Van Gogh não usava a risca ao meio.
Nunca deixarei de pasmar perante um penteado de risca ao meio emoldurando um crâneo masculino, que, de resto, quando tinha o sucesso que se conhece há uns vinte anos atrás, já transbordava azeitice. Vinte anos depois há povos que o adoptaram, ao que parece, para sempre. Passando, digamos, a ser um sub-produto do folclore nacional.Os holandeses, por exemplo. Os holandeses, não sei se sabiam, ostentam com frequência orgulhosas riscas ao meio nos loiros cabelinhos. Os holandeses têm, de resto, feições muito típicas, apropriadas para a risca ao meio. São loiros e maciços como os alemães, mas sorriem muito mais. Sorriem muito. Quando se pensa no protótipo de um holandês, é forçoso imaginá-lo muito loiro e muito sorridente, olhando em volta satisfeito enquando trinca uma panqueca ou faz publicidade ao queijo da vache qui rie (que não é holandesa mas também sorri). Sorriem demais, os holandeses, sorriem como sorria o Richard Clayderman (que, todos sabemos, usava a risca ao meio) ao piano ou como o Piet-Hein, aquele loiro holandês (que usa a risca quase ao meio) que está empregado na Endemol desde que um caça-talentos o descobriu, pobre servente de trolha, numa obra de viadutos sobre os diques da Bélgica flamenga.
Aposto que em Curacao ainda hoje há nativos, descendentes de holandeses colonos, que herdaram aquele sorriso bovino e indelével. E a risca ao meio, claro, por causa do intercâmbio cultural.
É difícil, com estes dados e se fosse o caso, glorificar a diáspora holandesa. Há-de vir-nos sempre à memória o anúncio à pasta medicinal Couto.
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