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1.11.05

Caminhos

Começo por informar que, à semelhança da lolita, não sou filiado em qualquer partido. E, pensem sobre isto o que quiserem, que me senti um bocadinho desiludido quando o partido socialista enfiou, sem mais explicações, o socialismo na gaveta dos pecados. Sobre isto, é o mais que digo.

Quando o partido socialista decidiu promover a candidatura de Mário Soares à presidência da república fiquei estranho. Não vou agora explicar porquê, que os senhores têm mais que fazer que lerem as explicações das minhas estranhezas. Fiquei assim, pronto.

Mesmo nesse estado de alma, por motivos que também não vêm ao caso, admiti que Soares seria, de entre quem se perfilava ali, na altura, o meu candidato. Se tinha engolido ( muito mal) a escolha de Sócrates em desfavor de Alegre, na disputa da liderança do partido, mais depressa deglutiria esta. Acabaria, talvez, por "esguichar" alguns incómodos que me irritaram, e muito, no processo todo, mas depressa perceberia que o facto de não gostar de Sócrates (e não gosto) e de gostar, há muito tempo, de Manuel Alegre não me impediria de respeitar o velho Soares. E de votar nele. Um bocado incomodado, é certo.

Depois, surgiu a candidatura de Manuel Alegre. E não preciso de dizer mais nada, que a lolita já disse quase tudo por mim. Vou votar no homem que também é poeta, é uma coisa óbvia que se me impõe de dentro da vontade, com força de razão. Nas voltas todas que houver, em que ele esteja.

Ao contrário da lolita, no entanto, não terei nenhuma dúvida. E é bom que fique claro, ao menos aqui: se Manuel Alegre não conseguir passar a uma hipotética segunda volta (e eu desejo que passe), restando Mário Soares a disputar com Cavaco (que, a propósito, se chamaria Hirtus Rictus Economicus, num dia em que chegasse a merecer a atenção de Uderzzo e Goscinny) o cargo de primeira figura do meu País, eu votarei, na absoluta certeza de que será assim que me trairei menos, em Soares.

O facto de saber que isto chatearia mais Sócrates do que um voto no seu verdadeiro candidato, naquele que mais lhe convém, chegar-me-ia. Fraca consolação, dirão.
Mas não é só por isso. Sejamos justos: um trajecto sinuoso e longo encerra mais virtudes e mais defeitos que um caminho pequenito (e quase negado pelo triste e rígido caminheiro, ainda por cima!). E eu gosto de quem caminhou e caminha os seus caminhos, grandes ou pequenos, sem deles se envergonhar, negando-os.

Por isso repito, agora doutra forma, o que já disse. Num sistema eleitoral diferente, em que, em lugar duma simples cruz traçada nos limites dum quadradinho, para os analfabetos (mesmo os funcionais) poderem votar, se ordenassem os candidatos por ordem de preferência, colocá-los-ia por esta ordem: Manuel Alegre, Mário Soares, por aí abaixo e, lá no finzinho, só por ter de ser, Cavaco.

Era só isto, mas era importante que ficasse escrito aqui.

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