Paragem
Peço desculpa, mas este há-de ser um escrito denunciadamente piegas. Há uma música, de que intrigantemente me lembro muitas vezes, chamada
Gente Humilde, uma das mais bonitas de quase todo o repertório bonito do Chico Buarque. Hoje, em fila contínua e quase parada, reparei numa mulher sentada no banco da paragem do autocarro que olhava ao longe, para detrás de mim, a ver se via o desejado transporte, o autocarro que a levaria de onde estava até não se sabe onde, cumprindo contínuas rotinas diárias de uma vida plena de rituais difíceis que ela tornou fáceis, com o tempo. É feita disto, a vida dela, de correr atrás de tudo para que lhe calhe este pouco que nunca veio, simplesmente, parar-lhe às mãos. Eu sei que imagino, apenas, as coisas que vi no olhar ansioso com que procurava que o autocarro aparecesse, visível, lá no fundo da imensa fila de carros.
Porque parece/Que acontece de repente/Feito um desejo de eu viver/Sem me notar. Hoje veio-me outra vez isto à memória.
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