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3.12.05

O que distingue a Judite da Constança

Cavaco Silva veio, como sempre, hirto e ensaiado. Os chavões do costume, a competitividade, as fortes convicções, o estado difícil do país. Pôde debitá-los a todos, deve ser alguma condição que impõe à comunicação social, a de lhe fazerem perguntas fáceis. A Judite sorria amistosamente, sorriu sempre, até quando o pôs a gaguejar durante uns embaraçosos longos segundos, ao perguntar-lhe o que achava de Soares e Alegre. O professor torceu-se tanto que metia dó, enfiado no terno cinzento, aquele homenzinho bonus pater familias que o destino, o acaso, o partido ou a triagem colocou um dia a governar um país como um chefe de família governa um lar - com severidade, honradez e falta de ambição.
A resposta, notoriamente ensaiada, saiu torta, sem convicção e quase inaudível. Remeteu a opinião para os portugueses e, para quem até agora não tinha reparado, ficou clara a táctica sonsa, a tal de não dizer mal dos outros candidatos. A Judite capitulou, aliás: deixou-o enterrar-se sozinho e passou à pergunta seguinte, com o candidato já no chão por demérito próprio, ali confrangedoramente escancarado. No preciso momento em que Constança insistiria, fervilhante e inconsequente, na resposta, dando-lhe a mão para se levantar e avançar para o discurso vitimizante.

Há frases que definem cabeças tontas. Instado a dizer se acha que ganha na primeira volta, o senhor Silva declarou que tanto lhe faz ser à primeira como à segunda. E, claro, que não é dono dos votos dos eleitores. Isto para que ninguém tenha dúvidas. Que candura sinistra.

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