blog caliente.

23.5.05

Daki fala o Klaudio! Dd tkls?

Há um canal da TV-Cabo (que, aqui, curiosamente, só se apanha por satélite) que vai dando umas imagens e umas músicas enquanto, do lado esquerdo do écran, vão aparecendo mensagens escritas, uma espécie de "chat by SMS".

Assisti durante alguns minutos àquilo. Com atenção. Os participantes utilizaram, em conjunto, durante os 10 minutos, para comunicarem entre si e interagirem com o mundo, cerca de dezoito palavras, incluindo as abreviaturas.

O tema principal era "dd tkls?". Cuido ser uma espécie moderna da fórmula avoenga "qual é a sua graça?", misturada com "e donde é a(o) menina(o)?".

Até aqui, tudo bem. Não vivo no tempo dos meus avós, que já morreram, mas vivo no meu. E isto até é ternurento, do ponto de vista "deixa-os andar, que ainda são pequeninos".
É bués. "Bué" quer dizer "muito; abundante quantidade de qualquer coisa". Em Portugal, pelo menos, bués é quase um substantivo superlativado, dispensando qualificação adjectiva.

Eu sei perfeitamente que a língua muda. Tudo muda. Esta ganapada vai viver a sua vida, evidentemente, ainda bem que sim. E oxalá que a viva bem. E são pequeninos, evidentemente.
Mas depois crescem. E têm um léxico deficitário. Isto não é um problema, eu sei. Problema é o défice. Os défices, que já percebi que são vários, consoante o Constâncio que está de serviço: e todos por culpa da despesa pública.

Mesmo assim: como serão, elaborados por esta miudagem a crescer, os decretos-lei que hão-de vir, as futuras constituições de Portugal, as sempiternas declarações de amor, as legendas dos próximos filmes (partindo do princípio que os actores vão continuar a falar...), os poemas, as prosas, a coisa escrita?
(Eu, os decretos-lei, é como o outro...)

Serão bués? Ou buédafixes? Ou serão dispensáveis, por não fazerem falta a uma massa crescente de canalha que não pensa porque não pode pensar, uma vez que é impossível (até para os komputadores, pah!) pensar sem memória? Quanto mais expressar um pensamento, a não ser quase grunhindo? Vão cingir-se à expressão corporal? à "arte moderna"? Claro, já vi tanta merda elevada à expoência artística enquanto se bebem copos...

Isto não tem importância nenhuma, evidentemente. Mas acho que esta cambada, mais século menos século, vai ter de descobrir o fogo, novamente. Porque os deixamos andarem, há anos, ceguinhos ambos, nós e eles, eles com melhor desculpa (a da ignorância atrevida, que consiste em não querer saber), a desperdiçar e vituperar as acendalhas e os simplórios amorfos que se raspam numa lixa desde que qualquer um de nós se lembra.

View blog authority