Primeira parte
Cavaco nervoso, as mãos tremiam. Louçã calmo, sereno.Constança agressiva, Sousa Tavares também. Ainda enlameado do pântano eslovaco, este nervoso.
Deviam ser sempre estes a fazer perguntas, desculpa lá, lolita, mas deviam. Ser presidente da república não é como ser treinador do Sporting: deve ser cargo sufragado depois de duras provas.
Andou-se ali às voltas com coisas que são da competência (ou da incompetência) dos primeiros ministros e dos governos. Também, valha a verdade, não há trajecto político, nem institucional, nem social, nem outro qualquer (excepto a rodagem do BX), que permita interpelá-lo - a Cavaco - sem ser tendo por referência o seu ministério. Cavaco acha mal que haja desempregados, mas. Cavaco deplora que sejamos pobres, mas. Cavaco acha, de tudo, que está bem, mas. Ou, no mesmo tom, que está mal, mas. É uma pessoa num papel que não lhe cai bem. Como o Pedro Granger na novela de ontem. Em mais comprido e mais tetânico, na expressão. Não é titânico, é mesmo um "e" de estricnina.
Louçã foi calmo, pertinaz, seguro, sereno e incisivo. Nem sequer nos temas "cifronados" Cavaco esteve à altura do adversário. Sim, adversário, que foi como Louçã se lhe referiu.
Cavaco deve ser um homem de bem que não é tão bom (nem sequer metade) como os que lhe lambem o escroto apregoam que é. O que não me faz retirar-lhe a sobrepeliz de "homem de bem". Mas, homem de bem também sou eu. E é o que se vê, às vezes, eu, é de crú para baixo (atenção ao "erre", ó João Tunes!).
Louçã, que venceu a primeira parte do debate por 7-0, faz-me lembrar o Mourinho: é muito bom, tem muita razão (senão não fazia tantos anúncios) , mas não gosto dele ao ponto de me vir. Tenho um grelo, talvez dois, mas é lá fora no quintal. E está uma geada branca de arrepio.
Que Louçã ganhou a primeira parte, ganhou: quanto mais oiço Cavaco, mais Alegre me sinto, nem que seja por interposto Louçã (aliás, um tipo esperto, inteligente, lavadinho; mas que ainda é da minha idade, ou mais novo do que eu, e eu não consigo respeitar demais tipos que trataria por tu, num bar qualquer).
Como se trata Manuel Alegre? É por "senhor", é por "doutor"? ...
É por senhor. É muito melhor. Ó Manuel Alegre também deve servir. Ou então faz-se como quando temos de lidar com aquelas pessoas que nos impressionam e nos tratam por tu, nos pedem para fazermos o mesmo em relação a elas - nunca vos aconteceu? - e a gente, incapaz de as tutear, trata-as por "Ó, ... desculpe, oiça cá".
Há muitas formas de mostrar respeito. Todas válidas, desde que o respeito seja sentido.
Seja como for, Louçã ganhou largueiro. Excepto para a selecção de sub-2 neurónios. Sim, há muito disso por aí. E votam na mesma, paciência. Querem fazer a sequela da "Fuga das galinhas", que se chamará "Galináceos ao poder, pomos ovos com rótulo, alguem que nos gale bem, ou mesmo mal, a gente põe".
São mesmo muitos, e parecem-se demais com aquelas pitas no aviário, cheias de estar ali na promiscuidade penosa das penosas, muito ansiosas por saltar para um forno redentor, após competente morte, depilação e tempero.
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