Invocação dos deuses
Pressinto, já, estar a tornar-me vítima daquela atracção magnetizante pelo "positivamente mau", que em tempos me assaltou com os programas do Luis Pereira de Sousa e com as piadas do Badaró, só para dar dois exemplos. Acontece-me, por vezes, dar por mim fascinada com estas bizarras performances, que observo num torpor misto de horror e espanto. Ontem sucedeu assim. A Dulce cantava na rádio e desdobrava-se, orgulhosa e sanguinária, nos seus inconfundíveis gritos lancinantes. E eu, espantada, lembrei-me outra vez que ela vende discos em barda. Se houver justiça no mundo ou se Deus, de facto, existe, a Dulce ainda há-de, um dia, aprender a cantar. Ou, em alternativa, ser impedida de frequentar certos locais. Eu não tenho culpa que ela cante assim e invoco, portanto, o meu direito ao silêncio - que, neste caso, se resume a uma frase:
calem a Dulce. Tenho medo que um dia alguém me convença, por puro carneirismo ou teimosia, que a rapariga até canta benzito.
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