Há-de haver ali uma fístula colo-encefálica, não sei...
Quando uma pessoa escreve isto, que se há-de pensar? Que é lúcida? Que é honesta? A sério, que se há-de pensar?Pode ser, mesmo, uma dessas duas coisas. Mas pode ser outras.
A questão, tal como é colocada ao eleitorado, num sistema democrático, é esta:
" Eis aqui vários senhores, se quiserem concentrem-se apenas nos cinco que são mais mediáticos, que se perfilam como candidatos a serem, cada um deles, mas não podem ser todos, só um é que pode, Presidentes da República. Só pode ser um, entenderam? Pensem lá e digam qual escolhem."
Bom. Como é que se responde a esta pergunta?
Para Luís Delgado - a quem passarei a referir-me, sem o deslustrar, antes pelo contrário, como "ser vivo"-, que cada vez me convenço mais que é o tipo dos "Slipknot" que usa um zipper na zona da cavidade oral (estou a brincar; parece mais o outro), responde-se-lhe assim: "você leia as sondagens, ó eleitor formatado, que já está tudo respondido, deixe de ser parvo e cumpra as sondagens, deixe-se disso, que eu penso muito na América!". Importa acrescentar que, com toda a probabilidade, na América, o ser vivo poderia ser útil como "caddie" de Bush. Já se percebeu que gosta de lhe pegar no taco, de preferência no "putter"... estou a brincar outra vez, eu nem sei de golfe.
O ser vivo afirma, mesmo, isto: "Obviamente que quem faz o resultado dos debates não são os candidatos, mas sim os analistas e comentadores, e até as sondagens posteriores, mas mesmo isso ficará esquecido a 22 de Janeiro, quando os eleitores forem votar. Os debates são um mito, e uma liturgia, mas dali não vem nenhum milagre de multiplicação de votos". Pois não vem. Não vem nenhum milagre de multiplicação, mas pode vir um milagre de "transferência". O Luís Delgado é uma das pessoas que eu conheço que escreve pior e que é, aparentemente, mais alternativo do ponto de vista do alinhamento da ideação. Mas isso não o desculpa de presumir, abusivamente e como se estivesse a dançar um vira, de chinelas, que não há qualquer utilidade no debate, na informação, no confronto de ideias, como se passase um atestado de incompetência e estupidez a todos os eleitores. O ser vivo acha que, depois dos debates, vem ele e os outros, em romaria organizada com Rebelo de Sousa à cabeça, fazerem o resumo e formatarem a coisa convenientemente. E que "isso é que conta!". Ele parece possuído pela vérmina do delírio!
É que não se trata, aqui, de convencer quem já está convencido. Há, já, quem tenha decidido votar em quem votou sempre; há quem já tenha decidido que "finalmente chegou o Çavastião, vou acender-lhe uma velinha em cruz, para Portugal ir para frente!..."; e há quem já tenha decidido outras coisas. Mas também há, seguramente, quem leve isto a sério, quem julgue útil conhecer os candidatos "conforme são agora", prescrutar os seus projectos, as suas linhas de pensamento, os seus trajectos e a maneira como os encaixam nos nossos dias. Apreciá-los nos confrontos (ó excelente Delgado: ser PR é ser árbitro, muitas vezes; é preciso ouvi-los uns com os outros, escutá-los, perceber ao que vêm os árbitros) e decidir depois. Quanto mais não seja, repensar a questão da arbitragem.
O ser vivo, maliciosamente, insinua ainda que a verdadeira questão é haver, nas sondagens de agora, cerca de trinta pontos percentuais de diferença entre o candidato dele (é preciso ter uma coluna versátil, a julgar pelo que Delgado já disse de Cavaco, para o escolher assim, agora, mas o ser vivo é duma plasticidade vertebral praticamente osteoporótica, embora seja um ser vivo de grande valor!) e qualquer um dos outros.
Mas a questão não é, de facto, essa. Aquilo que coloca os debates na montra bela das necessidades básicas, quase como se fossem um problema de higiene - como se não bastasse o facto singelo, que até o povo evoca, de ser "a conversar que a gente se entende ou desentende" -, é que não importa muito, neste momento, se Cavaco tem vinte e cinco ou trinta pontos percentuais de vantagem sobre Alegre ou sobre Soares, ou, mesmo, sobre ambos: o que é relevante é se Cavaco vai conseguir ter 50% dos votos. E, por muito que custe a Delgado admiti-lo, ele teme muito que não. E Cavaco ainda mais. E não vai ter, a menos que Sócrates, como sempre me pareceu, queira mesmo Cavaco para seu "Papinha". Convenhamos que eu, se fosse Sócrates, quereria, por motivos fáceis de perceber. E insistiria nesta "guerra fratricida", que é uma estratégia de baixo teor magmático e alto teor "prospectivo".
Eu, que sou teimoso, ainda acredito que Cavaco vai desistir, alegando canseira, excesso de lambedelas no escroto por línguas aftosas e falta de monotonia.
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