blog caliente.

10.11.05

sem título, não obstante longo e chato

Os escritos do besugo andaram crípticos (melhorou nos últimos). E arrevezados. Ou ele andou mal disposto ou é da gota. Provavelmente ambas as coisas.

besugo: Antes de eu escrever qualquer outra coisita, quero já aqui esclarecer que não quebrei nenhum pacto de não-agressão contigo. Pelo contrário. Por um lado, disse que escrevias bem. Por outro, porque dizer que pensas mal não é atacar-te. A sinceridade não é confundível com a agressão. E pode sempre admitir-se a improvável hipótese de ser eu quem pensa mal.

Além disso, nota que eu podia ter dourado a pílula. Escrito qualquer coisa como "escreve bem e pensa de um modo específico, distinto e singular, tributário de um acervo doutrinal que, não obstante profundamente errado, é matriz racional de muitos e mesmo de muitas pessoas de quem, nunca tendo elas próprias rezado, reza no entanto a história."

Assim soava-te melhor? Bem me parecia.

Já os escritos da lolita são mais cerebrais e menos crípticos, mas em nada menos arrevezados. Quanto a Cabo Verde (e por aí me fico), percebe-se que acha o País mal gerido, quiçá que acha que os respectivos governantes deviam ser mais exigentes nas contrapartidas que dão ao investimento estrangeiro, que considera rapace. É possível que tenha razão, é possível que não. Nestas coisas, e quando se tem pouco para dar a não ser recursos naturais, é difícil não se ser barato. E é, seguramente, mais fácil ser corrupto, e ainda mais barato. A lolita arrisca uma opinião firme - e muito crítica - quanto à realidade caboverdiana. Eu não tenho essa opinião, mas, por falta de dados concretos que me permitam desenvolver essa discussão, fico-me assim.

Voltando ao besugo e a propósito do que ele escreveu ao colega. Desta vez nem fui ver o blog em causa - o do médico - mas ainda recordo a viva impressão, de pura repulsa, que me deixaram os comentários que li há dias no blog do Medeiros Ferreira, a propósito justamente do seu elogio à classe política caboverdiana. Isto para dizer que acompanho e sempre acompanhei a opinião dos meus companheiros de blog, no sentido de que aqui não há comentários. E por razões que - basta ver e ler o que eu vi e li - me parecem óbvias.

Junto a isto um pedaço de experiência pessoal: noutros temos participei em "fora" (ou forums, como se quiser) de discussão portugueses e, mais tarde ou mais cedo, apareciam sempre os produtores de lixo escrito, sem outro objectivo que não fosse o de arrasar qualquer discussão que se pretendesse séria. Sem uma ideia própria e sem outro propósito manifesto que não fosse o insulto puro e simples. Quem tentasse chamá-los à razão tornava-se alvo pessoal desses insultos; quem apelasse a que fossem banidos, além de levar com mais insultos, era rotulado de nazi. Mais valia desistir, deixando definitivamente esses espaços aos débeis mentais. Até que fechavam, deixando-os livres para procurarem, qual praga de gafanhotos, outro forum - ou blog, vou agora vendo - onde soltar a sua imbecilidade. Em jorros.

É curioso que, já depois dessa experiência participei, durante algum tempo assiduamente, em "forums" internacionais, sem que o que vi nos portugueses se passasse. Esclareço, para que esta referência não pareça pedantismo, que não eram "forums" de elites ou de discussão académica. Eram, mais simplesmente, parte de sites dedicados a determinados jogos de computador ou PS2 que eu costumo jogar (seja jogos de estratégia, seja jogos de condução, os dois tipos de jogos de que sou adepto, diria a minha mulher que "viciado" mesmo).

Ou seja, sites essencialmente frequentados por jovens, muitos deles com menos de 20 anos. Mas que, mesmo nos sub-forums não essencialmente temáticos, ou seja dedicados a "discussão sobre qualquer tema", se comportavam com razoável - para não dizer exemplar - civilidade.

E porquê? Porque as pessoas que gerem esses sites, para além de os manter abertos, assumem com grande clareza uma política que se traduz nisto: "o site é meu, fui eu quem o criou, sou eu quem define as regras de comportamento de quem nele quer entrar e sou eu que chuto daqui para fora quem me apetecer". E banem, com regularidade e grande à vontade, utilizadores cujos escritos não se conformam com as regras pré-estabelecidas. Note-se que são sites com centenas de utilizadores. E com várias dezenas sempre online sempre que - agora mais raramente - vou lá ver qualquer coisa.

Isto para dizer que um forum, e mais ainda um blog, me parece ser como a casa de qualquer um, embora aberta aos olhos de quem os quiser ver. Pertence a alguém. E não me parece que nenhum de nós, razoavelmente, deva permitir-se ser gratuitamente insultado naquilo que é seu. A diferença está em que, se é verdade que eu posso expulsar de minha casa quem eu bem entender, não posso no entanto evitar, num blog aberto a comentários, que os insultos - mesmo que prontamente apagados - nele surjam. Assim, entrar em minha casa, aqui, é ler o que eu escrevo. Se se quiser comentar, sempre se pode usar o mail do blog ou criar-se um blog próprio, nele se comentando os escritos de outros.

Mas nisso os gafanhotos não têm interesse. Porque o seu verdadeio objectivo não é comentar o autor de um qualquer texto, ou sequer encetar com ele discussão. É apenas insultá-lo. Pelo prazer que daí retiram. E sem qualquer utilidade.

São pívias, em suma.

Sobre a França: Têm proponderado dois tipos de análises. A "securitária" e a "compreensiva". Cujas conclusões são diametralmente opostas. A "securitária" conclui que "certas" comunidades não são integráveis nas sociedades europeias e por isso preconiza: a) fechar as fronteiras; b) expulsar para lá delas aqueles que ainda fôr possível. A "compreensiva" conclui que as sociedades europeias têm que ser mais integradoras dessas comunidades e por isso preconiza: a) despejar dinheiro nelas; b) criar discriminações legais positivas, em favor das mesmas, que contrabalancem os factores sociológicos que dificultam ou impedem a sua plena integração.

O problema é, parece-me, um bocadinho mais complicado de resolver. A lógica de construção de sociedades endogenamente pacíficas (coisa que nunca existe, mas pode-se chegar lá perto) foi, historicamente, a de forçar a sua homogeneização. Erradicando, se necessário de forma violenta, quem a ela não aderisse.

(Nota marginal) Ainda hoje me espanta como é que ninguém dá a devida importância à obscuridade histórica que paira em Portugal sobre a forma como do território peninsular desapareceram os árabes que o governaram e nele viveram durante ... 5 a 8 séculos. Que foi feito deles? Não existiram? Foram todos mortos? Degredados para o Norte de África? Fugiram? Por comparação, o que quer que seja que se passou é quase equivalente a, no espaço de 1 ou dois séculos - e caso a Península voltasse a ser militarmente invadida por outra cultura- a sociedade portuguesa desaparecer do mapa (Portugal existe há 9 séculos, pouco mais do que o tempo em que foi território "árabe"), deixando apenas alguns nomes, vocábulos e vestígios arquitectónicos, que é o que nos resta dos séculos do domínio muçulmano. (Fim de nota marginal).

Hoje, no entanto, homogeneizar à força uma sociedade não parece possível (não parece mas é, como se vê no exemplo "zimbabweano"). E nem os países que, por serem mais recentes, têm na sua génese a multiplicidade de culturas e raças (dos quais o melhor e mais bem sucedido exemplo são os EUA) se safam verdadeiramente dos problemas do que, além Atlântico, se chama o "melting pot".

Assim, a Europa terá que se habituar ao seu próprio "melting pot". O que, num contexto de crise social, económica e política tão generalizada, não lhe será fácil. E é ainda menos fácil quando essa crise, a par de alguma cegueira a lidar com o resto do mundo e,sobretudo, com África, faz com que, desse continente, se queira sobretudo fugir. Para a Europa.

Mas isso era tema para mais 40 parágrafos e este post, de tão longo, já se me afigura ter-se tornado verdadeiramente chato, pelo que me dispenso de mais escrita e vou antes tentar encontrar um título para pôr lá em cima.

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