blog caliente.

4.12.05

Dai-me sol

1 - Snu. Eu era catraio, embora já jogasse bem "flippers", quando ela morreu. Já vivia no Porto. Foi uma mulher bonita e interessante. Inteligente. Não saberíamos dela, ao menos tanto, se não tivesse deixado o marido (que só hoje soube quem era) para se juntar a Sá Carneiro.
Gostei do documentário. Nem sequer me atrevo a pensar que aquilo se destinou a apoucar Mário Soares que, naquela altura, por acaso, se apoucou. Ou a glorificar Cavaco Silva, que mostraram como um dos discípulos dilectos de Sá Carneiro quando, mesmo nas fotografias, só lhe aparecia nas traseiras da fronte erguida de homem pequenino mas teso.
Gostei da história de amor, as histórias de amor dispensam e ofuscam quaisquer pormenores mais sórdidos, ou menos belos, se os houver. E, aqui, nem sei se os houve, nem quero saber. Por definição, os pormenores são pó de palco, nas histórias de amor.
As histórias de amor até nem precisam de ser de amor para serem de amor, catalisam-se sempre no epílogo (funesto, triste, bárbaro, neste caso) e são sempre o que a gente quiser, dependendo da música.

2 - Música no Ar. Na RTP, vive-se a música por décadas. Hoje, anos setenta. Não me deixei enfeitiçar por Abril. Revivi, antes, 1978. O "disco", que nos enchia de purpurina, de sonhos e coisas que não variavam muito do refrão que rezava que "love is in the air". Esteve cá um amigo e lembrámo-nos do tempo em que dizíamos, numa brejeirice de parolos adolescentes em rituais de iniciação, que, às vezes, "love is in the hair". A Cameron Diaz explicou isso brejeiramente quando inventou aquele novo gel.

3 - Tenho perfeita noção do desajustamento que existe entre o que escrevi em 1 e em 2. Caso não saibam, tenho perfeita noção de quase todos os desajustamentos. Por incrível que pareça, mesmo dos meus. Ou seja, mesmo aqui, em 3. Numa tentativa de conciliação de tempos e de contratempos, estou a escutar, numa estranha estereofonia, o "I'll survive" e o "Por una cabeza". Não são compatíveis, mas não se trata aqui de compatibilidades: trata-se aqui, apenas, de misturas.

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