blog caliente.

6.6.05

Esforça-se, mas aquele pescoço...

Clara Ferreira Alves escreve melhor. Percebe-se ali um sotaque queque na frase malévola, mas consegue o que Delgado não tenta, sequer: escrever frases compridas sem erros de concordância.

Esta cronista merece o que, eventualmente, lhe paguem. Atenção, apenas, ao recibo verde, sim? Se bem que quando se aventura pelos terrenos abundantes e pantanosos da "meritocracia na administração pública" derrapa nos finos sapatinhos e quase cai, o que lhe afigura ainda mais o descarnado pescoço de vetusta ginasta, em esforços de equilíbrio. Sim, é a pescoceira que a trama, que eu vi-a no Eixo do Mal, e está a ficar cada vez mais parecida com o Daniel Oliveira, na macheza, e com o outro dos óculos, o que parece que vai vomitar a qualquer momento, nos trejeitos.
Ninguém contesta a sua teoria de que não há uma cultura de meritocracia. Mas as coisas também não são assim, como ela pensa que são. Há avaliações, há inspecções, há concursos. Ninguém acredita no que eu acabo de dizer, evidentemente. Cada português só acredita, cada vez mais, que se lhe mostrarem nos jornais dezasseis excepções malignas a uma regra geral que se aplica a vinte seis mil pessoas (números retirados, como é hábito, da revista "Ao Calhas"), é a essas dezasseis excepções (querem antes quinhentas? OK, será um universo maior, nesse caso), dizia eu que é a essas dezasseis ou quinhentas excepções que há-de dedicar a sua bile, derramando-a, contudo, com brocha grossa, por todo o universo atingido. Isto é fatal como o destino e fatela como a roupa da Júlia Pinheiro. E boçal, como o Manuel Serrão inteiro.

Mas ela tem razão numa coisa. Aliás, tem-na quando acaba por se perceber que ela não quer falar da administração pública toda, afinal. Muito menos entendida como um "universo de funcionários que anda ali à balda". Percebe-se isto quando exprime que "a administração pública é um posto onde se acede, se sobe e se fica até à morte, com um excepcional regime de impostos e de aposentações, sem ser por mérito. Ou seja, a negação da eficácia e da justiça social".
Isto dum "excepcional regime de impostos e de aposentações", afinal, restringe as punhaladas da cronista aos merecidos alvos. Ou seja, o ministro (que babuja como os outros babujaram, antes dele) e os senhores administradores. É só com os topos de gama, com os que fazem "bicos"aos políticos. É com eles que ela está enervada, porque isto da meritocracia é palavra fina mas é, às tantas por isso, exactamente, nos topos que se não aplica.
Doutra forma, meu Deus, acabaria por não fazer qualquer sentido o que a senhora derrama. Não é? Pois é.

Escusava, por conseguinte, era de fazer como fazem outros e vir colectivizar a "filhadaputice". Eu, a essa colectivização, não a quero. Mas também, valha a verdade, parece-me ser a única coisa colectivizável, hoje em dia. Isso e algumas doenças.
O resto há-de ser para privatizar. Se ainda não estiver, por esta altura.

View blog authority