A contrastante evidência
Li atentamente o escrito revoltado do Manolo – o “Quo Vadis II” – em que ele, confessadamente cidadão cumpridor, profissional exemplar e crítico impiedoso, se lamenta da existência de diversos “PS Lopes” que lhe atormentam a escrupulosa existência. Para tanto, o Manolo usa a formulação, tão gasta, do carreirista pouco empenhado que sobe apenas porque se pendurou nos ombros dos outros. Confesso eu: a mim, cansam-me as críticas aos outros e as críticas dos outros, a menos que esses críticos e essas críticas me tentem atropelar. A não ser assim, olhem: falem para aí. E a si, Manolo? Algum desses alegados "carreiristas" o atropelou?A mim parece-me que você, Manolo, irá perceber mais tarde ou mais cedo que o mundo é vasto e populoso. Que o mérito é sempre próprio e que nunca se constrói por comparação, muito menos contra. Que os poucos anos de experiência de uns valem bem umas décadas de experiência de outros. Que a excelência se faz de dedicação, voluntarismo e de muita alma e nunca, mas nunca mesmo, de olhares furtivos para o sucesso de outros. Ora pense, Manolo: aos verdadeiros dedicados sobra-lhes muito pouco tempo para criticar o vizinho do lado. Já reparou? E você pareceu-me um dedicado. Não queira apoucar o que sabe ser bom com críticas que sabe valerem menos do que zero. Sabe porquê? Porque generaliza. E as generalizações só valem, se valerem, pela simples diletância, que eu, visto daqui que nem o conheço bem, suponho que tenha sido o seu único e lúdico objectivo.
Eu conheço bem o outro lado do trabalho. Deste lado, ninguém espera o decorrer do tempo para ganhar medalhas, prateleiras douradas ou quaisquer outros galhardetes. Pelo contrário: aqui, os competentes vencem cedo e aos insidiosos atrasa-se-lhes o passo. Até aprenderem a regra elementar que explica porque é que o bom desempenho de alguns parece tão fácil e, por isso, tão facilitado. É que alguns mostram mérito, verdadeiro e genuíno mérito, sem que tenham de se esforçar por o mostrar. Nem se trata sequer de humildade; trata-se, sim, de autenticidade. Qualidade intrínseca. E você sabe, Manolo, tão bem como eu sei, que há pessoas assim.
<< Home