Escrítica escrota
Um crítico de cinema será, espera-se, além disso, outra coisa qualquer. Julgo que há-de haver decência para pagar pouco a tipos destes, de maneira a permitir-lhes a obrigação de trabalhar em ofícios "acessórios" e úteis.Deste crítico, que se chama Luís Miguel Oliveira e analisa filmes para o "Público" , espero bem (pela sua digna sobrevivência) que tenha adicional profissão. Uma em que seja empenhado e, ao menos, bom.
Escreveu ele, sobre "Mar Adentro", o seguinte:
Conclusão óbvia: Amenabár é melhor em brinquedos ("Os Outros") do que em coisas sérias. A "Mar Adentro", sem beliscar o notável de trabalho de Bardem, objectamos o embrulho "romântico" (nem faltam Wagner, Mozart, Beethoven...), pindericamente exibido em voos sobre o mar, numa tentativa de "comover" o espectador que vai contra a enorme secura da personagem, e na criação de rodriguinhos sentimentais (a história da jornalista doente) que atrasam mais do que adiantam. Por outro lado, há uma vontade de fazer um "filme feliz" que paradoxalmente torna o filme um tanto leviano enquanto discurso sobre a eutanásia. Uma boa cena, contudo: a figuração da impossibilidade de entendimento entre Ramon e o padre, eles que falam em "níveis" conceptuais inconciliáveis, e onde Amenabár encontra uma solução literal para dar visibilidade ao insuperável "desnível".
Bolas. Ele "aspeou o romantismo", mas mesmo assim! É preciso explicar a quem o lê que, dos que ele disse, só Wagner é romântico! Mozart e Beethoven, verdadeiros clássicos pré-românticos, não cabem no embrulho feito à pressa do Luís Miguel.
Acresce que "a jornalista doente" não é, sequer, jornalista (é advogada) e que, em boa verdade, mais leviana que o discurso do realizador chileno sobre a eutanásia, é a lapidar opinião de Oliveira sobre o filme, sobre tudo o que lá está, fundamentalmente sobre "rodriguinhos" sentimentais e outras pinderiquices "volantes" que, segundo ele, atrasam. Atrasam o quê? A propensão de Luís Miguel para opinar sem jeito? Antes fosse assim e o homem se atrasasse tanto que se omitisse todo, na totalidade da sua "escrítica" de bacoco.
O jurisprudente cinéfilo encontra, contudo, no filme, uma boa cena. Valha-nos isso! A do padre. O que, contudo, nem assim lhe desencadeia, provinda da improfícua cornadura, uma frase (sequer) mediana. Sai-lhe, ali, no finalzinho, uma frase digna dum imbecil iletrado. Se não, releiam: "uma solução literal para dar visibilidade ao insuperável desnível" . Que é esta merda? Isto é uma frase digna dum profundo penico mental! E com muita poia a boiar!
O filme é muito, muito bonito e muito bom. E, também, muito comovente. E muito simples.
Tu não gostas que os filmes te comovam. Luís? Preferes não te comover de todo, ou ser comovido por outras coisas? Detestas, fundamentalmente, que se comovam os outros? Sobretudo se não fores tu a comovê-los? Isso é contigo.
Mas o teu maior problema (e ainda bem que é teu), Oliveira, é que tu explicas-te mal. Escreves mal. És fraquinho. Devias escrever o "rescaldo do Sacavenense-Odivelas", mais nada.
Tu não gostaste muito, foi, homem? Limita-te a dizer isso de forma simples. Conforme fazes, acaba por não se perceber por que raio não gostaste. Dizes asneiras, enfeitas-te de imprecisões, mesmo estéticas, estendes-te ao comprido. Segues a linha, muito comum (ao que andei a ver), dos teus "colegas amantes da sétima arte", que se penetram de cinema só para o expelir, depois, em formato publicável para tontos, como se estivessem prenhes de flatulência.
Dá só estrelinhas, as duas que deste, tu e os teus amigos, a "Mar adentro", sim? Sem explicações, que tu não sabes para explicar, sequer, as tuas estrelinhas. Sabes por quê? Sabes por que te sugiro que te cales? Porque, depois, há uns pequenos seres que te copiam em "pequenos sites" (os gremlins cinematográficos, exactamente), é a pústula disseminada.
Claro, de preferência, cala-te. Se conseguires. Se não... olha, continua. Tu viste o filme, ao menos, ora confessa lá?
Olha, tonto, lê uma análise comparativa, feita sem pretensões de publicação "crítica", dum tipo que viu o filme e o compara com outro, que (ainda por cima) também viu. Ambos vimos, aliás. Eu não estou de acordo com tudo o que ele diz, mas ele escreve como se não estivesse a vender nada. Sabes porquê? Porque, de facto, não está. E, por outro lado, escreve claramente. Aquela coisa de as palavras serem importantes quando queremos escrever, entendes? Pois, talvez não entendas, nem mesmo relendo a tua última frase, essa fedorenta bosta, tu lá chegas...
Mesmo assim, lê o que o homem me disse:
Vi ontem o filme "Mar Adentro". O pior, é que já tinha visto o filme de Clint Eastwood "Million Dollar Baby". O pior, porque ambos tocam na mesma temática (eutanásia) de uma forma completamente diferente, o que acaba por os diferenciar por completo: enquanto que no primeiro a temática é abordada de uma forma bastante moralizadora (o que me irrita ligeiramente), no segundo é-o (e tão só) de uma forma totalmente poética. E é essa diferença que faz de "Mar Adentro" um bom filme e do "Million Dollar Baby" uma absoluta obra prima. Este último é um poema (um grito de amor) e o primeiro apenas uma história bem contada (e mesmo assim perde-se em pormenores). O actor Javier Bardem é extraordinário, a música é bonita e o facto do Ramon "morrer na morte" e da Júlia "morrer na vida" (não teve coragem ..., na altura certa) comoveu-me muito.
Percebeste, Luís? Claro que não. Mas eu explico-te. É que este vive doutra coisa, não quer vender nada, nem sequer vender-se. Viu o filme (o que é importante, sabes?), gosta de filmes e, suprema simplicidade, sabe explicar-se.
Eu sei, homem, eu sei que é diferente, "é sempre diferente", não estrebuches mais, pobre entendido. Vai lá à tua vida, desanda-me mas é da lembrança.
Pensando bem, isso é para já.
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