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22.1.08

Sobre "isto", mas citando "aquilo". Está bem.

Há mais de quinze dias escrevi aqui uma coisa que, resumida, dava mais ou menos nisto: pode haver coisas boas nos lugares e haver, na mesma, estradas que nos transportem entre lugares. Às "coisas boas dos lugares" chamei, entre outras coisas, "merdas", o que desde logo me denuncia a má-criação e alguma falta de vontade de fazer doutrina.

A coisa era sobre várias "coisas" mas era, sobretudo, sobre cuidados de saúde.
Eu peguei em algumas terras que me lembrei de Trás-os-Montes e Alto Douro, depois agarrei na Espanha inteira e, sem citar sequer um número, uma cifra, e apenas inspirado no facto de a Espanha ser já aqui ao lado (no meu caso, é "aqui arriba") e de ser constantemente apontada como exemplo para quase tudo pelo Programa Simplex (excepto no caso do tabaco, mas aí eu entendo, porque, de facto, só ontem é que me apercebi do fenótipo daquele senhor de risco ao meio e de barbas mal aparadas que manda nas proibições e se chama George e, a partir de ontem, não preciso que me forneçam o genótipo da criatura para entender a basezinha daquilo tudo), discorri. Fui por ali abaixo e disse, em muitas palavras, sem nenhuma intenção doutrinária, aquilo que agora, ali em cima, resumi: "pode haver coisas boas nos lugares e haver, na mesma, estradas que nos transportem entre lugares".
A mim ninguém me paga para escrever, quanto mais para escrever bem.

Veio aí o maradona (salve-rainha e "acto de constrição") e colou duas listas.

Na primeira lista diz a população do município (concello, povo) de Ourense. São 110.000 alminhas.
Na segunda, soma as populações do que lhe apeteceu somar, algumas cidades que eu disse ao calhas com alguns concelhos, e deu-lhe 155.000. Nessa segunda lista misturou a cidade de Bragança com o concelho de Bragança, porque o concelho tem cerca de 35.000 habitantes, a cidade é que tem 25.000, esqueceu-se de meter Vila Real (nem cidade nem concelho, a cidade tem 37.000 habitantes, o concelho tem 50.000) e enganou-se para ali noutras coisas, o que não teria importância nenhuma se ele não tivesse querido provar fosse o que fosse. Mas quis. Este tipo, que já não percebe nada de bola e que, como se isso não bastasse, ainda se arrepela todo porque está a ver que o Federer vai ganhar o Open da Austrália apesar dos agoiros todos que lhe lança, veio aí com números. Isso fode-me, e vou dizer aqui umas coisas sobre isso.

Vamos deixar a Espanha inteira e pegar na Galiza. Pegadinha a Trás-os Montes e ao Minho, não é?, pois é, mas deixemos o Minho e a Galiza litoral, a das imigrações, a Galiza mais desenvolvida e povoada. Vamos pegar assim, para ficar mais ou menos equilibrado: Trás-os-Montes e Alto Douro é uma província? É. Ourense é uma província? Pois é, também.

E vamos agora acelerar, que a minha vida não é esta e tenho de me levantar cedo. São precisos dados? Muito bem.

A Província de Trás-os-Montes e Alto Douro tem 2 distritos, Vila Real e Bragança. Trás-os-Montes e Alto Douro tem, portanto, cerca de 400.000 habitantes, mais ou menos. A Província de Ourense tem à volta de 345.000 habitantes. Pode comparar-se assim? Penso que assim se pode.

A província de Trás-os-Montes e Alto Douro tem uma área de 11.000 Km2, enquanto a de Ourense tem, por alto, 7.300 Km2. Pode comparar-se: as pobrezas comparam-se em todas as dimensões.

Em Trás-os-Montes e Alto Douro é como se sabe. Posso fazer um desenho um dia destes, mas por hoje passo. Vamos à Província de Ourense, à Galiza interior. Vamos?

Bom. A Província de Ourense tem 92 concelhos. Vão de Avion a A Peroxa, Monterrá a Maside, Verin a O Barco de Valdeoros, de Ourense a Castrelo de Miño. São 92 concelhos. O curioso é que tirando Ourense (110.000 habitantes), o resto são pequenos povos. Tirando Verín (13.500), Barco de Valdeorras (13.300), O Carballiño (12.800) e, vá lá, Xinzo de Limia (10.000), o resto tem entre 600 e 4000 almas viventes. A Teixeira tem, mesmo, só 569 pessoas, sendo de referir que os concelhos de O Bolo e de A Bola, juntos, perfazem 2900 seres humanos. É assim, não vale a pena inventar.

Ora bem. Então e nestes 92 concelhos quantos Centros de Saúde há? Há 110. Porquê? Porque sim. Porque há 14 concelhos que têm mais que um. Ourense tem 5. E Castrelo de Miño, por exemplo, tem 3. Palavra de honra: tem 3, e tem 2095 habitantes. Deve ser, talvez, terra de pouca gente e muito ancha, não?
Desses Centros de Saúde, 15 têm Serviços de Urgências permanentes. Falo de Ourense, de Verín, mas também de Viana de Bolo, Xinzo de Limia, O Carballiño, O Barco de Valdeorras, Bande, Ribadavia, são 15. Ribadavia tem 5500 habitantes, por exemplo.
Os Centros de Saúde que não têm urgência "drenam" (detesto esta palavra, mas, como disse, não me pagam para escrever - quanto mais para escrever bem), num critério que não é outro senão o da proximidade, para o Centro de Saúde - com urgência - mais próximo.
Os Centros de Saúde com Urgência permanente têm, em mais de 60% dos casos, além de clínicos gerais (habilitados a fazer suporte básico de vida, que é fundamental pelos motivos que se prendem com aquela parte de o coração bater e de a gente respirar), pediatras, e enfermeiras de Obstretrícia. Em 25% deles há dentistas - cá, nem nos hospitais. Há Fisioterapia, em cerca de 10% dos Centros.
Nesses 110 Centros de Saúde trabalham, ao todo, salvo óbitos recentes ou intervenções externas de Correia de Campos, 275 médicos generalistas, 45 pediatras, 15 dentistas, um porradão de enfermeiras e enfermeiros, variadíssimos técnicos, assistentes sociais. Muitos desses Centros têm possibilidade de fazer análises clínicas e radiografias.

Ora bom, encurtando distâncias que ainda tenho de ir mandar um e-mail ao Paulo Bento: além destes Centros de Saúde, a Província de Ourense tem que mais?
Bom.
Tem o Centro Hospitalar de Ourense, com tudo, mas tudo mesmo (mesmo as merdas que não há em Vila Real, sim, a Cirurgia Vascular, a Neurocirurgia, a Radioterapia, os Cuidados Intensivos Pediátricos, a Unidade de Transplantes, a Endocrinologia, a Reumatologia, a Geriatria, a Oncologia Médica e Cirúrgica, a Angiografia, a RMN, a TC helicoidal, o caralho. Tem mesmo tudo, galegos dum raio). E tem 505 médicos e 811 camas.
E que mais? Bom, há o Hospital Comarcal de Valdeorras, com Medicina Interna, Cirurgia, Nefrologia com hemodiálise, Fisioterapia, Anestesiologia e Reanimação - pudera, têm todos, eu sei - Unidade de Dor e a puta que os pariu; pois é. E são 100 camas de internamento, e são 52 médicos.

E agora uma pausa educativa. Escutei assim uma pergunta, há bocadinho: "isso de Verín, com 13.000 habitantes, é preciso ver até que ponto vai o quase...".
Vai até aqui: 80 camas, 42 médicos, Medicina Interna, Cirurgia, Anestesiologia, Reanimação, Dermatologia, Unidade de Dor, Fisioterapia, Otorrino, Oftalmologia, Urologia, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria, Psiquiatria... por aí fora. A Régua, a cidade, tem 11.000 habitantes. E não tem quase nada.

Os cuidados de saúde são como o resto. Devem relacionar-se entre si da mesma maneira que se relacionam as pessoas: ou há relações - e têm de ser próximas, daí a importância dos lugares, porque os lugares são as pessoas em espaços pequenos, médios, do tamanho que tiverem - ou não as há e, nesse caso, que se foda a Bwin Liga.
Se é assim na Galiza Pobre, pensem como será na Galiza Rica. Na Catalunha, na Comunitat Valenciana, no País Basco, na Andaluzia, no caralho!
Eu é que misturei tudo? Muito bem, então desmisturem, a ver o cheiro das tintas!

Repito: pode haver coisas boas nos lugares e haver, na mesma, estradas que nos transportem entre lugares.
Nota de rodapé: já agora, entre o Tronco (Chaves) e Vila Real, são 99 Km. Ou seja, 1h13m, segundo o Via Michelin. Mulheres que estais de "interessâncias", apertai bem a vulva no caminho.

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