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5.7.04

Quo vadis, manolo?

Posso fazer-te algumas perguntas, manolo? E tu respondes? Muito bem. Ei-las, em véspera de urgência. Digo-te onde vou estar que é para o caso de me quereres responder pessoalmente, mas tu até sabes onde estou às terças feiras, é no sítio do costume. E preferia que respondesses aqui.

1 - O que entendes por populismo no mau sentido? E, já agora, por populismo no bom sentido? E, mesmo, no sentido que te aprouver, que o populismo tem muitas curvas, pelos vistos.

2 - Por que é que o percurso político de Santana Lopes está intimamente ligado à noção de incompetência, mediocridade, populismo? É só porque exibe gostar de mulheres (e muitas mulheres parecem gostar dele, de facto, aparentemente) e de festas "in", ou encontras-lhe algum defeito estruturante em termos de capacidade de trabalho e massa cinzenta? Achas que se nota mais nele que em outras pessoas a avidez pela ribalta, e chamas a isso incompetência? Ou abominas apenas o facto de ele ser Sportinguista, tout-court, e isso puxa-te para falar de mediocridades? Explica lá isso melhor, se fazes favor, que eu até quero eleições mas defendo que o PSD não merece essa jangada que vai salvá-lo, fatalmente, de temporário e merecido afogamento.

3 - É que eu conheço-te. Tu dizes isto como quem empunha uma bandeira de mastro grosso. Ora relê-te: "o que é ver indivíduos sem percurso profissional, sem contributo institucional relevante, sem trabalho suplementar em prol do desenvolvimento hospitalar, sem mérito curricular cientifico / pedagógico, alcandorados no topo das respectivas carreiras - e que só vão buscar às instituições os respectivos benefícios, mas nem sequer assumem na prática as responsabilidades das funções equivalentes ao grau que ocupam. Depois vemos o que acontece aos serviços hospitalares, aos hospitais em geral. Alguém trabalha, e quem trabalha são sempre os mesmos! Os que não o fazem, com certeza que arranjam muitas boas explicações para não o fazerem. Porventura uma delas, é que a culpa seja dos outros!".
Explica isto melhor, por favor, para eu entender se na tua brilhante desmarcação pela "ponta-quieta" não acabas por ficar em fora-de-jogo posicional, sempre de duvidosa análise sem recurso à câmara lenta.

4 - Eu também joguei futebol, manolo. Sei, também, aquelas regras básicas do defesa central antigo, que dedicava parte do seu tempo a enumerar ao avançado que marcava as qualidades da senhora sua mãe, da irmã e da namorada. Até sei que nenhuma bola pode entrar entre o guarda redes e o primeiro poste, num remate cruzado, vê lá tu! E sei que, mesmo toda a gente sabendo disso, algumas bolas lá vão entrando, ali pelo cu-da-agulha. Não sei tão bem como tu porque, na Faculdade, era defesa direito (uma adaptação à Miguel, porque nos iniciados e juvenis do clube da minha terra era médio-centro, distribuia jogo, exactamente, enquanto tu distribuias "fruta"). Olha, o nosso treinador nos juvenis foi o Gamboa, o pai do Gamboa que acho que ainda está no Beira-Mar, ambos cidadãos do eixo Póvoa-Vila do Conde! O Gamboa pai era um central duro como um penedo, baixinho mas tramado, homem da segundona, puro e duro. Cheguei a ir cumprimentá-lo, há 20 anos, no Enseada, na Póvoa, explorava ali uma espécie de quiosque. Nunca mais o vi.
Posto isto, explica lá melhor a tua análise do golo que sofremos contra a Grécia, exemplificando, se quiseres (que as análises comparativas são lixadas, eu sei), com o golo que a República Checa sofreu (também ao primeiro poste, que caraças) da mesmíssima Grécia. Tenta entrar em linha de conta com a condição física e a categoria (tu não tens acompanhado os gregos nos últimos anos, vai ler, informa-te, manolo!) dos gregos, por favor. Não te esqueças disso na tua análise, que será certeira, eu sei. "Só defendem e saem em contra-ataque!". Ó manolo, que birrentinho, nunca jogaste fora de casa? Nunca foste jogar a Murça, a Valpaços ou a Chaves? Valha-te São Mourinho.

5 - Não me venhas com o discurso "populista" da culpa. Define culpa e define culpados, por favor. Mas esforça-te, não me simplifiques a tarefa: quando não, pelo caminho que levas, vai bastar-me remeter-te ao Evangelho. Qualquer deles.

Nota privada: vai-te lixar, manolo, que eu leio-te há mais de dez anos.

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