Blogame mucho: Dois em um.

9.11.05

Dois em um.

I - Moralizações bacocas à volta da mulher de César

De facto, isto é surpreendente. Fala-se, entre outras coisas, da redução do valor dos brindes que a indústria farmacêutica pode dar aos médicos. E passa-se esse valor de 50 para 25 euros.
Eu quero aqui dizer aos senhores da Apifarma (e a quem calhar ler-me) o seguinte:
1 - Eu não quero, nem nunca quis, brinde nenhum. Nem de 50, nem de 25, nem de 10 euros. Não quero brindes, não vivo de brindes. Vivo do meu trabalho. Por mim, podem enfiar as canetas e as bugigangas todas com que me azucrinam diariamente, com poupança de tempo, directamente no lixo.
2- Mas o mais grave é analisar o raciocínio perverso que está ali. O que ali se insinua é que pode haver quem se venda por dez contos, mas por cinco contos já não. Ou já é menos provável. São cinco contos, no fundo, que parecem separar um médico da sua (pelos vistos franca) tendência para o crime. Cinco contos. Valha-me Deus, deixem-nos em paz duma vez com isso, acabem com os vossos brindes, que de nada me servem e de que não preciso para nada. Eu e os outros: somos profissionais, vão brincar com o gatinho!

II - Sobre outra coisa

Além disso, passei pelo MEM. Quando lá vou, vou com tempo. Reparei que ele se vem esgotando em conversas estéreis com a caixa de comentários. Faz mal, penso eu.
Mais de metade dos comentários que se vêem por esses blogues fora ( não é só no MEM) não se destinam a discutir, a acrescentar nada. Metade das pessoas que lá vão escrever fazem-no, apenas, porque decidiram deixar ali a sua poia. São movidas pelo miserável "espera aí que já te fodo", nada mais. O MEM tem de perceber isso e, se quiser manter o nível a que habituou quem o lê, ou apaga alguns comentários - o critério é seu - ou os ignora. Não pode é deixar que isso o perturbe. Desculpe a ousadia do conselho, que não me pediu, mas incomoda-me que o incomodem. Isto não é corporativismo, não me façam rir, é falar com uma pessoa que não se conhece mas que se aprecia pelo que escreve.

A discussão dos méritos e deméritos duma classe profissional acaba por cair, assim, na lama do "eu bem sei de exemplos!" , "têm a mania!" , "é por isso que os utentes os agridem!", "há alguns que ganham pipas de massa!" , estas coisas que se ouvem de bocas alarves, todos os dias, a propósito de tudo e de todos.
Não nos iludamos, não é só sobre médicos: ninguém, nenhum grupo profissional, nenhuma agremiação de pessoas, mesmo ninguém, está ao abrigo desta casta de parolos malignos, que tende a crescer (pelos vistos) e que parece que tem um pau enfiado pelo cu acima, até à cavidade oral, fazendo-lhe brotar, por dentro, uma imensa vontade de dar à língua sobre tudo e sobre nada, saindo-lhe geralmente um hálito fecalóide à volta das palavras, por óbvios e originários motivos: o conteúdo.

Todos conhecemos exemplos seja do que for. Os exemplos podem servir para ilustrar as conversas, mas, se as discussões se resumem a eles, adquirem um tom rasteiro, tornando quase impossível manter o diálogo.
As conversas que se baseiam em exemplos (e há lá um comentador, pelo menos, por quem o MEM se deixa irritar bastante, que não é capaz de mais que isso, basicamente) são típicas dos burros e dos cábulas, desde os tempos da escola. São o único argumento daquela cáfila que todos conhecemos (porque tende a permanecer igual a si própria pela vida fora) que, em lhe sendo perguntado "diga lá o que se lhe oferecer sobre o cubismo" começa por babujar "hum, por exemploooo... Picasso... hum..." e pouco mais responde. Mas, até ao "R" na pauta final, ainda se cuida conhecedora da vida e dos factos dela: "eu, de cubismo, hem? fodi-o logo: Picasso".

Não lhes ligue, MEM. E escreva sempre, não hiberne. Que hibernem eles, se lhes convier.