguir, o Paolo Rossi, o Inzaghi, o Luca Toni ou até um Pancaro qualquer (quem não souber quem foi o Pancaro, que leia) marca um golo e já está: 0-1. "Vamos recomeçar, malta?" - dizem os italianos. "Vamos, foda-se", dizem os alemães, os franceses, os espanhóis, os turcos e os croatas. E os portugueses. Já de cabeça perdida. E recomeçam mesmo, às vezes fica assim, outras vezes o Pancaro mete outra.
Ninguém de seu juízo, na Europa do futebol, quer jogar contra equipas italianas. Quando facilitam, fodem-se: veja-se o Milan contra o Liverpool, aquilo dos 3-0 ao intervalo, os italianos devem ter-se metido no Xanax ou na copofonia e lerparam. Mas, fora destes casos excepcionais, se perguntarem ao Mourinho (na qualidade de treinador, por exemplo, do Vitória de Setúbal) se prefere jogar uma pré-eliminatória para a UEFA com o Arsenal, o Manchester United, o PSV, o Lyon, ou o Real Madrid, ou com o Cagliari, ele prefere, de certeza, discutir essa merda com os outros todos ao mesmo tempo do que com a equipa sarda. Sim, é na Sardenha, isso do Cagliari. Eu nem falo do Palermo, para não ter de me lembrar do Martin. Nem da Cecília, essa praga.
Para a semana, falo da República Checa.

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