This must be boring.
Sou forçada a contradizer a tese do besugo acerca do charme masculino das personagens do ER. Eu até sei que o mulherio desatento, que deve ser estatisticamente maioritário, se deixa impressionar pelo Clooney, como Doug Ross ou como outro camafeu qualquer, por causa daquela beleza segura e satisfeita (semelhante, aliás, à do Eng. Sócrates, se virmos bem) que o torna um protótipo perfeito da iconografia masculina. Há, contudo, uma minoria silenciosa de mulheres para quem uma expressão segura e satisfeita sabe a pouco (e que, quase sempre, ao segundo olhar começa a parecer inquietantemente bovina). No fundo, e para ser mais prosaica, a verdade é que ninguém se basta com um físico bonito se o proprietário do físico bonito já nada mais deseja porque pensa que já tem tudo. Nada há de mais perigoso para ele (é uma espécie de morte em vida) e de fastidioso para os outros. Falamos aqui, portanto, de Kens. Passo.Podia, também, falar do Romano, o broto do establishment e o garante da moral, missões essas que convictamente exerce através da sacanice. Igualmente satisfeito, mas por razões diferentes. É raro, conforme se sabe, um broto destes ser bonito. E, quando o é, não parece, o que faz com que a beleza lhe seja inútil. Também passo.
O caso do Luka é diferente. O Luka podia ser um personagem shakesperiano, destinado por fatalismo a cumprir um qualquer desígnio heróico. Repare-se bem nele: o choro, no Luka, vem de dentro. Além do mais, o Luka é croata, nasceu no interior profundo e desconhecido da Europa ex-comunista, o que o torna peculiar. Tudo nele é diferente, e as emoções nascem às vezes da atracção pela diferença: ama-se e odeia-se o que é diferente, não o que é igual, ou sucedâneo.
E há o Greene. O Greene impressiona porque é brutalmente real – e é essa, se calhar, a razão pela qual a Carla o acha “boring”. Falta-lhe a chama de herói romântico, o brilho da perfeição. O mulherio não gosta do Greene por ele ser bonito, mas, besugo, gosta do Greene apesar de ele não ser bonito. O que é obra. É, aliás, raríssimo. Eu diria, até, que tal só sucede porque o Greene nos entra pela casa adentro em close-ups invasivos que nos forçam a observá-lo. Porque, se fosse real, o Greene passaria pelo crivo da maioria das pessoas como insignificante: falta-lhe a beleza que desperta a atenção dos sentidos e falta-lhe o ruído que o tornaria marcante. Mas o Greene, como é um personagem de uma série de apreciável sucesso, vê-se bem, e vê-se ainda melhor nos olhares e nos silêncios. O Greene, por ser assim, cheio de dores silenciosas, é muito mais nós. Boring, como nós, que temos pouca paciência para as dores alheias, sobretudo quando elas se guardam em recatado silêncio.
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