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8.2.08

O problema de perdermos com a Itália

Não é problema nenhum. Ou, se é, é um problema global, não é só nosso: toda a gente perde com a Itália quando se trata de futebol. Ou perde mais vezes do que as que ganha.
Ao contrário das explicações que, num programa de televisão, Eurico (ex-futebolista) debitou, não há maneira de inverter esta situação "através de medidas e organizações e o caralho". Não há.
A Itália, qualquer equipa italiana, qualquer italiano médio, em tudo que seja jogo da bola, sabe isto:
1 - O desafio começa sempre zero-a-zero.
2 - "Se os outros se sentem incomodados com o resultado, é uma chatice deles: que venham para cá, que nós cá estamos, está-se bem assim, para já".
3 - Os outros, geralmente, incomodam-se: por exemplo, se uma equipa mais ou menos evoluída e entusiasmada, por exemplo a Espanha, resolve começar a fazer o mesmo que os italianos, ou seja, a jogar como eles, a engonhar, na convicção de que "quem com ferros mata, com ferros há-de morrer", ao fim de vinte minutos já está toda a gente farta daquela merda, os adeptos espanhóis já estão cheios de ver posse de bola entre o Casillas e o Xavi e a berrar "ataquem esses gajos, caralho!", os próprios jogadores espanhóis já estão capazes de pedir para irem antes jogar golfe, em benefício da emoção individual.
4 - Outra coisa que os italianos sabem é esta: "eles hão-de chatear-se e depois abrem-se todos. Nós não: nem nos chateamos, porque zero-a-zero já está, nem nos abrimos, porque senão depois somos nós que nos chateamos".
5 - Vai daí, costuma acontecer o seguinte: três ataques perigosos da Espanha, da Alemanha, da França, de Portugal ou da Turquia, que resultam em seis cantos consecutivos e alarido guerreiro nas bancadas, sendo que um dos remates pode mesmo ir ao poste, e, logo a seguir, o Paolo Rossi, o Inzaghi, o Luca Toni ou até um Pancaro qualquer (quem não souber quem foi o Pancaro, que leia) marca um golo e já está: 0-1. "Vamos recomeçar, malta?" - dizem os italianos. "Vamos, foda-se", dizem os alemães, os franceses, os espanhóis, os turcos e os croatas. E os portugueses. Já de cabeça perdida. E recomeçam mesmo, às vezes fica assim, outras vezes o Pancaro mete outra.
Ninguém de seu juízo, na Europa do futebol, quer jogar contra equipas italianas. Quando facilitam, fodem-se: veja-se o Milan contra o Liverpool, aquilo dos 3-0 ao intervalo, os italianos devem ter-se metido no Xanax ou na copofonia e lerparam. Mas, fora destes casos excepcionais, se perguntarem ao Mourinho (na qualidade de treinador, por exemplo, do Vitória de Setúbal) se prefere jogar uma pré-eliminatória para a UEFA com o Arsenal, o Manchester United, o PSV, o Lyon, ou o Real Madrid, ou com o Cagliari, ele prefere, de certeza, discutir essa merda com os outros todos ao mesmo tempo do que com a equipa sarda. Sim, é na Sardenha, isso do Cagliari. Eu nem falo do Palermo, para não ter de me lembrar do Martin. Nem da Cecília, essa praga.
Para a semana, falo da República Checa.

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