blog caliente.

4.7.06

Pequena crónica simples da simplicidade

Apareceu-me lá a filha, toda de preto. Vi logo.
O Seixas tinha morrido e ela vinha de preto antigo.
Foi há um mês. Ela veio contar. Gosto de saber, gosto quando me contam as coisas.

Custou-lhe, morreu em casa, fraco, na cama. E custou muito à família vê-lo a morrer devagarinho, duas horas com falta de ar, "pode ter sido só meia hora, sabe, mas parece sempre mais".
Tinham lá o oxigénio e deram-lho. Por máscara. Alivia-nos, o oxigénio. Ao menos alivia-nos quando somos nós a dá-lo.

Disse qualquer coisa da neta e da bisneta, que está ainda no ventre jovem da neta, mas a filha não percebeu o que ele disse.
Depois morreu.

Em casa. Dantes nascia-se ali, em casa, onde se morre ainda. Com a família e com a alegria ou o desgosto de todos os que calha estarem. E dos que estão lá fora: chegadas e despedidas de telemóvel e de trovoada.

Era engraçado, o Seixas. Estava sempre melhor. Parecia sempre que gostava de me enganar o medo, enganando o seu. Educado. Bom homem. Via-se que era bom homem nos olhos dele, nos da filha, vi hoje que era bom homem nos olhos da neta. E a bisneta há-de vir aí com uns olhos de relâmpago e a trovejar a saúde do seu tempo.
É normal.

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