blog caliente.

24.1.07

As portas



O hospital velho era verde por fora, clarinho, e era forte. Impressionava.

Quando lá entrei pela primeira vez não era meu. Bem vêem, há portas altas demais para quem só leva as mãos e a cabeça nos seus passos.

Não tinha casa, tinha passado dois dias em casa de favor ocasional. Não sabia nada e ia buscar sabedoria onde não sabia sequer se a havia, muito menos transmissível. E logo a mim, que nem isso sabia.

Ninguém falou comigo mais do que o que eu perguntei impôs. Nem menos. Não me chegou, na altura, ou pensei que não me chegasse. Mas teve de chegar, porque nas ilhas há mar e bruma, há mar e sol, mas não se brinca mais do que noutros lugares. Brinca-se menos.

Brinca-se menos? Sim, menos. Disseram-me, olhos nos olhos, disse-me o director clínico da altura, falarei dele noutro tempo, mais perto do fim o folhetim (rimou, mas fica), que contavam comigo. Contar é contar. Comigo, pareceu-me um exagero. Eu tinha ido a contar com eles, eles diziam-me que contavam comigo?

Depois entendi que nada é exclusivo no contar. Não era de contabilidades que se falava ali, era de contares, como os que eu agora conto, que me foram contando e eu ouvindo até saber contar também.

besugo

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