blog caliente.

2.6.05

Lamento, mas não sei que título hei-de pôr a isto

Os motivos que me fazem desconfiar do projecto europeu são atávicos.
Não percebo bem aquilo, na sua global textura cromático-financeira, para começar. Depois, quando tento entender o que se passa, como sou um iletrado funcional em temas económicos, tendo à inevitável análise da textura "apenas cromática". E, qual veleiro da Dra. Ana Gomes, encalho na floresta fantasiosa duma Europa tão linda. Que linda e colorida Europa, a que ela consegue ver! Eu não a vejo, não consigo. Parece-me cinzenta, enevoada.

Não admira. Eu sou um nojo. Reparem: mete-me impressão não ter de mostrar o passaporte para ir a Espanha, mas dou por mim a pensar "olha, ainda bem, evita-se esta maçada". Depois, com a força duma marreta, caem-me no dorso enfraquecido reportagens da SIC (ou da TVI, ou da outra) a mostrar-me como é fácil fazer entrar um camião cheio de explosivos em Portugal, vindo de Sevilha ou de Testicule-sur-Loire. Isto tudo desfechado em tom reprovador. Aquele tom reprovador de quem quer abertura, abertura sim, mas assim tão aberto também não. Irrita-me, isto, pergunto-me que raio de coisa é esta de querer e não querer, sem ser num soneto ou numa sextilha de amoroso.

E é por isso, por 658 motivos assim pequeninos, que não vou por aí. Quer dizer, às tantas vou, mas hei-de ir como sempre toda a gente vai indo: à força. Nem que seja à força branda e melíflua de quem diz "agora é melhor pararmos com os referendos", como até de Boliqueime nos sussurram.

Os meus filhos, às tantas (se calhar irmos, de facto, por aí), acharão normal. É normal. Será normal. Para mim é que não. Para começar, porque me estão a obrigar a participar na ida. E ir custa. Partir custa sempre. Quem parte deixa sempre uma parte. Era uma cançoneta, mas não deixa de ser engraçada.

Isto não é uma declaração de guerra: é uma rendição. Invejosa, ainda por cima. Toda a gente parece perceber a Europa que devíamos querer, mesmo Ana Gomes e Cavaco. Só eu é que não, e pelos piores motivos: é que não sei explicá-los bem, sequer; e isso não os dignifica, aos meus motivos.
Nem a mim, às tantas.

View blog authority