Revista dos eventos da última semana (ou talvez mais um bocadinho)
Por brio pessoal e para provar a todos os leitores (e sobretudo a mim mesma, porque a censura é insidiosa, entranha-se-nos na consciência faz-nos duvidar até de nós próprios, que dos outros duvidamos sempre - é esta, enfim, a condição humana, tão profusamente ilustrada por Pacheco Pereira, o homem que consegue o feito - notável - de só elogiar pensadores, políticos, artistas, escritores e poetas mortos há mais de cem anos) que não estou alheada do mundo real, que tenho bem presente o "modus faciendi" da política portuguesa, que sei onde fica Arruda dos Vinhos e, ainda, que se trabalha até (!) em Portugal (estando Portugal nas meias-finais do mundial de futebol - eis outro feito notável), passo a comentar alguns acontecimentos dignos de relevo nos últimos dias. Salientando desde já que a escolha é da minha responsabilidade, portanto subjectiva:1. O Zidane não parece francês, nem magrebino-descendente (o que, sociologicamente, o faria parecer francês). Isso irrita-me, porque não consigo irritar-me com o Zinedine como me irrito com o Beckham, que só joga quando a bola está quietinha, pousada no relvado e que não cabeceia para não estragar a mise, ou com aquele pernilongo chamado Peter Crouch, cuja figura bizarra ajuda, nos momentos mais fervorosos, a escarnecer do povo britânico, ali perante a prova decisiva de que são eles, de todas as nações do mundo, a mais propensa a produzir aquela espécie de bizarmas. O Zinedine tem boa figura, é um equivalente do Figo (em mais careca, enfim) e passeia-se no relvado com a mesma majestática atitude, essa arma secreta que intimidou e derrotou os Rios Ferdinands e os VanBronkos. Chateia-me, isto, porque quando na quarta feira ganharmos à França vou sentir pelo Zidane, que não sabe disso mas a verdade é que nascer francófono não é, decididamente, grande referência abonatória. Agora mais do que nunca.
2. Manuel Alegre não tem noção disto, mas é fácil perceber que ele foi, no Sábado passado, uma espécie de fada madrinha da selecção. O JPP diria (ou terá dito?) que aquela crónica é oportunista e que tem notórios objectivos políticos, acrescentando talvez que não é inocente, aquela referência ao próximo congresso do PS. Ah, pois. JPP cumpre a sua nobre missão social: critica, claro, com convicção moral.
3. E Freitas do Amaral? Será inocente, a escolha da véspera do Portugal-Inglaterra para anunciar a partida? E a permanência de Scolari em Portugal, será um assunto de Estado? E Cavaco Silva, esse passionario, terá interrompido a análise do orçamento de estado para ver as defesas do Ricardo? Mas o que é isto, meu Deus? A política subjugada ao futebol? Não, não é possível.
E assim vai o país (e o Zidane, por osmose).
Só mais uma coisa: Portugal ganha à França, na quarta feira. É certinho.
Mas isto não é assunto de relevo - nem eu estou aqui para falar de futebol.
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