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10.12.05

O adversário de Louçã

Vi o debate Cavaco - Louçã e, por causualidade, descobri, agora mesmo, os comentários quase live on studio do Patrick Blese.

Sobre Louçã, nada a apontar. Inteiramente de acordo. É, admitamos, profundamente sabedor, conhece os dossiers na ponta da língua mas puxa da demagogia em doses cavalares. Sublinho, porém, a quase infinita disparidade da densidade do discurso de Louçã, se posto, como aconteceu, à desgarrada com Cavaco Silva. É que quase metia dó. Digo quase, porque a vontade de compaixão pelo professor passa assim que se lhe nota a irritação mal disfarçada que se lhe percebe sempre que é contrariado.

De Cavaco Silva, destaco apenas algumas pérolas. E são só algumas, note-se:

- Sobre educação: insiste que, enquanto primeiro-ministro, investiu na educação. Reconhecendo, porém (oh, infinita honestidade), que o fez mais em quantidade do que em qualidade. Isto é assim como matar a fome a uma população subnutrida dando-lhe doces em abundância, até que os dentes lhe apodreçam.

- Sobre escutas telefónicas ao presidente da República: titubeante, começou por mimetar a resposta, também algo gaga, do Louçã. Também exigia uma in-ves-ti-ga-ção ao primeiro-ministro e ao PGR e blá, blá, blá. Concluiu, aliás, sabiamente: pediria à assembleia da república que legislasse sobre escutas telefónicas. Ora, isto sim, já mete dó, genuína dó. Pobres de nós. Adiante.

- Sobre casamento e adopção por homossexuais: é preciso ter razoável destreza na retórica e alguma astúcia para se furtar a responder, com classe, a uma pergunta incómoda. Mas estamos, lembro, a falar de Cavaco Silva. Já em crise de tensão, recusou-se a responder invocando razões de imparcialidade. Que não pode, pelas próprias opiniões, arriscar ser instrumentalizado pelos partidos. A deriva para a natureza supra-partidária da sua candidatura veio, fatalmente, logo de imediato. Como se previa, bolas, não consigo decidir se o homem é mais monótono ou mais previsível; daria, até, para fazer apostas.

- Sobre generalidades: afinal, o discurso em que Cavaco Silva se sente mais à vontade. Pouco mais, que ele cada vez mais se parece com uma figura de cera. Semblante fechado, forçado, blindado. Fosse ele um britânico e já estaria no Madame Tussaud's. Fosse ele uma britânica e seria ele a dama de ferro. Se fizéssemos uma pequena estatística dos best of das palavras sábias do professor teríamos, entre outras, as seguintes: "o clima de confiança atingiu níveis muito baixos" - três vezes; "é preciso apostar na competitividade das empresas" - três vezes; "se eu for presidente trabalharei com este governo" - duas vezes; "eu defendo convictamente a estabilidade governativa" - cinco vezes; "eu sei o que os jovens precisam, conheço-os bem" - duas vezes; "jovens", apenas - dez vezes; "empreendorismo" - sei lá, umas doze; "três factores que me parecem fundamentais" - perdi-lhe a conta.

Está visto porque é que ele só raramente tem dúvidas. Pensa pouco, fora da macroeconomia.

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