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2.6.05

Aljubarrota

Não tenho bem a certeza de ter entendido o besugo, mas parece-me, no fundo, que tudo o que esceveu sob o título "Breve interrupção .... " se resume a isto:

1 - Há melhores ícones no mundo do que aqueles os que os Portugueses exaltam e/ou veneram.

2 - Os portugueses deviam dar-se conta disso e passar a relativizar a importância dos seus ícones nacionais.

3 - O mesmo devendo fazer quanto ao conceito que têm do seu próprio País, que não merece grande patriotismo.

Ora, tudo isto é interessante e merece uma daquelas discussões que levam horas, dias, semanas, anos, provavelmente uma vida (ou duas, se forem duas as pessoas que, mantendo relação suficiente para discutirem, nunca chegam a acordo entre si quanto a tais matérias).

Mas como não posso estar horas a escrever, começo apenas por relatar a resposta que dei à empregada luso-brasileira do café onde cumpro o meu matinal e cafeínico vício, quando esta me perguntou se eu "gostava de ser português".

A resposta que dei foi: "Gosto". Surpreendeu-se com a prontidão e perguntou-me, com ar meio irónico: "Porquê?". Ao que respondi assim: "Porque não gostava de ser espanhol, nem francês, inglês, alemão, belga, holandês, italiano, somali, chinês ..." (não garanto que tenha elencado estes países todos, ou sequer por esta ordem, mas disse uns tantos e acho que ela percebeu o sentido).

Só mais uma coisa, que só remotamente se relaciona com a batalha que está no título: Ninguém, a não ser os portugueses, sabe o que foi Alcácer-Quibir. Aí, uma então potência militar e política perdeu o seu Rei e boa parte da sua fidalguia (logo, do seu exército, porque nessa altura uma coisa ia com a outra). Por causa disso, pouco tempo depois, a Espanha absorveu numa só as duas maiores potências marítimas da Europa. E depois sabe-se o que aconteceu ... a nossa Armada desapareceu também na vitória inglesa sobre a "Invencível Armada".

Desta outra batalha (naval) já se sabe - pelo contrário - muito, porque os ingleses estão-se a cagar para a poeira cósmica e das vitórias deles não pode a humanidade esquecer-se.

Não é que se fale em Portugal, nos barcos portugueses, nos capitães portugueses e nos marinheiros portugueses a propósito dessa batalha. Para todos os efeitos era tudo espanhol e nem eu próprio tinha outra ideia sobre o assunto.

Mas não foi sem alguma emoção que um dia, ao entrar no Museu da Marinha Britânica, deparo com um quadro do tamanho de um T3 na Foz (ouvi dizer que são grandes), cujo tema era uma batalha naval e cuja "figura" num esmagador primeiro plano era uma nau (em chamas) com a bandeira portuguesa na popa.

Porquê emoção? Sei lá! Acho que não estou preparado para o conceito da poeira cósmica. E porque, não estando preparado para uma imagem tão solitária da minha existência ou da existência dos outros, movo-me ante quadros de referência grupais. Nos quais se inclui, manifestamente, achar que partilho qualquer coisa com os marinheiros desse barco.

"Qualquer coisa" essa que faz com que eu me orgulhe de tudo o que faz parte do "meu lugar no mundo" e merece reconhecimento. Mesmo que outros, a quem nada me liga, sejam melhores do que aqueles a quem alguma coisa me liga.

Em suma, poeira cósmica ... o catano! (isto foi dito com voz de Trêpa, seja lá isso o que for).

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