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8.7.04

Decisões

Não sou dado a adivinhações, sobretudo desde que descobri que podemos perder com a Grécia em alturas inoportunas, tendo eu previsto o contrário. Ou seja, assumi esta postura há poucos dias. Sim, porque perder com a Grécia pode-se sempre. A altura e as circunstâncias em que se perde é que podem ser arrasadoras. Seja: perder com quem quer que seja, seja em que altura for, é sempre chato. Isto era só uma introdução, não interessa nada. E vão para aí "sejas" a mais.

Não sei o que vai decidir o Presidente da República. Sei isto:
1- Se eu fosse Presidente da República e de esquerda, se fosse mais de esquerda que Presidente da República, se sentisse que a esquerda tem um projecto credível e que tem vontade de o assumir agora, determinaria eleições antecipadas.
2 - Se eu fosse Presidente da República e de esquerda, se fosse mais de esquerda que Presidente da República, se sentisse que a esquerda tem um projecto credível, mas que não tem vontade de o assumir agora, não covocaria eleições e a coligação formaria novo ministério.
3 - Se eu fosse Presidente da República e de esquerda, se fosse mais de esquerda que Presidente da República, se sentisse que a esquerda não tem um projecto credível, tendo ou não vontade de o assumir agora, não convocaria eleições e a coligação formaria novo ministério.
4 - Se eu fosse Presidente da República e de esquerda, mas fosse mais Presidente da República que de esquerda, independentemente da credibilidade do projecto da esquerda e da sua vontade de o assumir brevemente, não convocaria eleições e a coligação formaria novo ministério.

Podíamos estar aqui horas. É fazer as contas às variáveis. Ia dar sempre no mesmo: apenas a hipótese 1 levaria a eleições antecipadas. Jorge Sampaio já deve ter decidido desta crise, o tempo que está a levar para nos comunicar a decisão consome-o em trabalho de fundamentação (que não pode ser esta) e de credibilização da decisão (tem de ouvir quem se queixaria, depois, de não ter sido ouvido).

Fora desta lógica (se quiserem, esgotem as restantes hipóteses, mantendo as permissas fixas de que "eu sou Presidente da República e de esquerda", evidentemente):

1 - Se eu fosse Presidente da República, independentemente de ser de esquerda ou não, independentemente de toda a lógica da "virtual politik", decidiria que a coligação formaria novo governo e acabaria o seu ciclo de poder legitimado. Porque Portugal é onde nós vivemos e, embora não aprovando grandes fatias do projecto governativo em curso, nós queremos ver onde isto vai dar no tempo que lhes resta. E porque, sejamos honestos: se o povo português não sabe que se vota em partidos, em ideias, em programas, se cuida que se vota em líderes partidários, está em muito boa altura de o aprender. É que é importante saber para que se vota e em que se vota, que votar é importante. Se não é, para as próximas eleições também vou para a praia, que é agradável se estiver bom tempo.

2 - Se eu fosse Presidente da República não teria tempo para escrever num blog. Sim, isto é uma pré-candidatura ao lugar de Sampaio, aproveitem.

No fundo, isto parece-me muito justo enquanto, profundamente, me desgosta. É como um tumor que aqui estivesse a moer-me, pronto, mas é assim. Sejamos francos na doença, ao menos na doença.

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