Breves notas sobre as reclamações do Alonso
Há textos muito mais significantes pelo código de conduta que se pressente sobre o seu autor do que pelo seu sentido literal. Sobre o que o Alonso escreve, podem inferir-se várias coisas:Que o Alonso é um conformista: gosta de ser português porque não é de outra nacionalidade.
Que o Alonso é um passadista: emociona-se mais facilmente com o quadro de uma nau portuguesa do que, por exemplo, com o futurismo quase obsceno da Casa da Música.
Que o Alonso é tribal: sente-se marinheiro, quando vê marinheiros. O Alonso não é por si, só é enquanto parte de uma colectividade (o que é comum naqueles que simpatizam com as ideologias totalitárias).
Que o Alonso, sendo tribal, também é snob. Não só não se imagina "caixeirinha" do Pingo Doce como trata de lhes dar lições de estratificação social para iniciados.
Que o Alonso é um utente típico: reclama sempre, ainda que por falta de assunto (que interessam as trinta moedas?) e acredita na materialização do princípio "o cliente tem sempre razão", ainda que isso se concretize através de pequenas batalhas verbais com caixeirinhas do Pingo Doce, para quem dar trinta moedas de troco consistia num acto de gestão racional tão importante como tratar com cortesia clientes que fazem valer o direito, inalienável, a escolher a forma como recebem o troco.
Que o Alonso é forreta: um utente normal não quereria saber das trinta moedas para nada e oferecê-las-ia à "caixeirinha".
Que o Alonso é um perigoso instigador à revolta, para não dizer um chantagista (anónimo, o que aumenta a censurabilidade do comportamento - aposto que não disse a ninguém quem é nem que profissão exerce) insidioso, capaz de aproveitar os podres da indolência (!) para pôr uma repartição de finanças a despachar mais e melhor num dia do que a Direcção-Geral de Contribuições e Impostos num ano inteiro.
Para finalizar: lembro que o "culto do favorzinho", tão eternamente português, nasceu bem antes de nascer a democracia lusitana. Quem sabe se Alcácer-Quibir não terá surgido de um qualquer tráfico de influências.
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