Tem estado para gear
O pessegueiro e o damasqueiro estão sem folhas. Parecem mortos, mas não estão.
Há quem pense que a vida é como se fosse a multiplicação eterna do ciclo anual duma árvore de fruto, uma roda interminável de estações que se reacendem, melhoradas cada ano. Há-de haver sempre folha nova, flor tenra, novos e suculentos frutos. Há quem pense que a vida é assim, que se renova sempre, mas não é. Lamento muito. A vida que é assim não é a minha vida, não é a tua, lolita, não é a tua, alonso, não é a do leitor enfadado que calhar vir adubar-me o que mantenho: a vida que é assim é a vida inteira, a que nos ultrapassa enquanto indivíduos únicos, por todos os lados. Em velocidade de cruzeiro.
A vida duma árvore, indivíduo único duma floresta grande ou duma mata pequenita, não se confunde com os seus ciclos de vida, os seus tempos, a sua vida parcelar. Os seus tempos anuais, estes tempos circulares, fazem parte dessa vida, apenas. Hão-de acabar.
A vida duma árvore acaba no dia em que esses ciclos lhe terminarem, também.
Um dia a minha árvore há-de ficar assim, seca para sempre, e os meus netos (eu ainda não os vi, que não os tenho, mas hei-de tê-los em seu tempo, mesmo que não seja já no meu) farão boa lenha daquilo, se acharem bem aquecer-se ao lume do avô. Mas mais nada. Duvido, mesmo, que plantem outra no mesmo lugar, que "não lhes há-de compensar".
É um bom fim para uma vida, a utilidade fugaz: é melhor do que não ter nenhuma.
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