Regras minhas
Nunca aqui escrevi nada de jeito, nem em lado nenhum. Eu sei disso com a imperfeição dos que, de si, só sabem que não prestam para grandes coisas.
Mas escrevi aqui com alguma assiduidade, em tempos. Tenho essa responsabilidade: atulhei isto de palavras. Ocas, bacocas, barrocas. Tonterias locas. Y pocas.
Agora já não consigo tanto. Já não consigo mais. Agora, já não consigo atulhar nada. Nem sequer mal, como era uso. Já não atulho: entulho.
Os motivos são alguns.
Já não tenho velocidade para o mundo. Fui ultrapassado pela aceleração global do globo inteiro e sinto-me um bocado em fora-de-jogo posicional. Eu isto explico melhor depois. (*)
Bem para além do problema da velocidade do mundo, acontece que este blog era a várias mãos, era um blog peculiar; era marginal, não fazia broches, mas era ..."sui generis"; e sempre foi, pelo menos, um tango a quatro mãos. Depois foi ficando maneta, maneta, cada vez mais maneta... e a duas mãos é que não dá, já não dá, já mal se aguenta. Foi ficando "vítima da talidomida moderna", um blog "amélico".
Por outro lado, eu não tenho muitos pensamentos. Já tive mais, nunca tive muitos, mas admito: já tive mais. E os que tenho (mesmo os poucos que tinha) já os disse todos.
Ou quase todos.
Suponho que os disse quase todos porque acredito que ainda posso, talvez, ter mais alguns. Não digo "pensamentos sérios, jurisprudências", mas "repensamentos: regurgitações do folhoso".
Umas doideiras ocasionais, coisas que me parecem claras mas com que ninguém concorda, continhos para eu ler sozinho, aforismos, pequenas contabilidades, meia dúzia de frases de almanaque: há sempre o Sporting, os meus pequenos ódios viscerais, as minhas incorrecções de cisma, as minhas cismas mal fundamentadas, os meus amores e desamores, todos esses amargores metidos num vidrinho que ainda guardo - mas só para recipiente deles.
Este blog é o meu frasquinho? Não. O frasquinho é só meu. O blog nem meu é, quanto mais só meu.
Ninguém lhe liga? Nem a mim? Está perfeitamente bem.
Enquanto o blogame mucho existir e eu puder escrever nele, fá-lo-ei. Sempre que me apetecer, mesmo que seja de ano a ano. E sempre cada vez com mais cuidado. E cada vez mais raramente, por decência.
(*) Fora de jogo posicional é quando um tipo pensa que está sossegado num sítio e lhe começam a fazer sinais com uma bandeirinha; e quando o tipo dos sinais saca duma arma, acreditem, nem que ele puxe apenas duma pequena adaga, mas acreditem mesmo nisto, percebe-se que é "livre" contra nós. Percebe-se que é contra nós e percebe-se que "ser contra nós é livre" e, a dada altura - até porque ainda cremos ser longe da nossa área - já nem formamos barreira.
Pode dar golo? Pode. Perdemos todos, geralmente, mas o dedo apontado queima mas é nas costas do que estava fora-de-jogo. Posicional. E longe.
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