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31.3.05

Os bandos de pardais à solta

O parasitismo mostra-se, de dia para dia, mais descarado. Há relativamente pouco tempo atrás, o oportunismo disfarçava-se de tolerância, de altruísmo ou de determinação. Apresentavam-se a público estratégias de puro interesse pessoal disfarçadas de manifestos justiceiros ou processos de ajuda comunitária que não escondiam, por detrás, a criação de desafogados postos de trabalho para equipas de compadrio.
Sabe-se, é evidente, que uma boa parte das carreiras de sucesso são feitas das regras da influência. Dos amigos dos amigos, dos favores, da saia curta, do sobrenome de família. Na capital do império, sobretudo, há uma boa fatia de gente bem encostada que vive saltitando. Salta para a prateleira seguinte assim que a anterior passou a ser cobiçada por criatura feita da mesma massa que a que sai. Ninguém, neste meio, constrói solidariedades, mas a verdade é que o dano nunca é irreparável - há sempre a tal prateleira que se segue.
Assim sucede com Santana Lopes. Que, se calhar sem já causar espanto, poderá entrar na Quinta da TVI. Há a Felícia Cabrita, verdadeira papa-léguas à caça de historietas sórdidas do bas-fond nacional. Há o ex-casapiano Pedro Namora, que lança livros pseudo-denunciadores do sofrimento alheio. Há o Isaltino Morais, que, digo eu desavergonhadamente, nunca enganou ninguém. Há mais. Bandos infindáveis de políticos-satélite, a aguardar posto de relevo. Filhos e sobrinhos de notáveis cujo mérito se esgota no sobrenome. Senhoras coloridas, mundanas e vestidas up-to-date que lançam livros, colecções de jóias ou simples sorrisos. Nada disto parece sério ou consistente: é como se todos fizessem parte de uma associação recreativa. A vida diverte-os e eles tornam a vida ligeirinha. Falam da "experiência enriquecedora de ser mãe", da despenalização do aborto ou do direito à vida, da eutanásia ou da alma imortal, dos sem-abrigo ou da disparidade na distribuição da riqueza, do futebol ou da corrupção nas autarquias, de qualquer tema, enfim, com a profundidade típica de quem não pensa com a mesma frequência com que fala.
E falam tanto.

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